Saturday, February 23, 2019





Seus inesquecíveis bares de Club Stop a Club Lord, valeram-lhe rasgados elogios e simpatizantes.

FERNANDO
ABRAÃO
"RATAZANA"                                O "MESTRE" DA RATICE
                                                               O JORNAL DOS TRAIDORES

   No ultimo ano da sua atividade, Fernando Abraão estava se parecendo mais com a personagem de Rambo, quando imitou o seu isolamento, do que com ele próprio. Tinha o cabelo esbranquiçado. Umas rugas pouco salientes, faziam realçar seus olhos marotos mas vivos, que pareciam observar tudo aquilo que o rodeava.
Esses olhos seguiram atentamente dezenas dos melhores empregados hoteleiros, enquanto Abraão os teve como dirigentes em muitos dos seus melhores anos. Em 1970, ele foi dirigido pelo boss J. Loureiro: ambos protagonizaram momentos fantásticos na Boite Marta. Em 1972 chefiou a Boite Electra Club - 4 anos depois - chefiou a Boite O Inferninho; essa passagem valeu-lhe a experiência de tomar conta em horário diurno do café Cubango em sociedade com um colega de trabalho.
Em Julho passado, aos 62 anos, Abraão aposentou-se, esgotado de uma azáfama total, onze mese antes de ter estreado no ecrã do bar 28 Anos  a sua 4ª curta-metragem. Baseado  num guião seu, e sob a realizaão do filho Daniel Abraão. Era mais um hobbie dos muitos que foi acumulando à sua função de barman, que o tornavam um homem de sete instrumentos. 
Qual era a virtude de Abraão? «Persistência», diz o empregado de mesa Belinha. «Nada o fazia retorcer uma ideia bem planeada. Ele simplesmente não permitia que nós fôssemos maus profissionais.»    
 José Fernando de Almeida Abraão ou Ratazana para outros, nasceu a 6 de Abril de 1948, num lugar chamado Devesas, Vila Nova de Gaia, em Portugal. Filho de um salsicheiro e de uma cozinheira de Miragaia, que exploravam uma casa de pasto perto da estação ferroviária. Abraão era o quarto membro da família. e quando saíu da escola aos 11 anos, passou a trabalhar num escritório de um despachante alfandegário como paquete, era muitas vezes imcumbido de levar encomendas e amostras aos armazéns de Vinho do Porto, pela Calçada das Freiras. Durante esse período de vida, tornou-se um rebelde sonhador.
Em jovem praticou viola e canto na casa de pasto, e agrupou vários conjuntos musicais e teve mais de sete ofícios variados. Durante a guerra colonial, Abraão ofereceu-se como voluntário para prestar serviço militar no Centro de Comandos e Serviços, no Cazenga, Angola. Foi artista de cabarés na cidade Invicta, diretor do semanário O Jornal Dos Traidores, um popular pasquim do Club Lord, autor e contista. Em 1987, casou-se com Maria Manuela.
Nessa época dedicou-se a escrever às escondidas as confidências que os clientes lhe contavam ao balcão nas suas aventuras amorosas com as garotas, confidências essas, que mais viriam a chamar-se Contos Traidores, cuja apresentação foi bastante discutida por ser uma obra´fofoqueira´. «Foi aí talvez a mais importante experiência que um livro me deu. Abriram-se os horizontes», recorda. 
Desde criança, Abraão foi sempre um apaixonado pelas lvros, cinema e música. Então acrescentou à sua carreira: a de guionista. Foi guionista das suas curtas-metragens Isto Vai de Mal a Pior e Os 4 Quatro Vícios da Noite. Baseado nos seus contos, essas curtas é outro empreendimento caseiro: Martinik, de 72 anos, é o cliente-realizador.  O guião de Um Gosto a Cheirar a Torrado (O Ébrio), valeu-lhe mais de um milhar de visiulizações nas redes sociais. O prazer de Abraão pelo cinema levou-o a fazer mais guiões. Selecionou A Nota de 10 Euros, baseado num conto seu e dirigido pelo seu filho Daniel Abraão.
O Lançamento do Club Lord foi o coroar de uma carreira ímpar e trabalhosa que Abraão teve de percorrer para chegar ao cume do estrelato. Satisfeito com o seu trabalho, Abraão agradeceu a ajuda monetária a José Oliveira , o empresário que ele sempre considerava como um verdadeiro amigo acima de tudo. Com o Lord nasceu uma grande amizade entre Abraão e José Oliveira, que iria durar toda a vida.
Abraão foi o primeiro dono da noite portuense a criar o sistema do amor-instantâneo fora do local do trabalho. A sua técnica adiquirida ao longo de mais de 30 anos, levou-o ao contato com filiais da rapidinha do Norte a Sul.
Quando em 1983, fundou o semanário O Jornal Dos Traidores com mais de 1000 membros com apelidos para não passar para o exterior, foi o elo de ligação entre uma comunidade a favor do sexo-livre.
Quando em 2007, adoeceu que o levou para a  cama do hospital, teve de fechar o bar durante uma semana. Abraão, que acabou por recuperar bem, chegou a dizer, que teve até medo de não sair vivo de lá. No fim desse pesadelo, chegou uma proposta ao local do bar, para o trespasse, e Abraão, achou que era a hora certa de findar um ciclo.
No Verão de 2011, quando Abraão estava compondo umas músicas para editar um cd, num estúdio no Alto da Maia, soube que José Oliveira adoecera. Passou a visitar o amigo todos as semanas, e divertia-o contando-lhe as ratices com os seus clientes-traidores. Quando José Oliveira morreu, a ___ de _____ de ___20?? foi à supultura e pronunciou em voz baixa: «Adeus amigo. A sua vida foi longa, foi rica e plena. Descance em paz.»
Entre o fim do ano 2009 e o princípio do ano 2010, Abraão aceitou um partime para cobrador de uma agência morturária. Quando o contrato acabou, Abraão a pedido dum empresário de carros de aluguer habilitou-se a tirar um cap e foi para motorista de táxi. Pegou num Mercedes e fixou-se na praça de táxis em Cete, junto à estação ferroviária. Ali criou amizades e fez amigos. Saia de casa às 06 da manhã e regressava às 08 da noite. «Esse meu novo ofício é óptimo», confessou-me Abraão. «Mas não me parece que fique por aqui muito tempo.» E assim foi.
Abraão, passou a administrador de condomínios onde reside, voltou aos fados pelas adegas e restaurantes, e reentregou o duo Os 2 do Norte, e ainda, passou a ser motorista-mordono do avô do seu filho Diogo.
Durante muitos anos, Abraão faz vários ganchos para levar uma vida confortável, porque estar parado, não é com ele. «Estes trabalhos fazem-me recordar quando era jovem: estava sempre em movimento e esse movimento é que me faz sentir bem comigo próprio», recordou Abraão um dia destes. E sorri feliz.
Abraão, continua a vida em pessoa. Lembra uma certa frase que o seu amigo José Oliveira dissera 15 anos antes: «Fernando é uma das boas almas que existem neste bar.»