Friday, December 17, 2010



CONTOS DE RATAZANA
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REZEM PELO CAGUINCHAS…



Ratazana aguarda-me para o ensaio… Ratazana das ideias cor-de-rosa de pingos de café e dos contos lordescos cada vez mais excitantes. É a seguir ao almoço… Acabei de embalar a pé pelo meio do bairro, de modo que ele encontra-me a chegar ao jardim de Arca d´Água… Vou ao encontro… e para lhe contar uma história espantosa.

A minha mulher castigou-me. Eu ainda não estou totalmente refeito do caso, o que é perfeitamente natural, se considerarmos que se trata da mulher com quem tenho vivido durante todos estes anos. Foi um choque tremendo, em todos os sentidos, ver uma bela noite subitamente a mulher ter posto trancas à rata, bani-la da minha mente e voltar-me as costas.

Claro que aqui há mais qualquer coisa que se passou. Sendo a minha mulher conforme é, os factos só se podiam dar desta maneira. E o resultado esta à vista…

Como é hábito, a pinga está na origem do problema. A minha mulher andou a massacrar-me durante as últimas férias, a meter-me as ideias na cabeça, ralando-me o juízo com o mau hálito que sai da minha boca de bebedor. E claro que tem andado a ralar os filhos quase desde a primeira vez em que nos pegamos a sério. Portanto, um dia, a cena estoirou.

Quando ouvi alguém a mandar-me um toque no telemóvel, ainda pensei que pudesse ser ela… Hoje era o dia em que Ratazana queria gravar umas cantigas do duo. E eu tinha-me preparado para o ensaio. Só não estava preparado era para a maneira como o estupor me saudou…

«Ontem a patroa abriu as pernas?»

Isso não são coisas que se digam à porta de um mini mercado, onde qualquer pessoa as pode ouvir, por isso levei-o para dentro da garagem e alapei-me no banco, para poder respirar mais à vontade. Então ele senta-se de frente para mim a ouvir-me a minha história…

O sacana não perde uma única pitada relevante. Não se escusa a perguntar-me simplesmente se eu a cansei, quando e como… sim, quase me diz como é que devo agir. Mais um toque de Ratazana.

Como já atrás ficou referido, passou-se durante as férias. A minha mulher deslumbrou-se com o sol, o que não partilho, regressou ao hotel e encontrou-me no bar a beber cachaças… se bem que ela tenha a certeza de que eu não estava grosso, pois reparou na minha postura quando a saudei. É bem provável, que ela tenha entrado em parafuso com o sol que apanhou… Não posso esquecer a maneira como ela se atirou a mim até eu ficar quase sem voz, para depois me deixar a falar para a parede e pôs-se a francos. Seja como for, a minha mulher passou-se no quarto onde ela, como uma parva… ou uma maluca… começou a despir-se às escondidas. Dois minutos passados estava enrolada no lençol e três minutos passados esticava-se na cama com as pernas de fora. Cinco minutos passados estava a blasfemar sozinha e passados dez minutos já eram pesadelo, eu tinha razões para me sentir um desesperado.

«Bem, mas por que raio é que ela começou a fazer-me isso?», grito eu, quando Ratazana faz uma careta. «Não fiz nada de mal, pois claro? Eu não ia forçar a minha própria mulher!»

«Penso que ela também o negava», responde Ratazana, deitando-me aquele olhar persistente e rufia que é o seu.

Ela também o negava! Sim, diabos a levem, suponho que sim. Por outro lado, não percebo por que é que eu me mostro tão nervoso. Como é que a minha mulher pode chegar a este ponto. Ela não deverá saber que, se as coisas se tornarem mais pretas, a família vai andar em grande reboliço por aí, e se puderam correr-me daqui e deixar-me sem nada que se manje, excepto um instrumento agastado e um gosto por álcool de muito boa qualidade do que aquele que está dentro das minhas veias? Como muitas outras coisas de que ela gosta… E assim continuo a contar-lhe o quanto eu a queria e as sensações que tinha enquanto a observava a caminhar e que grande que era o meu amor por ela… Ponho-me de pé e começo o ensaio à procura de relaxar o meu nervosismo e tanto a tocar como a cantar é visível uma grande descontracção com a viola na mão, como se tivesse renascido de novo para a música.

«E agora o que é que vais fazer?», pergunta Ratazana, já sentado com um copo de água na mão, depois de me ter dado outro copo, mas muito menos água.

«Seduzi-la outra vez, suponho», digo-lhe. «E se ela quiser… continuar.»

Continuar. Carago, como é que uma mulher o pode evitar? Tudo o que tenho a fazer é conquistá-la de novo… está numa de grevista geral, deixando-me cá com uma destas tusas… e não sou o único culpado, meu Deus!

«Pensei que ias abaixo por isto», acrescenta Ratazana, passado um instante. «Alguém disse que andavas destravado…»

Passo a cara pelas mãos, simplesmente. Reconheço que, perdi o controlo da situação que está á evoluir de uma forma mais rápida para mim. Então, enquanto estou sentado, Ratazana aproxima-se e instala-se na cadeira. Tem os dedos a mexer, com o fazem os músicos e fita-me no rosto.

«Sabes por que é que não te quero ver cair, não sabes?», exclama ele. «Claro que podia não me ralar e não seria teu amigo.»

Continuamos o ensaio divertidamente, gravando algumas cantigas com aquelas vozes que já percorreram várias salas no passado. Jesus, fazer só uma oitava! Verso rapioqueiro de cariz popular e no refrão, em vez de coro, solo de Kazoo. Mas aquele tradicional fado da dor de corno… vai animá-los um pouco… aquele fado de destroça corações vagabundos… começa a ganhar forma que os iniciados aprendem a sentir… não sei bem o que é, mas está a começar a entrar…

Quase tombo o copo quando deixo pousar lentamente a viola… faço outro intervalo. Encosto-me no sofá e ele senta-se sobre a mesa, a olhar para a minha cara, com uns olhos ligeiramente observadores. Ele insinua e sai-se com esta.

«Então, pá, não fiques aí sentado a gastar os pensamentos com ela», diz-me ele, «mentaliza-te se a queres dobrar…»

«Não a posso obrigar…»

Não é fácil obrigá-la. Tudo o que tenho a fazer é pôr a minha mente sobre a sua cabeça e domá-la por todo… ela faz o resto. Lá vem Ratazana com aquela conversa de moinante para mim enquanto desbobina o seu conteúdo sobre casos da noite, e não há duvida que faz uma reportagem notável dos boémios. Depois ri-se daquele jeito sem dó pelos meus desabafos e despacho-o com uma máxima para ele se calar.

«Vai-te foder!» Esfrego a mão sobre o nariz e ergo os olhos para ele, chateadíssimo. «Ensaiamos… ou queres deixar para amanhã?»

Ele levanta-se, mas não sabe o que lhe apetece tocar. Ainda está indeciso, prendeu novamente a viola ao peito e começou a dedilhar nalguns tons, mas parece ter criado qualquer coisa para ele não deixar de fazer dobragens de acordes, deixo-o tocar e fico a ver o que é que sai dali. Mas não o importuno… Ergo a viola e começo a acompanhá-lo de perto. Tiro uma batida compassada e arranco-lhe dois sins de cabeça… Ele volta-se para me dar a certeza de que faço uma boa ligação para o seu solo.

«Acompanha-me abafado!», pede. «Acompanha-me abafado!»

Portanto já tirou mais esta. De improviso, muito naturalmente. O artista… vou tramá-lo sem lhe fazer o abafado, mas não! Agarra-se no solo e abre com um trinado de cordas. Aquele início de entrada mexe-me cá dentro, como se de um sedativo se tratasse. É tão refrescante como um pirolito e quase da mesma frescura. Mas é um pirolito com sumo, meu Deus…

«Toca-o outra vez», digo-lhe eu. «Ouve lá, inventaste isso agora?»

Sim, responde-me ele, só uma parte. Ele pôs-se à procura de uma entrada e apanhou-o em seguida e foi assim que aconteceu. Mas talvez falte mais…

Depois de todo esta embrulhada, estabelece-se um pouco de acalmia na garagem. Tenho andado a melhorar os meus índices de tocador o que me surpreende neste capítulo. Ratazana ainda está a guardar o seu instrumento, ainda está a trautear a música. E há alguém a abrir a porta da garagem. Chamo Ratazana… parece um detective… e fico de olho pregado. Parece-me o filho de Ratazana, mas pode ser outra pessoa.

Mas não. É um condómino.

Já ensaiei ali meia dúzia de vezes, mas que eu me lembre é a primeira vez que vejo alguém a entrar pela garagem. Temos estado a fazer algum barulho que seja quem for que apareça ao portão sabe logo que há música na garagem.

O condómino mete-se dentro do elevando enquanto o diabo esfrega um olho e leva um menino atrás de si. E eu nem chego a ver quem é que entrou… para fazer uma análise… Ainda me agacho, mas por que raio, estou eu a olhar para o escuro? Ratazana olha-me com curiosidade acrescida e entra-me com esta.

«Estás a ver o quê?», pergunta-me. «Por que é esse vistaço todo?»

«Exercício», respondo-lhe, porra, devo ter o aspecto de quem esteve a fazer exercício. Dou uma esfregadela nos olhos com a mão e tusso profundamente. Então de repente lembro-me de que não tenho nada para o jantar e de que o tasco ainda deve estar aberto. Digo-lhe que vou dar uma mija e vou à fossa, onde abro a torneira para abafar o cheiro.

Quando volto, Ratazana já tem os instrumentos nas sacas. Pouco falta para as seis da tarde e o céu já escurece.

«Eh, Ratazana, anda daí e leva-me ao escritório (tasco) …»

Tem calma, tem calma… nem pensar em deixar aqui os nossos instrumentos. É o melhor que há… viver-se com música. Eu que vá até lá fora tomar um pouco de ar enquanto ele leva as violas a casa. Não vale a pena dizer-lhe que tenho pressa… ele tem a certeza de que me leva ao local e além disso…

«Venho já ter contigo», diz-me. «É melhor ires dando umas voltas ao jardim enquanto eu subo e desço.»

Assim despacho-me até ao jardim. Faço um pouco de exercício para aquecer os pés. Dou corda às pernas umas quantas vezes e faço os possíveis por dobrar o andamento. De repente Ratazana aproxima-se com o carro e interrompe a minha marcha.

«Tens essa barriga toda disformada», repara. Parece ter um olho clínico.

«Ah, sim… que novidade…» Tento enviar-lhe outro tipo de palavrão, mas é no momento que ele buzina e eu entro no carro. Peço-lhe para andar rápido e deixar de conversa fiada.

Custa um bocado até chegar ao tasco por causa do trânsito caótico, mas mal lá chego avio-me primeiro com o minha receita habitual. Não posso levar lagosta recheada porque sou alérgico ao preço. Havia lá uma coxa de frango de aviário, e isso foi o que eu trouxe para casa.

Lá vem Ratazana outra vez a dizer que eu estou a ficar encurvado. É exactamente o mesmo que a minha mulher já me ralhou. Mas ele leva vantagem pois consegue dar-me um tratamento para aliviar a magreza. E, durante todo esse tempo, eu à espera que ele fizesse algum convite… uma ida ao café… ou coisa do género… Eu próprio dei um lamiré… mas vai no Batalha…

O pior de tudo isto é que eu tenho de levar com ele e mostrar ser paciente, quando o que realmente me dava ganas de fazer era corrê-lo com um pontapé no cu. E tenho de levar com os seus conselhos… Ainda estou para perceber por que é que um homem que fica bem na vida segundo a boa vida nocturna… vir do zero e tornar-se independente… há-de vir dar conselhos a um vivaço meio idiota, mas Ratazana parece ter a noção de que não sei nada o que há a saber sobre estas coisas.

«Porque não a pões de lado e a riscas da tua vida?», pergunta-me, «ou deves divorciar-te da tua mulher?»

Tenho de o ouvir. Faço-o mudar um pouco de tema e afianço-lhe que há-de acabar tudo bem, que no fim do ano as coisas se hão-de resolver. E raios me fodam se eu acredito que as coisas se vão resolver a bem. Da minha análise isto parece uma das piores ensarilhadas que alguma vez eu pensei estar envolvido… e estou até ao pescoço…

Ratazana fala que nunca mais acaba e, uma hora passada, já me deu dezenas de resoluções. Uma coisa em que se concorda é que eu não vá andar à pancada com a mulher. Graças a Deus recebo um email… tenho que ir buscar o meu neto à escola e ele ainda me tenta reter.

Faço-o andar um pouco mais depressa, argumentando que falaremos mais sobre este assunto… Depois, já tenho os nervos destroçados… e este amigo! Quando puder vou a um psiquiatra. Tento-me alhear de tudo, mas Ratazana volta a malhar sobre mim e eu atiro-lhe à cara.

