Sunday, December 27, 2009





CONTOS DE RATAZANA
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ASES DA CAMA

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Graça, açoreana de raiz, vem visitar-me pela terceira vez porque se vai embora… deixando o Porto talvez para sempre. Com o seu fardo, justamente com ele. Ela e o fardo chegaram a um certo consenso…

Não consigo entender se ela vai abandonar a prostituição ou não, mas não me parece que vá. Sendo uma mulher essencialmente luxuosa e exótica, cheguei à conclusão de que ter Graça no meu naipe de colaboradoras é uma mais-valia que só me favorece por ter mulheres como Graça.

Vai partir para a sua residência em Lisboa e daí possivelmente para Espanha. Graça abre-se com isto sentada na minha mesa do Bar do Traidor enquanto acabo de arrumar a cozinha, pois apareceu depois do jantar.

O que é que eu acho disto, quer ela saber. Tento achar no que é que acho daquilo, mas é uma tarefa deveras complicada.

Depois de um intervalo, Graça, de forma demasiado profissional, pede o aparecimento de um cabrito… gostava de levar umas coroas mais com ela. Tento apanhar o primeiro, os cabritos nunca estão na hora certa. Estes gajos! Se me aparecesse no dia anterior e dissesse que queria gozar com uma data de pichotas, eu dava-lhe manadas delas.

Quando saio para ir guardar os aperitivos do balcão, Graça pede-me um curto. Esta noite o café sai com um creme maravilhoso … é outra das vantagens em estar com uma quarentona tão boa como Graça. Mas eu não tenho más intenções. Graça é boa, eu queria-a, mas agora ela vai-se embora... quem conseguia apanhar nestas alturas?

Além de uma boa simpatia pela pessoa, não estou, não tenho más intenções. Já lá vai o tempo em que uma mulher tão atraente como Graça me fazia furor por dentro…ou por fora.

Na sala entra Magalhães. Apresento-os, e o seu aspecto é de grande entusiasmo. Vou levar-lhe um cocktail de frutas, hoje é dia de trepar. Ao fim entrego-lhe a conta, levando uma boa gratificação na bandeja. À porta, despeço-me de Graça, pensando que provavelmente não a tornarei a ver mais.



Duas horas depois da abertura do Bar do Traidor toca a campainha e Big Bela encontra-se à minha espera no hall. Livrou-se do seu pitosgas e agora quer trepar mais.

Fala sobre a sua vida actual. Agora que está na pré-reforma acha que eu também me devia inscrever. A ideia à primeira vista nem parece ser má de todo se fosse bem sucedido em aposentar-me, mas que se tem de mexer bem os cordelinhos lá isso tem para receber os dividendos respectivos.

Big Bela ainda está a tentar explicar-me a meter os papéis quando chega à minha oficina o cliente das tardes morrinhas. Uma vez dentro da sala, vem ter comigo para saber quem é o peixe que tenho ali dentro com a perna alçada atrás de nos, e isso tem assunto que chegue.

Ainda mal acabei de o servir e já ela se atirou para ele, enrolando-o no seu patuá e procurando com as mãos animá-lo a uma rapidinha. Seguidamente, só dois dedos de sedução, começa a prepará-lo.

Não traz apetite… É a primeira descoberta que faz.

Digam lá o que fariam por desejos secretos; eu gosto mais das coisas ao natural, pôr as mãos em tudo o que mexer, onde mexer e quando tiver vontade, sem silicone nem falsos nem postiços.

Enquanto o vai aquecendo, pondo-lhe as mãos entre pernas até surgir a sua reacção a conta-gotas e naturalmente a desinteressantíssima maquinaria da frente.

Então, e apesar de todo este monumental calor, o tipo continua impávido e sereno.

Mantém-se fogosa e mexida, com o vestido transparente, mostrando de que é que as cabriteiras são feitas. «Pegadiças e cor-de-rosa, e um cheirinho acre-doce», dizia-se quando eu era aprendiz do ramo…

As mãos são a única coisa que nela mexe. Olha para a entrada, para ele e depois para o lugar da ferramenta. Por fim manda-se da mesa e vagueia amorosamente pela sala, exibindo em pose para a frente como uma dessas ovelhas das passerelles de beleza que às vezes se vêem nos documentários televisivos e magazines de moda.

Rabo sobressaído, peito subido, sorriso curtido… que naco, e ela sabe-o. É uma dessas coisas que torna Big Bela grande… o ela saber a mulher especial que é, e no entanto não se cobrar muito a respeito da técnica que tem entre as pernas…

Não admira que o seu pitosgas tenha dado o exclusivo. Qualquer cliente daria, tendo uma mulher daquele calibre ao seu alcance e podendo sempre que queira ir para cima. Para ele é melhor assim… se bem que creia que ele, ou qualquer outro interessasse este compromisso. Eu não me comprometia, de certeza.

Enquanto a admiro no número de aquecimento ao cliente, subitamente tomo conta de quão altamente deve ser ter, em privado, um programa e uma boa amante.

Incrível? É lamentável… coça-me a cabeça pensar nisso, e a ver o tipo para ali sentado com o mastro totalmente em baixo… O cliente toma a atitude de se levantar, pagar a despesa, e dar o arregaço dali para fora.

Big Bela afasta-se do balcão quando vê um cliente a aproximar-se e a dirigir-se para uma mesa. Não, não, pode-se sentar também, diz-lhe ele. Mas não me toque, se me toca, eu começo a beliscar-lhe as partes cheias… e então é certo e sabido que vamos ter comezaina…

Num ápice, Bela saca-lhe uma bebida… Bela com a sua conversa entrosada de boa maria e ocultando a sua mão acima e abaixo.

Depois Bela dá-lhe a conhecer um pouco do seu programa para ele ficar a saber o que vai contar… e ele conserva-se muito atento a quase tudo o que ela diz, antes de vê-la trocar de pernas e volta-se para a apalpar… mas vê o seu rabo − que nesta altura está mesmo um rabo – estende para ela a mão com que tinha estado a esfregar o perna.

Fica-se por uns momentos a olhar e dá-lhe uma palmada no rabo, de que ela naturalmente não está a contar e que a faz soltar um urro de exclamação. Deixa-a contorcer-se deliciosamente atrás da perna dele… o seu cu tem uma forma muito interessante, com duas meias-luas separadas ao meio, confidencia-lhe, ao mesmo tempo que tenta fazer passar a mão por uma abertura que é demasiada pequena para ela.

Sim, ele demonstrou um interesse pela hipótese de a comer, acrescenta rapidamente, antecipando-lhe à pergunta que ela se preparava para fazer. E dá-lhe, e de que maneira, palmadas no rabo e quando a vê lampeira sair da mesa para ir ao quarto de banho, ri-se a bandeiradas, por assim dizer.

Chamo Big Bela a mim, já que é isso que ela gosta ouvir, que ela é sem a menor sombra de dúvida uma celebridade de Ás da Cama. Ah, como ela gosta de ouvir isso!

Até me fazes corar, diz ela, se pensas que eu tenho amigos viciados nos meus programas habituais… provavelmente os homens convidam-me para gozarem momentos únicos de gozo e prazer…

Puxa o vestido pela perna, mas quando está a meio caminho, com os braços abertos, ela envia um beijo pelo ar e retribuí-lo.

«Adeus, Ratazana», diz. «Obrigado e até à volta!»

É o adeus de Big Bela.



Paula, uma versão lordesca de Minhoca, já tem um invento cor-de-rosa. De há umas semanas para cá que se regozija com este seu novo invento. Não tanto pelo invento, mas sim pelos seus utensílios… para homens e para mulheres.

Mas agora descobriu que o Rouxinol-da-cama, seu cliente efectivo, não lhe liga a ponta dum corno como antigamente lhe ligava, e ela não sabe o porquê. Por isso, Minhoca tem andado desconfiada. Há qualquer coisa no ar que não está bem, insiste, as putas devem-lhe ter dado um xarope ou coisa parecida.

Ou talvez o pateta tenha andado pelos bares das redondezas, a ver putas novas que lhe dêem todos os prazeres e quando ele as fizer avançar, põem-nas na cama com as cassetes de pássaros a exibirem-se e arranja logo a forma de se masturbar.

Quando lhe faço ver a admiração de que não é muito normal um homem necessitar de se masturbar pela passarada, Minhoca desvia-se do tema e convence-me que há ali qualquer coisa que não cheira lá muito bem.

Quer ir para a cama com outras gajas, mas diabos o carreguem se vai fazer esse jogo comigo. Rouxinol-da-cama? Até o nome dele já não me está a dizer quase nada, diz Minhoca. Eu só conheci um cabrito com esse nome nome? Tá-se mesmo a ver que é raridade… passa-me qualquer coisa ao lado…

Mas, com tanta ansiedade, Minhoca quer saber tudo. Gostaria que eu sondasse as colegas, só para tirar umas dúvidas. Talvez nós pudéssemos, um por cada lado, no bar, puxar pela Manela ou Cristina a ver se sai qualquer coisa que valha, ou então o pateta anda a comer alguma gaja que parece não precisar de mais parceiras.

Eu averiguo com a intenção de arranjar uma história para o pasquim acerca de «De onde veio a traição?». Minhoca tem tanta necessidade de agarrar o Rouxinol-da-cama como qualquer mulher da rapidinha. Mas, consegue obter, sabe-se lá de que maneira, um convite para almoçar entre os dois.

O Rouxinol-da-cama, que é, afinal, como a alcunha o apresenta, assemelha-se a um pássaro saltitante, com um suave e melodioso canto trepidante, a que dá as funções mais variadas: espevitar os pintelhos das bucetas, servir de acompanhamento, tirar o sono à febra e tudo o mais que for necessário.

Como Minhoca e eu estamos ali com funções alegadamente compartidas, sou posto em contacto primeiro com a parelha de gajas e só depois com os seus inventos.

Está tudo espalhado na mala preta numa rebaldaria total, e os objectos apresentam-se, na sua maioria, presos ou soltos. Uma grande parte deles tem a configuração de vibradores de estilos, spray para levantar paus sem erecção ou então aparelhos que pretendem fazer, em rodopio, variadas funções. O mais aplicado é um novo tipo de gel aromático, mas desaparece logo à mais pequena lambidela. No fim de tudo isto limita-se a ser uma propaganda de tralha sexual a aliciar o cliente, como já não via há muito tempo, e altamente aliciante.

O Rouxinol-da-cama poucas vezes se vê no bar e, à medida que o escuto ao telefone, lamenta de facto criar um conflito entre as suas maiores amigas… é tão cansativamente aborrecido. A mais alta e a mais baixa são muito especiais. Diz que a alta tem uns oito ou nove fôlegos… a baixa deve andar entre os três e os cinco.

Minhoca informa-me que soube que é a Manela a preferida de Rouxinol-da-cama quem tem mão nele. O motivo por que as duas se desentenderam, é lá com elas, mas não me admira que uma delas vá espremer esta ave cantarolas é uma dessas coisas que não é novidade neste quotidiano…

Provavelmente é porque ele usa os cantares com mais à vontade…

Merda, por aquilo que Minhoca me contou, tinha pensado que eles se engalfinhassem enquanto esperavam que os calores trepassem. Ao invés disso, passam-se a ver passarada em cantos, da região do Norte e das maravilhas da Madeira.

Durante o almoço, vem a farra. Minhoca confessa maliciosamente que há uma coisa que não lhe revelou. Vai buscar a mala preta e tira de lá uma garrafa pequena que está cheia com um líquido azul, levíssimo, um novo tipo de bebida de agradável sabor, que pretende ter, ao mais pequeno contacto, mil e um risos. É uma bebida que ela inventou. Tem o gosto a uva mijona do campo, e combina de mais alguns paladares e sabe-se lá que mais.

O Rouxinol-da-cama, que me diz nunca jamais se atrevera a mais do que um vício, deixa-se embarcar neste e acompanha-a numa primeira pinga que ela oferece nuns pequenos copos, e começa imediatamente a cantar.

A borga anima-se, e o invento de Minhoca começa a dar sinais de ir bem.

Depois do segundo minuto, Rouxinol-da-cama ainda continua a cantar, e a voz está a alterar-se. Minhoca sai do quarto para ir à casa de banho deitar fora a bebida que abafou na boca e volta ao quarto a tempo suficiente de ver o Rouxinol-da-cama a despir-se e a sentar-se na cama ao seu lado e com a mão a beliscar-lhe o cu.

Os sintomas e o contacto começam-lhe a fazer rir. É mais do que uma simples gargalhada… Sente os risos aparecerem quando toca no corpo dela, e entoarem como ecos numa montanha fechada, todos em tonalidades iguais. As luzes do quarto tornam-se excessivamente quentes. Admira-se de não estar a cantar.

Tem a pele muito esbranquiçada. Minhoca está toda entusiasmada com o seu novo invento, e num quarto de hora, ou isso, acabam com a bebida.

