Saturday, September 21, 2019



                 


A vendedeira de panelas, o cliente do Porsche e o Varredor…
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    O meu próximo encontro no café Vera Cruz, na rotunda da Av. da Boavista, deu para conhecer mais uma cara nova, amiga das vendedoras de panelas. Dirigi-me até elas.
   «Olá! Temos mais uma vendedora?» - Ripostou, com um ar que a enterneceu. «Não. Sou uma aprendiza.» - Gaguejei um pouco:
   «Ok, isso não é problema.» -
   Devo confessar que aquele grupo era endiabrado. E aparece Caga Milhões com as sobrancelhas arrebitadas:
   «Por aqui?» - Enviei-lhe uma saudação com a mão. «Até foi bom aparecer. Chegue-se para aqui.» - Aproximou-se.
   «Estás bem acompanhado.» - Sorri para ele. «Chegue-se cá. Quero apresentar-lhe esta cara bonita.» -
   Estendeu a mão, a moça da cara bonita não tirava os olhos dele. Parece que tinha visto o Conde da Batata Frita!... E foi assim que eles se conheceram.
   «Deve ser bom andar num carro daqueles - disse a moça da cara bonita. -Que marca de carro é?» -
   A voz dele sobressaiu:
    «É um Porsche. » -
   «Sabe que nunca andei num carro daqueles
   «E qual é o problema? Se quiser, damos uma volta pelo jardim da Foz e ponho-a num instante.»
   Não hesitou e saiu atrás dele em direcção ao carro. Quando os vi entrar para o carro, não deixei de rir. Lembrava-me das palavras dela quando disse: - Nunca andei num carro daqueles. Francamente, não é que eu tivesse alguma coisa contra a máquina, nada disso, simplesmente aquele carro tinha mais de vinte anos. Ao ligar o motor, fazia mais fumo que a caldeira do fogão a lenha do tempo do meu avô. Pus-me a vê-los arrancar. Mal o carro avançou, o fumo espalhou-se pelo ar, deixando um rasto de cheiro a óleo queimado.
   E Caga Milhões descreve uma volta pela avenida adiante. O vento hoje sopra a Norte e vem carregado de calor. Alguns transeuntes olham curiosos. Os olhos dela eram como verrugas, penetrantes, mas a falar era suave e simpática. Caga Milhões tinha-lhe oferecido uma espécie de corrida e tinha-a entusiasmado com uma volta ao longo da avenida, até passar por cima do jardim, parando junto dos arbustos...
   Pergunta-lhe:
   «Que tal? Gostou da viagem?» -
   «Ufa, deixe-me respirar, ainda estou meio tonta» -
   «E que ainda não carreguei o prego a fundo!...» -
   «Essa é boa... Não me assuste mais.» -
   «Há uma coisa que não sabia. É assim tão rechonchuda?» -
   «Sou, mas chegue-se para estou a sentir os calores por mim acima.» -
   «Mas que coxa gorda!...» -
   «Cuidado, não ponha as mãos nas pernas que o varredor está a espreitar!» -
   «Quero que o varredor dar uma curva ao sobreiro!... Com a traça que estou, ainda o deito abaixo!» -
   «É doido ou quê? Pare de me apalpar as mamas.» -
   «Ó! Meu Deus! Que mamas...» -
   «Que homem este que me põe... tão tola... aiaiaaaai!» -
   «Ó filha, e se déssemos aqui uma braitada? O varredor até se mijava todo.» -
   «Deixe de dizer tolices. Atenção que o varredor vem para cá.» -
   E Caga Milhões abre o vidro do carro e põe a cabeça de fora, papagueando todos os disparates, insultando o varredor:
   «Se dás mais um passo em frente, passo-te o carro por cima desse esqueleto de peru...» -
   «Ah!, sim - disse o varredor pouco risonho - Vai mandar postas de pescada para a tua rua.» -
   E, cinco segundos depois, Caga Milhões, gracejava sobre os braços dela e tocou-lhe nos cabelos.
   «Ó filha, chega-te mais para .» -
   «Pare de me apalpar, senão começo aqui a gritar.» -
   «Boa ideia tiveste agora, grita que eu gosto.» - Um grito solitário rasga o silêncio da manhã. No interior do carro os dois corpos envolvem-se numa marmelada franciscana... Ao longe, o varredor murmura para a relva.
   «São completamente doidos! Filhos de uma puta!» -
   E nove minutos depois, no interior do carro, tudo se acalma. Que peso sai daquelas cabeças tontas e perversas e produz semelhante gritaria? Ele sai do carro e um arrumo às roupas. Depois, volta-se na direcção do varredor.
   «Também estás com a traça? Espera que te faço a folha.» -
   «Vai roncar prá tua rua. Tens cara de chouriço!» - Espingardou o varredor...
   «Chiu! Eu calo-te já.» - Entrou para dentro do carro e ligou o motor.
   «Fica a saber que tenho os meus impostos em dia.» - Deu uma aceleração ao carro que passou velozmente por cima do jardim pondo o varredor a correr por tudo quanto era relva!
   O carro, depois de galgar para a estrada, perdeu-se pela avenida.