«Diabo, parece que me queres ver na desgraça?», berro-lhe eu. «Podia ter acontecido a ti e não a mim…»

«Sou um homem de sorte», diz ele. «Pensei que tu devias ter necessidade de ouvir um conselho dos bons. Realmente pensei. Vou ver se consigo que não me chateies mais…»

«Ouve, Ratazana, espero que a minha mulher abra o coração e me dê uma última oportunidade! Por que é que julgas que a minha mulher não mudou de cama? Para me tentar! Quem se deve oferecer é ela e não eu! Eu posso dar-lhe tudo o que ela precisa…»

«Não volto a falar-te dela, prometo!».

É o prometes! É um gajo carimbado e quanto mais ripostadas lhe dou, mais atiçado ele fica.

«Hei-de evitar falar dela! E… também não te ligo! Podes falar à vontade, que eu não te aconselho mais! Falas para a mundial… Hei-de evitá-lo, mesmo que consigas implorar-me para o fazer!»

Falas para a mundial! O rufia! Não insisto. Ainda sou mais tolo do que ele estar sempre a bater na mesma tecla. Já devia saber que não se pode trepar numa mulher que nos sacode ou nos rejeita, uma vez que tenha perdido o sentido da coisa. Paro de falar e Ratazana acelera em direcção à escola do meu neto.

«Agora, deixa-me aqui!», peço-lhe. «Puseste-me a garganta seca… aqui!»

Abro a porta do carro e mando-me pela rua adiante até me perder envolto no escuro da noite.

Monday, November 22, 2010



CONTOS DE RATAZANA
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O VENEZUELANO…


Recebo um telefonema de Ratazana. Quer saber o que houve quanto ao meu envolvimento com Julieta. Tenho de lhe dizer que não houve nada de nada… Ainda não estive com ela o tempo suficiente para lhe apalpar os cacos. Bem, então, raios o levem, quem vai tratar do caso é ele… onde é que depois o posso encontrar? Indico-lhe alguns locais onde é possível me apanhar e ele desliga.

Quando umas horas mais tarde me volta a ligar, parece estar tão confuso, como eu. Contactou-a para um privado e quer que eu vá ter com ela ao salão imediatamente.

«Mas o que é que isso vem daí? Olhe, fale você com ela… eu tenho de sair e vou à obra falar com o encarregado…»

Mas segundo parece ele empurrou-a para cima de mim. Receia que ela fique fria rapidamente se eu não for ter com ela.

«Ela disse que eu me estava a portar bem quanto a ela?», pergunto-lhe.

«Bem, ela não se abriu comigo como compreende, amigo, mas vai correr tudo às três tabelas. Assim que a conseguir assentar o cu no seu carro e levá-la ao jardim para tirar uma fotografia, isso transforma-se. O que é que há… você não a quer rufar?

«Quero… quero… claro, que a quero comer, Ratazana, mas não me agrada a ideia de tirar a fotografia. Sou capaz de borrar a pintura toda, se apareço com esta cara cheia de matraquilhos e cabelos colorados.»

«Não vai borrar pintura nenhuma… ela vai achá-lo romântico, quando você se puser a cantar Amorcito de mi vida. Para isso, é preciso lata.»

No fim faço horas para ir ter com ela, é claro. Se não fosse, fazia fraca figura. E até pode ser que, afinal, ainda se ajeite qualquer coisa… uns amassos, pelo menos.

Começa o sol apagar-se enquanto circulo e as putas começam a dar nas vistas para a venda do prazer. Pergunto a mim próprio quem arranjará uma puta a estas horas. Entesuados, provavelmente… qualquer outra pessoa sabe que se engatar agora uma puta terá de lhe pagar o cortiço. Uma delas enrosca-se no semáforo e canta-me o choradinho.

«É como o mel, Cavalheiro… e quase não custa nada… quer saber como é que o fazem na América? Sim, eu estive lá, Cavalheiro… a minha vida não era cá… nem coisa parecida! Mas estando o euro pelo binóculo… Talvez queira pagar uma e dar duas…»

Piro-me dela e percorro algumas ruas atrás de uma baixota. Telemóvel encostado à orelha… deve ser uma telefonista de ocasião, mas anda como uma bailarina. Galgados cinquenta metros fico c´um tesão do caraças só de olhar para aquelas ancas a manear-se à minha frente e envio um assobio em dois compassos. Para ver se ela me fisga. Não me fisga.

Quantas vezes, digo a mim próprio, já fiz isto… circular pelas ruas atrás de um biscate, como um rafeiro a farejar um osso… sem qualquer hipótese de levar fosse o que fosse. Aquelas ancas movem-se como os ponteiros dum relógio, separando a minha vida em bocados. Aqui vou eu atrás de um biscate que nunca comerei… um milhar de outros gajos devem estar à procura do mesmo neste momento… enquanto aqueles ponteiros continuam a balançar. Ainda bem que tenho para onde ir. Se não tivesse voltava atrás à procura daquela jeitosa de há bocado… não era má pinta, não senhor…

Da jeitosa nem sombras e eu já lhe perdi o rasto… mas ainda tenho o tesão que me provocou. É como sair o euro milhões, ficar entesado desta maneira e continuar com o pau teso à medida que avanço. A diferença é que não se perdeu nada. Juro mesmo que se algum dia vez voltar a encontrar aquela tipa, vou ter com ela e agradeço-lhe do fundo do coração, vou ter de confessar-lhe o bom que é receber-se qualquer coisa sem contribuir com nada e sem tirar nada a ninguém. Talvez não a torno mais a ver, a essas gajas boas que me seduzem ao longo das ruas.

Aguento o tesão toda a viagem até me encontrar com Julieta. Manjo várias gajas, uma após outra, imaginando sonhos à sua volta. Raio, devo estar a ficar um pouco pirueta… já estou outra vez a pensar com a cabeça de baixo… uma coisa que não me acontecia desde aqueles tempos quando imigrei para a Venezuela e andava tão desesperadamente em baixo, mas em baixo mesmo, que passava a maior parte do tempo em leve alucinação… Um bico… que fosse pró maneta. Quando via uma rata, de testa alta, a única coisa que me apetecia era sugá-la. Mas aprendi algo importante… pode-se estar em baixo de todo que a cabeça de baixo, não pensa noutra coisa que não seja foda. Ainda se ergue bem, cheia de arrojo, quando os tomates já estão encorrilhados e se estorva ao andar. Pode ser diferente quando se piora seriamente e o leite começa a escassear.

Ratazana não disse a Julieta a hora que eu vinha. Assim que abre as persianas para cima de mim, abre a boca estupefacta. Olha, olha… imaginem, ver-me ali! Dá-me um apertão na barriga e estende-me a mão… ia mesmo a ligar para ti, diz-me. Vejo que ela se sente um tanto embaraçada, mas mostra boa cara.

Santo Deus, a quantidade de merdinhas em que um homem tem de se meter para levar uma mulher a abrir as pernas! Nem todas as mulheres. Não seria de todo mais prático se um homem se limitasse a dar uma cantarola no ouvido de Julieta e dizer-lhe: «Vamos para um hotel, para escanar.» E até podia ser que Julieta alinhasse, se estivesse ganzada. Em vez disso, tem de se entrar à ganância e esperar pelas deixas. Julieta resolve que hoje é o dia da sua folga.

«Paga-me o almoço com senhoria!», exclama. «A minha folga…»
… Como estamos só nós os três no salão, a empregada fica tão surpreendida como eu ao ouvir falar em folga. Julieta insiste no facto, mas não se consegue lembrar de quantas folgas já teve.

«Gostava de dar um arejo», confessa, vagarosamente, «mas não tenho com quem…»

«Ah, não, também eu», digo eu sorrindo para a empregada.

«Bom…» A empregada está meia refeita.

«Óptimo!», exclama Julieta. «O restaurante é o local ideal para um almocinho de folga! Tu espera aqui… Ainda tenho de fazer uma coisa. Mas é rápido… é rápido!» Ao sair, sopra-me em frente do ouvido: «Vê lá, não te atires a ela…»

«Claro… não te atires a ela! Porra, como é que eu a vou proibir se ela se quiser atirar?»

«Põe-na a ouvir as tuas aventuras e descasca-te às gargalhadas… é o que eu lhe faço às vezes. Olha, faz como quiseres, mas não a deixes de antena livre.»

«Mas que merda esta! Por que é a gente não se vai embora e leva também a empregada? Há muito pouco trabalho por aqui, esta tarde.»

«Então, Castro, não venhas com as tuas merdas… Sabes como é que está a vida?»

«Não, não sei como está a vida, nem me preocupa. Onde é que queres que te leve a comer? Vais querer peixe ou carne? Bem… tu depois escolhes. Não me venhas é com algum negócio de vigarices que te engendraram? Porra, Julieta, a paciência tem limites! Tu e essas manobras todas vão-se foder antes de conseguirem o que quer que seja.»

«Shiu… fala mais baixo… Olha Castro, desde que te conheci nunca te lixei… se ganhar algum com a tua amizade, tens a minha bênção. É claro que se não me quiseres acompanhar não precisas de te chatear comigo...»

«O que é que te meteu na cabeça de eu não te querer acompanhar? Quem é que se ofereceu para te levar a comer? Quem é que se disponibilizou?»

Gostava de saber o que vai dentro daquela cabeça. Confusões… Problemas. Deixei voar as palavras como um miúdo com o papel atado no fio deixa voar o papagaio. Falei de toda a importância que era ela andar nos eixos e sempre que ela batia com a mão contra a minha, o batente correspondia a um ponto de interrogação? Ela ficou mais mansa e deixou-se ficar assentada com a saia por cima dos joelhos e a boca ligeiramente aberta enquanto tentava escutar o que eu estava a dizer. Chegou ao ponto de me deixar apalpá-la por baixo do assento, enquanto lhe cantava uma canção em venezuelano. Mas não me retribui a troca, a macaca… como sempre, com as armas em guarda. De qualquer forma nunca parou de responder.

Lá entramos nós no restaurante de mariscos na zona de Matosinhos e guio-a até ao fundo da sala, para um canto, e sento-a de frente para a parede, de modo a que não vejo nada de que não goste... Mas não estamos ali ainda há cinco minutos quando começa a mostrar-se inquieta. Não podíamos ir para outra mesa e deixar esta para os totós? Quer deitar os mirones durante um bocado. Concordo que é também uma ideia e assim levantámo-nos, rodopiamos o centro e sentámo-nos numa do meio.

Julieta está a alegrar-se. Mais um copo de vinho e já quer discutir outra vez. Pedimos o cardápio e vamos experimentar o prato de arroz de pato sem queijo. Por esta altura começo eu próprio a sentir os efeitos dos copos. Mais um abaixo. Julieta gosta do local porque está cheio de patrões. Depois da sobremesa e do café o que se segue a isto é um pouco de sarcasmo da minha parte e ela aguentou bem o sarcasmo.

«Se é o dia da tua folga», exclamo, «tenho de te levar aí a um sítio para te oferecer uma coisa…»

Uma coisa! Evidentemente que ela sabe onde eu quero chegar e assim que agarro o camareiro à mão, entrego-lhe o cartão de crédito e digo-lhe para pagar a conta, trazer a factura e vamos para o carro. A folga de Julieta! Sempre gostava de saber, por que é que ela não se havia de lembrar de dizer que era o dia da foda? O meu coração acelera quando a vejo a começar a encostar-se à minha perna e apontar o dedo para o azul do céu e o pau empina-se a rodo.

Calor, calor, calor… minha mãezinha, é loucura! E aqui vou eu quente como uma pipoca e com um vermelhão de cara que dá a impressão de ter andado a carregar sacos de cimento na obra… Bem, que tratamento lhe vou dar? Aquela filha da mãe e a sua folga! Uma trancada! Para a trancada tenho de a levar pela outra rua e, para que a coisa funcione bem, sou eu quem se oferece para lhe resolver os problemazitos mais drásticos. Falamos mais uns assuntos, digo que sim, e avançamos para a trancada. Bem, aquela rata, se ela me quer chupar umas massas, eu alinho… mas ela vai suar bem esta tarde! Vê lá, para onde me levas, diz-me ela…

No hotel em que entrámos não há bastante gente neste recanto afrodisíaco para inquietar a sua mente de viajante. Vamos pelo elevador e, quando chegamos ao quarto, paragem que ela imediatamente aproveita para mijar, já emborcámos uma garrafa de litro de água, fora as porções de vinho. À vinda trás com ela a mala e tem a camisa toda desabotoada. Assim que Julieta fica meia nua, senta-se com as costas apoiadas à cabeceira da cama. Tenta convencer-me. Uma mulher da sua posição não se pode permitir a que a vejam por aquelas bandas… não compreendes? Eu juro que só a quero ajudar a ser seu amigo particular…ela tinha dito que queria um amigo para a ajudar nalguns problemas… Ora aqui está o amigo e aqui estamos nós…

«Imaginar uma coisa destas a suceder-me!», uiva. «Oh, se alguém descobrir! Oh, meu Deus, se alguém alguma vez vem a saber!»