A Minhoca deve sentir-se muito feliz, por o ver naquele triste estado sem que ele se desmarque. O Rouxinol-da-cama maneia a cabeça cá e lá nos limites do inconformismo, sem conseguir forma de travar aquilo. Executa um exercício demasiado caricato… o segredo com esta bebida tipo pinar-não-há de Minhoca é que, pelos vistos, paralisa o tesão.

Toda e qualquer intenção de a comer há muito que foi ao ar e assim ele continua separado a rir-se como um maluco em intervalos de segundos, ou mais ou menos.

Gargalha-se sentado na ponta da cama como se estivesse a ver o maior espectáculo do mundo, deixando-a ficar de sorriso pregado aos lábios, às escâncaras. Minhoca continua a gozar a cena.

Um segundo, e tac… volta o mesmo… Ela muda todas as posições na cama, à excepção de um delas que o seduz mais: pernas escachadas; tem uma mão no meio das coxas a fazer cócegas ao grelo.

O Rouxinol-da-cama resmunga abertamente sobre o sexo nu, desprega-se da cama e embala na saída.



Depois da primeira passagem pelo Bar do Traidor há cerca de dois anos a esta parte, Bochechas, nome de guerra, volta à casa que a tornou famosa para recuperar todo o tempo perdido, pois o tempo é dinheiro depois de entrar nos bolsos, e mantém-se desde que esteve fora, um avião, para que todos possam usufruir do seu ardente corpo.

Tem a pele bastante morena. Todo o cliente está entusiasmado com este seu regresso, eu incluído. Numa meia hora, ou pouco mais, as mesas enchem-se.

Bochechas remexe-se no sofá como se tivesse um alfinete no cu, deixando-os ver tudo até cima, às calcinhas amarelas, de nylon. O homenzinho em frente continua de pé de olho aberto até trás.

Duas palavras, e zás… vamos lá? Dito e queda… vamos lá?... Ela desliza pela marmorite da sala, pega na mala de mão no bengaleiro à porta enquanto o homenzinho continua de pé à espera de pagar a conta, depois raspa-se para o quarto da residencial.

O que é que vamos fazer? Quer ele saber. Despe-se e atira com a roupa para o chão, eufórico. No minuto seguinte está a levar com ela por cima dele, no meio da cama. Grita como um índio, dizendo que lhe vai dar mais dinheiro se ela o tratar bem, e ela está a tentar mostrar-lhe toda a sua alta técnica de chupar, dizendo-lhe ainda que o vai sugar até à última gota de leite…

Todavia o homenzinho está ansioso… não se importa um babado de preservativo camuflado na boca ou mesmo meio babado, diz ele, se esse broche for bem feito… aliás até gostava que ele fosse mesmo…

É claro que a Bochechas quer vê-lo pelas costas. Meia dúzia de bombadas e fica apalermada a vê-lo estrebuchar debaixo dela, e espreme-lhe o cacete com aquelas mãos ágeis até ao tutano, e pára de chupar. O homenzinho ainda tenta fazer um esboço de força mas de pouco lhe serve. Não tira os olhos de Bochechas e fica com ambas as mãos atrás da cabeça, a servir de travesseira, e ela ergue-se sobre ele, dando-lhe a sacudidela final...

Já alguma vez o chuparam assim, pergunta ela ao homenzinho enquanto lhe alisa o cabelo. Oh, nada que se pareça… assim nunca. Está a ser sincero, o homenzinho, e mais diz, eu nunca vi nenhuma brochista como tu. Quase lhe custou responder assim…

Bochechas desliza, de modo a vazar dali, mas quando ela se arranja, vê ele a descer da cama e a pôr-se à sua frente. Ele… pede-a de novo.

O homenzinho sugere nova relação. Não que ele não tenha gostado, diz ele cheio de papo, mas sempre foi a favor de duas semi-seguidas. Está tão desejoso de a papar noutra posição, e como ela não se quer opor, é trigo limpo e farinha amparo. O único problema da relação é que o homenzinho vai ter de pagar a dobrar…

Quer ficar a vê-la por cima a levar com ele, mete-lhe as mãos por debaixo das tetas baloiçantes… assim até parece que se vem mais depressa. O pau ainda não teve tempo de se endireitar, e a Bochechas tem-no de o aquecer.

O homenzinho mantém-se a bombar, e a única coisa que sabe dizer é que está quase, está quase… e ela começa a beijá-lo, aparentemente para mostrar a ele que não está ali prás fitas. O pau ainda está mole quando ela lhe enfia um dedo pelo cu…

O homenzinho quase lhe dá uma dentada quando vê o que ela está a fazer. É talvez provável que já tenha ouvido falar desta forma de aquecer a coisa. Mas não pára de bombar… nem por um segundo… E monta-a numa cavalgada louca.

Fá-la manear-se, aquelas mãos nas nádegas, e quando ele emite urros como um índio, ela salta como um coelho a que tivessem ateado as pernas. Agita os braços e, subitamente, dá um grandessíssimo VEM-TE, e abana-o com força de leoa.

Pum!!! O homenzinho grita que se está a vir, que tem o leite encaroçado que os seus tomates se estão a esvaziar de dentro para fora… Tem a leve sensação de que a Bochechas deu um empurrão qualquer coisa que valeu a pena…

«Tu vieste-te meu cachorrinho?» É o que a rapariga lhe faz saber e repete a pergunta em simultâneo. Ele fixa os olhos, subitamente, nela… a rapariga leva as mãos à boca, sorrindo. Mas ele conserva-a lá dentro… ata-lhe as mãos atrás das costas e deixa-a sorrir aberta como lhe apetecer.

Quando se relaxa, já está de novo em marcha.

Apresenta-lhe os parabéns pelo desempenho, vestem-se e seguem à saída.

É claro que vai um para cada lado.


FIM

Saturday, December 12, 2009


CONTOS DE RATAZANA
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AS BRASUCAS
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Aquela aquém Ratazana chamou de Rosto de Perua já não está no elenco das colaboradoras dele. Segundo disse ao taxista, a colega, o bar não daria necessariamente o que ela desejava… por isso zarpou do ambiente e, rumou-se para outras zonas.

Amendoim Expresso diz que a avistou no centro comercial Ferrara Plaza de Paços de Ferreira, há uns dias atrás. Quando ela o viu, disse ele, deitou uma passada de gigante, rapidamente, na direcção contrária, entrou numa lojita qualquer e esfumou-se.

Entretanto ele descobre casas de massagistas de sexo atrás de umas árvores ao fundo na rua. Tem a percepção de que Rosto de Perua se pôs a léguas de casa… Sempre que sabe de uma casa de massagistas fica à espera de vê-la pela frente.

Isto aconteceu tão inesperadamente que ele dobrou as pesquisas às capelas a ver se consegue topar Rosto de Perua, a única gaja que o consegue ajudar a ocupar o tempo e os pensamentos.

Porra, estas gajas! Se não nos podem dar de sopa, querem sacar-nos, ou se não nos querem sacar a nós, querem-se sacar a elas, diz Amendoim Expresso. É em Portugal, e especialmente na cidade do Porto, que tomamos conhecimento de quão perigosas são as mulheres; não foi por acaso que o boémio português se tornou sinónimo de barafunda e espalhafato sobre quem fode quem e respectivos motivos.

Há qualquer coisa na esfera da noite que põe um homem em sobreaviso constante em relação às manhas e intrigas das mulheres. A Minha Nossa, da vida da noite, amiga de Rosto de Perua, por exemplo. Agora anda a tentar esfolar um joalheiro rico. A vida nos bares e boates tornou-se praticamente impossível, diz ela. A verdade, muito honestamente, é que o joalheiro deve estar a entrar pela medida grande… se ela conseguir amealhar umas centenas de milhares de euros com ele, vai acabar por levar uma vida maravilhosa.

De qualquer modo, Minha Nossa encontrou o seu filão de oiro e está a preparar-se para o amarfanhar. Diz à amiga, que talvez dê um filho a ele. Ele é dono de duas lojas de ourives na província, tem mulher, mas não tem filhos.

Mas, antes de lhe dar um filho, quer que ele lhe dê uma casa… mas sem ser de segunda-mão. É um cromo cheio de grana, conta-lhe Minha Nossa… ainda só a levou para a cama uma vez e babou-a toda… está descontraída.

Rosto de Perua atravessa uma fase de rentabilidade negra.

Um telefonema dela, regressou à Mansão… não à Mansão Real… casinhas a monte abrasadoras… Um padreco-traidor visita-a três vezes por semana para a comer e pede-lhe uma cena a três e ela chamou a conterrânea para a cena, no seu apartamento. O seu telefonema é elucidativo… um telefonema elucidativo daquela brasuca! Diz à conterrânea que é só teatro… mas sem parecerem putas. Não parece que ela vá ter dificuldade. Rosto de Perua resolveu o problema… pelo menos por algum tempo…

As brasucas estão muito tensas. E o padreco-traidor olha-as, claro. Bolas, também não tem muito para onde olhar… Minha Nossa não sabe o que há-de fazer à roupa. Está hesitante. Ela realmente não faz aquelas coisas, explica ela… foi um mero acaso. Mas, bem, se o padreco-traidor garantir que não conta nada a ninguém…

Ele diz para elas começarem a cena e acabam por se deitar as duas brasucas ao mesmo tempo, tocando-se nas partes íntimas, mas sem meter a língua lá dentro.

«Estão a gostar?», diz-lhes.

Rosto de Perua tem de estar a gostar de alguma coisa… Fecha as pernas e aperta entre elas a mão de Minha Nossa, a seguir esfrega-se quanto pode.

«Então é isto que é um duplex, meninas», observa o padreco-traidor. «Costumava imaginar… mais acção…» Espreita por baixo de Rosto de Perua e introduz o dedo na vagina. «Meu Deus, já te vieste… Ainda bem que não te vou comer! Os teus pêlos já parecem relva molhada…»

«Isso é do suor», responde ela e pede-lhe que ele monte a Minha Nossa e a coma. Conta com isso, diz-lhes… se ela se portar bem comigo, mas primeiro vou arrebitar-lhe o grelo… para saber se está a pensar em mim e para gemer quando eu achar que ela deve gemer.

Minha Nossa entesa-se como um bacalhau em cima do lençol e o padreco-traidor deita a cabeça nas coxas dela e afaga-lhe o ventre. Nunca teve tanto prazer como apalpar aqui, diz-lhe… tem um tom tão aveludado, aqui mesmo à flor da pele.

Fá-la naquela posição, enquanto andam gemidos no ar… e o filete lentamente afoga-se na lambidela. Quando termina, o padreco-traidor estremece com repelões… Limpa a boca com as costas da mão. Esteve a comer da tigela de pêlos de Minha Nossa o estupor!

Rosto de Perua estava mesmo a começar a sacudir a água do pêlo quando eles acabaram. Minha Nossa diz para esperar por ela e salta da cama. Molha-se e olha intensamente para Rosto de Perua, que não pára de se rir… e depois atira-lhe com a espuma… têm um aspecto tão tolo, estas duas brasucas, a molharem-se uma à outra, cheias de gozo.

Acabaram por sair os três no carro de Minha Nossa com destino ao aparcamento da residencial. Depois o padreco-traidor entra para o carro e perde-se no caminho. Rosto de Perua também sai mais à frente. Levanta-se, deita uma olhadela à conterrânea e volta-se com a chave na mão para abrir a porta de casa.

Os recados de Amendoim Expresso não deixam de ser realmente o melhor remédio para apanhar os desaparecidos… Rosto de Perua deve ter desencantado um ermo extremamente perto para onde receber os clientes… se houver um homem num raio de cinco quilómetros, certamente pode-se ter a certeza de que ele a encontrará e mais quem vier. Rosto de Perua queixa-se de que está a trabalhar mal e com pouca clientela.

Está agora a começar a trabalhar num clube chique. Um local de clientes de muito graveto na carteira. Quer experimentar outro estilo de engate.

Quando Amendoim Expresso e Rosto de Perua se encontram, abraçam-se, enroscam-se um no outro como um puzzle chinês, os braços envolvendo as cinturas um do outro, cada um lança palavras de abrir a braguilha… Amendoim Expresso está do lado de fora e ela passa para dentro… pode falar à vontade e saber o que Rosto de Perua tem para lhe dizer e ela abre-se que está com muitas saudades dele...

De repente, os dois comportam-se como se estivessem a ver uma fita de Marias. Ele tem estado a apalpar a rata para a pôr quente… mas Rosto de Perua agarra-lhe a mão e diz-lhe que não é aquele o local mais apropriado! Bom, se ela quer ter espectáculo mais ardente, vai tê-lo… Começa a levantar-se e ela segue-o e ambos atravessam a rua ao mesmo tempo e entram na residencial ao lado.

