O FEITIÇO DO MONTE CORGO
IV
Ao descer o Monte Cargo,
viu uma pequena cabana a norte do local
dos Quatro, para lá das pequenas rochas,
debaixo do sol no sopé da colina. «Não te esqueças: o mundo é gagá.» - Pensou Padrinho
por uns instantes, antes de começar
a descer a ladeira do caminho. Ainda se
encontrava a uns cem metros
de distância, quando
o uivo do corvo ou coisa
parecida lhe chamou
a atenção e, depois, quando
tornou a olhar para o céu, o sol tinha
desaparecido. Por uns momentos, a imagem dos Quatro bailou-lhe na mente, fazendo-lhe recuar no espaço e no tempo
em que, num gabinete nos arredores da cidade, cheio
de papeis em cima
de móveis antigos e formas de calçado penduradas nos armários de madeira, o seu amigo
Magricelas, industrial e fabricante de calçado, lhe falara no seu quinto
ano da independência empresarial. «Sabes
o que mais? Se me permites,
devo dizer-te que a mais perigosa
mentira é aquela que queremos impingir-nos a nós próprios», -dizia ele n seu melhor
estilo. «Ü melhor
que tens a fazer, é arrumares-te aí no monte
a apanhar sol e viver ao mesmo tempo
uma felicidade absoluta.» - Tal como ele, o seu amigo
era um provinciano de raiz, descendente de uma farru1ia de
sete costados cujo
nome foi mencionado durante toda a sua infância.
«Fiz tudo que sempre quis fazer na minha vida. -disse
ele, mais adiante
-Havia
coisas em que fui realista. Por exemplo: ganhei
pó ao comunismo,
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nomeadamente nos excessos
das greves. Quando
um homem mais precisava deles para acabar
a obra, os filhos duma
puta resolviam fazer intervalo para irem celebrar
com os amigos à tasca,
de acordo com aquilo
a que chamavam «beber ao molho», como sinal de respeito pela nova «nação em construção». Um dia resolvi
estragar-lhes a festa do Natal.
Ao entrar de rompante no salão da fábrica onde eles estavam
todos reunidos, conversando sob o calor dos copos, desde a aguardente ao vinho tinto da pipa do lavrador e, mascarado de Pai-Natal chinês,
com um farto bigode
e uma peruca à brasileira para
ninguém me reconhecer, gritei bem alto: «Fujam que o vinho está envenenado! Fui eu que vos
envenenei; eu sou o Mao; não vai haver subsídios
para ninguém, seus mandriões! Ah,Ah,Ah!» - Magricelas, no gabinete, ao recordar
a cena passada, franziu
o sobrolho no seu rosto
frio.
A ideia que às vezes parecia ser a incompatibilidade de alguns elementos dos Quatro para com ele soava baseada num sentido banal.
«A vida ás vezes silencia
uma pessoa , - confessou ele a
Padrinho, sentado numa cadeira
de palha. - «Quando uma pessoa cresce
e chega ao top e depois
desce, nada mais parece digno
de que dizer:
já caíste? É como
nós estarmos calados,
acho eu, e vermos os outros sempre
a falar. Mas pouco a pouco
o tempo muda em nós aquilo que pretendemos não o
ser, e não nos resta
outra consolação que não seja
continuar a viver.» - Ficaram a maior parte do tempo no gabinete
a conversar. E fizeram
prognósticos sobre os planos que tinham um do outro,
muitas contas e mais
contas e os números saiam-lhes da boca mas sempre irregulares.
O olhar de Magricelas encarou
com algum fatalismo
esta reviravolta na vida de Padrinho, o regresso às origens. Padrinho .chamava a boa
Estrela a sua própria «coroa da glória»,
e sonhava um grande futuro, talvez chegar a presidente ou, em alternativa, a Ministro. Saíram os
dois do gabinete e percorreram caminhos
diferentes.
A estratégia de Escovado consistia
em não meter a boca em seara alheia e, por isso,
controlava estritamente as suas reacções. Era um homem alto e amplo, com um rosto atraente mas, como ele próprio
costumava dizer, «nunca fui uma pessoa de grandes alaridos.» Era também franco na sua amizade para com Padrinho
e revelou-lhe que tivera,
digamos, outro tipo de contradições ao esquema que era utilizado na escola da
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formação. Passou a vida noutro
sector empresarial e, como tal, não se podia queixar
muito. Tranquilizara-o bastante e a conversa não passara
daqui mesmo.
