Sunday, October 5, 2008

CONTOS DE RATAZANA



                                                   
Mensagens de telelés…



As mensagens de telemóvel de Maria MancaMula acabam sempre por chegar a Armindo Barriga Cheia, ande ele por onde andar. Chegam atempadamente e a horas. Isso queria dizer que ela se sentia sózinha!... vou dar em maluca, se passo mais outra noite sem fazer amor contigo. Não penso noutra coisa, senão nesse teso pau e nos momentos agradáveis que ele dá; neste momento dava tudo que tenho para o ter na minha mão, e poder desfrutá-lo a meu bel-prazer. Chego a sonhar com ele! Não me satisfaz ser comida por o meu homem. Às vezes, apetece-me ir à tua procura, mas sei de antemão que és capaz de acabar comigo e não me quereres mais para tua amante. Nunca te passa pela cabeça pensar em mim e nos momentos bons que passámos juntos? Espero que o faças e que, algumas vezes, tenhas desejado que eu estivesse aí, na tua casa contigo, a chupar camarões, a beber champanhe, a levar c´o teu pau a gozarmo-nos um ao outro até eu ficar como o passarinho em cima do bilhar. O meu homem é um grande chato, posso dizer-te, pois ele faz tanta falta como a viola no enterro. Está sempre a perguntar o que é que eu faço, quando ele não está em casa, vai até ao ponto de querer saber como é que eu faço para me realizar? Julgo que actualmente o meu homem só deixa o cão coçar-lhe o raio da coisa. As poucas noites que vai para a cama comigo obriga-me a aquecê-la. Eu não me importo, gosto de ter a cama sempre quente, mas gostava mais que estivesses no lugar dele para me possuíres as vezes que quisesses… E por aí adiante. «De Maria MancaMula sempre tua», é assim que acaba a mensagem. A outra é mais comprida. Tão comprida como o pasquim do Lord.

Armindo Barriga Cheia sorriu com aquela loucura toda e, digita ele: «Tenho de te confessar que estou também louco por ti. Julgo que é por teres uma racha tão pequena. Quando penso no tamanho dela, sinto uma excitação maluca. Aliás, durante a maior parte do tempo em que não tenho nada para fazer, eu estive sempre a pensar em ti. Sentia-me tão contente por ter novamente uma amante para me possuír (a outra parecia um morcego, sempre a chupar-me) que me pús a descansar, assim que acabei de comer, mas sentia-me tão em fogo que não aguentei e tive que tocar à gaita. Estava tão louco que estive quase a acertar com o espermatozóide no buraco do meio do bilhar. Oh, pá! Era fantástico se acerto no buraco, que esteve por um poucochinho, de modo que esta era a minha primeira boa rosca desde a tua ida. Foi grandioso, é lógico, se bem que não é nada que se compare, como quando és tu a tocá-la. Então, borrei-me todo! Já nem me segurava nas ganchetas, quando me levantei com cautelas, e fui lavar-me, e aí, eu tive que mudar de roupa interior e esfregar-me com carradas de perfume... E termino a minha mensagem com a minha dedicatória. «Do Armindo Barriga Cheia com próspero amor.»

Sai para uma ida ao bar, sentindo uma das mãos levemente cansada. Sabe que é um bom petisco para as prostitutas com quem se cruza no bar, todas elas andam mortinhas para o levar ao castigo... são exímias a avaliar a situação económica que qualquer homem possuí. Mas ele não quer uma prostituta. Quer outra Mula, mas uma Maria MancaMula a que não seja obrigado a ficar tão agarrado às mensagens. Mas não descola outra...

Tuesday, September 23, 2008

CONTOS DE RATAZANA





              «SOB O TECTO
                 LORDESCO»