Estar entesado e no meio da cama torna o caminho muito mais fácil do que habitualmente é… Amendoim Expresso salta-lhe para cima, mordendo-lhe as orelhas como um tigre. Beliscam-se um ao outro até que a apanha por baixo, apoiado sobre a barriga, à canzana…

«Não é aí, reclama ela… Mas Amendoim Expresso respira excitação por todos os poros e torce-se todo conseguindo enfiar o vergalho até ao pescoço… Merda, se ele não entra agora, nunca mais ele entra, diz ele… o seu vergalho penetra como se fosse filho da casa… e quanto está lá todo dentro, ela dorme…

Cheira-lhe a queijo de ovelha e a seguir sente uns cabelos loiros a coçar-lhe no nariz… Não se importa com a comichão, mas continua do mesmo modo… as suas narinas começam a habituar-se ao cheiro…

O corpo de Rosto de Perua está a arder, nota ele… É como estar abraçado a um fogareiro de castanhas… Estou a gozar como um macaco de feira, mas ela está inerte agarrada aos meus braços… adormeceu ao vir-se… Paro c´os movimentos de vaivém até que Rosto de Perua volte a si… não, mais não.

Põe Rosto de Perua coberta com o lençol, ao mesmo tempo que se enfia debaixo do chuveiro olhando para Rosto de Perua, deitada na cama em repouso, com as pernas abertas… fecha-as enquanto ele a observa…

E mais ainda:
… tem um aspecto estonteante… e dobra as pernas como o coelho, abanando a cabeça como se quisesse clarificar as ideias…

Amendoim Expresso e ela saem para fora e já são dez da noite e ele leva-a à porta da entrada de casa… com um beijo despedem-se… Normalmente mandava-o subir, mas como Amendoim Expresso estava aviado e, ao mesmo tempo consolado, deu o frosque.

Mas ela… que diabo vai ela fazer para casa? Engana-se quem assim pensa. Vai sair outra vez. Além de que será a coisa mais natural desta vida, para alguém que ande realmente à procura de engatar um novo parceiro…

Para acabar a noite, Rosto de Perua vai-se encontrar com Minha Nossa numa boite perto de casa delas e Minha Nossa arranjou já um caldinho, rápido e não muito cansativo, com um inventor que sacou de lá que diz que paga duplo para cobrir as duas.

Minha Nossa passa toda a santa hora a citar «o que ainda hoje se deve fazer: uma rapidinha».

Dão corda às pernas e saem para fora. Vou dar cabo de vós, diz o inventor. O inventor já está tão bêbedo que nem uma folha de eucalipto conseguiria dar cabo…



FIM







Sunday, December 6, 2009




CONTOS DE RATAZANA
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ACTRIZ DE PORNO…



Aveirense aparece, trazendo debaixo do braço um anúncio de jornal com imagem que garante ser uma bela oportunidade de se inscrever para fazer um filme porno… uma oportunidade que ela diz ganhar uma pipa de massa.

Aveirense está constantemente a arranjar programas de qualquer jeito e feitio para açambarcar uma pipa de massa… e todos eles se parecem com este anúncio que ela agora apresenta à colega.

A imagem parece-se com um zoo, nem mais nem menos, mas ela guarda-o rigorosamente na carteira, enquanto conversa sobre o empresário que lhe telefonou há uns dias atrás.

«Estávamos a fazer um take num estúdio, pá, e eu fui apanhada à má fé… se não te contasse tu nem acreditavas. Comecei a descascar-me detrás de um biombo, mesmo ali com o panca do empresário a pedir-me que derramasse um garrafão de cinco litros de leite pelo meu corpo todo! Porra, tu nem sabes como é que eu fiquei… passado pouquíssimo tempo ele tinha-me feito entrar um jeco (cão) todo latagão que se pôs a lamber-me por tudo quanto cheirava a leite...

E estávamos assim quando aquele estupor do empresário se havia de massacrar-me ao deixar entrar o bode!»

«Claro, para te comer? O que é que ele fez?», pergunta a colega.

«Aí é que foram elas, pá… nem te passa! E o jeco… nem se assustou com a presença do bode. Parou rapidamente de lamber-me, enquanto o bode o encabava por trás! Juro-te, pá, estou a dizer-te a verdade. Eu não queria estar para ali deitada a vê-los engatilhados e ao mesmo tempo ver o jeco a levar nele… fez-me impressão. Depois, quando o take terminou ele perguntou-me se eu ia ficar para o resto do take. Digo-te, pá, que aquele estupor é completamente varrido dos cornos.»

«Bom, e tu quanto ganhaste?»

«Ganhei uns cobres, não muitos! Que raio de porno era aquele? Minha Santa, se vais ser fodida por um actor porno, com certeza que queres que o gajo te foda bem e te console como se tivesses fodido com um regimento… dessa forma quem fez figura de parva fui eu, tás a ver a cena, pá… Talvez o estupor só me esteja a querer experimentar…»

Enquanto Aveirense desfia a história, chega o cliente. Uma rapidinha de linguado… acerta tudo com o cliente, um rústico. Visto que não regateou o preço, ela desperta-o para uma rapidinha de sonho. Vai com ele à porta do bar ver o carro que ele tem.

O rústico vem mais tarde buscá-la. Tem estado à sua espera. Um telefonema enviado dele informa-a que está a caminho e vai levá-la a um local não especificado.

São quase cinco e meia da madrugada quando Aveirense finalmente mete a chave à porta do seu pequeno apartamento.

Na banheira ouve na rádio local uma pequena notícia que quase a põe tesa na água. Marlene da Tatuagem no Cu, etc., etc., uma artista de programas de cama, transformou-se gaja-gajo!

A primeira vez que Aveirense a conheceu nos takes viu olhá-la de uma forma bizarra e na noite passada, depois de ter acabado a sua actuação (O jeco e o bode, sem dúvida), correra para o hospital e submetera-se a uma operação.
Como é que uma mulher-puta TROCA DE SEXO, Santo Meu? Interroga-se. Dias mais tarde, lá estava ele, nos botecos a espetar nas gajas…

É de rir e chorar por mais… não que Aveirense não acredite na estupidez e maluquice de Marlene, mas que foi apanhada de surpresa, isso é um facto. Vida Minha, diz ela, eu não deixaria que agora a gaja-gajo me espetasse, nem por todo o dinheiro do mundo…

Ela ainda não saíra da cama… cada hora que passa era um descanso divino.

Aveirense, acorda super mal-humorada do que quando se deitou, está com as rotações aceleradas, tão nervosa como uma barata tonta que atira com a chávena de café à parede e fez um montinho de partículas no chão.

Telefona à colega e pergunta-lhe, ao ouvir a sua voz, se ela quer ir tomar um café. Ela aceita e entram num estabelecimento da zona.

Aveirense nem sabe o que é que há-de dizer, mas não se abre sobre os acontecimentos da noite passada. Ri-se quando a colega lhe pergunta pelos seus cromos… faz-lhe lembrar um desses cabritos chatos e vagarosos que às vezes a procuram… aqueles que sacam das notas e fodem com elas. Aveirense, os seus risos continuam, está tão à-vontade como qualquer outra gaja, a divertir-se um pouco à custa do seu métier.

Tem-se metido em programas de mulheres que convive, conta ela, gozando os seus prazeres em simultâneo. Tira os olhos da chávena para olhar de relance para a colega.

Enquanto a conversa prossegue, a colega tenta extrair de Aveirense alguns comentários que a façam divertir, mas ela muda-lhe a antena. Tudo o que ela lhe diz é que saberá em pouco tempo…

De súbito o toque duma mensagem dá entrada. Aveirense agarra no telemóvel. Devido à luz do sol não consegue topar a leitura mas dá à colega para lhe ler o conteúdo.

«Este gajo», explica a colega enquanto Aveirense a escuta com toda a atenção, «foi em tempos um teu cliente e quer duas miúdas para uma borga com três gajos. Até paga bem. Cento e cinquenta euros a cada uma de nós…» Aveirense retira da saca uns trocos para pagar a conta e chama um táxi.

O táxi vira por um caminho transversal para uma espécie de ruela e aí desemboca num estreito. O taxista pára, encostado a um muro bastante alto. Quando elas saem não descortinam o mais leve sinal de pessoas à vista. Caminhando atrás de Aveirense, com as mãos dentro das calças de ganga, a colega depara com um velho portão de madeira embutido no muro. Seguem por um caminho em mau estado de conservação, que as leva a um edifício de pedra de dois andares e, quando entram, reparam que se encontram dentro de uma velha fábrica de enchidos. Até dá a impressão de ter sido usada há pouco tempo.

«Olá! Somos o grupo dos machurdas!», fala um dos tipos quando elas entram numa sala mal iluminada, onde se encontram sentados mais dois tipos falando em voz grossa.

Tanto quanto lhe é dado a perceber, Aveirense não conhece nenhum daqueles rostos, com a excepção de um deles ser-lhe talvez um pouco familiar mas não se lembra. Não há problemas, é claro.

Aveirense deixa a colega a entretê-los e depois afasta-se para ir ao quarto de banho. Fecha a porta por dentro e abaixa as cuecas e enfia um dedo pela vagina… ainda tem o período. Quer que o gajo a foda, para sacar aquela nota, diz e da mala de mão puxa por um bocado de algodão e empurra-o pela vagina dentro…

A um canto a colega está agarrada pelos dois tipos que a gozam, enquanto o terceiro faz sinais para Aveirense se aproximar. Ela chega-se a ele e, faz pé atrás, mas é obvio que um dos motivos porque ele a chamou é para montá-la… portanto deve ser já…

A colega interroga os dois tipos sobre quem primeiro a vai comer. O gajo que está atrás dela fuzila-a com os olhos e pôs-lhe os braços ao pescoço. Há por todo o lado um cheiro que abunda ao choco.

«Queremos foder os dois», berra-lhe, «queremos que tu nos fodas aos dois…», responde-lhe, aspirando o ar como se gostasse daquele fedor.

Enquanto isso, dentro dum quarto minúsculo, o tipo prega c´um empurrão na Aveirense que cai na cama com alguma violência e fica a mandar vir com ele durante largos segundos. A seguir, o tipo começa a despir-se em silêncio… em silêncio também Aveirense começa a arrancar o vestido do corpo… de repente, o tipo corre para o centro da cama e lança-se sobre ela, nu.

Gemendo aos solavancos, Aveirense fica para ali deitada de pernas esticadas com o corpo flexível, pressionando e dobrando os dedos sobre os lençóis da cama, enquanto o tipo coloca as mãos sobre o seu rabo e lhe percorre todo o corpo com elas.

Mantendo um ritmo infernal, sempre a bombar, baloiçando-se num ritmo trote até que algo se prende à cabeça da gaita funcionando como um tampão, e quando tira a ferramenta para fora, cai-lhe os tomates ao chão… e vê na cama um enchumaço de algodão envolto em sangue…

Antes que ela lhe explique, o tipo atirou-lhe com o enchumaço à cara e gritou qualquer coisa como ininteligível. Enquanto limpa a cabeça da gaita, começa a vestir-se e sai.

Termina a borga, e os restantes comparsas fazem constar os seus comentários.

É o momento para que eles acertem as contas. Começam a abrir as carteiras, e fazem contas à moda do Porto… um estilo usual que é corrente neles, mas um berro alto, faz-se ouvir…

O cliente de Aveirense chama a si os colegas da borga e ambos discutem sobre o não pagamento e começam a insurgir-se também contra ela. Finalmente um deles paga à colega… depois o outro cospe num copo de vinho espumoso! E enquanto o terceiro sacode a gaita e atira com o enchumaço do algodão para o meio do chão.

«Estive a foder com o algodão», diz-lhes. «A puta que me calhou é uma artistona. Comeu-me mas não vai comer o meu dinheiro.»

A seguir são conduzidas até à entrada e, como se fossem um lixo, lançadas para fora. Aveirense em primeiro lugar.

As raparigas caminham pela ruela como se estivessem drogadas e tropeçam nas pedras baixas e altas. Já não têm disposição para falar, mas conservam ainda um pouco de humor. Puxando pelo telemóvel Aveirense chama um táxi. Atingem o muro, e lá se conseguem orientar até encontrar o caminho para aguardar pelo táxi que as leve de regresso.

Ainda não tinham acabado bem de sair quando qualquer coisa se meteu no sapato de Aveirense que se desequilibrou.

Segue cambaleando enquanto a colega a puxa através do estreito em direcção ao muro. A sua mão solta-se da colega quando ela cai, e apoia-se nos joelhos sobre a terra húmida, com ambas as mãos abertas rogando:

«Oh, pá! Fodam-se estes cabritos!»


FIM

Monday, November 30, 2009





CONTOS DE RATAZANA
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VIDA DA ZONA VADIA
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Paulo César tem uma sorte realmente danada, em especial quando o vemos em conquistas amorosas… se os casos espantosos que lhe acontecem, se não se dessem em frente dos nossos olhos, certamente faríamos ouvidos moucos se só soubéssemos deles pela sua boca. Dar uma volta com César é como comprar um bilhete para o espectáculo de circo e se depararmos com uma comandita de putos a fazer um chiqueiro debaixo de macacadas, temos de concordar que o facto deve ser considerado como perfeitamente normal. Contudo o próprio César já se habituou… fica tão contente como qualquer outra pessoa quando se encontra nestes locais preferidos. Quando fala sobre o assunto assume-se logo com um ar de um homem que se considera a si próprio e à sua vida como essencialmente interessantes.