Compridão confessara a Padrinho que a sua sorte era trabalhar para uns
judeus. «Em tempos,
fiz um negócio e francamente desiludi-me.», - disse ele duas semanas
antes de embarcar
para Paris. -«Vendi um chicote das Caldas revestido em palhas que afirmava ser «um esboço
genuíno» do famoso Retrato de Picasso,
e ganhei um balúrdio de massas.» - Os ricos dos bons negócios seduziam-no; não vendia nada premeditado, nem se
metia com negociantes baratos, voltando as costas à cangada de famintos que assolavam a região. «Tipos novos, é preciso cuidado
com eles». Como os ciganos,
pois para ele essa escumalha estava corrompida para todo o negócio. «Agora
sou fariseu.» - Dizia ele orgulhosamente com o seu sotaque de europeu de França. «E chamam
a isto fazer negócios! Pff ! Cambada
de camelos.» - Apesar de todas as suas
exigências, ele parecia satisfeito no seu papel de fariseu.
Todavia, tornava-se óbvio que nunca perdera a
consciência da fragilidade da encenação, mantendo as características de um verdadeiro provinciano.
«Ele era um acérrimo defensor
dos direitos das suas origens.» - Disse Piasca, enquanto atacava uma travessa de mexilhões. «Quando
resolveu estender o negócio
para Paris, indo trabalhar com os judeus,
eu disse-lhe: Compridão, tem cuidado, que lá não é a China nem a Índia em que os
gajos ainda trabalham à luz da vela.
Lá é Paris, a cidade
da luz; mas ele
queria lá saber disso, o que ele queria era ir ver o «Moulin
Rouge» e apalpar
o pescoço às francesas, porque,
como tu sabes, lá o cú é pescoço, desculpa mas é verdade, eu sei. Tudo muito civilizado, uma linguagem naquele estilo
liberal mas, no fundo, quando
dá para a merda,
é como cá!»
- Calaram-se durante
uns momentos .
Piasca, já com mais de quarenta anos, levantou-se da cadeira e estendeu a mão ao amigo. «Gostei muito deste bocadinho.» -
Logo após a saída dele,
Padrinho voltara ao Monte Corgo,
ao local dos Quatro,
junto das rochas
e estava próximo
da cabana. Doíam-lhe os pés, o que o obrigou a coxear desde que saíra
do restaurante. «A minha
paixão é o tijolo,
o cimento e a água»,
-lembrava-se ainda
das palavras de Piasca. -Com esses ingredientes, tenho o mundo na mão.»
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Padrinho vai para junto da cabana e senta-se no banco de pedra, passando o lenço pela testa suada. Depois de esticar
as pernas ao comprido, deixa-se ficar
uns minutos em reflexão, soando-lhe aos ouvidos as palavras
de Magricelas que, anteriormente, tinha proferido: «Eu confesso, ·que duvidei
de ti. Mas eras mais
sábio do que
nós julgávamos. Nós, os Quatro, nunca aceitamos um compromisso, e tu aceitaste.» Depois foi Compridão que concluiu: «Tu enriqueceste à tua custa.
Mas trouxeste o Diabo
contigo, agora liberta-te dele e entrega
a sua alma a outro,
antes que sejas
derrotado pelas forças
do Bem.» -
Padrinho abana a cabeça e deixa escapar
um sorriso mórbido.
Reflecte amargura e cinismo. «Essa é boa. Trouxe-vos o Diabo comigo, sim, foi uma coisa digna de mim.» -
Numa espelunca de copos, a uns quinze
quilómetros da cidade,
no Club do Azeite, ex-Leitaria da Corneta!
Numa noite dos anos 80, em que o rectângulo da sala estava bem frequentado por uma clientela rasca, sente-se o barulho da música a envolver
as pessoas como um trovão. O
ritmo invade-os completamente mas, lentamente, essa sensação passa.
«O Azeite movimenta o leite.» - Disse Rosa Maria ao cliente, numa mesa
cheia de copos e garrafas
de champanhe . «Quando uma pessoa bebe sem
conta e medida, fica cá com um gás
que só apetece fazer amor. E o que é que faz nós bebermos? É
o calor da garganta , penso eu, é uma coisa que
nos invade cá dentro, que uma pessoa
não aguenta muito tempo
sem beber.» - Ficaram algum tempo a conversar e a beber e a contar
confidências um ao outro. Dizia ela que ·fazia
amor três a seis vezes
por dia. «Porra Eu dou uma e fico logo como o coelho a espernear-me todo.» - Disse-lhe ele
com a boca cheia de cerveja. «Comigo isso
não sucederia.» - Corrigiu ela e ele acenou com a cabeça. «Calculo, és uma rapariga maravilhosa, eu sei, mas vou-te dizer
honestamente, contigo acho que
serei diferente.» - A estratégia
dele estava lançada.
Agora, a coitada da
Rosa Maria iria ter de passar, se calhar, um mau bocado. Porém, tranquilizou-a bastante saber que as mulheres
com quem ele, o cliente,
esguio e esquelético com cara de fuinha,
se relacionara, não eram do seu
tipo mas sim «cavalas e façanhudas», só que, para além disso, também
eram descaradas e algo desmioladas; faziam tudo na corda bamba e gritavam que nem umas cabras só para
o excitar; faziam as maiores
fitas
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que se possa imaginar, para ele aumentar
o seu entusiasmo e tudo isso, essencialmente, por causa do livro de cheques. Ele era um cliente
da velha guarda,
gostava de pagar
generosamente.