«Deixa-te de medos, desde que não saias fora da linha», digo-lhe, ao mesmo tempo que me sento do outro lado e começo a coçar-lhes as costas… Não quer que lhe crave as unhas, nem uma, insiste ela. Mas eu continuo a coçá-la por todo o corpo e a beliscar-lhe as peles e ela dobra-se um pouco mais.

«Coça-me mais!», grita ela. «Coça-me com força!»

Abre-se toda e mostra-me tudo o que tem à volta do seu sexo. Estou com uma tora acima da média, que aumenta de tamanho a cada minuto que passa. Julieta estica-se toda… tem as pernas abertas como se fossem uma ratoeira, à espera de me comer. Salto-lhe em cima e a ratoeira fecha-se. Ela aperta-me com os braços e as pernas e a rata fica em posição. A seguir dá meia dúzia de maneio ao cu como uma bailarina de hula e estremeço todo.

«Minha mãezinha!», guincho eu, passados três minutos. «Estou-me a vir! «Dou-te o meu leite como prenda da tua folga…»

Julieta esfria logo imediatamente após o meu guincho. Paro de penetrá-la e levanto-me da cama para que possa dar uso às pernas. Vou à casa de banho e quando volto Julieta entretém-se a contá-lo, pondo-se completamente alheia e pragueja quando da minha passagem.

«Olha para o raio de coisas que tu me disseste», diz Julieta. Faz retorcer a voz. «Isso só de ti… Dou-te a minha prenda! Tu é que me saíste uma rica prenda!»

«É uma verdade do catano», concordo eu. «Uma rica prenda como eu!»

Julieta pragueja mais um bocado, mas levanta-se para fazer umas chamadas pelo telemóvel, enquanto eu me coloco na frente do espelho.

Estou bonito pra caraças…

«Olha», diz Julieta, depois de anotar alguns apontamentos do telemóvel, «por que é que não te apressas para irmos embora?»

«Oh, Julieta, estou velho demais para toda esta correria… Raios, é só um minuto, nada mais… Eh, depois até podemos voar pelos ares, só para não termos que nos meter no trânsito confuso…»

Há uma leve discussão sobre a estrada que se deve tomar, mas foi assim que nos vestimos e saímos para a rua, antes de ver o dia escurecer.
«Não ligues à boca foleira que eu te dei há bocado, nem és uma prenda má…», desculpa-se Julieta, enquanto descemos as escadas.

Friday, November 12, 2010




CONTOS DE RATAZANA
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FERNANDO, MARLENE E FREITAS…



Freitas sempre acabou por tramar o encontro de Marlene. Conheço alguns pormenores do caso, mas Fernando já nos vê a todos a gozar às pazadas.

«Não sei o que se passa com ela, sabe», queixa-se ele embalado por um copo de uísque Famous Grouse, que pareceu ser a sua expressão de desolação face a uma vida de pecado, «deve ser do níquel… Mas, c´um raio, não me sinto culpado de os ter apresentado; na verdade, também dei à tal rapariga um certo empurrão…»

Por que motivo, belos pecados, teria Marlene faltado ao encontro com ele? Eis uma coisa que Fernando não entende. Se isso não se tivesse dado, tudo teria sido legal… teria passado uma tarde em nice com ela, e as preocupações quanto aos negócios que fossem pela ribeira abaixo. Mas, assim… assim, sente-se realmente partido.

«Marlene zangar-se-ia se eu tivesse comido uma amiga», diz-me ele. «Ela tem miolos suficientemente espertos para compreender que coisas como essas acontecem; que, de quando em quando, um homem necessita de descarregar baterias. Mas c´um caraças lá ia eu saber que ela não vinha à festa… uma festa com tantas vistas a baterem-se a mim? E o dramático disto tudo é que eu dei uma má foda! Agora, aqui para nós que ninguém nos ouve, veja na posição em que fiquei sozinho diante daquele arsenal todo… não sabia quem devia escolher para me satisfazer totalmente, ou se devia armar-me em parvo para que elas me escolhessem a mim.»Freitas deve ter-lhe assobiado aos ouvidos – ou então limitou-se a estar na sombra e deixou-o perfumar a sala toda, pois Fernando é um vicioso fumador de charutos cubanos.

«Marlene, mostrava-se tão certinha a respeito de compromissos… andava sempre colada a mim, era uma coisa que se metia por mim dentro. E, no entanto, deixou-me colado ao sofá, desejosa de fazer não importa o quê para agradar a quem… era uma rapariga perdida no vício…»

No estado em que ele se encontra, tudo aquilo que eu pudesse dizer só ia contribuir para o enfurecer mais. Das duas, uma: Ou pensava que eu estava a encobrir uma boa colaboradora cobiçada, ou entendia que eu o tinha deixado fazer figura de morcão. Opto por me deixar estar calado atrás do balcão e faço votos para que quando o leão vier para o Palácio de Cristal eu esteja lá com a minha máquina fotográfica para lhe tirar um boneco. Deixo Fernando desabafar… tenho ouvido histórias mais bizarras só para vender uns copos a mais…

«Não creio que ela fosse com outro», diz, com ar apreensivo. «Se o fosse, não me tinha telefonado passado duas horas a dizer que se tinha esquecido… Calculo que se embebedou nalgum bar ou coisa parecida. Mas foi malfeito um tipo sentar-se à espera da sua miúda, e ficar a ver navios. Mas, quando estiver com ela na próxima, vou comê-la e, obrigá-la a fazer tudo em câmara lenta… Meu Santo Pau! Que rica foda… e eu consolo-me… e não consigo esquecer a ela… Que raio de vício, pá, você, conhece-a bem, o que é que ela é capaz de fazer durante o dia, se não faz nada? Acha que vai fazer uns cabritos? Minha Sorte. Quem lhas vai cantar sou eu, quando estiver com ela…»

Tem sido com casos deste género que Fernando se tem deliciado a passar o tempo. Quanto a Marlene, a história é outra, mas é também uma boa história. Por qualquer razão quer levar-me a crer que anda envolvida em saltos de trapézio sem rede… talvez julgue que eu me vou chibar a Fernando e ele sinta dor de corno… Não se esquece do tal jogo do pau de dois bicos…

Trata-se de dois certos tipos… tão certos que Marlene nem se preocupa com os demais. E segundo se consta, aqui há umas tardes, esses tipos já lhe fizeram uma proposta a dar para o arrocho, no atelier de Marlene. De acordo com a história que Marlene me conta, ela apresentou-lhes uma estimativa mensal para que eles a lessem, um de cada vez, que os deixou assustados. Então, quando se deram conta que ela não regulava pela boa, ficaram calados, telefonavam-lhe para a convidar para a cama e gozavam com ela…

Se ela ao menos tivesse feito uma redução! Se esses melros fossem gente rasca, por exemplo, eu ainda a podia acreditar… Mas estas personagens eram de peso… talvez cofres… e toda a exorbitância soma de números corresponde à montagem de uma matemática que só existiu na sua cabeça.

«A forma como se esquivaram!», exclama Marlene, fingindo um assopro. «As coisas que fui obrigada a ensinar! Não há palavras que as descrevam… nem quero pensar nisso! Agarrada a um telefone! De pernas abertas, e à disposição de homens sempre prontos a malhar! O que eles não fariam se algum dia eu viesse a faltar!»

Marlene, a não ser que tenha juízo, está sujeita a afundar-se. Em Portugal, quando uma mulher começa com espertezas deste género, vai a um charlatão para lhe darem sugestões. No Porto é mais provável que acabe numa cama de pensão com uma amiga e um chulo munido de uma faca de algibeira…

Sunday, October 24, 2010




  CONTOS DE RATAZANA
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Correia, Gouveia e os Futebolistas…


Correia e Gouveia, são donos da Barbearia Copacabana, nesta semana de Outubro, têm dito montanhas de coisas a respeito dos Futebolistas. Toda essa história acerca da má vontade preguiçosa dos Futebolistas é uma mentira, diz Correia. Quanto à preguiça está de acordo… mas em relação à má vontade há muito a falar.

«Hora e meia para o golo», rezinga ele… «Costumava pensar que uma equipa que jogava desta maneira tinha de ser uma equipa francamente boa… até que descobri como é que essa hora e meia é passada. Com pontapés, em passes diagonais… queres realmente saber por que é que levam hora e meia a meter golo? Porque pensam que num descuido a bola está lá dentro, que não se sentirão tentados a marcar nem mais um golo da táctica que a si próprios planearam. Se ficarem na retranca há sempre a possibilidade de aparecer alguém a enfiar-lhes com um peru para a divisão de pontos. Em resumos largos, é assim que a coisa se processa… arrepiam-se com a ideia de fazer penáltis, porque fazer penáltis custa sempre qualquer coisa. Olha, Gouveia, vê, tenho aqui uma coisa para te dar a ler…» Mete a mão ao bolso e tira um bocado de papel que põe em cima da cadeira. «Isso é um escrito, que li esta manhã, de um escrutínio desportivo, aparentemente bem conceituado. Estás a ler o que diz… as profecias de um bruxo. Para os Futebolistas, fazer a coisa funcionar é isto.»

E por aí adiante. Arranja mil soluções para deitar abaixo os Futebolistas, mas o verdadeiro rebuçado da discórdia é que o clube de Gouveia sofreu uma certa perturbação desde que iniciou a época. Não ligo muita atenção a tudo isto, contanto que ele não ameace deixar de me cortar o cabelo. Ele que diga tudo o que bem lhe apetecer… desde que eu saia com cabelo em cima da cabeça e ele não faça sangrar nenhuma das orelhas, por mim pode fazer todos os prognósticos que quiser. Não que eu não goste deles… se olharmos todos estes trinta anos que passei na Rua António Cândido a ser barbeado e penteado por ambos, nós damo-nos bem. Eles contam-me tudo o que se passa ao redor do quarteirão; eu retribuo-lhes com as minhas histórias de clientes e colaboradoras do bar. É uma ligação que funciona lindamente.

Algo de novo está a acontecer ao Porto… pelo menos, é o que Correia me diz. O Porto ainda me excita, por isso não tenho qualquer motivo para acreditar que Correia me esteja a querer adormecer logo pela manhã… O argumento que Correia me conta é a de que o Porto se anda a fazer a ganhar tudo… e os adversários devem entender essas intenções, suponho eu. Bate-me aos olhos uma notícia passada, vinda de um cronista reconhecido, onde diz que o Porto está a coleccionar vitórias e termina revelando que este Porto está interessante. Gouveia mostra-se ao lado da notícia, mas penso que também está de acordo. Vistas bem as coisas, Correia e Gouveia são uns tipos porreiros e se bem que Gouveia se mostre mais vítima da conversa, em geral, não me custa nada a acreditar que gostem de pintar a manta de vez em quando. Acrescenta Gouveia, o seu clube quer experimentar novas contratações; contratou-os como craques, embora sem nomes sonantes, e praticamente sem ritmo europeu. A princípio Gouveia pensou que se tratassem somente de reservistas, mas agora está convencido de que o seu clube enfiou barrete com eles. Quer saber a minha opinião… não que lhe interesse muito, ao fim e ao cabo. Bem, por que não? O clube de Gouveia provavelmente considera que já se estampou de tal maneira em contratá-los, que agora não fazia sentido perder a oportunidade de levá-los no próximo torneio para os próprios empresários fazerem negócio. Se quiserem vender o que é comprar gato por lebre, é agora ou nunca. Gouveia concorda, risonho, porque é isso mesmo o que ele quer ouvir. Que tal este ano? Quem vai ser o novo campeão? Quer ele saber. O seu clube ou o meu? Quer que eu lhe dê o meu prognóstico, como se eu fosse um adivinho. Atira uma tesoura para cima do balcão, pedindo-me para eu me ver ao espelho por trás, e atira-me mais perguntas.

«Por favor, importa-se de pôr a cabeça mais para baixo?», por fim acaba o serviço e levanto-me da cadeira. «Há quatro candidatos para o título.»

Gouveia mostra-se comedido. Todo ele é simpatia. Por que é que não o disse mais cedo? ou prefiro que ele, quando chegar ao fim, diga que afinal, eu estava certo? Este barbeiro! Se não tem existido tinha de ser inventado… Estou ainda a sacudir alguns cabelos, olho-me ao espelho e passo-lhe uma nota para a mão.

«O que vai fazer a respeito do seu clube não resgatar os bilhetes?», pergunto, depois de meter algumas moedas ao bolso.»
«Ainda não pensei… Vou decidir isso na altura… Estou com uma curiosidade em ver o que isto vai dar.»

Depois resolve ir ao café antes que eu tenha resolvido voltar ao assunto…

Thursday, October 7, 2010






               CONTOS DE RATAZANA
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             MARINA, MÓNICA E ALFREDO…


As coisas já estão de tal forma, que é difícil saírem delas. Mas tenho de meter a minha garfada para o desacerto final… Marina quer remédios para o seu devaneio e eu digo a Mónica que cuide dela... A Mónica não liga grande importância que se trate de uma amiga que anda metida em bruxas… tem os contactos com videntes e uma crente é uma crente. Quando volto a estar com Marina, esta mostra-se um pouco alvoraçada.