Sente-se tão entusiasmado como qualquer outro, tenta fazer com que as suas conquistas adquiram uma maior diversidade notabilizando-as, mas se se conhecer bem César percebe-se que aquilo que ele tenta contar como uma façanha pouco convincente constituí, na verdade a rolha de algo que nasceu dos contos do mestre Ratazana. No entanto há alturas em que as coisas também não lhe correm bem a César. Durante uma época César teve uma gaja para se entreter, cem por cento puta brasileira, autêntica... Estava na Casa do Levanta o Pau a aquecer os clientes a ficarem entesuados … o velho esquema do tesão-instantâneo, e César diz que a maior parte dos seus clientes descende em linha directa dos contactos do telemóvel. Esqueci-me do local onde César a conheceu, mas por uns tempos representou o papel de Grande Foda da Bunda em Alta, e jura que uma noite se embebedou e lhe papou o botão de rosa com uma posição à coelho...

Uma gaja carola, disse, também, mas o problema é que não se conseguia esquecer de que ela era puta e César viveu num tempo onde a única puta boa é uma puta marada ou a puta que chule um diferente gajo todos os dias e temia que uma bela noite ela «levasse a coisa a sério» e lhe sugasse o leite, por isso finalmente tinha-lhe dado com a chanca. Mas merda, toda a gente sabe que há putas por todo o lado e se há algum lugar onde se possa encontrar uma marada, esse lugar é o Porto. César e eu trauteamos pela Avenida do Brasil, admirando a passagem de fêmeas neste princípio de noite e sentindo ele o efeito dos imperiais e eu das águas que enfiámos nos pubes. A noite aquece… é uma noite como qualquer outra e nada no aspecto de César sugere que ele esteja sob a acção de um pifo. De súbito damos com os olhos numa cabriteira a atravessar no meio da rua, com carros a passar-lhe ao lado, e quase a atropelando, mas sem a seduzirem. César cansa-se e sentámo-nos nos bancos do Bonaparte para tomar uma rodada e ver quem está lá dentro.

Pagar nestes. As despesas nunca tentaram César a chegar-se à frente. Ele não contém um cêntimo, por isso põe-se a galar a miúda da mesa da janela e a atirar cascas de amendoins para um caixote do lixo. Parece não haver outra coisa a fazer, a não ser olhá-las se acharmos que vale a pena olhar. Miúdas de 17, aos 25, morenas, loiras, maquilhadas, cigarros nos dedos, vários penteados, cabelos compridos daqueles que os homens pegam para sentirem alguma atracção, uma tia, jovens, muitos jovens, um par de carochas… é a habitual clientela da noite com interesse. Fico vigilante, tal como César. Tínhamos uma leva esperança de que a noite ainda nos rendesse uma aventura aos dois. Entretemos os olhos. São tão fugazes que nem os apreciamos. A tia é outra ferramenta, para melhor… uma sardenta sorridente, a atirar para o cavalão. César dá voltas e reviravoltas aos olhos, enquanto olha novamente para a direcção da janela onde a miúda se concentra nas ondas do mar. O que é que eu acho, quer ele saber… esta miúda será de me levar a sério? Achá-la parecida com alguém? Não é mesmo o tipo de miúda com ar de passarinha? Parece ser boa no arame, que achas?

Os achados é na polícia, ironizo eu… podemos achar lá muitas coisas em poucos segundos… e César medita em ir à miúda levar os amendoins e ver se pode dar duas de conversa. O mínimo que ela pode fazer, diz, é aceitar-me os amendoins e, se for uma porreiraça, talvez uma confiança… talvez as duas coisas, diz César, nota-se que é uma miúda de boa pinta.

«Mas imagina que é um atraso», digo-lhe. «Não estou aqui pra levar com um atraso só por uma questão de acompanhante.»

Não é nenhum atraso, diz César. Mesmo que não seja a miúda do meu tipo, nenhum atraso conhecia uma miúda daquelas. As miúdas boas andam em bando, diz César convictamente. Mas mesmo que seja um atraso há sempre a possibilidade de uma confiança e eu não sou obrigado a ir comê-la.

«Não será bem assim, César… Acho que não te vais safar.»

A temperatura do luar está exactamente na ponta do rebuçado para me fazer chegar a adrenalina à cabeça e nós, sentados, martelamos o assunto intensamente.

«Talvez se estivesse só um de nós, ela… mas acho que nós os dois assim não vamos lá. Devíamos experimentar ir lá um de cada vez, ou coisa que valha…»

César recusa. Entrámos os dois juntos, vamos sair juntos… ou fazemos isso, ou vamos de vela virada e ela que se aguente à sua. E se a miúda estivesse a fazer horas à espera de alguém? Tanto ele como eu estaríamos a fazer figura de camelos… e depois íamos ficar com uma tola do tamanho de um melão. Sem saber muito bem como, começamos uma discussão sobre quem teria chances de levar com ela… No fim sempre vamos embora. No trajecto, curtamos caminho para entrar noutro bar e beber mais uma rodada. Lá arranjamos outra discussão, desta vez sobre o que faremos se em vez de uma houver duas miúdas para atrelar ou se for uma tipa a abrir aos dois…

O empregado é teso como um chuço e César faz-lhe peito mas o outro mostra-lhe os dentes para ele ver que não tem medo, antes de nos deixar passar. Depois escorraça-nos para a geral… mesmo para debaixo dos exaustores. Pedimos e o serviço aparece de imediato. Uma voz chilra quase atrás de nós. César resmunga qualquer coisa e olha à nossa volta, sem sorrir, e depois olha de novo para a sala. Não se trata de uma mulher e não penso que tenha mais de dezoito anos. É uma chavala. Alguma clientela, como nós, dupla e mista, e também mulheres sós… mas a maior percentagem é especialmente entradote, ou então chavalada. O copo de finos que ele nos traz parece quase do seu perfil. Pela terceira ou quarta vez César pede-lhe para trazer amendoins… ou qualquer coisa para dar ao dente, e de cada vez que faz sinal ao empregado ele sorri-nos e nós sentimo-nos como uns perfeitos idiotas. 
Não vem nada nos livros de reclamações que fale numa situação destas. Mas, sorte minha, o que é que se diz a um mal atencioso? É lógico que ele também deve ter coisas para dizer, mas um mal atencioso… merda, esses tipos vivem num mundo totalmente aparte. Quem nos mandou ter vindo para cá… Além demais, ele faz-se esquerdo. Pelo menos para um mal atencioso. Também não parece tão profissional como a maior parte deles… Parece-se mais com uma cópia reduzido de um empregado normal. Tem unhas aguçadas, uma boca com os dentes para fora que me faz evocar o coelho, e os olhos… julgo que se podem classificar como fuinhas, atendendo ao brilho deles…

Um olhar a César diz-me que ainda ele não viu tudo o que queria ver… A cerveja é boa a medida é que é curta. Fico por esta. Dez minutos mais tarde uma chavala já está a fazer olhinhos a César… Faz perguntas a seu respeito, em que é que ele está a pensar, etc… e revela que está ali a tentar fazer o pino antes de ganhar o sono. Fala sempre naquela voz chilra, aguda e doce que parece um pássaro. Faço sinal a César – não vamos ficar aqui muito tempo – e ele faz-me sinal tão rapidamente para aguentar. Não quer ir dançar este chegadinho, para aquecer? Pergunta-lhe à socapa. Alcunha-se de Passarinho… Passarinho...

César não marcha na dança e faz-lhe umas quantas perguntas a ela mas não obtém nenhuma resposta. Tem pintelhos na rata, quer ele saber, de que tamanhos são as mamas, chega uma ou duas relações sexuais por dia? Coça as pernas uma na outra. Que raio, porque é que ele não tem coragem de a convidar naquela altura… ela estava mesmo a pedi-las, não estava, César? Estava morta a ir para a cama, não estava, César? Ficamos um tempo sentados à mesa e deixamos os copos secos. César pede-me para o deixar à porta de casa… porque mais tarde se vai encontrar com ela. Continua arrastado na tal ilusão como é que ela será na cama, aqueles agudos gemidos a soltarem suspiros doces, e com o resto, dum gajo, e o nome próprio para o acto, passa-me na cabeça como um biberão de leite: Dá-me a chupeta…

Friday, November 20, 2009


CONTOS DE RATAZANA
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A FLOR DE LESTE
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Os sapatos baixos de tacão raso de Nádia, A Flor de Leste, como alcunhou Ratazana no seu Jornal Dos Traidores, matraqueiam a marmorite como bolas de bilhar. Lança a cabeça para trás, os cabelos loiros saltam… os pulmões enchem-se e o seu ventre atira-se para a frente… os pequenos seios balançam…

Os olhos do cliente na mesa catorze brilham como um raio.

Mesmo que o cliente desejasse, não conseguiria fazê-los estacar… nunca com aquela empregada a passar diante deles… rabiscava à volta da sala, parecendo uma bailarina.

Os tacões batem com mais força e os cabelos saltam-lhe em cada passada… os seus olhos azuis parecem demasiados vivos.

«Uma cerveja, minha flor de leste», pede um cliente da mesa dos fundos.

Toda a gente ri e Nádia por cima do ombro sorri, com ar fresco. Um cliente toca-lhe na mão. Solta um u, e afasta-se com uma passada de andorinha… as ancas contorçam-se-lhe graciosamente…

«Ah!», a exclamação sai de uma garganta quando ela se curva para uma mesa. Ela agora está a atender, atender um cliente que a cumprimenta de mão… que a gratifica bem. Tira da bandeja a garrafa de uísque, o copo, a Coca-Cola e o gelo para a mesa número seis no corredor da direita … quase se pode ver os seios em meia-lua que se agitam…

Na sala ninguém tira os olhos dela, agora. Nádia põe uma das mãos no bolso do avental, olhando lentamente até ter encarado todas as mesas, oferecendo o seu olhar a todos os clientes… olhares esfomeados saltam de rostos inflamados de todos os lados, ela está rodeada por lascívia, por onde quer que se volte, há um par de olhos que a penetram…

Percorre em espaços curtos com a mesma distância, até que se fixa no meio do balcão, rodando lentamente os pés para a frente…

Cada cliente que agora a observa… vê-a perante si, oferecendo sorrisos… Nádia entrega-se à limpeza do tampo do balcão… as mãos estendem-se quando se debruça… a língua parece enrolar qualquer coisa como um rebuçado cheio de doçura e cremoso… Deixa-se inclinar para trás, os seus braços esticam-se gradualmente, mas não tanto que não voltem à posição inicial… os clientes do balcão começam a chegar…

E então a ucraniana começa a sorrir! É sacudida por um enorme e esplendoroso sorriso, os lábios abrem-se como duas cortinas, abre ainda mais a boca, mostrando os dentes unidos até trás…

Toda a sala flutua em pestaninha. O sorriso de Nádia aquece como uma fornalha, reluzindo o espaço que a rodeia… Alguns destes clientes estão suficientemente desejosos para a paparicarem quanto baste…

«Bela russa!», atira-lhe um piropo o cliente de cor negra, que puxa um banco de madeira e chega-se para o balcão… olha, dominando-a com a sua cor e toque de fala e balança as mãos unidas… Nádia sorri e o rosto dele fica roxo… entesa os músculos das mãos…

O negro atira-se a ela às escâncaras como seu fosse um dom-joão… e ela mostra-lhe a aliança mesmo à frente dos olhos.

Quando ela vai à cozinha alguém ao lado adverte o negro de que ela é uma mulher casada…

«Quero lá saber!», reage o negro, e acrescenta: «Só sei uma coisa… sou incapaz de tratar mal alguém. E muito menos, uma beleza destas… Bolas, quem sabe, se daqui a cem anos eu não tenha hipóteses de conquistar a Nádia…» Soam as gargalhadas ao balcão…

«Aí vem ela!», Avisa o cliente da ponta…

Nádia recebe o dinheiro de um cliente e devolve-lhe o troco, pondo a gorjeta numa pequena lata em baixo duma prateleira. «É uma empregada muito simpática e, que merece a minha gratificação», responde-lhe o cliente ao sair.

Nádia está a limpar um balde de gelo com tripé, a dar cavaco a uma brasileira das rapidinhas. Está a tentar descobrir umas cismas… assim, espera satisfazer a sua curiosidade apressada…

«Pensei que a cor dos teus olhos era essa», diz. Depois acrescenta: «Não fazia ideia de que eram lentes de contacto…»

Evidentemente só elas ouvem isto… mas não fazem cerimónia. Subitamente, a brasileira saca uma lente da vista e põe-lhe na mão.

Nádia observa calmamente e entrega-lhe na posição exacta em que ela lhe deu.

«Olha», diz-lhe a brasileira. Abre a blusa e mostra-lhe os peitos.

Tem os peitos abonados; e sob a parte de baixo nota-se uma pequena cicatriz. Ela confessa que fez uma cirurgia para aumentar as mamas… é silicose, não há a menor dúvida… a seguir os seus dedos agarram a placa dos dentes e puxa-os para fora…»

Nádia nem quer a creditar no que vê e no que ouve. Ergue os olhos para Ratazana… Estava certo o que ele dizia… o seu raciocínio é mesmo certeiro…Coloca as mãos no balde de gelo e deixa-o no sítio onde o tirou.