A partir daí, o cliente
chamara-a a sua «coelha sem preço»
e sonhava
com ela todos os dias e a todas as horas, além de prever para ela um
grande futuro, quem
sabe como dona
duma casa de Tia, ou uma leitaria de leite à mão.
«A tua amiga
é uma burra», -disse o cliente uma semana
antes de bater a bota para
o outro mundo, a uma colega dela na mesa
recheada de copos. - Tinha
um palacete forrado
a vidro e espelhos de latão, que ele dizia ser uma dádiva de amor da sua parte, numerosas folhetas, incluindo estimulantes sexuais
que davam ligeiras cócegas, e uma edição
do Tarados e Chanfrados do autor.» «Rosa
Maria tem mais desejos do que ideias.» - Ele pronunciou o nome com tal força
que cuspiu para cima do copo. Apesar de todas
essas contrariedades, ele parecia
ainda amá-la. «Ele era um bem amado.» - Disse a amiga, enquanto aspirava
da boca uma fumaça do cigarro.
O cliente de Rosa Maria tinha mais de sessenta anos, nunca lhe quiz dizer o seu nome e morreu
na noite em que fez amor com ela
na c.ama.
Era um assunto de que ela
evitava falar, embora sempre palradora
para discutir qualquer assunto que fosse tabu. Porque que é que logo aquele
velho havia de morrer em cima de mim? Agora que tinha
tanta coisa para me
oferecer, um palacete
e um casaco de visão e um cadillacc pintado a carvão.
Rosa Maria, cuja primeira reacção
pela morte do cliente fôra uma
sensação de angústia e medo, desculpava-se diante das amigas que não tivera qualquer culpabilidade no cartório.
Depois da morte do cliente que, veio a saber-se,
se chamava João Mávida, Rosa Maria abandonou
a vida boémia e moinante de camareira e dedicou-se à venda de flores numa loja que alugara na ocasião.
«Uf!», -confessou ela a uma amiga. -«Já tinha saudades de voltar a ser uma senhora.» - Trazia cabelo russo com madeixas azuis num
penteado de banana mal feito, usava um vestido ao xadrez por baixo
dum avental de flores estampadas, abandonara as pinturas
mas não deixara de fumar, e vendia
flores e plantas
de todo o género -naturais e artificiais
- Rosa Maria acabou por se alhear dos copos à noite e principiou a beber água, ficando por vezes amuada no seu quarto
sem saber com quem
falar. Por isso,
comprou um periquito e mantinha acesa
a lâmpada
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do passado.
«Já te disse que hoje não me apetece beber.»
ou então.
«Não me assobies alto que eu não sou nenhuma cadela!.»
-
As amigas dela
acharam estranho a mudança de Rosa Maria
(conforme disseram no trabalho
à noite) e a atitude dela no tocante à sua vida.
«Quem a ouve
falar até fica pasmada com ela, nem
parece a mesma»,
_ disse uma delas.
-«Ainda
bem», -respondeu
outra das
amigas, pondo-se de pé -É sinal que uma pessoa viciada em copos, se deixar
de beber, deixa de ser viciada!...» - Instantes depois,
voltaram as costas
umas··às outras e dirigiram-se para o trabalho. f
Um dos aspectos
da sua educação tinha sido bem descuidado. Um domingo, pouco
tempo depois da morte do seu cliente, ela foi comprar cigarros ao quiosque da esquina, quando
o ardina dos jornais lhe anunciou:
«E o meu
ultimo dia. Há tantos anos a vender
jornais e só agora é que os Picas
haviam de me querer arruinar
o negócio.» - Ela escutou
com atenção a palavra
p-i-c-a-s e teve a ilusão de ver uma junta de médicos com seringas nas mãos a darem várias injecções no ardina de jornais do domingo. «O que é isso de picas?» - Perguntou tolamente e a resposta
saiu com rapidez: «São drogados», - acrescentou ele - Como não
dormem de noite, aproveitam para me gamarem
os jornais, fazem
fogo para aquecer os pés, mortalhas para fumar, estrumeira para cagar e outras
e tantas variadas coisas, tudo por causa do vício.» -
Rosa Maria afastou-se e voltou para o quarto. Depois de fumar uns três
cigarros e beber outros tantos
copos de vinho (tinha começado
a beber recentemente), deitou-se
em cima da cama e, instantes depois, adormeceu. Durante o sono, reparou que tinha ali, na sua cama, aquele indivíduo já idoso meio labrego com quem ela mantivera uma relação
marcante. Havia já
algumas semanas que não entrava
na arena sexual com tamanho
apetite, e nunca antes desejou
ter uma aventura tão veloz que
a deixasse de rastos. O prolongado silêncio
dele (que silêncio!
até que soube que o seu nome constara
da lista de defuntos do caso do cliente que morrera na sua cama)
fora doloroso.