«Aquela amiga que tu conheces… é uma maluca! É uma maluca descarada! Fizemos uns gajitos as duas … devias ter ouvido os palavrões que ela dirigia aos gajitos por demorarem a virem-se! Realmente, eu nem me sentia bem!»

Isto da parte de uma mulher que anda a comprar feitiços para afastar os maus espíritos… Marina é ainda uma frustrada e sê-lo-á sempre, aconteça o que lhe acontecer no Porto. Ao ouvi-la falar fica-se com a impressão de que os maus espíritos entre pessoas é qualquer coisa que se lê somente nos livros… Mas, de qualquer forma, comprou alguns amuletos e encomendou outros: gosta deles e está a gastar algum dinheiro, que é uma coisa que ela não pode dizer a alguma gente com receio de se rirem dela. Entretanto, eu e Mónica temos conversado sobre outras coisas, que não de maus espíritos. Ela veio ter comigo para falar sobre ela. O que desejava saber, diz-me, era a minha apreciação quanto ao seu estado físico… Acharia eu depois de uma ausência às lidas que ela estaria para melhor? Gostaria, na hora, em levá-la para a cama? De cabrito para cabrito, note-se… Alívio, quando soube que a minha ideia será tudo, menos deixá-la de mãos a abanar… ela não se importa que eu a coma à-vontade, confessou-me, desde que eu não a use em definitivo. Na verdade, ela até gosta que eu a chame, porque assim sabe que eu não chamo outra, e também fica contente, porque fode. Diz ela, é a razão porque continua a cabritar, apesar de há algum tempo ter-se juntado a um moinante e ter empreendido por outra via que não é mais do que um subterfúgio capaz, nada de fora do normal… mesmo caseira não se sente satisfeita com o homem… satisfeita como se sente uma mulher normal depois de uma boa mocada. Por isso anda sempre insatisfeita, sente a necessidade de fazer alguns ganchos e, por pouco, fazia-se séria…

Mónica e eu tornamo-nos bons amigos quando fazíamos parte do GAS (Grupo de Atiradores de Sexo.) Como traidor, pergunta-me, se eu ainda fico com tusa quando a monto? Sim, claro… Acho que ela é uma boa montada, ou não teria essa opinião se eu não tivesse montado como monto e se não soubesse que ela era um produto de levantar as pestanas a um morto? Visto que sei o que ela gasta e visto que também sei que ela não compromete um homem, posso dizer-lhe que confio nela... e é isso que eu lhe digo. Durante uma hora, para mais do que para menos, esticados na cama do motel, fornicamos como dois adolescentes, esfomeados de sexo. Então, Mónica olha para o telemóvel… tem um toque para daqui a pouco… mas, antes dela se pôr a francos, gostaria de a foder de novo? Penso que não ouvi bem… Mas de concreto, foi isso mesmo que ela disse... se eu queria experimentar fodê-la à coelha; ou se de pé à sentinela durante uns minutos antes de se ir embora? Ela ensina-me… eu excito-lhe e está-me grata pela forma como não a largo e como trato as suas amigas. O que é que as mulheres dão aos homens quando se sentem agradecidas? Portanto, se eu gosto dela, se realmente considero que é uma tipa fixe e que é uma foda de ouvir os sinos de Agramonte, ela está ao meu dispor, sempre que eu queira... Não posso dispensar uma fruta destas, mesmo que não tivesse já experimentado algumas das suas amigas, que eram fraquinhas na cama. Uma rata é uma rata, a única coisa que interessa à cabeça de baixo é aquilo que está entre as pernas de uma mulher, não o que se encontra dentro da sua cabeça.

«Uma vez por outra gosto de fazer um intervalo», desabafa Mónica, «se não o faço, tenho a sensação de estar a fugir ao meu destino. Não penses que sou dessas mulheres que não aguentam levar com meia dúzia homens… Podia ser uma boa esposa e ter filhos, se fosse preciso. Mas não seria eu própria.»

Mónica exerce um fascínio familiar… enquanto se maneia, parece ser fêmea e provocadora, maneando-se com tal destreza, quando ela se empoleira em cima de mim… é de uma tal destreza a manear as ancas… que eu sinto-me quase na pele de um cavalo que se prepara para galopar a vinte à hora. Depois, e antes de eu aquecer, cola a barriga contra o meu corpo e esfrega o sexo contra o meu pau murcho. Ri, um tanto atabalhoada quando lhe passo os dedos pela pintelheira e lhe coço as mamas. Bolas, não estou com a tusa com que devia estar, e ficamos estendidos a excitar-nos mutuamente, até que o pau cresça. Mónica conhece umas quantas maneiras sobre a forma como se deve tratar um vergalho, mas o meu só precisa de um tempo.

«Já comeste a Marina?», pergunta Mónica, enquanto fazemos marmelada. «Faz-te bem o trapézio como as outras raparigas que tu conheces?»

Depois quer saber mais coisas… Marina faz-me um bico sem preservativo ou sou eu quem a obriga a não usá-lo? Pede-me para trazer raparigas para lhe fazer um programa? Fazemos carrossel? Fala alguma coisa de Mónica? Fala das raparigas com quem já foi nos programas? E por fim… acho que ela é afortunada com as bruxas? Respondo-lhe aquilo que me vem à cabeça e Mónica fica satisfeita. Marina, confidencia-me, é a melhor das amigas com que já conviveu. Principalmente porque não é invejosa, pró trabalho é rápida como um gato e, quando se descasca, o seu sexo está tão quente como um fogareiro. Mónica podia manter-se uma eternidade a falar de Marina e eu que me lixasse, mas eu estou em brasa. Por fim lá consigo endireitar o pau e faço-a sentir como ele está grosso quando com um jeitinho o enfio por trás… Ela abre-se mais e eu monto-a… estás pronta? Pode ser agora? Sim, sim, posso meter-lho, mas com muitas cautelas… não me devo esquecer que ela não está prevenida. Nunca comi uma gaja que me manifestasse interesse em ser comida como está a acontecer. Está na onda, é isso… e passado um minuto e tal de eu estar dentro dela, dá conta que eu me enganei no buraco… Então manda-se ao ar… Não! É muito repentina no seu gesto… não quer que lhe vão ao queijo! Isso é… isso é uma depravação e, além disso, faz doer! Se eu quero enrabá-la, então que vá ao queijo às amigas… se elas gostarem. Mas com ela não! E reconduz o pau para o outro buraco.

Mónica baralha-me… se não me realizo, jura que nunca mais faz experiências comigo. Dirá a toda a gente que eu não aguento duas. Vai berrar e fazer com que toda a gente se aperceba… Bem, se ela começar para aí c´os berros, não digo que não me venha só pelo susto. Se fizer com que eu me venha mais suave, dou-lhe o dobro porque me quis satisfazer… o dinheiro é uma velha arma, por certo ainda me ajuda a comprá-la (muito provavelmente, a cabrita está a aproveitar para me fazer o peixe caro). Como tu sabes, Mónica… Então, minha periquita de bairro, agora não dizes nada? Sim, eu sei que não estás habituada a isto. Sinto-te o corpo muito mole quando a minha gaita buzina pela segunda vez… Mas agora fica assim, quando voltarmos prá próxima já estarás mais confiante, depois de teres experimentado a minha verga lá dentro, e de saberes a minha medida… Mónica sai da cama, de rompante. Sou um traidor diz, um safado saca-rolhas, membro de um grupo de tarados comedores de sexo… enteso a verga enquanto vejo as fressureiras a bater pratos, rio-me no meio delas a olhar para o centro do espelho… tem uma fantasia colorida e é um prazê-la vê-la alegrar-se. Às vezes um engano no buraco faz prodígios; é um grande incentivo. Antes de me vestir, dou-lhe uma nota monumental! Agora já não me fala em experiências… só tira… Eu visto-me. Fica debaixo do chuveiro com a água a salpicar-lhe e começa a trautear baixinho… é um alívio e quando vê que resulta desata aos gritos à voz.

«Não cantes mais», ironizo. «Não estragues a voz! Mónica, escuta… prepara-te prá semana… oh, mas prepara-te bem! Tenho um dia de folga, Mónica; dedico-o para ti… Telefona-me…»

E mais uma saída do género. Para a próxima não vai ser tão dura; não se vai cansar de me oferecer tudo e mais alguma coisa, mas eu não sou de me fiar nestas cabriteiras… De repente Mónica pára o canto. Bem… não há dúvida que tem o que queria. Já sabe o que há-de fazer ao níquel. Mas divertimo-nos? Já nos sentimos consolados? Bom! Então, se eu não vir inconveniente, vai estender-se sobre a cama durante uns minutos, para esperar por um amigo e acabar o seu dia em grande…

Wednesday, September 15, 2010


CONTOS DE RATAZANA
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Panquecas, Thor e Piranha …


Panquecas foi até ao meu negócio e, não me encontrando, deixou um recado dizendo que podia ir ter com ela ao café da esquina. Vou até lá e topo-a a uma mesa, na companhia de uma esquelética de cabelo russo, de ar tuberculoso que lhe tem andado a fazer uns gajos.

«Ando a matar-lhe a fome», desabafa Panquecas, enquanto seguimos de regresso ao bar. «Mesmo estando a sala cheia de mulheres, vais encontrar mais esqueléticas sentadas nas várias mesas. O bar é como se fosse um abrigo… achas que elas têm alguma inferioridade de estar sentadas à beira umas das outras?»

Não preciso pedir satisfações a Panquecas o motivo da sua visita… passa a porta ligeira à minha frente, maneando o cu magrinho e rebola-se ainda mais quando topa que o estou a fisgar. Procura um cabrito e aqueles olhares na sala ainda lhe provocaram mais desejo. Enquanto lhe tiro o café, coça-se ela o pito… Fazia questão de me vir visitar há mais tempo, diz-me ela, mas o amante tem-na mantida em respeito… e ultimamente ela tem-se sentida obrigada a satisfazer-lhe alguns desejos para com ele devido a certas escaramuças…

Por acaso uma das suas escaramuças não se chamará Thor? pergunto-lhe. Oh… Thor, aquele javardo muito íntimo e muito doido? Panquecas tosse forte, passando a língua pelo primeiro gole de café e enfia-lo na boca. Sim, Thor tem andado a arranjar-lhe conflitos… ele e a outra, aquela piranha brasileira, muito piranha… São ambos tão javardos… e tão bem-parecidos: mas tão boémios e tão problemáticos…

Panquecas trás um penteado em madeixas e tem vestida uma blusa tão justa que as mamas parecem duas iscas chapadas… e a saia é tão justa nas ancas que ao andar, as pernas, fazem um encosto… Apalpá-la conforme está vestida, é precisamente o mesmo que estivesse sem nada.

Panquecas começa a fazer perguntas. Para Thor, diz ela, raparigas como ela e a outra, Piranha, são uma droga. Tal como um pândego, Thor gosta de engatar raparigas muito rotineiras, fazer-lhes festas, contar-lhes falsidades maravilhosas e seduzi-las; viciá-las em suma. É um jogo, igual ao dos pândegos, apanhá-las na hora, experientes, e ensinar-lhes outros vícios… Mas em Piranha, Thor encontrou uma parceira… aquela cabra matreira é tão imaginativa, se não mesmo tão esperta, como ele próprio, e está a pervertê-lo com uma perícia impressionante. Assim, Panquecas e Piranha, rivais do mesmo ofício, bebem com sofreguidão tal como os alcoólicos bebem com sofreguidão. Acompanham-no toda a espécie de bebidas porque eles são calejados… mas quando se colam os três a beber, Panquecas, Piranha e Thor, são esponjas e sequiosos; bebem como gente grande, não como principiantes, ligeiramente, mostrando por vezes, os apetites…

Esta história não está bem contada e Panquecas não revela mas também entra nos jogos com marmeladas, mas por enquanto tem-se mantido mais como espectadora do que outra coisa… porque é a gaja de Thor. O rótulo do vício é muito complicado…

Panquecas cansou-se de ser gozada na mesa. Puxa o colarinho para cima e encobre-se mais, ao mesmo tempo que saca do cigarro e tira duas para se relaxar. Quanto engole duas puxadas de fumo para dentro, embala-o para o ar e manda a cabeça para trás da cadeira. Quer que ele a leve para a cama. De que lhe valeu fornicá-la durante toda a noite, fazê-la num autêntico oito, ouvi-la gemer centenas de vezes se não satisfaz a ela? Portanto lá se vai as forças, sob a qual não há nada a fazer, a não ser Panquecas… É assim que eles se encontram quando Piranha surge na sala…

Panquecas sabe que se trata de Piranha só pela sua maneira de entrar… Mas eles nem sequer têm tempo para fingir que não estão juntos, pois Piranha entra por ali dentro, e Panquecas e Thor estão ainda com as pernas coladas e as bocas abertas...