Quando volta ao balcão começa a limpar os copos limpos... os clientes estão numa expectativa debaixo dos seus próprios pensamentos. Nádia aperta o copo entre os seus dedos, limpando com um guardanapo de papel contra as bordas…está a sorrir-se, encostando-se à prateleira do balcão, e aqueles olhos azuis fazem-lhes piscar os olhos deles.

«Vire-se agora para mim, minha querida!», exclama o negro. «Vou beber outra água natural e, saber se posso esperar por si, quando se divorciar?»

Ela levanta os olhos, e abana a cabeça… não quer responder.

Afasta-se dele e vai à sala atender um cliente que chegara durante uns momentos. Quando volta a abrir a boca é para dizer ao negro que não pensa em se divorciar.

Deita-lhe mais um pouco de água no copo enquanto ele serpenteia a língua pelos dentes e coloca o copo em cima do balcão. Não gostei dessa resposta, desabafa para ela, o negro.

É sempre a mesma lengalenga quando ela é gentil, diz-lhe a ele… mostra-lhes simpatia e atenção, e acabam invariavelmente aos convites. Uma tarde um tipo com charme, um tipo cheio de nota, de fino recorte, deu-lhe uma cantada… fala-lhe baixo para que os outros não ouçam aquilo… Depois veio ter com ela e levou com a pata… e ficou com a gorjeta gorda que normalmente costumava dar... e andou um tempo sem aparecer… o único cliente que até hoje ela aceitou o aperto de mão. Ah, mas as coisas com ela não se passam só assim.

Às vezes só lhe dão uma moeda… nunca mais de três, depois de ter recebido a conta. De vez em quando não deixa de levar a conta a duas ou a três mesas, mas nunca ao mesmo tempo. Se quisesse levava-os a todos, mas isso só lhe traria dissabores.

Sessenta pessoas, aproximadamente, uns a seguir aos outros, logo após a abertura do evento de bar aberto a ter absorvido o seu trabalho de serviço às mesas!

E eram tão meigos que ela estava de pé atrás… teve de se pôr esperta com meia dúzia deles.

Já trabalha no ramo há quanto tempo? Há um mês… diz que foi o que pôde arranjar quando a família se mandou para Portugal e cada um deles se desenrascou conforme pôde. Eles estão espalhados pela Europa.

Lembra-se de sentir dificuldade… um dos patrões queria comê-la e o marido achou-a mais ambiciosa, mais resmungona, mais tarde… o marido deitou a chamada abaixo… Gozara, dizendo que ele não estava a portar-se bem… tinha-lhe feito ver que era preciso gastar menos e poupar mais…

Ao fazer-lhe isto, visitá-la e importuná-la, estava a pô-la em sobressaltos… ele encostara-se ao balcão e não disse uma palavra. Ela perguntou-lhe o que estava ali a fazer… se ele não tivesse vindo ao bar, teria sido muito melhor. Não lhe agradou vê-lo ali diante dos outros. Custou-lhe muito mais isso, que lhe provocara mais nervosismo que aturar qualquer outro cliente do bar…

As explicações são tratadas na rua, numa conversa de amigos… e ela parece ficar realmente conformada.

O negro parece ter aprendido que acabou de ter uma lição de ucraniano. Está convencido e pronto para ter um encontro com Nádia. Quando ele se alarga mais com ela, a ucraniana arrebita os olhos para a frente, focando-os e agitando os dedos como uma barata agita os membros.

A cor do negro é enorme, uma vez focada e iluminada… Gostaria de ter uma loção para poder mudar a cor daquele tipo escuro, medita Nádia. Parece o Soba de Luanda... Pode até imaginar os piropos de todas as raparigas que algumas vezes foram obrigadas a levar com ele, armazenados lá dentro em catapulta.

O negro é atiradiço… assim que Nádia sai do pé dele, atira-se a meter com as raparigas da rapidinha em busca de uma dádiva… bebe o último gole de água e aquece as mãos…tenho de me despedir de você, diz ele… não me posso ir embora sem levar da sua boca uma esperança… Quer que ela não se esqueça que ele é o primeiro candidato… acima de todos… o melhor candidato.

Olha para a conta em cima do balcão… diz que não dá gorjeta… porque ela merece muito mais. O que ele está a tentar dizer é que não é cliente de gorjeta… o máximo, diz-lhe, é levá-la a jantar num restaurante de luxo, comer faisão e beber Dom Pérignon…

Bolas, não sou obrigado a dar gorjetas a ninguém… diz o negro, além de que não conseguirei com isso dar a volta à ucraniana. A água soube-me bem, mas não tenho que pagar mais por isso. Suspira-lhe.

Por fim começa a guardar o troco no bolso. Diz-lhe adeus e ela também. Segue para a saída. Nádia lança-lhe um olhar furtivo, até que a porta se feche.

Tem uma língua diabólica, aquele negro doido, pensa ela… e uma grandessíssima lata. Atende o outro cliente e raspa-se dali para a sala.

Ratazana não se encontra no bar. A esta hora deve estar a registar o euro milhões, segundo me disse.

No quarto do banho a trintona brasileira cirúrgica encharca as mamas com desodorizante chinês. Põe-te cheirosa, diz ela pró espelho. Tenho de fazer mais dois cabritos…


FIM

Thursday, November 19, 2009

Tuesday, November 10, 2009




CONTOS DE RATAZANA
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Cris e Nanda

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Cris, recordou as suas histórias marotas… e alguma confidência de foro íntimo, destinadas a fazer ver ao imigrante de Luxemburgo, que ela também tinha um pouco de maroteira. Assim que ele saiu do bar, ela diz a Nanda sua amiga de longa data e a mim que ele é nabo.

«Ele está a morrer por outra coisa», diz. «Mas que merda se passa com estes cotas? E que ele está a portar-se como se fosse um patinho feio, prontinho a pedir tudo o que lhe venha à tola. A única coisa que lhe falta fazer é dizer que me vai cortar a mesada.

Nesta altura, ouve a voz do imigrante de Luxemburgo, que volta a entrar no bar. Passa-se qualquer coisa com o estacionamento do parque automóvel. Haverá alguém por aqui que vá a sair?

Ele não consegue tirar o carro do parque.

«Olha aí o tens, Cris», diz Nanda. «Ele está a fazer-se ao piso e não o quer dizer. Só tens que o levar para o quarto e ver como lhe há-des dar a volta. E se precisares de ajuda é só dizeres.»

Cris ainda não está há três minutos no quarto, quando soa um berro e o imigrante surge a entrar no bar, com Cris mesmo atrás dele. Ele dirige-se para o quarto de banho e, tal como eu calculava, ela vem com o rosto um pouco avermelhado. Deixa-se cair de encontro contra Nanda e desabafa umas calinadas contra ele. O imigrante, diz em voz ofegante, levou umas palavras não habituais e atirou com o dinheiro para o chão.

Nanda, com ar revoltado, exclama para Cris: «Reles cabrito, como te baixaste!?»

Cris, de olhar esquinado e língua à solta, não teve papas na língua. «O imigrante e eu despachamos as roupas rapidamente, e disse-lhe algo habitualíssimo. Olha-me para o meu pipi! Adivinhas o que ele quer? Uma língua. Os nossos sexos podem gozar, não é só c´o pau, a língua também é uma foda. Eu já com o pipi à mostra e ele pira-se. Olhai, como me deixou!»

A vivaça Nanda não quer acreditar naquilo que está a ouvir. Desencosta-se um pouco de Cris e olha-me para ver se ela está a falar a sério, enquanto Cris coça firmemente nas mamas e diz para eles abrandarem o calor.

«Olha Cris», diz Nanda, «muda de programa para o levares livremente. Há sempre uma possibilidade dele escorregar… e se há alguma coisa que atrai um homem é uma vagina a descoberto, por isso com astúcia trata-o de modo que ele não pense muito.»

Cris dá-lhe uma palmada com a mão na perna. «Óptimo», diz-lhe. «Deste-me uma boa ideia.»

«Bom», suspira Nanda. «Agora, minha filha, vamos mas é atirar-nos à vida que se faz tarde e topa aqueles dois gansos atrás de nós, que é a única maneira de ganharmos o dia.»

Elas desencalham-se da mesa e eu passo para o balcão.

Cris está confiante de verdade. Possivelmente, pensa que em dar uma demonstração física já é suficiente para ter o freguês debaixo de mão. Mas ainda nada está decidido para fazer uma saída…

Nanda vê-se grega para se conservar imóvel não aguentando o ímpeto do outro freguês a insistir meter a mão pelo corpo e apalpá-la toda.

Conseguiram concordar o preço em parte mas a concordância deles retarda-lhes a voz… não confirmam, pedem-lhes uns minutinhos mais de conversas, para as avaliarem.

Cris inclina-se para um deles e exclama:

«Não nos façam perder mais tempo, por favor! Peço-vos que resolvam porque lá dentro do quarto é mais agradável a brincadeira… Prometo-te meu chuchu, que não te vais arrepender! Não nos façam perder mais tempo…»

As suas boas palavras dão resultados seguros. Talvez tão seguros que os fregueses mandam vir duas bebidas para elas, com direito a alternos, como lhes pede Nanda, primeiro há que beber para depois sair.

Cris insinua que tem as mamas a arder de calores e o outro freguês e Nanda param de brincar com as beliscadas um ao outro…

Bom, parece que eles já falaram e combinaram tudo o que tinham a dizer, e nesse momento, chamam-me à mesa, para lhes levar a conta.

Eles já estão com as notas nas mãos, bom, ainda me deixam uma gorjeta, e saem dali aptos para a fornicada.

Quando eles estão a entrar no quarto, Cris dá um salto para a cama.
«A cama está tão quentinha à nossa espera», grita-lhes Cris. «Dispam-se, ó fofos… senão, vai o calor ao ar…»

Estão todos realmente à vontade. Estão aparelhados, e a cama vai ser testada para ver se consegue aguentar com todos os corpos…

«Aqui tens um bonequinho para te aquecer o pipi», grita-lhe o freguês de Cris. «Talvez não seja a tua medida, mas não te preocupes… há muito tempo para ele engrossar… Embute-o, pá… Vais-te atirar ao ar quando o sentires… »

Nessa altura, estão realmente a dar o máximo em cima delas, quando se ouve o comentário do freguês de Nanda.

«Ouve, minha menina das calcinhas pretas, vou dar-te uma foda como nunca ninguém te deu, a não ser os cornetas… merda, se calhar ainda vou andar por aí a vender as minhas fodas, talvez gostes de levar comigo... mas não, quando esta acabar, tu vais estar pronta para outra, e para as que hão-de vir…»

«Não empurres á bruta!» suplica Nanda… ver o pénis dele em forma de gancho parece-lhe de longe pior do que ver simplesmente a piça de um cavalo. «Não a podes empurrar à bruta!»

Mas o freguês está-se nas tintas para o suplício dela e continua a cavalgar na pradaria dos pêlos que nem um batman das trevas. Ao lado, Cris esconde a cabeça debaixo da almofada e geme.

O quarto começa a parecer voar. O sexo deles cheira como o álcool e o mundo balança como uma garrafa. O freguês de Cris nem um ai dá depois de se vir, empurra-se para o lado e estica-se ao comprido. Ela está com tão bom aspecto como quando começou, só está um pouco mais aberta.

«Eh, Nanda», grita Cris, «está um fio vermelho a sair-te da racha! Acho que é menstruação… vai-te lavar à casa de banho.»

Nanda dá uma vista de olhos para baixo e levanta-se da cama para ir à casa de banho.

«Bolas, logo agora que estava a engrenar a sério é que tu havias de vir com essa boca, Cris!», protesta asperamente o outro freguês. «Já não basta o meu azar de ficar aqui com o meu esperma… só lhe apalpei as mamas… Venho-me agora como? Verdade, verdadinha, se não me deixar comê-la vou ter de lhe descontar metade do combinado e não quero vê-la mais… por enquanto.»

Nesta altura a Nanda está já debaixo do chuveiro, mas Cris desenrosca-se do meio dos lençóis e deixa o freguês a falar sozinho…

Pede a Nanda para lhe abrir a porta e depois de estar lá dentro, dá-lhe uma palmada no rabo nu… não contavas com esta, pois não, minha fofa? O gajo tratou-te muito mal. Agarrou-se a ti a lamber-te… parecia um canibal...

Nanda nem espera pela água quente. Enfia-se debaixo da água fria e enxuga-se à pressa. Ela está demasiada compenetrada e tira do pequeno saco um batom e passa-o à volta da vagina húmida como se estivesse a dar uma pincelada... Cris acabou de urinar.

Depois, saem para o pé deles; eles já desistirem de se porem em cima delas… limitam-se a estar ali sentados na cama e esperar pelos acontecimentos… não é necessário correr.