A noticia da morte dele suscitara-lhe uma data de problemas, principalmente com a vizinhança, que teve que dar a volta ao quarteirão para se refugiar. Estava pasmada a olhar quem é que ele julgava ser, para entrar assim sem bater, sem um
aviso, à porta dela, pensando encontrá-la de braços abertos,
como retribuição dos copos que lhe pagara
diariamente no trabalho
... em suma, sentira-se invadida.
Mas depois pensava
para si, repetindo
tais ideias para as profundezas, afinal de contas,
João Mávida tinha pago bem
cara
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a sua presunção, se realmente disso se tratava.
- Um morto na cama, merece o benefício da dúvida. -
E depois viu-o caído a seus pés, sem sentidos,
no chão da cama, sem respirar, levando-a por segundos
a perguntar como e que havia de fazer
para se ver livre daquele
entulho? - preferia
esta expressão à palavra
morto. O esforço de o levantar do chão, de atirar o braço dele por cima dos
seus ombros e de o semi-carregar até à sala, custou-lhe porque ele
era bem pesado. Doeram-lhe horrivelmente os pés para o erguer e ela sufocara até o deixar
cair. O que ia fazer
ela daquele trambolho escarrapachado em cima da sua cama?
Meus Deus, e a vizinhança quando soubesse. Mas outros sentimentos vieram ao de cima a dominar. Tinha que fazer qualquer coisa;
avisar a polícia
por exemplo e fugir dali rapidamente: ao fim de algum tempo,
resolveu meter pés ao caminho
e desandou dali. O morto dormiu vinte
e quatro horas, repartidas ali na
cama para satisfazer as exigências policiais e outras
tantas na morgue.
O seu sono era irrequieto; mexia-se muito na cama e escapara-lhe
dos lábios uma ou mais palavras: Rosa Maria, o palacete
é teu. Nos momentos
de vigília parecia
querer ressuscitar mas o sono era demasiado grande. Ele não conseguia
imaginar sequer o que lhe tinha acontecido naquela fatídica noite do amor. Rosa Maria veio deitar a ultima mirada para o corpo, franziu
os lábios e murmurou: «Coitado
dele, parece que ainda
está c "os copos.»
- Olhou uma vez mais cheia de superstição.
«Envia-lhe uma mensagem
ao ouvido dele.» - Recomendou
a amiga, acompanhando-a até à porta
.Entretanto, Rosa Maria voltou-se
para trás e disse: «Eu depois mando-te
notícias.» -
No sétimo dia ele acordou
de repente, dobrando
as pernas como um
passarinho e arregalando os olhos até trás como o mocho e só depois estendeu a mão para ela, murmurando em baixo tom: «Minha rosinha, vamos terminar o nosso
trabalho que não foi acabado.» -
A subtileza do pedido deu tanta vontade
de rir a Rosa Maria como o seu descaramento inesperado e, de novo, a invadiu uma sensação de acerto;
disse sorrindo: «Está bem, já que assim queres, que seja feita a
tua vontade.»- Tirou o vestido largo, de pregas, e o casaco folgado - não gostava que as roupas
revelassem a moldura
do seu corpo - e começou assim a maratona
sexual que deixou
ambos felizes, exaustos, quando chegou ao fim.
Ele contou-lhe que lhe dera um enfarte que o mandou desta prós
anjinhos. Mas voltara a viver.E ficara sempre com aquela
espinha entalada
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na sua alma por não ter conseguido o que demais sagrado deixara à
superfície da terra: o seu amor. «Está bem, eu acredito», -disse ela._
«Mas não te canses tanto,
antes que vás outra vez.»
- Ainda dias antes
ela vira um filme na televisão em que os mortos voltaram
a nascer. A ideia
disso acontecer parecia
um milagre. Tinha
ouvido tantas histórias de bebés que caíam
de arranha céus e ficavam
na mesma. Há quem
diga: ao menino
e ao borracho Deus põe a mão
por baixo. Não será bem este
o caso, mas havia uma cena no filme que deu na televisão em que o artista morre mil vezes e está sempre a nascer...
Retomou o fio à sua meada. «Às vezes». -resolveu dizer
-acontecem coisas
milagrosas.»·_ A névoa tornou-se mais espessa à volta dela.
Por isso, quando
deu conta, tinha conseguido passar por debaixo do céu. Atravessou o rio
quando a neblina se adensou
para, instantes depois, se dissolver por completo, levando consigo
o sonho. «Mas
ele estava lá.» - Repetiu ela.
Aos dezanove anos, Vento da Ventania trabalhava pela última vez na taberna
do Rato, depois
que conhecera um homem com idade de ser seu pai
e tê-la iludido
a abandonar aquela
vida de encharcar copos atrás de copos, para se dedicar
à vida doméstica. O seu porte
sempre fora muito escaldante e escondia mal as formas
do seu corpo que deixavam transparecer o mistério das suas curvas
de sex appeal. A cidade
era a sua tentação
e nela nadava como peixe na água. Nesse tempo, com dezanove anos,
Vento da Ventania, tal como o seu nome
.sugere, metia inveja a muitas raparigas do seu lugar
pela sua fogosidade e persistência em levar
avante os seus
desejos. «Quando nova
se conquista o horizonte,
não é difícil uma pessoa
escorregar e bater outra vez com o nariz no chão.»
