NÃO
VOS PASSA PELA CABEÇA OS CASOS QUE SE PASSAM NOS CAMPOS DO FUTEBOL.
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NUNCA
VOU ESQUECER A PRIMEIRA VEZ que fui à bola. A primeira foi no
estádio das Antas em 1959, quando o Porto jogou frente ao Atlético e ganhou.
Estava eu internado na Casa de Correcção do Porto, e a direção do Porto
ofereceu gentilmente bilhetes à instituição. Tinha 13 anos e passei semanas a
comportar-me bem para ver o meu nome na lista dos bem-comportados. Nos
primeiros cinco minutos, julguei que me iam levar ao colo, tal era o fluxo da
multidão, mas logo, aqueci com o ambiente. E, fartei-me de levar encontrões e
pontapés nas canelas. Jamais tinha ouvido tamanha barulheira de gritos como na
entrada da equipa do Porto, e naquela tarde, deviam estar mais de 30.000
pessoas no estádio, mas quando eles se punham a gritar todos ao mesmo tempo,
parecia que o estádio ia abaixo. É uma experiência que fica marcada para
sempre. Eu fiquei apanhado para a bola. Basta ver, quando o jogador chamado
Hernâni, toque subtil na bola, faz um sprint veloz, já sabemos que o avançado
tinha meio golo nas botas.
Vinte
anos depois, tornei-me sócio do F.C. do Porto, e voltei ao mesmo local onde
tinha estado, vinte anos antes. Muitos dos momentos mais memoráveis da minha
vida, sem dúvida, saíram-me dos campos do futebol. Vinte anos depois, quase uma
centena de jogos vistos, os casos mais extrovertidos ainda perdura na minha
memória. Recordo o homem das rifas da Ribeiro que começara a ficar nervoso, no
jogo em que o meu clube empatou em Coimbra, contra a Académica; viajamos quatro
no carro e repartimos as contas à moda do Porto, e entramos aos repelões no
estádio às 3 da tarde. O jogo começava uma hora depois. Apareceram aqueles
chatos rapazes da terra, cabelo à escovinha, que se fartaram de nos picar,
quando deixamos de os ouvir, já o rifeiro tinha enviado um sapato à cabeça de
um deles. Menos de 5 minutos para acabar o jogo, há um livre soberbamente
marcado por Cubilas e o empate surge, e o delírio nas bancadas passa-se dos
carretos. Logo o segundo sapato voa em direção à cabeça dos rapazes, que fogem
em debandada. Ele começara a rir-se e não conseguira parar.
Troquei
de turno ao trabalho, em 1978, para ver o jogo em que o meu clube se tornou
bicampeão contra o Barreirense, no estádio das Antas. Recordo o momento em que
o jogador Oliveira, o nosso cérebro da equipa falhou o golo ao poste contrário
por uma unha negra. Quando um sócio do meu clube de rádio ao ouvido, ouvindo o
encontro do rival, grita para ele aos altos berros, chamando-o de aselha e
boémio para logo a multidão cair numa barulheira infernal durante 5 minutos,
para aclamar o genial golo de Oliveira, já se sabe que o rádio voa das mãos do
sócio e alguém vai ficar em mau estado.
Mais uma.
Que
rica tarde soalheira nos aguarda à chegada ao campo do Varzim para assistir ao
jogo que interessa ao meu clube: a vitória dá-nos o título de tricampeão. E nas
bancadas, logo a seguir ao primeiro pontapé na bola, a emoção sobe ao rubro em
jogadas a rondar a baliza contrária, perante o arrastar das vozes da multidão
em pulgas, na eminência de ver uma bola entrar. Uma escapadela do jogador azul
e branco põe tudo em choque, mas o avançado sem acerto atira a bola pró monte.
E o último quarto de hora é de gritos. Quando soa a apitadela final, o empate
persiste, e a equipa do Varzim dirige-se à nossa bancada para a despedida da
praxe, é claro que sai vaia e em seguida um coro de raiva. Quando um rapazito
dos nossos, sufocado em lágrimas, sobe ao gradeamento debaixo de uma emoção
forte para um polícia de cassetete na mão cair em cima dele, já se sabe, que a
nossa claque e massa associativa solta um longo Ah, Ah, Ah, durante 20 segundos, e rápido o polícia cavar dali em
passo de corrida.
E mais outra.
Ir a Viena de Áustria em 1987, quando
vencemos o Bayern de Munique na final da Taça dos Campeões Europeus, e ver o
fenomenal calcanhar de Madjer, é coisa única no nosso historial. Sumir chiclete
atrás de chiclete até os engolir durante uma das maiores aflições de uma tarde
gloriosa do Porto trazer a taça UEFA, em Sevilha, no ano de 2003.
Essa
era uma das minhas histórias que tinha para contar daqueles jogos e nunca
deixei de o fazer. Porque gostava de as contar.