                       ~~~



Só eu sei que já vivi no Porto o tempo suficiente para não me sentir surpreendido com coisa nenhuma. Aqui não é própriamente necessário procurar aventuras do arco da velha, tal como acontece em Pequim… só é preciso ter um pouco de paciência e esperar; a vida virá ao nosso encontro nos sítios mais incríveis e picantes e as coisas passam-se aí. Mas este caso em que agora me situo… esta catraia de dezassete anos, branca como a cal, na mesa onze, o indiano espalhafatoso a ferrar uma orelha atrás dela, à frente, as duas prostitutas, uma baixa e outra alta, sentadas no sofá… é como se a realidade fosse vista através de um binóculo que embaciasse as imagens, tirando-lhes assim toda a credibilidade. Nunca me imaginara a servir de fiscal… como esses tipos que são controladores dos transportes públicos, de aspecto sempre meticuloso, muito andantes nas flautas, explicando que a catraia tinha o calor em brasa e ele estava a soprar-lhe o frio… Mas agora, tenho de admitir que Fili, com o seu corpo médio e sem pêlos, excita o indiano. Não pelo facto de ela ser uma catraia, mas porque é uma catraia sem inocência… olha-se-lhe dentro dos olhos e vê-se o diabo em figura de gente, a sombra da experiência…está sentada sobre uma das pernas desnudadas e comprime a azeitona debaixo da sua língua…
… e os seus olhos gozam pelo embaraço dele. O indiano roça-lhe com a palma da mão uma das nádegas palpitantes… o corpo ainda mantém a solidez e a imaturidade da infância. É uma mulher em crescimento, um modelo ainda por se fazer. Tem o suor espalhado… Gosta quando ele lhe faz festas ao pescoço. Agarra-lhe o braço… mas ele já entrou no local das bolas de Berlim… Espeta-lhe as unhas aguçadas que não o deixam explorar terrenos alheios e começa a brincar com a azeitona na boca… bom, vai pô-lo mais doente da tola…


A prostituta magra, sorri cinicamente… Ainda lhe chamam catraia… Ainda lhe chamam catraia, diz… a gaja sabe tanto como eu destas coisas. Ela marca com os olhos tudo o que se move. No seu ofício não se podem dar ao luxo de se deixar envolver emocionalmente, já que as prostitutas só conseguem viver depois de aprenderem a vender os seus corpos e, nunca, os sentimentos… mas vejo a perturbação invadir-lhe a alma, enquanto a voz vai ficando destravada... Chama a prostituta alta. A alta não se faz ouvir, mas ela empurra-a da mesa… está quase a caír ao ver-se desamparada. Pergunta-lhe o motivo porque se comporta como uma… bem, como uma sonâmbula, ela não diz nada, mantém-se apática e a magra toca-lhe no braço.
Tu fazes amor com o teu homem, todas as noites? Sim, todas as noites, quando ele está comigo deitado na cama… E quando o teu homem vai trabalhar, quando está fora durante a noite? Os cabritos, às vezes, querem que eu lhes faça umas coisas… eu nunca lhes digo que não, nem àqueles que querem levar com uma pelo telemóvel… O indiano sai irritado da mesa onze. A menina quer fazer o favor de não contar mais histórias dessas … peça uma garrafa e bebam as três uma rodada de um champanhe que vos faz bem ao espírito. A Fili bebe um golinho de espumoso.


Sento-me ao lado da prostituta alta no sofá. Está tão preplexa a olhar para mim, como eu estou para ela; deve ter-se esquecido do compromisso com o cliente de há bocado, senão teria dado à sola e não seria preciso eu ir avivar-lhe a memória… e logo a seguir, deita a mão à testa e levanta as pernas compridas e fortes. Fili está sentada ao lado do indiano. Brinca-lhe com os dedos, enquanto ele desliza a vista pela montra envidraçada... ele levanta o fino dedo mendinho para cima e ela belisca-o com gana.
O telemóvel da prostituta alta está tocando e, quando ela atende, vejo que está a desculpar-se perante o cliente. Não disse mais de cinco letras, tantas quantos dedos tem a minha mão. Ergue o olhar para a frente, tira a mochila do chão e esfrega os olhos, pergunta ainda, se ele me pedir para não usar preservativo, talvez a seco? Ela está morta por ser comida, e o facto de lhe terem prometido pagar três vezes mais aqui na pensão não tem nada a ver com o sítio onde ela faz massagens... neste momento, provavelmente, era capaz de dar ainda mais qualquer coisa só para receber aquele dinheirinho… Fili quer que o indiano a leve prá cama. Está ela debruçada sobre ele, com o copo numa mão, enquanto gesticula com a outra e pede, em voz alta, que eu lhe sirva outra dose e leve azeitonas pretas. Ele vai-me comer, diz-me, quando se encaminha pró quarto de banho, não queremos que os nossos nomes apareçam no pasquim do bar? O indiano reluz como um xeringa,1 agora tudo se parece cor-de-rosa. Está meio esticado no sofá da mesa onze, esperando que a pequena catraia volte. A prostituta baixa pede-me para pôr uns bónus na máquina das bolinhas. Ela está tão em crise por não entrar um cliente, que quase avaria a máquina quando começa a perder bónus e subitamente, o telefone começa a tocar.