- Disse ela um dia.
A frívola
Vento, a nigth-girl, envolta em roupas de fioco 1
não duvidava da sua ligeireza. A irmã mais velha, Angélica, ao visitá-la no seu
recanto no Cu do Judas, recusou uma chávena de chá preto e bolachas que lhe era oferecida, tagarelando qualquer coisa que fez de conta que
entrou por um ouvido e saiu pelo outro.
«Podes dispensar esse trabalho todo e troca-me isso por um copo de whisky velho, de preferência. » - Disse
a irmã Angélica. Ela esforçava-se por dar uma de finesse com boa aparência
de irmã mais nova.
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1 Roupa sem qualidade.
«Ouve-me, tu és uma miúda gira,
com pinta, porque
é que te deixas
embalar no canto destes homens
que só querem
é uma gaja para a cama
de pernas abertas?» - Certa
noite, Angélica resolveu levar a irmã
Vento a uma festa nocturna
cheia de traidorzinhos entesoados e Vento fugiu com um deles quando
apanhou a irmã distraída. Uns dias depois, envergonhada do seu acto, de ter rejeitado a companhia que a irmã lhe
tentara oferecer, mandou-a
chamar ao Cu do Judas
para revelar à irmã
que já não era virgem em buraco nenhum
do seu corpo. Ao que a irmã mais velha
lhe estendeu um tabefe na cara e lhe chamou
os nomes mais ordinários: puta, galdéria,
coiro.
«Eu nunca autorizava um filho da pulha qualquer
a desflorar-me as partes mais sagradas do meu corpo, ouviste?» - Berrou,
revelando a sua capacidade de agir em conformidade com a sua personalidade. «Eu sei o
que valho e o que posso valer e, como sei também que o segredo morre no
instante em que uma besta dessas nos põe as patas em cima, para logo
a seguir nos classificar como umas mulheres
de má vida.
Nunca se tinham
visto muito a partir desse momento, continuando Vento a reinar a sua euforia
pelas casas nocturnas
da cidade. -O vício veio a confirmar o seu dom para a arte-sexy.
-enquanto Angélica desistia de usar roupa interior. Começara
a pôr perfume em todo o sítio do seu corpo
onde houvesse um buraco e abriu, pouco tempo depois,
uma casa onde se praticavam abortos.
Como a irmã somava e multiplicava os lucros semanais,
empenhou-se a fazer três a quatro actos sexuais
por semana; para além de meia dúzia de abortos praticados a raparigas que lhe batiam
à porta, desesperadas por uma gravidez
prematura.
Soube, mais tarde, da prisão
da irmã por um jornal citadino
afixado numa banca de jornais,
FALSA PARTEIRA FAZIA ABORTOS
COMO QUEM FAZ BOLINHOS DE BACALHAU. Nem na desgraça
uma pessoa está livre destes comentários. Descobriu
também que não conseguia chorar.
«Continuei a ir vê-la ao xadrez durante
ene tempo», - disse
ela a
Padrinho. - «Por causa disso, deixei de sair de casa.» - A prisão de
Angélica foi envolta em propaganda jornalística e envolveu
as mais diversas opiniões.
Vento da Ventania ganhou o hábito de conquistar homens em idade
madura e era avistada no Cu do Judas, em plena luz
do luar, envolta apenas em camisas
transparentes e quatro
laços de seda atados nos seios e nos tornozelos. Costumava fazer amor sempre por
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cima do parceiro
-uma forma segundo ela dizia - de não amachucar
muito a sua
maquinaria. «Tenho
muita pena mas vou por cima, senão
tu partes-me os meus cacos todos.» -
Ao fim de algum tempo, Vento começou a ver a vida a correr,
evitou de passar amiúdas vezes pelas lojas para aumentar mais a sua rentabilidade monetária, ganhou capacidade de abrir uma loja mas, para
já, escondeu todas as suas pretensões na cabeça. «O rio corre sempre
para o mar.» - Disse ela ao meter as promissórias bancárias na carteira.
«Mas, no fim de contas,
vou ser como ela.» - Os clientes
e as oportunidades tinham começado a cantar-lhe aos ouvidos; e também
ela aproveitava o mais que podia e sabia,
segundo aquela máxima do
pescador: o que vier à rede é peixe.
Vento era uma rapariga competente, temível em muitos aspectos: o protótipo da empregada de bar dos anos 80, cliente das super-lojas de roupa
feminina M iss and Lady. Era a menina catita
da sua zona.