Oh, oh... Piranha é como se sambasse em volta da pista… Romance! Romance! Não esperava que viesse encontrar aqui tanta gente e ainda mais Panquecas… Teria esperado outra altura se soubesse que ele estava acompanhado.

Panquecas desequilibra-se da cadeira e põe em causa a sua segurança. Está furiosa porque imagina que Piranha irá tentar levar o Thor, e ela não queria que Thor saísse com ela… Devia ter ido à bruxa fazer uma reza, diz ela… Não adiantaria de nada… se Piranha o quisesse levar podia fazê-lo através do telefone ou recorrer à pestaninha pelos tascos à procura do carro.

Piranha entra para a mesa… não está nervosa, certamente? Nem assustada? Afinal, foi aqui que se conheceram uns aos outros… o tempo dos tremeliques já lá vai… Panquecas fica branca quando Piranha toma a palavra…

«Mas, Panquecas, tu ficaste-me c´o homem… eu fiquei sem ele… Porque é que havíamos de estar lixadas uma com a outra? Já o vi fazer coisas semelhantes ou bem piores do que esta! Oh, havia de o ter visto, uma noite, no Cais da Ribeira, comigo à beira…» (Isto pra mim.) «Excitou-se tanto que não havia maneira de parar de apalpar! E coitada de mim… já me tinha vindo, mas foi uma verdadeira tortura ter que levar como ele pesado como chumbo, a meter-me os dedos por todos os buracos do meu corpo…»

«Finalmente vi-me obrigada a agarrar-lhe na flauta e tocar-lhe uma à força», declara Piranha, «e deixá-lo apalpar-me à-vontade, enquanto lhe fazia festas nos tomates até que ele se veio.» Toca-lhe no braço com a mão, estende a mão para o seu copo de uísque e mexe-lhe o gelo. «E teria sido um desastre para nós se eu não o tivesse obrigado a conduzir a dez à hora por aquela estrada secundária às quatro da madrugada…»

A Panquecas não lhe agrada o gesto grosseiro com que Piranha mexe no gelo com o dedo. Apanha-a distraída e saca-lhe rapidamente o copo, põe-se a beber um bom trago. Se Piranha vai contar histórias para mim, diz ela, então que conte uma que mereça registo. Puxa a mão de Thor para cima e põe-na sobre a rata… quer que ele lho coma, diz, e quer que Piranha o testemunhe…

«Vês, pedi-lhe para me comer… vai fazer um cabrito, se quiseres… podes fazer tudo o que te der na real gana, menos fodê-lo… e também te podes ir lixar!»

Tento pôr água ao lume… não estou interessado em ter duas putas à bulha aqui no meu bar. Esperemos, se elas se acalmarem e beberem uns copos, tudo isto pode passar para trás das costas…

Panquecas diz que não há nada a passar para trás das costas… é tudo tão simples como ela se chamar Panquecas… Piranha quer que ele a foda e ela quer que ele a foda a ela. A escolha é dele…

Piranha não se incomoda. Está tão habituada a assistir no bar a cenas baralhadas, lordescas, que deve achar esta meramente como um simples conflito de palavras. Com Panquecas ainda a falar, Piranha inclina-se para a frente e acaricia-lhe uma das brancas faces lisas... Quem lhe dera ter uma pele daquelas, suspira. Sabe como há-de pôr Panquecas de boa disposição… passados sete minutos estão as duas sentadas no assento do carro, encostando as pernas uma à outra enquanto ele liga a ignição.

Thor não se pode queixar. Se puderam serenar as suas iras, nesse caso também pode comer as duas, e sem a mínima dificuldade. Com duas putas que não se conhecessem uma à outra nem a ele não seria fácil, a menos que estivessem todos mamados, mas estas duas mulas conhecem-se bem e conhecem-no a ele, e vão aproveitar-se certamente dos solavancos que para ali vai.

Piranha quer alinhar. A três ou a dois para acabar bem a noite, sugere… um programa de lambidelas, e depois cada uma goza como quiser. Panquecas mostra-se cautelosa… suspeita de um jogo de putas e não alinha nisso quando Piranha quer provar os seus dotes de mineteira. De qualquer modo Panquecas não parece ser a pessoa indicada para fazer parte do jogo.

Panquecas puxa rapidamente do cigarro, no que é imitada por Piranha. Ficam à espera que uma dê lume à outra, mas vai no Batalha! A seguir, fazem beiça uma à outra, de bico fechado a votar fumo para o ar... Podia-se julgar que eram duas desconhecidas a caminho da peregrinação do silêncio. Olham as duas para Thor como que esperando que pare o carro, sinal de que o programa pode começar. Fica ali parado num refúgio da estrada, com os olhos esbugalhados e o pau em pé. Sente-se em forma…

Piranha estende as pernas para a frente, metendo as mãos entre o meio. Panquecas encolhe-se no assento. Esta viagem não é suficientemente divertida para o seu gosto, explica ela com ar sisudo… a seguir, dirige o olhar em direcção de Thor. «Duas para aviar!» É o que fica na ideia… deviam ter os dois combinado para a levar à molhada…

Panquecas já está fria, mais meia dúzia de quilómetros e começa a gritar. Não está programada para este show, quero dizer, consola-se às vezes com outras gajas e ela alinha. Mas Piranha já é, de algum modo, uma profissional… deita-se e bombeia sexo…− acorda e já o sexo a fez bombear − enquanto lhe suga os leites e lhe enfraquece o esqueleto. Os seus olhos não desarmam o corpo de Sónia… enfia a mão sobre o joelho de Panquecas e massaja-lhe o osso… espreme-lhe uma espinha da perna de Panquecas até esta mandar rapidamente com o pé contra a consola, e os seus olhos tornam-se víboras.

Thor espeta para fora um grito como um macho dorido. Está inchado de desilusão, apático e cheio de frustração. Chispa no pedal para que elas ganhem mais adrenalina, para que a brisa lhes refresquem um pouco.

Panquecas tem estado sentada sobre Thor enquanto Piranha a apalpa aos poucos. Mas agora Piranha está a passar-lhe o dedo pela espinha, e Panquecas sente-se para pior. Piranha provoca-a… acerca a boca do mamilo esbranquiçado de Panquecas, mas não lhe chega a beijá-lo… Panquecas passa-se…de repente agarra a cabeça de Piranha e encosta-a contra o vidro da porta.

«Pára, minha fressureira!»

O caldo entornou-se. Piranha é uma mulher de raiz diabólica. As suas mãos envolvem o pescoço de Panquecas e a língua aparece fora da boca de Piranha. Tendo os olhos escancarados, a expressão faz lembrar a vampira pronta a chupar a vítima, a vampira que há muito tempo não come alguém. Ela não chupa, ela não morde, ela não fode… e tudo aquilo que não faz contribui para a enfurecer numa pequena fera. Thor tem receio que a perrice de ambas contamine a possibilidade de lhes saltar em cima… Raios, a este andar vão-se as duas jogar à mocada.

Mas Panquecas sabe até onde ir. De súbito ergue os olhos e avista um posto da PSP a aproximar-se, deixando Piranha perplexa e a mover os olhos para trás e para a frente. Volta-se para Thor e mete a mão sobre a chave na ignição, para o obrigar a parar o carro.

«Pára esta merda! Pára esta merda!», grita ela… e antes que ele dê conta do que está a passar, ergue-se e passa na frente de Piranha, deitando a mão ao puxador da porta… «Pára antes que eu a desfaça contra a porta!».

Os olhos de Thor estão pasmados quando ela se manda… tal como pasmada está a sua cara. Abana a cabeça sem sequer entender como chegou aquilo àquela situação. Ela desce do carro e afasta o cabelo dos olhos… quando anda, maneia-se toda; não há uma única parte do seu corpo que não se movimente… já lamenta o facto de Piranha e Panquecas ter vindo juntas numa viagem daquelas… para mais, quando elas não se dão, nem por molho de tomate…

Piranha está gostando. Tem os olhos pequenos e brilhantes, e chega o cu para o espaço aquecido que Panquecas deixou no assento; rindo-se enquanto a vê afastar-se. O que ela não contava era com a deserção da comadre Panquecas! exclama ela. Aquela magricelas adoraria vê-la fora da carroça! Pobre da magricelas… tem de conhecer mais erotismo além do que já conhece… Ela nunca viu um homem a foder duas putas…

Thor coloca-se ao volante e põe o carro a andar na estrada.

Piranha, pelos vistos, espalhou-se a fazer umas cócegas a mais… Thor quer saber se aquilo que houve entre as duas é algo mais do que isso. Vou para a cama com todas, como ela diz?

«Claro que vais», responde Piranha asperamente. «E também comes as amigas de Panquecas! Comes, sim senhor! Panquecas não me vê com bons olhos, mas vai acabar por me ver…»

Thor tem os olhos inchados, pois já há muitas horas que anda às voltas enroscado nelas como se fosse um aparelhador, mas está demasiado quente para se libertar. Piranha está a coçar-lhe os tomates… coça-lhe os tomates e mete-lhe a língua no ouvido. Não há nada que não faça, aquela mula sabida… Ferra a orelha de Thor… ouve-se vários tipos de gemidos. Troca os tomates pela gaita e toca-lhe meia… suplica que imobilize o carro só um instante… um instantinho…

«Deixa-me fazer-te um bico!», intercede Piranha. «Faz o que te peço… tenho comichão a valer…»

O motor pára de trabalhar. Thor está com a gaita meia fora das calças e Piranha está a chupá-la. Os seus grugulejos duplicam-se com o movimento e ela começa a falar-lhe… depois a sua mão discai um pouco e abarca também os guizos de Thor. Está a gozá-los a ambos em simultâneo, e a despeito dele ter o mastro a meia haste, ela não se detém.

Por fim já não sabe onde está e quem o está a chupar… geme que se está a vir… dá-lo com força, até as peles avermelharem… e o mastro explode. A seguir regressa ao volante. Agora o mastro tanto lhe faz… está demasiado grogue para se levantar, mas soube bem dar conta do recado.

Thor devolve Piranha ao seu domicílio… depois, finalmente deixa que os lençóis lhe resguardem as últimas forças…

Thursday, August 12, 2010




CONTOS DE RATAZANA
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OS HOBBIES DE RIBEIRINHO…


Ribeirinho pensa que eu devo usar a minha influência sobre uma gaja boa, alguém com quem pudesse fazer uma parceria no bar. Há um sistema a mudar, garante-me, sistema para todos os que estiverem por dentro e, tanto ele como eu podíamos ganhar uns trocos somente por angariarmos uns quantos clientes.

Ribeirinha já anda a explorar tanta gente há tantos anos que já nem realmente se dá conta de que o faz… acha-se um especialista a apanhar incautos caídos de pára-quedas. Ribeirinho cansa-se muito para viver sem cansaço…

É um pacifista, Ribeirinho é pacifista e acredita nas soluções. De que outro modo é que alguém como ele conseguiria ganhar a vida? pergunta ele. É o que resta dos anos que passou nas explorações do bar. Entregaram-lhe, mas tiraram-lhe a privacidade dos hobbies… deixaram-no sem tratar dos cães, dos carros, do jardim, e a TV/Internet, o JN/ Grande Porto… tudo motivado concretamente pela falta de gente habilidosa que vegeta na boémia da Invicta, onde frequentam os locais mais rascas da cidade…

De qualquer maneira Ribeirinho pensa que eu tenho a vantagem da influência − ou da proximidade, pelo menos, sobre as gajas boas…

«Mas que diabo andas tu por aí a fazer quando visitas as capelinhas?», pergunto eu. «Não tens mesmo uma ideia? Olha que vagabundam por aí gajas que valem ouro… há uma resma delas… uma resma de aproveitares a ganhar dinheiro. Olha, tu até podias dar umas percentagens dos clientes que elas levam… elas não se iam importar por ganhar um pouco mais… c´os diabos, se calhar nem se importavam mesmo…

Somos interrompidos por Paula, que diz que tem uma história gira para me contar. Tem uma colaboradora na sua casa de arranjinhos, cujo nome não quis divulgar, que lhe pregou uma partida que a deixou arrasada…

«Ela era apenas uma colaboradora… vocês sabem, uma colaboradora muito íntima e eu apresentei-lhe os meus fregueses e ensinei-lhe todos aqueles truques de foda rápida que uma mulher de meia-idade certamente devia saber. Depois ela foi-me à carteira… e eu mandei-a de frosque. É para ver os sentimentos que estas putas têm por quem lhes deita a mão. Mas passadas duas semanas ela regressou. O meu freguês tinha a mulher em férias e queria uma completa… bem, o que se passou é que ela viu-me fora de portas… vai daí, levou uma mão cheia de fregueses para a cama e voltou a roubar-me…

«Roubou-a? Ordinária!». E o meu amigo olha muito admirado… Até que lhe resolve perguntar. «Como é que ela lhe roubou? Foi outra vez à carteira? Apanhou-a em flagrante?»