Posso ser eu, mas faço também colecção com a minha amiga, exclama e fala ainda mais alto que sou obrigado a aumentar a música para os outros não ouvirem. Volto-me para trás, para não me chatear com ela… está a rir, a cabra, adora estragar as coisas que não são dela… «Comes as duas, se quiseres!» A prostituta baixa continua a chamada e tenta convencer o homenzinho, as palavras saiem-lhe com excitação… baixa o soutien para baixo… os seios exibem-se por fora da camisa. Oiço também o indiano a chamar-me:

«Azeitonas! Tenho de comer mais azeitonas antes de comer a minha querida pequena catraiazinha!»


Fili abre a sua pequena blusa e empurra para baixo, contra as suas calças justas de cor branca... vejo a sua descontracção aumentar-lhe para o dobro. Não percebo como ela consegue sustê-lo… mas o seu olhar reluzento parece devorá-lo, e bebe mais e mais…por instantes, sinto-a tão prevertida aquela catraia, para saber tantas coisas… E continua a saber por aí fora… Afasto-me, levando os pires sujos e os copos vazios e meto-me dentro do balcão e o indiano pede-me a conta.

«Devo estar tão generoso para si, para ter feito uma despesa destas… Com certeza que não estou com a moca… Agora, faça-me o troco, depressa!»
«Mexa-se!», grita ele. Julgo que está assustado com os meus números, mas não… aquele monhé não é da raça dos que se assustam fácilmente. Os olhos activos brilham-lhe quando me olha.


Corro, ligeiramente, para levar o troco.


«Ratazana! Ratazana!» É a prostituta alta que chega da rua. Deita-me a mão com força. «Atirei-lhe o dinheiro à cama, àquele sostro velho?» Vê-me tirar um copo de água.
«Não, não quero água…»


Puxo-a para trás do balcão. Lá está a colega a martelar as teclas da máquina de diversão.


«Oh, filha! Tu nem sabes o que me aconteceu!», choraminga a prostituta alta. «Aquele sostro velho deu-lhe para pegar no cinto para me cascar, enquanto me queria comer! Gritei-lhe como uma desalmada!»


Ela sentou-se na cadeira e esticou as pernas para fora da mesa. Estava tão branca que pensei que lhe ia dar o fanico.


«Oh, filha… se tu lá estivesses…», suspirou ela.
«Sua filha da puta maluca!», grita-lhe a prostituta baixa. «Não te volto a avisar para não te deixares comer de cebolada! Fazes tudo à tua maneira, e ainda por cima, atiras-lhe com o dinheiro!» Enfia o telemóvel nas calças e larga de vez a máquina das bolinhas.
«Agora, morcona! Vou fazer um labrego que engatei do anúncio!

Cava, rapidamente, da sala. Esta prostituta tem uma velocidade nas gambiarras. Não há forma de a apanhar… Pode-se ir de patins, skates, até bicicleta a motor, que a distância continuará a aumentar até nos deixar.

«Adeus!» É o indiano a saír e Fili segue atrás. Já lhe passaram insónias a mais… muitas, sem deixar rasto, meias gastas, todas elas. Mas estar tarde, esta bela tarde, Fili não o vai deixar fugir.
«Ratazana!» Ah! Esta agora, quer paleio. Empurro o copo para perto da sua mão e ela choraminga de novo a lembrar-se daquela saída, sem nada receber, isso baralha-lhe a mente. Neste momento não é uma prostituta… é sómente uma cabeça com problemas, que tem der ser reparada… os problemas vão durar muito.


Vou ter de levar com ela, como vou ter de ouvir as suas memórias desses outros que a lixaram. Está debruçada com a cabeça na porta da sala de jantar, com as pernas firmes para fora e os seus lábios murmuram palavras azedas dirigidas ao sostro velho. Faço de conta que não ouço. Agora, ela está em baixo de moral. Encho-lhe o espírito com palavras bonitas. E faço-lhe ver que não tem de se sentir culpada por não possuír estaleca para ser usada a chicote… é já bastante o que ela faz… Depois de ter aliviado, a prostituta alta mantém-se escarrapachada olhando como um lince a porta do bar. Nem se dá ao trabalho de fechar as pernas… comporta-se como se tivesse esquecido donde está e parece plenamente satisfeita consigo própria. Mas receio que hoje não não apareça ninguém, que lhe pague no mínimo um copo, ou uma ajuda para o táxi, para ela contar a história da mãe no xadrêz por gamanço… Meto a mão no pano e limpo com ele a mesa e tiro a primeira revista que me aparece, coloco-lhe dobrada na página dos anúncios dos casamentos à moda de Campanhã, sobre o tampo de vidro da mesa, como um alívio a servir de distracção.