Agora também ela aparecia pelas
casas de alta costura da baixa,
promovendo a sua própria linha
de vestuário comum
-marca V -voltada mais para amadores e empregadas da loja de que para gente fina, de
modo a seguir o lema do povo:
devagar se vai ao longe.
O sucesso batera-lhe à porta. «Há que saber
agarrar a ocasião.» - como Angélica gostava
de expressar aos amigos. Vou seguir os teus passos, irmã. Ser uma rapariga sedutora
e atractiva num negócio
dominado por homens de carteira recheada. Tudo isso
significava dinheiro e, agora que ela já tinha maior idade, estava disposta a ganhá-lo. A ideia
de que era por natureza uma mulher dependente de homens maduros,
a mais conservadora das mulheres, e de que as exigências
profissionais assim a obrigavam
foi, por assim dizer, arrebatada à sua imagem do passado.
A este propósito teve a primeira
briga com o vendedor de alta costura Máximo Maximino e dissera-lhe, com a sua espontaneidade habitual:
«Acho que andas a fugir muito bem dos nossos passos quando sabemos
que eles estão próximos de se encontrarem. Mas imagina se eles param em
paralelo? Aposto que te viravas
e desatavas a correr
atrás deles.» - Mais
tarde, depois de terem feito
as pazes, ela meteu-se com ele, fazendo valer o seu novo estatuto de PV -Pronto-a-Vestir.
Apesar da sua
ambição para se implantar no meio do negócio e crescer na realidade dos tempos, Vento nunca deixou
de sentir uma certa angústia
ao virar duma
esquina -por um certo legado
do passado em que envolvia
148
1
sua irmã. Este constante eriçar dos cabelos
no pescoço fizera dela uma
negociante cautelosa, uma «calculadora de percentagens». como
diria a
11
malta das lojas e, à medida em que as contas
iam crescendo iam
aumentando as cautelas. Mesmo longe da loja, essa sensação
dava-lhe por vezes uma concentração nervosa;
foi ganhando o ar calculista
de uma máquina preparada
para um ataque aos habilidosos em números.
Isso reforçava a sua tese de mulher-frívola; as pessoas mantinham
a distãncia e ela concordava ou, pelo menos,
assim o dizia.
«Para além das minhas felicitações -garantia-lhe Máximo Maximino na exposição de roupa em Milão - isto mostra que você gosta de correr
riscos, o que é
uma prova bastante
positiva.» - Estavam
já a trabalhar na nova colecção
de Inverno. Entretanto, pensou Venta com um sorriso cansado
para ele, que deslizava por trás do seu corpo. Agora tenho-te a ti. Não te posso
censurar por teres aceitado a boleia.
Ele era como um robot para ela. Habituado a não ter sopeira em casa,
deixava as roupas nos respectivos gavetões, as pontas
dos cigarros punha-as no quintal do vizinho, trazia
um aspirador no casaco para apanhar as migalhas. Melhor:
mijava no urinol
e punha o chichi num saco
de plástico, directamente para a fossa camarária; sempre alegre e alheado
do que fazia, continuava a provar a si próprio
que ele, o miúdo da bica,
já não precisava de desarrumar
o que arrumara. E não era só por isto que
Maximino a punha
doida. Ele enchia
um copo de vinho; enquanto
ela bebia a garrafa
de vinho sozinha,
ele punha-se em cuecas deitado
no chão a imitar
um nadador numa piscina
e batendo com as mãos no chão, cantarolava:
Foi o peixinho do mar,
Que me ensinou a nadar...
Ela ria-se loucamente, enquanto bebia o ultimo trago.
«Basta, estou
farta de me rir com as tuas maluqueiras.» - Queixava-se. «Há mais
vinho na garrafa?», - Ele agarrava-se ao pé dela, murmurando baixo.
«Apetece-me
peidar», -dito com o ar mais inocente
do mundo, depois dela ter soltado nova gargalhada. «E qual é o teu problema?», - Ele
respondeu muito mansinho.
«Já fizemos isso noutro tempo. Eu dei um
peido e tu deste-me a peida.» - Quase automaticamente, as gargalhadas soaram num ritmo infernal.
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Ele era culto
e sensual para com as pessoas que comunicavam lá para
casa, mesmo educado sem meter o bedelho
em assuntos que não lhe diziam respeito. Tal como as estrelas
da televisão o eram nos programas
educativos. Depois da mãe de Vento da Ventania ter sido alvo duma cortesia
fora do vulgar,
disse à filha
quando chegou ao telefone: «Parabéns. Tens um namorado superfino.» -
«Superfino,
mãe?» - Ela não discutiu com a mãe, levando em linha de conta
o facto de Maximino ser uma importação italiana, «alimentado a sparguetti e macarrão». Muito embora ele tivesse dado meia volta ao
mundo na moda das novidades, ela continuava a viver com ele. Ninguém consegue prever
longos prazos; mesmo a médio prazo, parecia
nebuloso. Por enquanto, concentrava-se na tarefa de fazer crescer
o negócio e, ao
mesmo tempo, conhecer mais aquele homem, que presumira, desde o
primeiro dia que o conhecera, ser o grande amor da sua vida.
