Saturday, October 3, 2015





Em 1980, o imobiliário P. da Costa foi levar uma mulher chamada Mónica, que conheceu pela primeira vez, a ver um apartamento que esta pretendia alugar, na zona do Carvalhido, no Porto. Quando estava a observar o apartamento, Mónica suspeitou nitidamente das intenções de Costa e não tirava os olhos de cima dele. Três anos mais tarde, Mónica, no seu comentário pessoal, revela: «Queria que eu fosse a sua amantezinha — e queria que eu metesse a língua na sua boca. Sabia que ele estava pronto por me saltar para cima...» A atitude de Costa a este acanhamento simulado foi preparar-se para o assalto a ela, de calças em baixo. Mónica ficou completamente arrasada, com as suas «maneiras bruscas» e gritou para ele acabar com aquilo. Ele obedeceu prontamente. Na próxima vez, foi mais cavalheiro. Levou-a a ver outro apartamento para alugar, mas mobilado e recheado com todos os eletrodomésticos, na zona do bairro de Monsanto, no Porto. E a relação há muito esperada aconteceu na cama. «O calor que parecia ardente aumentava, tornava-se cada vez mais quente, e rapidamente puxou a persiana acima, e o ar ficou mais respirável... A seguir, Costa deitou-se ao meu lado, excitando-me com beijos ardentes e meigos nos ouvidos... e, de repente, tentou convencer-me a praticar  — sexo anal — e, quando eu me recusei, ele disse-me: «Relaxa-te amorzinho — todos os casais o experimentam». Depois senti uma dor aguda a penetrar dentro de mim e no último segundo gritei, mas não parei o ritmo. A dor cegou-me mais do que o calor do ambiente, e pedi-lhe num murmúrio que dissesse: «Chama-me tua panelinha, chama-me! e entrei em loucura, como se estivesse em êxtase, — e depois aceitei-o por completo.» Costa detestava preservativos e, como resultado disso, a sua amantezinha-panelinha engravidou. Tinha de assumir a paternidade ou então concordar ambos num aborto. Costa e Mónica tentaram levar a coisa nas calmas, e Mónica foi fazer um teste que confirmou a sua gravidez e que ia ter uma menina. A ideia de ter uma menina quase o ia levando ao delírio, pois Costa era casado e pai de três meninos. Consta que Costa disse aos amigos na festa de anos: «Bem rapazes, isto é melhor do que a lotaria, mas ainda vamos ter que esperar.» Costa começou a passar a maior parte do tempo a conviver com clientes da boémia, enquanto Mónica e as suas meninas tomavam conta do bar. Dois meses depois, Mónica abortou e Costa desfez-se em lágrimas de pranto. Os rumores começaram a circular de boca em boca; continha pormenores das manobras de Mónica, incluindo o simulado da gravidez, e por fim, um bocado de uma tripa de porco comprada no talho, como amostra de um possível feto de criança. As bocas tiraram o maior partido destas revelações. Houve alguém que comentou: «Mesmo os palermas, que gramavam o Costa há meia dúzia de meses, preparam-se para fazer abrir as goelas para se rirem dele.» Um ano depois, enquanto Costa se debatia com problemas intestinais, Mónica terminou a relação e proibiu-lhe a entrada na sua casa.


As bocas dos clientes habituais aproveitaram todas as oportunidades para incendiar os tarados e viciados de O Mundo da Noite; continuaram a tirar partido dos casos de P. da Costa, mesmo depois de este ter desaparecido do ambiente. Os patrões de O Mundo da Noite achavam que teriam de fazer qualquer coisa urgentemente para mudar a imagem da capital do prazer. Abraão foi na deixa e fundou um pasquim semanal intitulado O Jornal Dos Traidores, cuja primeira edição era aguardada com enorme frenesim e, Abraão, que era um ótimo contador de histórias com mais de uma dezena de livros publicados sobre histórias de frequentadores da noite, aproveitou o seu bom humor para fazer valer os seus dotes literários. O seu objetivo principal, consistia muito simplesmente, em detetar desgraças dos clientes e das mulheres da noite — as que eram tara-maníacas, as que eram dependentes de comprimidos, as que partilhavam o homem com a amiga, e as que eram histéricas ou lésbicas. O sucesso do pasquim foi tão grande que Abraão se podia dar ao luxo de ter informadores por todo o lado a dar-lhe dicas para um artigo para as colunas das fofoquices. As notícias chegavam às manadas. Abraão depressa compreendeu que a maioria dos frequentadores preferiam saber das bisbilhotices dos outros, ignorando as suas. E logo, uma das vítimas decidiu contestar o jornal; depois de um artigo que se referia a umas brincadeiras de vibrador numa banheira. Ana Cinzenta roubou O Jornal Dos Traidores. Só havia uma tiragem. Outras mulheres da noite seguiram-lhe o exemplo. Fifi fez um escabeche e escondeu debaixo do sofá O Jornal Dos Traidores por a ter acusado de pagar as despesas a um cliente da noite. Dois meses depois, na Residencial da Xangô, Albertinho das Flores, ameaçou O Jornal Dos Traidores por insinuar que tinha drogado uma acompanhante para fazer amor com uma prostituta, jurando não mais voltar ao bar. Foram tantos os clientes-traidores que apresentaram reclamações que Abraão decidiu mudar de estratégia e deixar de publicar fotos das personagens. Depois de Abraão se ter tornado o «rosto de O Mundo da Noite», foi escrevendo história sobre história, a qual escrevia qualquer artigo capaz de provocar a fofoquice, mesmo em casa alheia. Mas os casos escandalosos continuavam a aparecer. Abraão dizia às suas prostitutas e colaboradoras que deviam limar a sua vida pessoal de modo a que qualquer atitude «vergonhosa e suja» fosse evitada. Todavia, ele mesmo era conhecido por se aproveitar de sua posição para ir para a cama com as colaboradoras, enquanto as suas histórias malandras incluíam sempre um bacanal lordesco ou cenas que havia casais na mesma cama.