«Sim… tinha uma máquina de vídeo camuflada num candeeiro. À noite, liguei o televisor e passei a cassete atrás… e lá estava a puta c´os fregueses na minha cama a malhar… E quanto a mim, ponto final com a puta! Que é que vocês acham disto?»

Como nem Ribeirinho nem eu achamos muita graça à história, Paula encaminha a conversa para a mesa de uns clientes. Agora que eu ia pedir-lhe para mudar de conversa, diz ele… é que ela se foi, mas eu hei-de ter uma conversa de a levar para o bar. Entretanto ele gostaria de conhecer uma trintona atraente, alguém com quem pudesse praticar uma parceria. Mas uma que quisesse ganhar dinheiro, apresse-se ele a acrescentar. Uma que ganhasse a sua vida, seria óptimo, e então uma puta seria melhor, diz ele… Digo-lhe que já conheço poucas trintonas atraentes, mas talvez Tina faça uma vaquinha ou tenha uma ou duas que queiram… Vou informar-me. Ribeirinho fica muito agradecido… ofereço-lhe um café e uma bebida. Qualquer gaja serve, insiste em que qualquer uma servirá, absolutamente, desde que não tenha piolhos e tenha os dentes todos da frente…

Mais tarde, depois de ter falado com Tina e Ribeirinho tê-la levado para o bar, acabo o meu serviço e redigo uma página para os cibernautas da internet, (1) até ir ao encontro de Ribeirinho. Sente-se extraordinariamente bem-disposto, e só fala de Tina.

Que mulher! Oh, que mulher e cheia de olho! Não quero saber, se tem uma casa de meninas, só quero que chegue ao bar às nove da noite! É claro que teve de entrar no sistema para trabalhar com Tina… assim, disse-lhe que tinha de fazer o jogo dela… se ela lhe fizer alguma observação, o melhor é dizer-lhe que estão juntos nessa jogatana de cabritos. Além disso encontra-se tão animado a falar de Tina que quase não ouve nada do que eu estou a dizer.

«Ela sabe como se deve sacar», diz-me ele. «Ó, pá, ela sabe tudo a respeito de sacar. Ratazana, tu ainda não tinhas entrado há meia hora, e já nós estávamos nas manobras! Podes crer! Bolas, sabes como esta coisas se fazem… agora fala-se pouco e bebe-se menos, e no minuto a seguir mete-se-lhe a conta ao freguês e está no ir pró quarto…

Detemo-nos enquanto Tina bate o pé no chão para acordar um freguês que está a ressonar numa mesa dos fundos, perturbando a música que sai das colunas, e lhe dá cinco minutos para se pôr fino. Empurra uma mulher que aparece nas escadas, chorona, um seio de fora do vestido, falando ao telemóvel histericamente.

«É melhor sair, disse ela», continua Ribeirinho, «portanto, lá fui para o meu escritório… mesmo assim, pus-me à cuca! Não é o raio de uma manobra, que me atrapalha… queria estar ali a ver como é que ela actuava, naquele sistema com a mulher da idade da tia e também ir com a quarentona para a mesa do freguês! Primeiro a mulher da idade da tia, depois com a quarentona… oh, my God! E deixa-me contar-te uma coisa… lembras-te do que te contei acerca da mulher da idade da tia? Que ela me fez ir buscá-la a casa a cerca de quinze quilómetros do Porto e queria que a levasse de volta? Bom, a quarentona, idem, aspas… Sim senhor, a primeira vez que veio para o trabalho, não teve pejo nenhuma em me solicitar para a levar a casa! Pela tua saúde, Ratazana, já não sei se quero continuar com este sistema ou não… quando existem gimbras como estas nos cabritos. O maior problema, agora, é a mudança… não sei se deva voltar aos alternes, ou ir por aí…

Ribeirinho teima em relatar o assunto durante alguns minutos, mas volta a falar de Tina e das gajas monstruosas que ela acompanha. Ela contou-lhe histórias nas folgas, diz-me ele, e quer que eu adivinhe quantas fodas ela deu.

«Um milhão!», exclamou velozmente. «Oh, talvez hoje essa marca já tenha ultrapassado, mas deixa ver… deixa ver até ela atingir a idade do caruncho e então vais ver. Principalmente se ela se mantiver nessa vida, todos os dias e noites a malhar. Há quem foda uma mulher destas sessenta vezes por mês, quando se é cliente há dez, quinze anos… Ora uma mulher destas chega a ter mais de uma centena de cabritos-mês… Histórias de fodas dadas… e também de fodas levadas… sabias que ela vem-se por simpatia? Pois vem-se… bom, pelo menos disse que era constante acordar molhada… Mas porque diabo é que não vim para os alternes quando tomei conta do bar? O que é que se passou comigo numa altura dessas? Mas talvez fosse bom não ter vindo... Não o teria experimentado… tal como tu ainda não te cansaste. Que idade tens, cerca de cinquenta? Ó, pá, aceita o meu conselho, vai para a reforma e arranja duas centenas de milhar de euros, depois vem para o rio Douro e vive para o resto da tua vida… Mas não te estabeleças… não te estabeleças, faças lá o que fizeres, porque tens sempre oportunidade de conhecer uma gaja manobradora como esta Tina para te contar histórias e te fazer umas cócegas, se tiveres duas centenas de milhar de euros…»

É um bom conselho, mas Ribeirinho não pensa em me dizer onde é que eu vou arranjar as centenas de euros. A sua cabeça preocupa-se com assuntos mais importantes.

«Nunca hei-de esquecer o aspecto dela quando se amarfanhou e ficou ali no sofá, exibindo o latim e desafiando o freguês pró chegadinho. Ela também não era tão acanhada a falar… só que contava muita história. Que raio de paleio para se falar acerca de engate! Preferia que não gastasse tanto latim… pelo menos evitava que eu perdesse tanto tempo.»

«Penso», disse Ribeirinho, mais tarde, quando estávamos no bar, «que devia esperar que ela fosse assim. Afinal, se as amigas eram tão rascas, ela também não devia fugir à regra... está-lhe na veia. Mas escuta, Ratazana, a partir de agora vou deixar de pensar em Tina e nas suas acompanhantes… portanto, sempre que eu venha cá e me apresentes alguém interessado no negócio, já sabes que estou sempre disponível. Vou fechar uns dias para obras e quero que me auxilies. Não estou mais interessado em meter-me em aventuras.»

«Olha Ribeirinho, não vejo muitas hipóteses sobre o assunto…»

«É o que te parece. Vai correr tudo bem, quem to diz sou eu. Tudo o que tenho a fazer é fechar uns dias e abrir com novas caras para trabalhar nos alternes. Oh, Ratazana, vim até aqui para me experimentar… não me vais dizer que fiz mal, pois não?»

«Não, claro que não Ribeirinho, mas continua a pensar que…»

«Bem, c´os diabos, cada um pensa à sua maneira, tubo bem… Julgo que te devo uns favores...»

«Não, deixa lá isso Ribeirinho, não quero o teu mal… eu só quero que tu vás em frente… eu só…»

«Então põe aí outro igual a este, e não se fala mais nisso, ou preferes que peça isto como deve ser… Garçon! La même chose! Que tal?»

Ribeirinho está a ficar informatizado… já aprendeu a atender o cliente curvando-se à mordomo… a servir um pedido de uma ponta a outra do bar sem dar a impressão de estar a servir labregos… até a sua paciência está mais calma, pelo menos para atender os fornecedores…


- 1 - O autor encaminha a sua obra para o Google,
através do email: bardotraidor@gmail.com

Thursday, August 5, 2010


CONTOS DE RATAZANA
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O Pub do Cacá…





No Pub do Cacá… o empregado fazendo o melhor que é capaz com o seu inglês de bar!

«Nós não temos o Crime, mister. Temos o Jornal de Notícias e o Jogo.»
«Não», diz o mister. «Eu quero o Crime, tem um bom título. Só fala sobre o delito, não é?»
«É sim, mister.»
«Gosto do título; quero esse jornal. Compre-mo logo.»

Vai-se o empregado, com a gorjeta no bolso, e aparece o barman João a cumprimentar-nos. O barman João, é imensamente reconhecido, e está bastante firme de poder controlar a situação.

«Desculpe-me, mister. O empregado disse-me que o Senhor desejava o Crime. Não vai gostar do jornal, mister. Posso sugerir-lhe O Primeiro de Janeiro?»
«Não, quero o Crime. Gosto do nome. Os Portugueses são um povo fantástico, um grande povo aventureiro… Vim cá porque admiro o seu espírito bairrista. Quero arranjar esse jornal sobre o delito.»

O barman, de sobrolho levantado, distancia o olhar em torno da sala, firmamento. Impossível dizer o que está a imaginar sobre o mister, mas sei que as suas opiniões sobre mim e sobre Paulo, são meramente favoráveis.

«Já vão seis pró maneta, mister, mas não é sobre o delito… é sobre homicídios. É para leitores.»
«Bem, eu leio, tu lês… compre-o. Compre-o hoje.»
«Mister!», grita o barman João, preocupado, «não está a entender! É o jornal dos ´crimes`!»

Isto podia durar uma tarde inteira, mas Paulo descobre uma mesa onde está Cacá, o proprietário do pub, e é para lá que nos dirigimos. Cacá não faz cerimónia e convida-nos a sentar-nos. Segundo o que Cacá nos disse, alimenta vários romances, secretos e abrasadores. Através de mim, Paulo tem andado a frequentar o pub, farejando um esquema qualquer e Cacá ignora-o. Paulo sempre em toda a vida desejou entrar num desses romances, esquemas abrasadores de fazer tesão, sobre os quais se ouvem vagos comentários nos pubes da Invicta. Cacá é, realmente, o tipo de homem que Paulo gostaria de ser. Calças feitas por medida, uma bela cabeleira preta, uma carteira repleta de Visa-Visa, e um cordão de ouro ao pescoço para o embelezar, o ar sadio de quem come e bebe bem, e abastece de energias no ginásio do Dragão praticando boxe. Ele e Paulo passaram quinze minutos a confessar-se, abrindo-se um ao outro… eram como dois amigos falando, abertamente, decidir se num futuro próximo, deviam engatar A ou B, para gozar um fim-de-semana em qualquer lugar ou apenas irem para a pensão de Paulo para darem uma rápida… Talvez estivessem a representar um para o outro. De qualquer forma eles são completamente a favor de jogos quando se trata de conjugar planos com saias. Paulo, que ouviu o final da conversa do mister com o barman João, começa a falar das últimas novelas. A Patrulha de Segurança e dois guardas à paisana foram chamados, diz ele a Cacá.

«A velha táctica do Grande Reinaldo(1)… atrair as miúdas com os provincianos e fazer arrotar os labregos pelas miúdas. Oh, os nocturnos são sábios nos seus métodos, como também o são os galegos com a sua conquista muito simples. Regra geral uma tentativa do golpe de baú é suficiente para acalmar os nocturnos. China e Pedro(2) quase levaram as gémeas a entrar no manicómio…
…O saque das seis latas de moedas de vinte foi inteligentemente levado a cabo para que as gémeas não mais se esquecessem de ambos. Mas agora… as pessoas começam a aperceber-se de que China não era o único explorador na Invicta, era somente o mais exibicionista. E os nocturnos, como todos os machistas, têm a paixão do sexo… quando estão michos uma mulher da viela, éguas de luxo quando estão endinheirados.»

Após este resumo muito breve, Cacá, o barman João e Paulo estão na mesma onda quanto à venalidade dos factos nocturnos, e o entusiasmo do barman João começa a revelar-se.