Nanda tem um aspecto tão frágil que ela nem parece estar a mentir. Desculpai, lá, remete num lamento, isto não estava no programa. Não estava nada a contar com isto, mas já que veio… não há solução a dar-lhe… nem a mim nem a vocês…

Claro que isto era tudo o que o outro freguês não queria ouvir. Mete-lhe um dedo na vagina e faz a sua análise ao cheiro. Ronca como um camelo perdido e volta-se depois para pegar numa toalha à mão.

«Já cheiraste?», pergunta Cris e aponta para uma tonalidade pintada sobre o dedo. «Agora, talvez te deixes convencer, que é verdade, qualquer uma mulher está sujeita a isso… talvez confies em nós, de como somos…»

«Vamos confiar na cachopa, pá, e deixá-la em paz», diz o freguês de Cris. «Se calhar ainda acabam por nos darem uma goela! Vamos pagar-lhes e vamos embora. Já gozei como um lorde e saio daqui satisfeitíssimo…

O outro freguês inclina-se sobre Nanda e diz-lhe ao ouvido, baixinho. «Que dizes, minha morenaça? Aposto que amanhã já não te lembras das nossas fronhas! Oh, raios, não faças essa cara, estás entre fregueses… os teus fregueses da próxima. Já alguma vez ouviste falar mal de nós?»




FIM

Sunday, October 25, 2009




De
Ratazana
Rua Barão do Corvo, 1042
Vila Nova de Gaia
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V. N. Gaia, 22 de Outubro de 2009
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Exmos. Senhores:




Permitem-me esta minha análise, de sair a terreiro em defesa do meu mestre José Saramago. Como escritor e analfabeto que sou, custa-me não ver a Sociedade dos Escritores nem a Sociedade Portuguesa dos Autores defender o nosso prémio Nobel de Literatura que temos, e que todos os portugueses se podem orgulhar de ver esse prémio ter sido distinguido a um nosso cidadão. Por coincidência, também sou neutro, e como tal, defendo a tese do meu mestre. O meu deus, sou eu. Quando vejo figuras parlamentares, pessoas de peso e padres de galões blasfemarem o meu mestre, revolta-me, porque ele, está acima dessa gente toda, e trouxe prestígio a Portugal.

Por favor! Tratem bem o meu mestre, porque tão cedo não teremos outro igual.
Até me rio, quando dizem que o meu mestre está a fazer publicidade à sua obra de Caim. Quem precisa de publicidade sou eu! Já escrevi 32 livros e não houve uma editora que me aceitasse!...

Analfabetos, onde quer que estejais… guiai-vos por mim…
Cada um de vós sois o vosso deus. Eu guio-vos…

O meu nome é Ratazana.
www.bardotraidor. blogspot.com/

Saturday, October 24, 2009

Friday, October 23, 2009




CONTOS DE RATAZANA
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Buraco Sexual
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Gustavo, o Gugu, do grupo do Bar do Traidor, está sentado quando entro. Tem estado à espera que eu chegue ao bar, diz-me, e fica contente ao saber que eu vinha com a ideia nele. Mas mostra-se mais interessado a respeito da primeira conversa que me recomendou ao ouvido… Não lhe digo que ele vai ter que se chegar à frente com cem euros…

Não há problema por não me ter esquecido de lhe falar no preço. Ele já deve calcular. Já despachou uma gaja da mesa, diz. Afinal de contas, ele não a desejava. Quem ele desejava era a mim, que me tinha visto, na companhia dum cabrito, a ir fazê-lo para a pensão e sente-se injustiçado.

As putas estão a ficar fora de moda, mesmo oferecendo-se aos nossos olhos, oferecendo-se aos nossos próprios olhos, repete. A seguir, faz um dito cínico… é notas o que elas estão à procura oferecendo-se aos nossos olhos… mesmo oferecendo-se aos nossos próprios olhos.

Gugu está pouco gentil, nem um copo paga, julgo que esteja à espera de que eu o desafie. Tem as pernas unidas e trémulas, com o fumo do cigarro a envolvê-lo e, pelos vistos, não planeia sair dali tão cedo. Pergunto se ele se sente bem. Sim, claro, sente-se fino… somente um pouco desgastado… e disfarça a olhar para o meu rabo. Bem, digo-lhe eu, vou-me fazer àquele gajo que não pára de olhar para mim… e é então que uma mão dele se levanta e coloca-se no meio dos meus joelhos.

Poucas vezes o vi tão descarado… Quando senti a força que ele estava a fazer, fui obrigada a agir.

«O que é que tu queres?», perguntei-lhe. Gugu retira a mão e, leva-a na direcção do meu cu e coça-o.

«Só uns doze minutos de prazer e tu nem dás por ela», diz. «Mas agora, Isabel, pela tua saúde, não digas que não, está bem? Sabes como eu sou tarado.»

Puxa o copo de Coca-Cola e bebe um trago de relance.

«Há quanto tempo é que manténs essa cisma?» pergunto-lhe. «Quanto é que me dás? Ofereces-me cem euros e eu dou-te o meu olho.»

Lá vens tu com essa boca suja… devias estar calada e não mandares cá para fora esses palavrões. E, sabe Deus, para te dar cinquenta euros já é bem bom, oferece-me Gugu. E, acrescenta à defesa, eu não te quero só para uma vez… todo darei em duas vezes.

«Mas isto é uma coisa que não passa daqui», continua. «Bolas, só há uma coisa que tu me podes satisfazer… já sabes o meu ponto fraco. Faz-me esse favor e verás que não te vais arrepender. O meu problema é que o meu olho viciou-se pelo teu e agora não à volta a dar.»

Gugu abre as pernas e exibe-me o pau protegido. Para ter a certeza de que eu o sinto bem, puxa-me a mão.

«Se quiseres, podes a levar», atiça-me. «Mas tens que baixar primeiro a parada.»
«Gugu, vai-te tratar meu filho. Vai tu com ela para a cama», respondo-lhe.

Gugu julga que eu não sou de cá. Não está a fazer nada que qualquer outro cliente não o faria, etc., etc. No entanto, já de lá venho e não baixo a minha parada, garanto-lhe. Gugu sente-se pior.

«Merda, Isabel», diz. «Devias ser mais minha amiga. Nunca pensei que um dia me ias fazer isto, deixar-me aqui de pau teso.» Empurra o copo prá frente e encosta-se para trás do sofá. Tira o tabaco e acende um cigarro. «Olha como estou nervoso. Não tens dó de mim? Vais ver o que te vou fazer, quando me vieres cravar pró tabaco. E és tu que ficas a perder.»

Estava a entoar na sala a música da Bunda Brasileira, e ele excitou-se de tal modo que interrompeu a bebida e começou a gaguejar.

«Dou-te mais massa para te comer o rabo», oferece-me ele, «mas só te pago quando fores a segunda vez comigo.»

«A segunda vez!», exclamo. «Queres fazer-me passar nesta idade por burra? Quando eu era ingénua… «Claro que caía à primeira. Mas isso agora não significa que caia à segunda…»

Gugu deixa de me prestar atenção e começa a fazer festas ao pau...

«Estás a ver, pá?», diz Gugu. «É doido pelo cu e pelo gozo que dali tira. O “tusto” nada tem a ver com isto, mas a partir disto, tu só pensas em sacá-lo.»

«Mas, Gugu, quando meteres o teu pénis no meu cozinho fofo, quando eu começar a sacudir-me de um lado para o outro contra o teu… podes crer, não te vais gaguejar com nada que não tenhas experimentado.»

«Não me fodas», protestou de repente ele. «Deixas ou não deixas?»

«Se pagares deixo mesmo, Gugu… deixo mesmo, como te disse. Mas já sabes, não saio daqui sem os meus cem euros.

«Não quero mais conversas, Isabel. De qualquer modo, o que vou fazer quando sair daqui é tocar uma à mão, dá-me também gozo! E nem preciso que abras as pernas. Só preciso concentrar-me no teu cu…»

«O quê? O que é que disseste? Concentrar-me no meu cu?» Gugu fica muito estático. «Não me lixes, tu és velho demais para usar a mão, não és? O que eu acho, Gugu, é que tens de ter um buraco para gozares, não é?»

«Uma porra, é que eu tenho de ter um buraco para gozar. Quer dizer que tu também não gozas quanto te encabam?

«Não brinques, Gugu. Se queres saber, não sou como aquelas que to dão, ou sou? Gaita, tu nem vais acreditar se eu te disser que nenhum dos gajos que me comeu me pediu o rabo, juro pelo meu padrasto! E não foram poucos. Só clientes do Bar do Traidor.

Está para ali todo esticado, com a coisa dura que nem um bacalhau. E não pára de discutir comigo a possibilidade de eu fiar. Mas eu já estou cansada de o ouvir falar… quer me comer, diz, e se eu não lhe der o botão de rosa, ele nunca mais me vem visitar.

Eu então esfrego-lhe com o meu botão de rosa de trintona um pouco sobre ele e a seguir dou-lhe dois abanões à gaita com uma força que lhe deviam ter feito saltar os tomates.

«Ora goza, lá», digo-lhe. «Estás a ver o tempo que estás aqui a perder quando podias já estar a vir-te. Já viste isso? E tudo por tua culpa. Tudo o que tens a fazer é puxar do ter cartão American Express cá para fora, e a partir daí, já podes matar a tua cisma.

Apalpa-me as nádegas e quase me tira a camisa para fora das calças de ganga e eu vejo em pensamento os seus gemidos a soltarem-se…

Sinto-me realmente virada para outro lado. Estou em pior forma que Gugu e o aspecto dele não é propriamente uma flor.

Quanto ao cliente que me está a fazer olhinhos, dá-me a impressão de que é um bom cabrito. Agora, faz sinais se eu quero ir para a cama com ele, já!

Digo ao Gugu que hoje não estou interessada em fiados… fica para outro dia, talvez, mas mesmo assim não me quer deixar sair da mesa. Se o deixar enrolar, vou ver-me aflita para me pirar dele.

Então quando me vê resistir ao crédito mal parado do tempo longo sem juros, convence-se finalmente de que estou a falar a sério. Bom, diz, então fica para outra vez… Mas depois digo quando te virei procurar… vais ficar à minha espera…





FIM

Wednesday, October 7, 2009





                                                                  RATAZANA

                                                                     _______



− RATAZANA, PSEUDÓNIMO DA NOITE, transformou um dos seus sonhos de adolescente em toda aquela obra fantástica – disse Lucinda Encarnação, conhecida na noite por Nani, colega e amiga de Ratazana.


Esse adolescente, Ratazana, nasceu uns anos após a II Guerra Mundial e cresceu no período da ditadura. Traria para o palco da noite a sua criatividade e a sua inteligência pessoais, modeladas por uma época que apenas podemos visualizara em fotos destorcidas e semi-apagadas de imagens. Ratazana contou-me que veio ao mundo num mês primaveril a um dia de segunda-feira, por volta das sete da tarde, «porque esse tinha sido um dos poucos meses em que a sua mãe não ouvia novelas radiofónicas. A taberna da família ainda existe, em Vila Nova de Gaia, no centro das Devesas, próximo da estação ferroviária local.

− Contaram-me que, em pequeno, e enquanto miúdo da escola, muito corri – disse Ratazana. – Mesmo nesse tempo, era a favor de desgastes de energias. Sempre corri para me livrar das chibatadas de meu pai em público, por causa das patifarias que eu lhe pregara.

«Como era muito mais rebelde do que os outros meus três irmãos, não se interessaram muito para o que eu fizesse enquanto eu crescia. Por isso, tinha-me a mim próprio quase inteiramente para mim. E usei a minha liberdade para fazer macacadas e ver o tempo a correr, em frente à taberna do meu pai.» Muito cedo, o rapaz Ratazana sentiu-se fascinado pela banda desenhada, então constituída sobretudo por livros usados para revenda. – Havia um forte cheiro à imaginação. Na verdade, pode dizer-se que havia um fascínio intenso. Também havia muita emoção, do aventureiríssimo dos protagonistas e das histórias contadas. Penso que foi assim que começou o seu interesse de toda a vida pelas aventuras.


«Em rapaz, sabia que queria aventurar-me, logo que chegasse a hora. Quando se tem a sorte de poder aventurar quando se é jovem, tudo quanto lemos torna-se uma parte de nós, que podemos recordar durante toda a vida.» No princípio dos anos sessenta, os livros usados para revenda foram substituídos por lições de viola. – Lembro-me dos seus acordes e dos trinados das cordas de nylon, antes de serem transformados em solos, de passarem de um tom para outro, levando rapidamente os tocadores para músicas que só podia imaginar. E a taberna cheirava a música.
«Quanto tinha para aí treze anos, fiz a minha primeira aparição numa rádio local a cantar Ai Jalispo, uma coisa que o meu pai considerou merecedora de uma prenda. Ainda me lembro qual foi o mês, Setembro, mas, o dia escapou da minha memória.
«O meu pai mandou-me ir ao quarto, sem correrias. Avancei pelos degraus das escadas com serenidade, até abrir a porta do quarto, onde estava por cima das roupas, uma viola braguesa em segunda mão mas que provavelmente me pareceu nova. ´É isto que me fazia falta`, disse para mim.
«Nunca me separei daquele instrumento. Desde então, tive todo o empenho para aprender a ler a escala. Nunca faltei aos ensaios, nem sequer nos dias de jogar à bola com os outros rapazes da rua, porque queria evoluir bastante.
«Ainda me parece ouvir o lamiré do professor-guitarrista, depois de eu ter tirado o instrumento da saca.
«Sempre disse à minha mãe que queria ser um rapaz artista quando fosse grande. Na verdade, os artistas sempre me atraíram, e o artista cantor era o mais atraente de todos. Talvez isso se deva ao meu cinema de infância ou talvez seja porque os artistas cantores foram os primeiros que vi, quando era miúdo e, por isso, me pareciam mais artistas do que os outros. Acho que parecem mais coquetes por serem tão bem-comportados, com todas aquelas boas performances!»