De súbito, a prostituta alta põe a revista de lado e sai. A rua, tão solitária e despovoada, como nunca vi, acolhem-na.


(1) drogado.

Wednesday, April 23, 2008

CONTOS DE RATAZANA


                                       O CAVALHEIRO DE TESÃO
                                                           ~~~

Não quero embebedar-me. Hoje levei meia dúzia de garrafas de uísque para casa... duas já foram aviadas e desfiz-me delas. Não tinha notado que estavam a escoar-se, que o álcool se tornava progressivamente mais fraco para aguentar a sede... mas já se foram e só as tinha comprado há uma hora ou duas... quando ainda estava para ver o futebol na televisão, é claro. Em que outro programa a não ser o futebol se pode beber uísques a quantidades de granel que se evaporam primeiro do que a pessoa que os bebeu? Mas o tempo cura. Estes gajos da vida da noite que nos dizem que não se importam de apanhar a piela e dar duas, ou cinco ripeiradas... como é que uma besta pode dizer uma asneira dessas, minha sorte? Há tempo para tudo e muito mais e contanto que se esteja a mexer é impossível a alguém cansar-se de não fazer o que lhe der na real gana... Saio e vou à procura de prazer. Entro no O Bar do Traidor. A chavala da Panquecas vem coçar-se no meu casaco após uma troca de olhares. Está cheia de vícios, até às unhas, ou mais... agora é o lesbismo que a atrai. Fala de cabelos, brancos e russos, das Mulheres-Homens, de pentelhos e não pentelhos, de sensabilidade fêmea... Oh, ela tem tudo bem estudado, conhece todas as palavras e fala tudo tão rápido como um papagaio que tudo me leva a crer que não tenha o caco avariado.

Decidiu que já reuniu informações a meu respeito que lhe faço parecer um cavalheiro de tesão e espera um dia chegar a sua vez de me comer. De mim, ouviu ela dizer, mulheres houve que levaram uma ripeirada de engravidarem! E como seria maravilhoso poder ir para a cama comigo, ser acompanhada por, digamos, Panquecas, ou outra gaja que, por motivo de atracção, etc., é inacessível de qualquer outro modo. E ela vibra com esta treta! Tem andado a ver montanhas de filmes eróticos, diz-me ela, e a Panquecas está excitadíssima. Saberei eu, por exemplo, interroga ela, que há, nesta cidade menos de cinco dedos de casas eróticas, cujas clientes se perfilam à adoração do Antipénis? Fala de seduções e joguinhos, e vários utensílios utilizados para fins de prazer e realização sexual. Cos diabos, ao ouvi-la falar quase me convence que todas as noites avia marados e tarados. Até a Panquecas faz a sua entrada na mesa... esgotou as listas nos dois celulares dos grandes senhores da foda de todas as épocas e diz-me que só no Porto existe menos de cinco locais de encontros afrodisíacos que funcionam de noite. E puxa por mim: «Então, Sr. Rui, hoje não vai dar uma rapidinha? Abano a cabeça, simplesmente.» É impossível ir para a cama com uma mulher que não me diz nada ao instrumento. Mais depressa me enrolava com uma rafeira esfomeada. Para ser sincero, estou contente por ela se ter posto ao fresco e mesmo depois de ela ter saído da mesa aindo sinto o vazio que deixou. Não são pancas e taras que me chateiam.