«A questão é esta», diz o barman João, «hoje em dia toda a gente quer explorar toda a gente… é por isso que o delito nunca terá sossego. Porém, os nocturnos são o único grupo que se dedica a estudar a maneira de perder dinheiro na noite. Aqui não há nenhum jornal que não foque um artigo dedicado a assuntos da noite, e existem uma mão cheia de cronistas que dia e noite dão notícias e informações sobre a noite. Mas olhe para os pancadas… são loucos por sexo aberto…
«Até nos bares se fazem babados», interrompe Paulo, cansado de estar calado. Faz valer os seus conhecimentos, e agora percebo por que é anda sempre a falar para os porteiros, e sendo assim, sabe tudo.
«Ouve-se falar nalguns, poucos bares», continua o barman João, «artistas a fazer dois e três por noite, mas quem não sabe disso?» Os otários dos tipos que pagam os alternos, caríssimos, e um número escasso de clientes que visitam duas ou três vezes por semana. Na Invicta, as notícias sobre assuntos nocturnos são correntes no dia-a-dia.»
«Você comete um erro em relação aos bares por exploração», observa Cacá. «Esquece-se de que não são donos nem responsáveis que estão à frente do negócio… se fossem, tinham outras regras, obviamente. Digo-lhes que eles são gananciosos. Quando se houve o explorador de um bar dizer a forma como vai ganhar cinquenta euros em cinco minutos com uma prostituta de dez euros por um broche no reservado, vê-se logo que pertence à raça de Feliciano(3). É minha ideia que as pessoas são exploradas por abutres do negócio.»
«Não compartilho dessa opinião. Se fossem gananciosos não se lhes conseguia sacar sequer um chavo, e nós não estaríamos agora aqui a gastar saliva. Se não fossem especuladores, de que é que viveriam para pagar rendas tão altas? Mas como eu ia dizendo, os exploradores nocturnos, na Invicta, têm qualquer fêmea, boa ou não, passam logo a mensagem a dizer a estreia… em qualquer dos casos a publicidade produzirá uma alteração no aumento do negócio, e ele pode muito bem aproveitar-se no início, e safar-se antes de vir o desgaste. Há uns patos que vão ser chupados, pensam eles, mas eu não, que sou ganancioso e não vou gastar algum… É um sentimento anarquista, como vê…»

O barman João faz um gesto assentimento. Podia-se imaginar que era um ex-esperto nestas coisas… Tem a sala repleta à sua frente e olha à procura do casal chegado da rua…

«O meu último ponto de vista», continua Cacá, «baseia-se na facilidade com que o sistema das casas funciona em relação aos preços. Estabelecem aumentos altos, com um aumento de mais de cem por cento… inventam, sacam, maltratam, fazem tudo o que é preciso para receber e não ter que resolver o problema à solha.»
«E a bófia?», pergunta Paulo.

«A bófia faz aquilo que lhe compete, isso não se discute. O importante é não haver tiros e ninguém se aleijar entre os clientes.»

«Bom, a única coisa de que precisam é de um porteiro. Um bom porteiro, fardado, com classe, espalha a publicidade pelos bares de boa nota e pelos cafés da baixa que tem a frequência dos trabalhadores da zona Centro e tem garantido casa cheia. Só tem de lançar o programa… Os outros porteiros, ao divulgarem as suas informações, dão-lhe publicidade.»

O barman João concentra-se no seu espaço para analisar o trabalho que o espera. O rosto ilumina-se ao mero pensamento da conversa e isso torna-o quase eléctrico. Talvez esperasse que Cacá corresse para ir buscar uma matrona, e Paulo fosse chamar os porteiros, pois mostra-se desapontado quando a conversa termina, sem que daí nada resulte. Eu e Cacá prometemo-nos encontrar mais tarde, e Cacá vai sozinho no carro até ao Brasília Club. Paulo apeia-se uma zona mais em baixo. Então eu tomo a direcção da discoteca de Cacá… Cacá não deve ter chegado lá, mas deve estar alguém para dar à língua, o que é uma boa oportunidade para passar um bocado do tempo. Passo a sala a pente fino, mas está visto que gente não falta para dar cavaco. Cacá não se encontra ainda. A discoteca está meia apinhada de pessoal ávido para dançar e esperar pela meia-noite para ouvir uma de fado. Carlos Alberto, antigo vendedor da Ricard, encontra-se à beira do balcão e chama-me para lhe fazer companhia. Se tivesse um foguete, diz ele, deitava-o agora mesmo ao ar… O rosto de Carlos Alberto ilumina-se assim que me aproximo. Não esperava encontrar-me por aquelas paragens. Fica a palrar, como um papagaio quando exibe o falatório e não se pode dizer que o seu repertório seja curto. Eu imediatamente começo a escutar a ele.

«Ouve lá, tu estás fixe!», exclamo assim que ele faz uma paragem. «Nunca me disseste o que fazes para te conservares assim. Diz-me cá, só para os dois, há alguma hipótese de me dares essa receita?»

Já não tenho pedal em permanecer num ambiente destes, mas quero ficar a par das últimas novidades antes de deixar Carlos Alberto sozinho com ele próprio. Depois de algum tempo passado a contar as nossas asneiras, consigo ficar uns momentos a observar a sala. O espectáculo está no início com a música pimba a aquecer os corações destroçados… e não quero perder uma pitada do mesmo.

«Gostaria de durante uns tempos voltar a ser rapaz», diz, empurrando-me com um chega para lá, retirando-me do espaço onde estava pousado. «E não iria tão vazio para a outra vida… é melhor bebermos mais uma bebida.»
«A outra vida não se importa que vás vazio quando partires se, também levares um garrafão no caixão contigo», respondo-lhe eu. «Ela tem-te na lista.»

Carlos Alberto deixa-se emborcar na bebida e fazemos prognósticos enquanto ele saboreia, é chegado o momento do fado… A fadista do Brasília Club é tão graciosa como o fado que interpreta! Ah sim, ela parece que leu o meu pensamento. A fadista dá um ar da sua graça, e o público sente-se atraído pela sua voz. E para terminar… até canta um fado para a dor de corno… Lá vou eu para uma mesa para falar com Cacá que já regressou. Estive a falar com a Tesouro do Bairro, uma cliente da música salsa, digo-lhe eu. Estive a sondá-la para lhe dares uma foda, e acho que ela só se aninha por dinheiro… gosta tanto de money, como tu gostas dele no banco. Portanto… tudo o que ela quer é uma foda por cabrito e receber na hora. A minha opinião, como tenho certo conhecimento, é que não a fodas por dinheiro… Cacá acha que a minha opinião é muito relativa. Tudo isso é tão ocasional, diz ele… nem imaginas as gajas incríveis que eu tenho atrás de mim. Um dia destes apanho-a à medida para a levar a ter uma aventura, não acreditas? E há mais como esta. Claro que o diz com toda a naturalidade. Cacá deseja foder bem a Tesouro do Bairro, e tem uma lista de perguntas do tamanho de uma perna. Onde é que ela gosta de levar? Onde é que a vou encabar? Qual é a melhor altura para fazer isto ou aquilo? E durante os primeiros quinze minutos que trocamos de conversa, fica sentado a beber Licor Beirão e armazenar tudo na sua box cerebral. Ainda há muito dela que tem de ser explorado antes de a levar para a cama, exclama, e quer conhecê-la sobre todos os ângulos. Informo-o do local onde pode ver uma seta seguida de uma tatuagem que vai da cintura dela até baixo… Se bem que não saiba muito bem onde é que, mora o fim da tatuagem. Depois quer saber se é realmente o tal canal como pensa… ou é, apenas… rasteira? Não era a primeira, é claro… Depois disto apetece-me contar-lhe esta. ´Uma margarida qualquer, depois de umas apalpadelas convence o parceiro que está próxima a menstruação e põe-se disposta a tudo… pelo menos é o que ela disse. Uma vez enfiada na cama, foram favas contadas. Abriu-se como uma lapa e deixou que a manobrasse sem a menor dificuldade. E a cabra realmente deixou-se penetrar pelo espírito das loucuras… estava tão em brasa que não conseguia falar direito… e o prazer parecia uma alucinação.` Suspira, olha de relance para mim e desaperta o colarinho. Bebe uns goles de licor.

Talvez ela preferisse que eu lhe fizesse um telefonema para a levar a passear? pergunta-me. Pensou nisso quando estava a ouvir-me, mas acha tão banal usar esse pedido e, além disso, não se sente excitadíssimo… Contudo, se ela achar que eu não uso a nota para a comprar, vai ter que decidir daqui para a frente. Estou curioso como ela é… aquele seu pequeno cu arrebitado chega para me dar tesão, com tatuagem ou sem tatuagem. Como a como só com os olhos, o cu parece ficar mais arrebitado... Cacá puxa a camisa para baixo e entretém-se com as suas mensagens. Oh, aquela gaja! Passa o tempo a convidar-me para tomar café e levar uma queca! Quando é que alguma vez vou ter tempo! exclama ele. E eu sei o que é que aquilo o leva a querer fazer? Fá-lo querer perder a cabeça… sim, perder tudo... Mas depois de me revelar isto, faz-se atrevido. Por fim tenho de o elogiar e contar-lhe uma anedota dos nocturnos. Uhuh, graceja ele… mas é uma anedota ordinária, acrescenta logo a seguir... Estou certo de que a tatuagem de Tesouro do Bairro fazendo sessenta e nove com os clientes ficaram gravados na mente de Cacá, mas ele fecha-se em copas, ou mesmo de pensar em lhe comer o pacote. Raio, suponho que a podia conquistar por dá cá aquela palha… Qualquer prostituta, desde que esteja a ser paga, não é difícil convencê-la a umas brincadeiras extras. Umas cócegas no grelo e está pronta a tudo… mas ele quer que a iniciativa parta dela… ou pelo menos que ela assim o assuma. Conto-lhe aquela da vendedora ambulante que, depois de experimentar levar no cu, andou meio século até descobrir uma pissa que a satisfizesse… Riu-se assim que acabo de contar. Estas prostitutas! O que elas gostam de apanhar alguns patacos em troca de uns serviços! Do que a Tesouro do Bairro mais gostaria, agora, exclama ele, era que eu lhe metesse uma nota graúda na mão e a fodesse até ficar paralisada, mas não se quer familiarizar com a minha atitude mais do que o fez até à data… Mas eu posso ser tão teimoso quanto ela… Lanço-lhe as minhas pestanas, mordo-a à distância, com a língua aguço-lhe o desejo. Quando me aproximo muito dela murmura baixinho… eh… é hoje… por que é que não a levo agora… Oh, devemos ser iguais àquelas mulas matreiras das feiras, não devemos? Sim, estamos a fazer quase o mesmo papel que elas… Abana a cabeça quando lhe digo que lhe lance um repto. Da primeira vez esteve quase… depois passou. O que é que queres que eu faça? pergunta. Como se o desconhecesse, como se não tivesse um pequeno gesto de lhe oferecer um ramo de cravos, um saco de bombons, algo do que ela não estava à espera! Quero que ela mo chupe e também me foda. É isso? Fá-lo-á, se eu lhe pagar. Mas eu não pago.

Um tipo aguenta certas merdas até um ponto. Imagine-se uma mulher com uma vontade do tamanho do elevador dos Guindais, uma prostituta com os anos da putaria que a Tesouro do Bairro já tem, e a tentar convencer-me que não entende que quero que me dê uma goela! Decido dar-lhe só mais uma chance… depois, se não toma a iniciativa ao mesmo tempo que me conhece, ponho o seu nome na minha lista de espera e o caso arruma. Durante uns brevíssimos dias tudo se modifica. A Tesouro do Bairro aparece no meu bar… dá a impressão de se sentir realmente só e pede-me para lhe chamar um táxi. Digo-lhe para aguardar e Cacá subitamente aí vem, e ela está ainda a saborear o café da noite. Torno a pô-los lado a lado e ela também entra na conversa… pede-lhe uma boleia para casa. Assim que se encontram a sós a Tesouro do Bairro diz que não vai voltar com a palavra atrás. Não, desta vez perdeu a oportunidade… perdeu mesmo. Não faço ideia o que ela pensa de mim e por que me quer extorquir a nota? Tem de pensar que sou um amigo! Oh, uma prostituta tem que ter ética! O tempo para estas aventuras já pertence ao passado... Uma rapariga na sua idade e nas suas condições, tem de ter bom senso para tolerar certas coisas… etc., etc.… Quer engordar a boleia, mas eu tenho um encontro. Persuado-a a beber uma taça de champanhe, depois mais tarde. Torno a olhar para a seta. Aquela em que a Tesouro do Bairro exibe junto ao rabo atraindo os clientes enquanto lhe fazem namoro, parece exercer uma atracção sexual… Certamente que ela nunca teria feito aquilo se não tivesse um sentido intencional… Asseguro-lhe que nos veremos… e logo se ela viesse até ao pub numa de beneficência… ou prefere o cachet? Pensa que o cachet é mais agradável, mas realmente, não devia… e deixa-se ir de sorriso ardente e gravita no breu da noite como um tesouro apetitoso...
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- 1 - Antigo boss da noite
- 2 - China e Pedro: capangas do Porto, cujos saques provocaram a desgraça das suas vítimas...
- 3 - Personagem nocturna dos anos 80.



Monday, July 12, 2010


CONTOS DE RATAZANA
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O ATIRA-CÚS...

Afinal sempre é verdade. O Paulo está no topo do mundo por comer um cu rapado. Tudo o que ele quer, como prova da sua excitação total, é um buraco sem pêlos ao ar, quando passa um serão maravilhoso. E não é só um cuzito rapado… um programita bem afinado, ou algo onde não haja que roçar…

«Foi a Pernambucana quem mo deu», confessou-me ele, «e a Baby-Sitter ajudou à festa. Não é de gritos?»

Arquei-a as pernas o suficiente, deixa-se encurvar e ergue as mãos de forma a eu poder ver o seu estilo à cão… Tem o sorriso no rosto… um pouco rufia, porque na sua face ainda se pode ver uma leve malandrice quando a luz incide na sua pessoa.