A família Abraão era trabalhadora, um dado adquirido desde muito pequenos. – O facto de ser sermos trabalhadores significava que éramos cumpridores – disse Ratazana. A colocação dos porcos abertos ao meio da semana e pendurados ao comprido nos ganchos em cima do tecto da loja impressionava o pequeno Ratazana que, mais tarde, viria a confessar-se de ter dó do bicho. A sua mãe era natural de Miragaia, no Porto. O seu pai descendia de uma família de agricultores em Vale de Cambra. Abraão de Almeida vendia carnes de porco a retalho, mercearias e vinho de pipa ao copo na taberna das Devesas, em Vila Nova de Gaia. – Quando estava a organizar o Concurso de Sextas-Feiras, no bar − recorda Ratazana – veio ter comigo um homem maduro que disse que conhecia o meu pai, do tempo em que ele negociava porcos para a matança no Matadouro Municipal de Vila Nova de Gaia.

«Os meus pais achavam que eu tinha mais queda para trabalhar no balcão, do que os outros meus irmãos. Talvez tenha revelado ao meu pai uma certa inclinação pelo seu negócio e interesse em seguir as suas pisadas. Conseguia muito bem entender por que motivo um osso de porco rapado fazia jeito ao meu pai.
«Apesar de meu pai conseguir ganhar a vida razoável-mente como negociante de carnes, mercearias e vinhos, lidar com presumíveis bebedores contribuía para um certo receio de insegurança na nossa família. O meu pai era activista por natureza mas o seu trabalho colocava-o na posição de pacifista.

De todo o modo, não é muito diferente da minha própria actividade. Embora por natureza, não seja um ordenador, a aventura que escolhi como o trabalho da minha vida colocou-me numa posição não muito diferente da do meu pai… um pacifista com bebedores. Mas, na nossa família, nunca ninguém passou traça. É a vantagem de ser-se filho de um negociante de carnes de porco e mercearias. «A minha mãe era boa cozinheira e chegava a fazer mais de cinquenta refeições diárias. Era o seu trabalho a todo o tempo, e ainda sobrava tempo para deitar uma olhadela à loja, quando o meu pai ia às compras. Não me lembro de alguma vez chegar a casa e não a encontrar lá. «O nosso prédio onde vivíamos tinha mais de noventa anos e pertencia a uma família abastada de republicanos. Embora não fosse uma casa nova, a minha mãe era escrupulosa na limpeza e higiene. Usava um médio avental às cores que cobria o vestido menos as pernas. Nunca saía de casa sem se apresentar o melhor possível: asseada, vistosa, o vestido de bolas, os sapatos engraxados, uma mala pequena, os cordões de ouro a enfeitar o peito e uns trocos no porta-moedas, sempre para um remedei-o. Sempre admirei as pessoas que trazem trocos.

«Não era mulher de queixumes. Nunca a ouvi queixar-se. Também não era dada a meter-se na vida alheia. Nunca a ouvi dizer mal de ninguém. Só se preocupava com a família. As amigas que lhe apareciam lá na loja, não eram muitas, mas eram boas companhias. «O meu pai gostava de desmanchar o porco e trazer a carne que a minha mãe lhe pedia para a cozinha. Por isso, a nossa cozinha tinha sempre as mais variadas miudezas do animal. Lembro-me de meu pai ir trabalhar de grande bata bege que cobria tudo menos os socos de madeira calçados nos pés. Nunca o vi com a barba por fazer ou cabelo despenteado. Não era por causa do porco. Era por causa do respeito por si mesmo. «Muito cedo, alguns clientes gostavam de gozar do aspecto do porco pendurado no gancho e um deles chamou o meu pai a atenção. Eu ouvi o que ele disse.

− Ó, Abraão! Tens cabeça de porco? – Perguntou-lhe, mas o meu pai não lhe respondeu. Respondeu-lhe o outro.
− Então, ronca! – E cavou depressa, levando com um osso atrás das costas, com o pequeno.

«Os meus pais gostavam muito dos passeios domingueiros e levavam-nos com eles, sempre que era possível desfazer-se dos seus afazeres secundários. Nunca me esqueci das visitas ao Palácio de Cristal, dos pássaros nas gaiolas, do leão dentro da sua jaula, de vez em quando, dando o seu grito tenebroso. O passeio era sempre acompanhado por um farnel que a minha mãe trazia numa saca, com bolinhos de bacalhau, pão e sumo, para aquecer os nossos estômagos.» «Quando eu era adolescente «levei uma vida exterior muito viva. Os outros rapazes julgavam os outros pela sua vida interior. Posso não ter sido disciplinado mas era bem atinado.» 


Ratazana acrescentou que não participara em jogos e passatempos que considerava uma perda de tempo. Nesses primeiros tempos, a viola foi a sua melhor prenda e melhor companhia.


− A minha viola estava sempre ao meu alcance e eu andava com ela por todo o lado, como um bem adquirido, o que é uma coisa boa para um adolescente. Sentia que era a minha aliança.

«Eu era um rapaz popular e, por isso, era obrigado a estender a minha imaginação e penso que isso me ajudou a de-senvolver os recursos criativos. Não preciso de muita ajuda do lado interior. Além disso, o meu trabalho trouxe-me uma espécie de apreciação, pode mesmo dizer-se de amor, que nunca esperei. Talvez isso tenha tornado tudo mais belo, a branco em cima do escuro.
«O meu verdadeiro eu, é uma pessoa muito simples, tal como tem a ver com o aspecto publico. O homem não é muito diferente do rapaz. Quem queira entender-me tem de aceitar que sou deveras simples, como toda a vida fui. Quando se é assim em novo, é raro mudarmos. E eu continuo a ser o mesmo. Quando era adolescente, soltava-me na companhia da minha viola e da minha.» Uma paixão de rapaz a que pôde dedicar-se nas horas vagas foi armazenar tudo quanto tinha a ver com programas, especialmente programas de espectáculos e fotografias. – A minha colecção de panfletos, medalhas, cassetes e discos estavam rigorosamente guardadas. Gostava de ver cada coisa em seus devidos lugares e em perfeitas condições. Ratazana sonhava a tocar por todos aqueles palcos e, mais tarde, foi mesmo o que fez. O seu percurso estendeu-se a outros locais. – Nunca tinha actuado no Casino de Espinho − contou-me. – Mas, a primeira vez que pisei o palco do casino, senti que podia ir tocar a qualquer palco do mundo, porque tinha dominado a pressão. De pequeno Ratazana era tratado por Zé, na tropa por Almeida e Mambo e na vida civil por Fernando e, bem mais tarde, começou a ser conhecido por «Ratazana» pelos colegas do ofício, embora às mulheres a quem era apresentado, gostasse de dizer: − Pode chamar-me Rato, sem Ratazana!


− A minha infância não foi uma infância fácil, mas também não foi difícil. Nessa época não tinha uma noção muito diferente do que era harmonia. Tinha mais consciência do que estava certo ou errado.

Ver filmes e ler eram umas das actividades preferidas de Ratazana durante a infância e os filmes e os livros continuaram a influenciá-lo durante toda a vida. – Fui influenciado por Charlie Chaplin, Westerns e pelos argumentistas que criaram as personagens da BD. Travei conhecimento com vários artistas e músicos já qualificados quando era muito novo. O meu filme preferido de Chaplin foi Tempos Modernos. No mundo de Charlot dar oportunidade a alguém era um milagre, um caso que também vivi. Mesma nas histórias fictícias é importante não subestimar os outros. Os talentosos não podem ser deitados ao caixote dos papéis. Iniciando-se a trabalhar aos onze anos, altura em que completou a quarta classe, o jovem Ratazana foi o último dos irmãos a trabalhar por fora. A família Abraão vivia o suficiente mas havia sempre uma preocupação manifesta de amealhar o dinheiro que sobrava ao fundo da gaveta do apuro em latas, que a minha mãe me tentava fazer entender – guarda do riso p´rá chora. – Só mais tarde me apercebi da grande lição que a minha mãe me estava a querer ensinar a poupar.

«Sempre gostei de cantar e tocar viola e alinhei num conjunto de música popular de Vila Nova de Gaia. Lá, surgiu a oportunidade de actuar em clubes e arraiais e achei os arraiais maravilhosos.»

Ratazana foi tocar para o Conjunto Regional Realidade, convidado para tocar viola de acompanhamento. Conseguiu mostrar-se porque sabia alguma coisa de composição e, porque durante o tempo da aprendizagem, praticara a arte de solar. Não tardou a cansar-se das marchas e das valsas e começou a reunir outros elementos, onde viria a formar o conjunto, Os Mambos, de ritmos sul-americanos. O seu trabalho foi apreciado e inscreveu o conjunto no I Festival de Música Portuguesa. A indumentária original do agrupamento apropriado às suas raízes musicais, ajudou a receber do júri do festival, o prémio para o melhor conjunto original apresentado. Ratazana queria elevar o grupo a voo mais altos, embora os outros elementos não partilhassem as suas ideias. – Tinham demasiados problemas com os empregos. Pior ainda: as mulheres andavam sempre atrás deles, quando souberam que eu queria levá-los para fora. Decidiu incorporar-se no serviço militar para combater na Guerra do Ultramar e aderiu ao corpo de voluntários da 11.ª Companhia de Comandos, mal fez as provas, foi imediatamente incorporado. Foi para Angola, o que representou para si uma grande aventura.


− Foi realmente uma aventura longa. A minha curiosidade foi saciada e acho que razoavelmente gostaram do meu con-tributo. Sou um pau para toda a obra. Sempre fui prestável mas julgo que pensaram que servi com brio e zelo o meu posto.»

Aderiu ao grupo de guitarristas, violistas e fadistas que frequentavam o Café Tropical no Porto, que tinham trabalho e que procuravam iniciadores para programas extras.

− Desde a infância que me sentia profundamente agarrado pelo cinema e pela música. Profundamente agarrado. Os filmes e a música eram a minha paixão. Tal como a canção que tornou famoso Marco Paulo Eu Tenho Dois Amores, eu também tinha dois amores. Lia e via tudo que era magazine do ramo.

Em 1972, Ratazana relacionou-se nas mesas do café com várias pessoas enquanto parava no Café Tropical. − Alguém, que me conhecia, que sabia que eu andava à procura de um parceiro para tocarmos juntos. Na verdade, na altura, a ideia era começar um projecto novo, e felizmente tive essa oportunidade para me aventurar. Foi numa altura em que aquilo que não sabia era tão ou mais importante do que aquilo que sabia. Fomos a correr buscar os instrumentos, uma consagrada figura fadista ensaiou-nos e, ficamos a tocar numa confeitaria de Cimo de Vila até muito tarde durante várias semanas, coisa que sempre gramei fazer – disse Ratazana. Eu tinha vinte e três anos.

«Foi bastante bom conhecer Rufino Manuel, porque me ajudou a construir o duo musical Os 2 do Norte. Era muitíssimo bom na primeira voz. Quando concluímos o nosso repertório, contactámos um primo do Rufino, dono de um night-club, a pedir uma actuação, eu até lhe disse: ´Nós até tocamos de graça`. O meu entusiasmo foi notório. O nosso repertório, que sabia ser razoável, foi elogiado e, por aquilo que disseram de nós, o dono ofereceu-nos três meses de espectáculos. Assim, a nossa primeira actuação no mundo nocturno foi na Boite Roma, um night-club em ascensão na cidade do Porto.»

Entre 1972 e 1973, o duo actuou em festas e clubes, até desligar-me do Rufino por motivos pessoais e enveredei por uma carreira a solo, ao mesmo tempo que desempenhava outras tarefas. – Era o novo empregado de sala a tocar viola e cantar e fazer acompanhamento à artista de striptease que acabava o programa. Fazia qualquer tarefa que fosse preciso fazer na sala, fazendo por vezes o trabalho do balcão, na copa a lavar copos e o serviço do porteiro, na folga do titular. Sentia-me muito feliz no meu trabalho. «Naquela época, as camareiras da noite eram todas mulheres maduras e foi com elas que aprendi o vocabulário próprio. Nessa época, as mulheres maduras tinham muitas chances de trabalhar na boémia. Esse tipo de trabalho andar ao copo era considerado apropriado para as mulheres maduras, tal como a limpeza. Quando as novas casas começaram a aparecer, essas camareiras passaram as ser menos procuradas, essas funções passaram a ser facilmente acessíveis às raparigas novas.» . Em 1973, encorajado com o ambiente nocturno, Ratazana optou pela sua adaptação no métier, seguindo as pisadas dos colegas, e candidatou-se a trabalhar na nova casa a estrear e, foi contratado. Durante este período, Ratazana acumulou a funções de chefe de mesa, e o facto de ter trabalhado com bons profissionais, toda a gente o levava muito a sério. A eles se juntou e, aos poucos, Ratazana exibia o sorriso, que queria ser boss.