Havia na vida muitos momentos
difíceis. Ela não sabia o que ele sabia,
mas ele também não sabia o que ela sabia. Tentou,
uma vez contar o exemplo
do Louro, o jogador de casino condenado
pelo vício, que acabara por saber que a mulher tinha a morada aberta
e recebera três salpicões para consolar
a desgraçada e, num jogo de cartas,
jogou os salpicões e ficou sem eles, mas Máximino fitou-a
ingenuamente, dando lhe a perceber que não tinha entendido patavina nenhuma.
E surpreendeu-a ao perguntar-lhe sem mais nem menos: «E porque é que ele não comeu antes os salpicões?» - Mas ela não quis responder, preferiu antes murmurar para si mesmo.
«Ó meu querido,
tu é que precisavas de levar com os salpicões! Só não sei é o local exacto ...» -
Onde é que foste aprender
essa história, começara ele a perguntar,
engasgando-se porque não achou graça ao tom maternal que sentiu na sua
voz; mas ela respondeu-lhe sem vedetismo. Da primeira vez que ouvira falar do Louro, explicou, entendera tudo ao contrário e pusera-se a pensar
que o vicio é um mal terrível. «Vício,
Viciados», nessa altura
eu estava
longe de saber o que era isso,
ouvia até falar em demónios, bruxarias
e outras coisas mais disparatadas que o mundo
cria. Por isso
comprei um
livro: «Cague nos vícios». Para uma
rapariga simples como
eu, nascida em casa de gente pobre onde só existiam -livros do penhor
ou livros dos calotes -e, tinha de o admitir,
que havia famílias
em que não existia livro nenhum, a não ser, a lista
dos telefones.
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O que ele tinha
de pior, concluiu ela provisoriamente, era o seu fairplay
para com as outras raparigas, chamando a atenção
delas para o que quer
que fosse.
«Vai, vai ver se chove.» - Gritava ela por mais de uma vez, quando
o
apanhava à sua beira diante das amigas.
E o que tinha ele de mais sedutor era a forma como sabia instintivamente o que ela queria, a maneira e o tempo
certo que dispunha a tudo isso. Conseguia ser a alma gémea do seu coração.
Daí resultava que o sexo entre os
dois fosse como um choque eléctrico. «Pumba! Já está.» - Aquele primeiro
raio através do beijo inicial
era o tónico para o começo da marmelada. Às vezes ela sentia o cabelo eriçado,
em pé.
«Faz-me lembrar
a varinha mágica que tenho na cozinha.»
- Disse ela a
Máximino, e os dois desataram
a rir.
«Sou eu o amor da tua vida?« - Perguntou ele muito depressa.
«Claro que sim, meu bambino
de oiro.» - Respondeu ela tão depressa como ele perguntara.
O boletim meteorológico dava sinais de chuva intensa
e húmida e o
céu apresentava uma lua em quarto minguante em estado de uma obscuridade quase total, e a noite dera lugar a uma tenebrosa trovoada. As árvores abanavam ao sabor do vento que fustigava
cada vez mais, ouvindo-se o ruído de sons agudos que
pairavam pela rua. A passo
lento, segue Padrinho, chapéu enterrado na cabeça, bolsa de cabedal
dos documentos fortemente atada à mão direita, enquanto a outra mão se enfiava no bolso da gabardina escura. No silêncio da noite,
ele baniu do pensamento todo o remorso
pelo período em que duvidara
de si mesmo, substituindo-o por uma ideia nova: devolver a si próprio
a imagem do passado. Sentiu que a sua fé o abandonava e encolheu os ombros, numa expectativa de aguardar de momento o que o futuro lhe reservava - embora isso também
estivesse para breve.
Envolto pelas ruas da cidade
que se enroscavam ao seu redor,
contorceu-se num esgar de frio e olhou para o horizonte. O Porto
mostrava-se uma cidade airosa, revelando a sua verdadeira raça de
natureza pura, a sua beleza arquitectónica de cidade que tinha ganho a noção de si própria
e, por conseguinte, se rebolava
num presente auspicioso, diferente, de borgas e paródias, sem nunca ter rejeitado o
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passado, olhando a escuridão de um futuro
promissor. Padrinho vagueou nas ruas nessa noite
seguindo a luz e as trevas da madrugada. Lembrava que muito antes da chuva cair, um certo número
de casos que o haviam
abalado lhe vieram
à memória trazendo alguns nomes que haviam sido expulsos do seu espírito
por terem falhado na hora
do compromisso e, em consequência disso, haviam-se deixado, como no filme
O combóio apitou 3 vezes em que o artista, o xerife, fica a falar
sozinho à espera
dos meliantes que lhe queriam fazer
«a folha». Ó falsas criaturas! Que mal eu vos fiz! - Quando
o Deus para uns é cego, não há força
da razão que resista a tal
encomenda. Padrinho estivera à beira do abismo na derradeira queda. Como a Boa-Estrela havia sido benévola
para com ele! - Via que
a escolha era simples: o amor ao próximo e fé em Deus. Uma possibilidade que não podia deitar a perder,
antes que fosse tarde de
mais.