«Eu tinha uma vontade tão grande enquanto ela se maneava.» Paulo ri-se. «Parecia um touro com olhar de matador. A Baby-Sitter disse que havia de ser bom se eu me pudesse aguentar meia hora antes de me vir desta forma.»

Imagino a cena… A Baby-Sitter segurando a cabeça da cadela entre as pernas, usando-a na lambidela familiar. Paulo mantendo afastada as bochechas do cu da Pernambucana, enquanto lhe passa o pau barbado pelo rego… Sim, deve ter sido uma cena fantástica.

Paulo não se consegue manter quieto diante de mim. Mexe o corpo de um lado para o outro, estica-se quando vê uma mulher a passar. Está outra vez com comichão no pincel… prometer-lhe o queijo foi bem o grande remédio para lhe atiçar os calores. Podíamos jogar um palpite, diz-me com ar travesso, só para ver se o meu faro consegue reconhecer uma paneleira...

Como reconhecê-la… O que eu penso, aquela coisa funciona com a cabeça de baixo, um olhar e fica duro como pedra. É como se já tivesse uma pedra dentro da calça… Mas Paulo sabe como encontrá-la…

Paulo está livre de horário. Agora não tem qualquer impedimento para comer um queijo daqueles, diz ele… talvez venha assediar uma das minhas prostitutas… e lá vai ele direitinho ao meu grupo, para falar com uma à boa. A mula pede muita massa, pede o que quer, e acrescenta, um cuzito careca como aquele não tem preço… está na grelha das virgens…

Paulãozinho, acha ele, havia de ter um formigueiro muito forte com o cheiro. Enfia a mão no bolso, aperta o pénis num anel esganado, e olha para baixo… Sim, não há dúvida que tem de conservar a cabeça para baixo, para manter a calma diz. Faz-lhe cócegas sob a tola… Se não tivesse comido aquele queijo com um cheirinho azedo de ovelha, acha ele, provavelmente não levantaria a cabeça, tão rapidamente, e nunca saboaria… Perderia o seu faro. A Pernambucana e a Baby-Sitter, continua ele, não deixaria que ele as abandonasse…

Paulo diz que adora a Pernambucana, acha que ela é boa sempre depois do jantar. Algumas vezes a Pernambucana parece uma fada, quando se arma em gata naquele estilo mamã que ela tem. A Pernambucana diz-lhe para fazer uma posição e, se não obedecer de imediato, ela obriga-o a fazê-la. A Pernambucana tem muito nervo, especialmente nas noites de garrafas vazias... uma vez postas as suas garrafas em cima da mesa, não podemos negar… e enche uma quantidade de copos para nos esborracharmos. Oh, a Pernambucana mantém-me de pila feita quando brincamos aos cavalinhos!

É claro que também gosta de Baby-Sitter, diz ele, mas de uma forma completamente diferente. Com a Baby-Sitter, sabe-se que é tudo confusão de línguas… Ela na verdade pensa, diz Paulo, que toda a rapariga deve viver uns tempos com uma cadela, mesmo que pretenda largar a prostituição e não ter chulo e ser uma rapariga de poupanças dali para a frente. Paulo, diz que eu tinha razão… as cadelas substituirão os homens…

Paulo senta-se, com as mãos atrás sobre a cabeça, observando-me enquanto me despacho de um cliente. Quer que eu oriente uma mula baratinha. Pede-me ele. Respondo que vou ver. E fica de pernas abertas, os olhos a ver o que se passa. Estou em linha com uma e a alternativa na outra…

Paulo experimenta uma certa negra oriunda de uma África longínqua. Diz chamar-se Sílvia. Quando Paulo a levou, diz-me ele, tudo o que ela fez foi despir-se e ficar esticada como uma tábua de engomar… Agora salta para aqui! Disse-lhe ela, e ele sentiu-se fodido. Abriu-lhe mais as pernas, e deu uma vista de olhos para satisfazer a sua curiosidade. Bem, não se admira se ela tenha posto algodão no pito para encobrir uma possível tia-maria… Ficou em cima dela antes de poder ganhar tesão, a verga na mão e as ideias noutra…

Estar a foder Sílvia com esta atitude é como estar a foder uma velha de asilo, se exceptuarmos o facto de que uma velha de asilo nunca teria uma pintelheira tão farfalhuda. O seu ventre, conta ele, mal se esfregou contra o dela, a única reacção que soou foi o seu SOS de fome, nada mais. Entre as suas mãos não se encontrou um afecto, um carinho, ou um calor de forno de alta tensão, nada além da sua imobilidade. Tem um aspecto mais frio do que uma perua morta… Mas esteve a aviá-lo a conta gotas, como sempre o fez… como uma mulher desfasada, ou ainda mais, aguentou-o até ao fim.

Sei que se tratou unicamente de um cabrito mas isso não torna menos real o facto da sua pele lhe saber a catinga. Enquanto foi só catinga ele não se ralou, deixando-a continuar a espalhar-lhe o contacto com o corpo enquanto a fodeu. É um odor intenso, penetrante, nada que se pareça com o cheiro a suor que costuma deitar…

Não volto a sair mais com Sílvia, desabafa ele… aquele coiro é demasiado pastelão. Tinha o olho do cu na mira, fiquei incontrolável, mal meti o pénis no buraco, gritou como uma fera, e não me deu hipótese e depois aplicou-me uma massagem… uma punheta, para ser mais claro… que completava o serviço…

Paulo não deixa esquecer aqueles momentos que foram foleiros… há muito tempo que não enfiava um urso daqueles, e está muito furioso consigo. Tenho-o de o acalmar, mostrando-lhe que nem sempre se acerta na pomba certa, senão vai falar mal delas. É o único motivo por que Paulo pára às vezes de engatar putas… para que preste mais atenção às não-putas… Claro que não pára por muito tempo… duas noites é tudo o que consegue. Depois, vai querer novamente um cu a bater-lhe ao pau e partirá para outra aventura. Suspeito que pensou que Sílvia só lhe desse o mataco (cu) se lhe oferecesse dormida grátis na sua maison, e tenho a certeza que ela não foi na fita…, ou era muito mais ingénua do que ele para embarcar nessa droga de cantiga…

Paulo estica os braços acima da cabeça e arqueia as pernas, e o sorriso quase lhe desaparece... Quer que eu abafe o caso dele… mas só por uns dias… enquanto ela não tocar no trombone…

«Olha para mim…ela fez-me uma punheta, como se eu fosse um estudante, nem mais… fiz uma figura tão parva que nem me quero lembrar», diz Paulo. «Não tens por aí uma marreta para me dares com ela na cabeça? Deixava-te dar à-vontade… e andava eu todos as noites à procura de ter um cu sem pêlos… e agora que o tenho… procuro outros. Não é uma estupidez?» Volta-se e olha para um rabo a passar pela sala. «Mas não queria um cu tão gordo como daquela prostituta. Comia-me meia gaita…»

Os dois rimo-nos com a expressão que ele deu à conversa… mas eu estou mais interessado naquela narrativa para o meu pasquim. Debruço-me por baixo do tampo do balcão e anoto os apontamentos precisos e ele retoma a conversa quando sente o riso a ir-se… e conta-me o que a Pernambucana lhe costuma dizer na cama… Fura-o! Fura com a tua chouriça o meu buraco careca e amanteigado, e come-me… é todo teu, podes gabar-te que foste o primeiro a ir aí tirar-me os três… Enfia a boca no copo e absorve um pouco de água fresca.

A Pernambucana pode dizer o que muito bem lhe apetecer… Mas Paulo não tem de comer o grupo… ela é pouco mais do que uma rapariga, seja lá da forma que a vejamos, e da parte de trás, só com o manear da sua bunda, parece mais virgem que uma donzela. Ainda um dia lhe vou dar uma completa, diz Paulo, de modo que nunca mais se esqueça de mim.

«Sei como é», diz-me ele. «Gordos, magros, peludos, pequenos… se alguma vez encontrares algum que não saibas como deves tratar, trá-lo que eu ensino-te como deves fazer.»

Depois… pára-se a conversa, ele dá um salto ao quarto de banho e volta. Anda como se fosse um galo, com o olhar sempre cravado nelas… Estou pronto a meter-lhe o meu veneno, mal se senta no banco, entro de chofre...

«Esta se chega aos ouvidos da Pernambucana e da Baby-Sitter elas ficam tão revoltadas que lá se vai a borla quando as quiseres roer», digo-lhe eu. «Se queres que ela te dê uma goelinha tens de prometer que não as trocas assim.»

Ainda está de peito feito, e dá toques no copo para ouvir o seu tilintar. Está sentado de frente a observar, de modo que vê as saídas e as entradas daqueles que se raspam para dar uma rápida... Vigilância a quanto obrigas…

Paulo quer saber se entre mim a Pernambucana e a Baby-Sitter houve algum caso. Fodia-as, não fodi? Não lhe respondo. Mantenho-me em reserva… Paulo não precisa de qualquer informação para arranjar um caso. Muito bem, diz ele… mas eu escuso de pensar que é segredo. A Pernambucana e Baby-Sitter têm os ouvidos bem apurados; em breve saberão tudo.

«Elas sabem que andaste por aí a foder com a amiga dela sem protector de mangueira?», pergunto.

Paulo fica admirado por eu saber de tudo. Como é que sabes? Foi a amiga? Paulo aperta o copo na mão como se mo fosse partir…

«A amiga contou a elas?», interroga. «Elas sabem o que nós fizemos?»

Não me intrometo nisso e Paulo fica pensativo. Como é que pode saber como deve actuar se não sabe estas coisas?

«Ela deu-me uma dica, como se eu fosse um gigolô, nem mais nem menos», diz Paulo. «Mas ainda queria que eu fizesse de motorista porque não tinha homem para a acompanhar.»

A seguir segue os passos de uma garina que acaba de chegar. Está a mordê-la de ginjeira, assim que eu possa, vai desejar que lha apresente. Se ela não fosse uma dessas raparigas dos bordéis, podia-lhe muito bem contar um filme bonito e ela não lhe exigiria dinheiro, suspira ele. Vou ter que ter algum trabalho para explicar à garina o desejo dele em querer comê-la por amor! Suponho que o que devia fazer era tirar essa ideia e pagar à garina… mas o dinheiro tem muito significado para ele, e ele ficou com os calores um pouco alterados. Para o diabo com tudo isto. Digo a Paulo para meter o dinheiro na mão e tocar uma segóvia. Com certeza, diz ele, desde que eu fique aliviado e me venha, tudo bem.

Mas eu ainda pretendo saber se a Baby-Sitter não se enciúma pelo que se passa entre Paulo e a amiga Pernambucana. Paulo leva algum tempo a responder ao tema, o qual se resume a que ele ainda não se quis fazer ao piso. Está a reservá-la, sorri, a reservá-la para descobrir exactamente quais são as intenções de Baby-Sitter em relação a sua pessoa. Se ela gosta de o ver foder, deve ter forçosamente algum desejo por Paulo, acho eu? Quem sabe… talvez se estejam evitando, a fugir um do outro…

Este Paulo! Estou mesmo a ver que não pára de andar para aí a armar confusão. Tenho admiração pelas brasucas… se estas putazitas corrompidas se lhes crescem a barriga, não sei o que lhes vai acontecer. Levarão com elas para o Brasil algo mais do que a colecção de cabritos do Porto…

Paulo está por debaixo do olho a galar a garina. Por vontade dele, fazia-a lá na pensão enquanto o diabo esfrega um olho, mas abstém-se a olhar para o espelho. Fica ali a matutar prós botões com o cu a balancear e as pernas curtas afastadas. Tem os pés apoiados no aro de alumínio em volta do banco, e a careca branca como a casca de um queijo. De vez em quando espalmei-a a careca com a palma da mão. Não diz nada… mantém-se assim… e deixa-se ouvir as minhas fofoquices e diverte-se a rir…

«A Baby-Sitter vai ficar louca quando eu lhe baixar as calcinhas», diz ele…

«Mas, toma cuidado, como é que tu a podes enlouquecer?»

Paulo não responde… talvez ele próprio não queira responder. Dá um esticão para se aproximar mais da borda do balcão, afim dele poder chegar mais perto da água, e coça os seus tomates, agitando-a de cima para baixo…

«Vou vê-la logo à tarde… Sou capaz de a apanhar sem a amiga e levo-lhe a cadela ao jardim… deixo-a a fazer lá umas caganitas e volto para o seu apartamento e obrigo-a a chupar-me. Sim, é o que vou fazer… Obrigo-a a chupar-me o paulãozinho e como-lhe aquela peida e no fim digo-lhe para não contar nada à amiga senão, não lhe vou buscar a cadela. Oh, meu grande Paulãozinho… cresce, cresce muito… e faz duplicar uma quantidade de esperma dentro de mim, porque eu vou fazer uma boa brasuca comê-la toda, daqui a uma hora, mais coisa menos coisa…»