− Nos meus primeiros meses, pratiquei a técnica nas mesas, baseadas nos contos das camareiras até passar por outras casas evoluindo como barman – contou Ratazana. – Quando apareceu o negócio de António Cândido, convidaram-me a tomar conta do estabelecimento. Depois, do negócio realizado, em reflexão com as paredes, perguntei a mim próprio: ´E quem vai emprestar o dinheiro para as obras?´ Respondi-me que podia fazê-lo.

«Tinha um amigo na noite, que era como se fosse meu pai, que ia ser o financiador da obra para eu prosseguir com o meu projecto. Só me pediu uma estimativa. Eu disse que me encarregava do projecto de obras, que comprava os materiais, etc. Chamava-se Oliveirinha. Confiou em mim e fiz alguns esboços para lhe mostrar. E assim passei a ser também um boss da noite.»

Ratazana designou para o seu bar um nome moderno e atractivo com toque inglês que começara a funcionar no dia 3 de Outubro de 1980. Chamava-se Club Lord.

Wednesday, June 24, 2009

CONTOS DE RATAZANA










 FLIRT ENTRE ACALORADOS
                   ~~~


Clientes! Dois. Lima-Limão, a quem não via desde  aquele dia, em que na mesa dele, lhe apresentei uma destas estudantes de algibeira, e uma gaja. Ou uma tal. Pousam as mãos delicadamente no tampo de vidro da mesa e conversam animadamente do romance, ou dos estudos, ou de qualquer coisa interessante na hora. Ela é Sandra. Virgem, de alcunha traidora. Mas isso já foi à um bom par de anos. Ouve-se o seu petulante «Oferece-me um Baileys?», e fica-se com a sensação de se estar na presença de alguém que sabe encarnar o espírito camareiro. Sandra, confidencia Lima-Limão, é parecidíssima à sua segunda prima, que vive no interior. A confidência parece puramente formal e julgo que o encontro tem um fim meramente sexual. Mas Lima-Limão prossegue e diz-me que Sandra vai acabar o curso de enfermagem no Porto mas, como só tem aulas da parte de manhã, tenciona passar uns tempos no bar, para conhecer o ambiente. Um tipo tem de ser bem discreto, até mesmo para uma gaja que usa maxi-saia e sapatos rasos. Faço-lhes perguntas bem simples, com a mesma simplicidade com que daqui a uma hora já terei esquecido tudo o que disse. E quando é que acabas o curso? Os olhos dela chispam quando se vira para mim.



«Isso não é um dos meus problemas», diz. «Lima-Limão pensou que talvez aqui no bar eu pudesse arranjar mais inspiração.» Olha para o bar com os olhos, como se não o tivesse visto alguma vez.
… «Continua com um aspecto mais refinado… e é bem frequentado, claro?»
«Oh, sim», garante-lhe Lima-Limão. «Ratazana, encarrega-se de olear bem as coisas, não é verdade?»

Ela é que o vai olear até esticar o raio da língua! Mas não há mais nada a dizer… Vejo-a levantar para ir ao quarto de banho. De qualquer forma, tem uma cara divertida e há quem diga que é uma felina na cama. Mas que porra de cliente me saiu o Lima-Limão! Gostava de a poder ver de mini saia… Quando estiver inspirada, diz Sandra, não me posso esquecer de cá vir, pois o bar pode ser um local muito interessante, para uma rapariga que está sozinha… Clientes diurnos… Menino do Coro, como que ressuscitado, e passado uns minutos, Caseiro. Menino do Coro mostra-se encorajado em relação à nossa miss do ano de há umas semanas atrás. Diverte-se acerca disso, mas o seu divertimento transparece um certo arrojo. É extremamente lúcido acerca do que lhe aconteceu depois de ter a ter levado ao colo para ela colocar a boneca do concurso na parte de cima do balcão. Não lhe cortei a corrente. Assim que chega Caseiro, Menino do Coro bebe um gole de água e desaparece.

Desta vez não me lembro de o ter visto sair.

Caseiro arrasa-me com as suas queixas. Está decidido a não pagar copos e afastar-se de ir para a cama com Roca e Tesa. Esgotamento, considera ele. Senta-se na cadeira e pede-me o periódico, enquanto resmunga os nomes de algumas traidoras que no fundo são todas iguais. Talvez haja uma diferente… quem sabe?... Até ele pode acabar por descobrir uma, confidencia-me.

«Mas será necessário ir ao Mercado do Bolhão à procura de galinha gorda por pouco dinheiro?» quer saber. «Vou ter mesmo de esperar, não?»

Na verdade, acho que não, mas é-me evidente o que ele deseja ouvir. Digo-lhe, como se fosse a minha opinião, que provavelmente ele acabará por encontrar uma saloia sem vícios. Caseiro arrefece, com a frescura da cerveja, e dá um ligeiro abanão. Se elas se virassem para os clientes da chapa barata, diz, tudo se comporia muito melhor. Mas os outros parecem exercer uma má influência sobre elas. E Tesa… é de longe pior do que Roca, agora que já foi com ele para a cama. Aparece na sala, a exibir a ousada tatuagem a roçar a direcção do traseiro e não há forma de lhe escapar…

«Nem sei como me vou ver livre disto», diz. Faz um intervalo, olha-me de soslaio, e rapidamente afasta os olhos. «A última queca deu-lhe tamanha fúria, que me ia mandando pró maneta… Digo-lhe mais, nunca dei outra igual. Ela atormentou-me para que eu… me viesse duas vezes uma a seguir à outra enquanto ela mudou de posição…» Bebe um gole de cerveja num sôfrego. «A loucura foi… mas você entende. Ela sugou-me o leite todo e ferrou-me no cu. Ainda tenho a marca.»

Nem uma palavra, é claro, se troca mais acerca delas. Esta pequena paragem é desviada para que eu possa atender uma fila de clientes que entram juntamente… uma Sandra baixa e redonda, a dirigir-se apressadamente para a mesa de Caseiro. Ele levanta o olhar e aperta-lhe as mãos enquanto ela se senta. Começa a acariciar-lhe os dedos e a murmurar-lhe palavras tentadoras. Ela não pensou nada disso! Absolutamente nada! Foram-se mimando, a ela e a ele, com aquele pequeno aquecimento… o raio da estudante sabe até onde deve ir, penso eu. Caseiro levanta-lhe os cabelos até cima e puxa-lhe a ponta do nariz para baixo. Que olhos ela tem! Podia fulminar uma data de soldados agrupados na trincheira de uma batalha e nunca descobrir quantos tinha lá; podiam partir silenciosamente desta para melhor sem se doerem muito. Caseiro passa-lhe a mão pelos pêlos do braço e eles começam a ficar tesos. Os seus dedos esticam-se para a frente e os olhos dela saltam para fora. Enquanto se entretêm nas cócegas um com o outro, vai aumentando o rol de pestaninhas à sua volta olhando pasmados aquele par de amorosos. À medida que vai ficando mais aquecida, ela olha mais fixamente. Segundo penso, Caseiro agora julga que fazer mimos o torna mais atractivo… e a coisa começa a tornar-se um hábito. Sinto-me contente por tê-los juntado, mas gosto de os ver por cá…

Consigo matutar, pergunta-me ele, porque é que Sandra gosta tanto que lhe mexa nos pêlos? E eu faço-o de uma forma levezinha. Não a consigo magoar. Se não fosse por isso, talvez ela não me passasse bola. E enquanto me conta estas coisas, ela vai-se refrescar para o quarto de banho. É uma treta, acho eu, ele está à espera que ela baixe a parada e lhe faça o mesmo pagamento que Roca e Tesa lhe fazem, mas deixa-a à-vontade. Enfia uma pinga de cerveja entre as goelas, coçando a cabeça escabelada com os dedos. Passa uma vista de olhos pelas mesas e o olhar trespassa-me. Sandra volta de novo à sala e coloca-se no seu lugar onde através dos espelhos pelos quatros cantos tem curiosidade de ver quem entra e quem sai. Está tão em pulgas que não quer perder tempo a pegar nos livros para estudar. Diz a Caseiro que não a monta se não abrir mão de mais umas lecas… Não chegam a acordo.

Sandra conta-lhe coisas… Sim, ela até sabe que o seu prato fraco é uns mimos na cabecinha júnior… e quer fazê-lo de uma maneira diferente que Roca e Tesa dizem que o fazem. Ela quer que ele lhe coce tudo… tudo até aqueles pintelhos que cercam a caverna do Satanás. Olha-o com um suspiro e assim que ficam os dois silenciosos, faço-lhes chegar uns pires com amendoins e retiro-me para o meu posto. Momentos depois, ela mete-lhe um amendoim na boca, obrigando-a a mastigar. Acompanha o gesto com alguns piropos escolhidos. Produz uns sons desgastantes quando, através de uma folha de amendoim Caseiro se engasga e quase se asfixia quando tenta cuspir a folha para o cinzeiro ao mesmo tempo que a tem na boca. Sandra é malandra demais para que ele faça farinha dela, como fez com a Roca e Tesa, mas não consegue empurrá-la para a cama, onde não a convence com o seu finca-pé.

Todo o tempo que tinha livre, o meio da tarde quase indo, se está a escoar. Até a sua santa pachorra Caseiro vê fugir quando, repentinamente, lhe enfia a peta que quer ser seu amigo, e ser amigo é para sempre. Com duas petas bem enfiadas, ela está perfeitamente «adormecida», mas o que ela pensa ele não sabe, e eu duvido que ela embarque nessa. Não levanta os pés do chão quando ele abana os ombros como quem diz «mexe-te». Faz-lhe mesmo muitos mimos, sem quaisquer restrições. Mas quando ela diz para aumentar os valores e colocar dois novos dígitos ao estipulado… ah! Isso é o fim! Não posso aceder a isso, mesmo que os outros o tenham feito, começa a tentar dizer-lhe mas ela desvia os olhos para a assistência. Merda, não há como elas torrarem, que já não conseguimos levá-las, assim deve pensar Caseiro. Ainda não passaram dois segundos e já sente a careca quente e começa a passar-lhe a mão por cima. Tem de lhe explicar o joguinho que Tesa impôs, que é satisfazê-lo com pratos deliciosos, como se de um amante se tratasse. Isso anima-a… aperta os lábios com uma força medonha… se alguém lhe tentasse beijar, muito provavelmente partia os copos, atirava as cadeiras ao ar, só de boca fechada. Ela deve saber qual o modo como o deve apanhar, mas espera o momento, por isso obriga-o a gastar todos os trunfos. Por fim aperta o pescoço, como se ainda não tivesse bebido nada. Não secarei, sugere ela, oferece-me um licor como eu gosto? Oh, isso nem se pergunta, aceita. Tinha-se esquecido, enquanto decorria a conversa, mas agora ela fê-lo recordar-se… de como uma conversa a dois, só se compartilha bebendo em conjunto… Oh! Oh! Ela não deixa passar nada, aquela estudante. E finalmente consegue que ele admita o facto.

Bem – com certa pachorra – Caseiro talvez pense o facto que uma vez não são vezes… seria difícil apanhá-la depois. Sim, é possível que não a veja tão cedo. Coça-lhe a mama. Como é, vai ou não vai? Pergunta-lhe ela. Estamos combinados, não? Bem… VAI! Sim, julgo que também queiras ir. Levanta-se logo atrás dela. Ela bate-lhe a porta da sala, caminha, afastando-se o mais possível e baixa a cabeça enquanto atravessa a rua para a residencial. Desta vez levantou os pés do chão, ao contrário do que fez quando lhe disse pela primeira vez para subir a parada… nisso assemelha-se muitos às outras. Agora está à espera que ele cumpra o que tem a cumprir.

«Já conversou tudo», digo-lhe eu. Mostra-se manhoso. Atrevo-me a mandar uma boca daquelas! É costume levar a corda até ao fim. É isto que me diz o cozinheiro… que é costume!

Que seja costume, então. Vá lá comê-la porque me dá lucro e ela também ganha. Só para ele não se esquecer, ponho a conta em cima do balcão. Imediatamente, ele volta-se para mim.

«Tanto dinheiro!» É tudo o que diz e é o suficiente para eu provocá-lo, dizendo que ela quando se está a vir… chora que nem um bebé. Caseiro positivamente solta um riso alongado quando escuta a última frase. Não sei se ele acreditou, mas para mim dá-me um gozo tremendo pô-lo a rir. Ponho o dinheiro na caixa e fico a vê-lo partir, até que a porta se feche e um novo cliente faz desaparecer o antigo…