Tirou do bolso da gabardina um pequeno livro de apontamentos que ali se encontrava desde que saíra de sua casa,
havia mais de três horas e
meia: o livro com os nomes dos meliantes
que lhe queriam fazer a tal dita «folha», os dignos companheiros, amigos de longa data,
os seus nomes estavam escritos à mão, em tinta preta, e deitou-o a uma valeta...
Numa esquina, na zona da Rua Chã, outrora conhecida
pela sua população de artistas de várias artes, vagabundos
e homens à procura de prostitutas, e agora ocupada
por profissionais de comércio e pequenos empresários de negócios, Padrinho teve ocasião de encontrar uma
alma perdida à procura
de alguém. Era ainda jovem,
do sexo feminino, alta e duma beleza exótica,
com um nariz
tipo chafariz e cabelo preto e riscas brancas, penteado com azeite
e tinha dentes
pintados a yárias cores. A jovem
estava mesmo à beirinha do passeio, encostada
a um barão de ferro, de costas
voltadas para a estação ferroviária, levemente inclinada
para a frente e segurando, na mão esquerda, um objecto rectangular de estimação. O seu comportamento chamava
a atenção: primeiro
fitava com olhar sombrio
o objecto que tinha na mão e depois olhava
à sua volta
e rodava constantemente a cabeça dum lado para o outro,
pondo os transeuntes demasiado concentrados. Padrinho, numa primeira passagem, olhou para o objecto
que a jovem agarrava: era um cartaz
escrito a letras miudinhas. À segunda passagem, pôs os óculos
e leu com atenção o cartaz: Por favor, dê uma esmolinha à ceguinha. A seguir,
ofereceu-lhe a sua ajuda. A jovem passou
o cartaz para a outra mão e voltou a repetir
o mesmo refrão.
«Este dinheiro -disse ele - é
teu e não é muito,
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1mas é de boa vontade.»
- E retomou o caminho, olhando
a pequena multidão silenciosa. Ali, na esquina de uma rua movimentada, andavam umas a sondar
em busca dum corpo à deriva.
Mais adiante,
quase ao fundo da rua, Padrinho viu claro uma prostituta
A ser assediada
por um esgazeado que, sem mais nem menos, agarrou
o rosto dela com ambas as mãos e deu-lhe
um beijo firmemente na boca. o entanto, ela reagiu de maneira
surpreendente ao ser assim
agarrada bruscamente, exclamando: «Vai-te foder»,
- berrou com toda a força posso
estar desesperada, meu, mas ainda não estou esgazeada a esse
ponto.» - Ao que o freguês, dando mostras de mau perdedor, deu-lhe um valente
soco ·no nariz que a pôs a sangrar. A seguir, pirou-se pela rua abaixo e perdeu-se na escuridão.
Quando Padrinho foi atrás dele, o freguês
já tinha cavado não se sabe
para onde mas, em vez disso, encontrou uma velha amiga dos tempos da
desgraça que veio flutuar para a sua beira,
já
com uns copitos a mais no estômago.
«Olá! A uma hora destas
por aqui -disse ela -só se for para curtir o fado do Pescador!» -
Padrinho sorriu.
«Olha, que é que queres
que te faça?
- acrescentou
-Não tenho sono,
tenho medo da solidão e, como não consigo
dormir, prefiro passear pela noite.» ·-
As palavras
dela continuavam a ser irónicas.
«Está-me a contar essa fita a mim? -olhou maliciosa
–Esse filme vai
no Batalha!.» - Ele próprio
também foi obrigado
a rir.
Tal como ela,
Padrinho pôs-se na galhofa a lembrar cenas
do passado num jogo de perguntas
e respostas para fazer passar o tempo.
«Eram todos filhos de Adão»,
-contava ela uma cena antiga. - «Mas quando se deitaram
na cama, os cabrões arrancaram logo as suas
roupas para mostrar as suas vergonhas .» - Ouviram-se as suas gargalhadas.
E Padrinho, logo a seguir, contou
a dele:
«Uma noite,
às quatro da manhã, completamente embriagado, já tinha
bebido o whisky
todo da garrafa, tirara a escova
de dentes epreparava-me para ir à casa de banho, quando se apresentou, no meu apartamento, uma jovem sem ser anunciada e não dava mostras de querer sair dali. Eu, educadamente , fui à casa de banho lavar
os dentes e, ao voltar, encontrei-a de pé no meio do tapete da sala, completamente nua, exibindo um corpo de tarar. Quando
eu vi aquele espectáculo ali diante de mim,
gritei: Toma-me! Sou todo teu. Faz o que quizeres!» -
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