Torres dá também o seu mote para o meu dia! Torres e Panquecas! O industrial da construção que Panquecas gosta de levar para a cama com desejos ardentes, mais ardentes que outros, quanto está só a viver em casa... sente saudades do tempo e sofre daquela doença que faz as amantes sentirem que uma pessoa que tenha estado por dentro da vida um do outro é um amigo para brincar e troçar com toques de ternura e confidências. Por conseguinte, Panquecas anda a dar umas curvas com ele. Não é tão chança como eu pensava... talvez porque tanto ela como ele se sentem divertidos... fizeram a ronda pelas tabernas da periferia. Também não é muito nova... nem percebo como é que ainda não se cansou de aguentar Torres... ele está a ficar pantomineiro... Ele encosta-se-lhe à perna, dá um tremido para ela, mesmo ali à minha frente, e ela aproveita a dar-lhe um beliscão e olha, fixamente, para ele. Torres parece ter decidido que esta noite é mais uma noite para a tourada... há alguns dias que anda a tentar apanhá-la com a chavala que já fez tudo, excepto dizer abertamente para ela trazer a chavala que quer montar as duas. Começa a provocá-la... mete-lhe a língua na orelha, roça-lhe com a mão nas mamas... Ele está a querer que ela aqueça... e parece-me que ele a quer tanto para o seu próprio prazer como para aquecer Panquecas. Oh, ela é uma sabida na matéria, a esse respeito não restam dúvidas. Enquanto isso, a chavala... a chavala afasta-se e desaparece durante uma meia hora, até voltar ao nosso convívio outra vez...

De súbito soa a campaínha da porta do bar e é a meia-irmã de Panquecas.

Voltou do café e trás um pastel para Panquecas que ela não conseguiu comer hoje porque acordou tarde. A chavala regressa também e recebe ordem para dar uma dentada no pastel. Senta-se e faz olhinhos... um pequeno sorriso é tudo o que preciso para a compreender... Aquele pequeno corpinho, deixa-me o pau em sentido que podia pô-lo em exibição... Ofereço-lhe um copo de licor de pêssego e depois ela contempla-me de alto a baixo exibindo o seu primeiro sinal de compromisso em toda a noite. Depois Torres e Panquecas sentam-se e agarram-se um ao outro. Torres fica de frente a olhar para mim, no sofá. Talvez não fosse má ideia irmos os quatro para o cardenho e estávamos mais à vontade! sugere sarcasticamente. Porque é que elas não nos fazem aos dois ao mesmo tempo? Deve estar mais embriagado do que eu... de certeza que sente uma certa temperatura... Panquecas solta uma valente gargalhada. Mas ele ri-se também... os dois desatam a rir, a beberam um copo pelo dito e a chavala faz-se tímida e está bonita.

«Porque é que tu não lhe saltas...? Oh, pá, estás à espera que ela te diga», pergunta-me Torres. «Leva-a para a cama... Eu não me importo. Mas eu gostava de a fazer com a amiga, para ter o prazer de saber o que é que elas têm para me dar que eu não saiba?»

A chavala tosse convulsivamente, colocando a mão à frente da boca. Tenta mostrar um ar alegre... uma coisa que a tosse não a deixa disfarçar. Panquecas carrega o sobrolho... talvez pense que Torres está a querer ir um pouco longe demais... mas estas gajas podem ir bastante mais longe de que isto. Repentinamente a chavala abre a blusa e mostra-nos os seios que emolduram o corpo. É como ter um raio potente dirigido subitamente na nossa direcção, quando ela nos mostra aquilo. Quase que os esfrega no nariz de Torres. O que é que há de mal com eles? Quer ela saber. Ser pequenos... ser descaídos? As duas coisas, digo-lhes eu, o que a faz morder o lábio. A chavala fecha subitamente a blusa, e lança-me um olhar reprovador. Torres quer divertir-se. Para a família, ele está muito longe de casa e, nem sempre isso acontece, segundo nos diz, pode fazer o que muito bem lhe apetecer. Torna-se altamente vendedor de programas ao programar uma farra nocturna. Por fim volta-se para Panquecas. Se ela quiser alinhar num quarteto, vai ver que não se arrepende. Panquecas manda-o enfiar o dedo pelo cu acima... mas realmente não há razão para nos divertirmos.

Não estou muito pelos ajustes de desejar despir as calças com este par por perto... mas ele mostra-se resoluto com tudo. Convenço-me que o seu interesse se centra mais em Panquecas. Está uma pequena confusão na mesa desde que Torres chegou... oh sim, ele pensou mesmo em comê-las, simplesmente a Panquecas não vai no jogo! Mas não é fácil fazer uma coisa destas quando uma parceira não alinha... mas ele nunca vai desistir de as fazer. Porra, não vou ficar aqui feito pateta a ver estes doidos a reinar! Mas estou com uma força no pau que parece fazer parte dos meus bons tempos e se não como a chavala provavelmente vejo-me obrigado a sair e a pagar a outra puta... encosto-me a ela quando se encosta para mim. Esfrega a mão contra o meu instrumento e puxa-o para a frente para medi-lo ao comprimento. A chavala está tão louca a ser levada para a cama como eu estou para a comer... as suas mãos ardem e o suco escorre entre os dedos. E o seu olhar... é uma maçã ardente e cobiçosa... Sinto-me como um homem prestes a entrar na lua quando lhe passo a mão na rata. Ela abre as pernas e firma-se como uma santola. Levanto-me para ir à pensão à procura de um quarto. Torres agora olha-me admirado. Certamente não contava eu ter uma reacção destas. Explico-lhe o porquê. Tens aí uma gaja para fazer cócegas à barriga. Para mim, é agora ou nunca... há tantos dias que ando a tentar comê-la, que agora não me escapa. Oh, My God, fodi-a no quarto 11, no andar de baixo da pensão, em cima do velho móvel da roupa! A chavala está sentada de frente, firme como uma rocha, enquanto lhe tiro as cuecas... e atraio-a a mim e beijo a sua boca mais uma vez... e antes que ela tenha tempo de arrefecer eu monto-o. Monto-a ao estilo de Marlon Brando e começa a dar gemidos tão altos e roufenhos, que eu temo que o homem da recepção apareça com a polícia e me leve para a choça.

Que loucura! A chavala agora grita que lhe está a chegar o orgasmo... Eu estou tão roto que a única coisa que posso esperar é que ela não expluda. A chavala está demasiado concentrada a imaginar-se com o cavalheiro de tesão e só abre os olhos quando me venho e ela, também... Ah! que gozo, parece que o mundo inteiro está a ter um orgasmo!

Sunday, February 3, 2008

CONTOS DE RATAZANA



                                             O ESTILO PINGA-PINGA
                                                               ~~~


A Raquítica já não quer continuar a foder comigo durante mais tempo. Não preciso de ir à bruxa para saber o que está por detrás disto... O homem a quem ela chama de Padrasto fode-a, eu fodo-a, os clientes fodem-a e ela está farta de ser fodida. Como cuspidela final no seu prato, o Padrasto está a intrometer-se com a sua clientela… e Raquítica é tudo o que há de mais fêmea. O Padrasto quer saber se alguma vez ela foi enrabada mas não vai saber, pelo menos da forma que ele pretende. Evidente que ela merece tudo o que de ruim lhe está a acontecer na sua vida… sempre que a voz profunda da consciência vomita qualquer coisa, lembro-me do que esta cabra nua com ataques de engasgos me fez passar; ajuda-me muito a não ter piedade dela. A única coisa realmente admirável, quando penso no seu caso, é Raquítica nunca me ter dado o nega, antes disto. Uma gaja que é desequilibrada como ela é desequilibrada, devia por bem trazer uma tabuleta ao pescoço: «Pretende-se Relações Banais.»

Após alguns meses de relações com Raquítica, um tipo começa a sentir-se possuído. Que ela tenha conseguido pôr-me algum pó de talco afrodisíaco durante este tempo, é simplesmente outro sintoma do declínio geral do meu prazer. Olhem o Padrasto, por exemplo... já anda com ela à muito tempo e já lhe aconteceram tantas coisas como à maioria das outras pessoas, mas se ele não me tivesse, por curiosidade própria, telefonado hoje, possivelmente eu nunca me teria apercebido do jogo deste cabrão que se desmascarou. Pela parte que me diz respeito, eu também sou culpado por deixar ela ter acesso aos meus números de telefones, até hoje. Bom, não acho que a partir de hoje me vá falar muitas vezes ao telefone... Desconfio que a sua abastada famelga vai decorrer pacatamente, com muitos menos pedidos de ajudas... Ratazana está quase em sobressaltos, pois crê que eu escapei de ficar com a língua cortada à dentada mesmo em frente do meu narigão. É um verdadeiro calafrio... algumas histórias semelhantes a esta por que lhe contaram, deixaram-no neste estado de alerta. Pede-me para acabar com isso. Dê-lhe de enxota, diz, e o Padrasto que vá para o maneta... pelo menos, que não lhe volte a chatear. E, se porventura, voltar a comer Raquítica, quando ela não estiver tão em stress, nem dê mostras de começar com engasgos, então sim, deve valer a pena explorar o esqueleto, sugere ele.

«Que julga?», exclamo eu. «Não acha que ela e eu já temos um jeito pró outro que nos derrubámos? Claro… depois de cair-mos na cama!»

Falar a Raquítica como é que se vai pôr na cama é o mesmo que dizer a um homem que se está a despir se ele já pensou onde é que vai começar a brincar... ela não dá tempo para pensar nisso, nem espera que alguém se oponha a ela. Ocorre-me que o motivo pelo qual o Padrasto agarra no telefone dela, e liga para mim, talvez seja o dele pensar que enquanto tenho a ideia da paternidade, eu não a troco por outra. Olho fixamente a minha imagem no espelho, parecendo muito elucidativa a minha tese sobre a intimidade deles e o Padrasto afigura-se como um ás no baralho. Quanto mais penso, surgem perguntas e mais perguntas. Ratazana é de opinião que a devia despachar rapidamente e já. «Bye, Bye, minha linda», diz. Faz-me uma pequena lista acerca das próximas raparigas que podem vir a seguir. O melhor, declara, será não ter cavalo… só pode ser você… a seguinte com apartamento que se veja quem entra e quem não sai. A melhor das hipóteses, parece, é a que conta realmente, aquela que lhe vai pôr os freios no lugar.

«Porra, o que está para aí a dizer?», digo-lhe, com uma voz ligeiramente enrouquecida. «Trato bem as mulheres de forma que nunca mais me larguem… mas isso não basta. Nenhuma delas me dá garantias que não volta a largar-me, o que me obriga a ter de procurar outra… porra, qualquer dia canso-me por isso.»

Ratazana diz-me para cortar e passar por cima. «Tenho eu aí uma sonsa», diz, «mas a gaja não suporta a ideia de dar beijos na boca. Só há uma maneira de a convencer. Pô-la a beijar de olhos fechados como se fosse beijar o Cristo, ou alguém parecido.»

Não entendi muito bem onde é que ele foi buscar esta ideia, mas quem sou eu para pôr em cheque a ratice do mestre Ratazana. Ratazana faz um arranjo no cabelo com a mão direita. A música vagueia suavemente pelas colunas de som. Está lenta como uma lesma e tem todo o estilo de que vai continuar assim.

«Não é que seja difícil comê-la», explica ele. «Mas carago, acabei de lhe apresentar um marreta para lhe saltar na espinha. Não se pode exigir que faça outro a seguir. Não é?»

Quando Ratazana diz isto, vêem-me à imaginação as mãos de Raquítica apertarem-me o pescoço. Ela ainda mexe comigo e dá-me a sensação que tenta apanhar se lhe ponho os cornos. O pescoço está em polvorosa tensão…

«Não a quero mais…» Raquítica sem o stress é extraordinária lutadora e tem quase conseguido fazer-me sentir que eu sou um homem de outro planeta, durante meses… antes disso… só eu sei quantos estafermos esfolei.

Tem-me feito num oito e atirado ao tapete na pensão combinada com hora marcada, batendo em retirada na sombra do táxi de um amigo, vezes bastantes para dar comigo em permanente vigilância e também desconfiado crónico. Mas agora… ELA vai desistir de me fazer a MIM! Quase que aposto que é bazófia da parte dela… se as prostitutas do abaixa-a-tola tivessem boas gajas, só os sticks que eu dava com a mesada de Raquítica ficava consolado. Podia fazer contas à minha conta secreta durante poucos minutos, sem nunca precisar de uma calculadora. Contas e fodas conseguem fazer com que a minha reforma espelhe o meu ritmo de vida. Mas agora, estas cabras estão demasiadas sugadoras… Dou-lhes tudo e mais alguma coisa e nem assim…

«É o raio de uma vida ao estilo pinga-pinga», comenta Ratazana, maliciosamente. «Ou se metem de mais a chupar ou não fazem um só cabrito. Talvez nós, os profissionais, a devêssemos treinar a arte enquanto estivessem por cá. Treinem, porra, ou mudem de ofício…»

Ratazana acaba por me dizer que não me deixe dominar. Você não pode obrigá-la, mas ela não será beneficiada… pode ficar com a sua vontade, mas não com o seu dinheiro, etc.,etc…

«Se calhar tenho de a paparicar», sugiro.
«Pois, parece-me, mas é que tem de mudar as coisas sem ela… olhe, amigo, já alguma vez alguma recusou o seu lindo dinheiro e depois deu-lhe uma goelinha cheia de diversidade para você se saciar? E depois deu-lhe um passeio cheio de meiguices para mais tarde recordar? Ou pediu-lhe pinturas suas para as vender na Feira dos Pássaros e, quem sabe, enviar algumas para os sem-abrigo no Coração da Cidade? Não, penso que não…»

Sorrio-me instantaneamente. Ratazana solta umas engraçadas piadas… sempre desejou dar-me umas alternativas que acabassem com a alternativa… Tem projectos… e vira-se para mim.

«Ou prefere ser um velho simpático a não foder?», pergunta ele. É muito difícil a Raquítica falar duas comigo.

Mas Ratazana prega-me um discurso a sério… Acredita que eu seja capaz de tudo. E exige mais entusiasmo…

«Io Capito», grito-lhe, «santo Pattrono, você tem cá uma lábia que é um espectáculo! Ah! pensa que eu não sei? Eu é que não pratico…»
«É uma lábia exclusivamente made-in-Ratazana», explica ele. «Já é um habitat, ou coisa assim-assim… mas se lhe enfiar qualquer coisa pelo grelo acima, acaba.»
«É só você para me fazer rir», grito-lhe. «Ela é fixe, se ninguém lhe consumir o juízo... porra, já gastei boa nota com gajas bem piores do que esta…»

Ratazana não se comove com o desabafo. Aparenta um ar malandro e diz que ela só gosta do meu dinheiro… e que está simplesmente a sacar umas coroas…

«Ela não tem de sacar ou deixar de sacar», digo eu. «Só tem é de fazer as coisas bem feitas e dar-me prazer. Não lhe parece?..pensa que ela saca?»

Ele não consegue ouvir-me. Está seguindo para a cozinha fazer a limpeza e a mim está-me a vir o sono, por isso sento-me num sofá e observo o pintassilgo dentro da gaiola do outro lado da sala. Ratazana demora pouco tempo os arrumos. Quando as conversas agradam demasiado para ele e está prestes a pirar-se, olha e recomeça e a primeira coisa que faz é sentar-se também. Se eu continuasse a meter-me com ele, levava outro tempo a ouvir a mesma missa, mas assim que ele repara o meu bico fechado ele também não se manifesta. Sinto-me cansado já de o ouvir…

«Sabe, ela afinal não é parva de todo», diz ele, repentinamente, durante uma paragem na higiene. «Se você viesse a saber muitas coisas dela, era capaz de transformar o seu romance num pesadelo de fugir. Daí que...não se pode queixar, amigo?»

Mas as queixas agora já não me atiçam… talvez eu me tenha convencido de que tudo aquilo não passe de especulação, ou talvez seja verdade eu estar a ser levado ao colo. Olho para o relógio do bar... tem estado a aumentar as horas.

«Deixe-se de merdas e despache-a, está bem?», contesta Ratazana. «Consegue sempre engatar outra, porquê ficar assim espectador todo este tempo…

Ratazana aperta o blusão até cima e põe os braços entrelaçados, como se fosse um caranguejo… O pintassilgo solta um piozinho e depois tudo fica silencioso e calmo. Ratazana está voltado para mim quando me diz para não ser parvo… o que é importante é não lhe dar o número do telefone novo. Senão vai ver que não tem sossego…tem uma praga à sua frente, explica ele.

«Já caí uma vez», digo-lhe. «Mas isso era antes de eu aprender a lição. Agora, ela não me volta a apanhar.»
«Muito bem», diz ele, altamente desconfiado. «Agora vamos cavar daqui, antes que apareça por aí algum vigia…»

Dá-me realmente vontade rir, ouvir o seu dito e depois olhar para a porta para ver se vem alguém. Começo a rir e quando Ratazana me acompanha, o bar fica com uma imagem tão monótona, como nunca vi em bar algum. Ratazana dá-me uma palmada no ombro… E abre a bolsa de cabedal enquanto procura a chave da porta. Depois faz um ligeiro discurso de despedida ao mesmo tempo que enfia a chave na fechadura. Que noite! O céu tapa-se como um lençol negro e mantém as estrelinhas reluzentes até acabar a noite.

«A sua companhia foi um prazer», diz-me Ratazana… «talvez possamos voltar a conversar logo… às onze e meia da noite, talvez?... e quem sabe se não tem uma nova amiga que gostaria de conhecer…