Monday, November 30, 2009





CONTOS DE RATAZANA
____________________




VIDA DA ZONA VADIA
               ~~~


Paulo César tem uma sorte realmente danada, em especial quando o vemos em conquistas amorosas… se os casos espantosos que lhe acontecem, se não se dessem em frente dos nossos olhos, certamente faríamos ouvidos moucos se só soubéssemos deles pela sua boca. Dar uma volta com César é como comprar um bilhete para o espectáculo de circo e se depararmos com uma comandita de putos a fazer um chiqueiro debaixo de macacadas, temos de concordar que o facto deve ser considerado como perfeitamente normal. Contudo o próprio César já se habituou… fica tão contente como qualquer outra pessoa quando se encontra nestes locais preferidos. Quando fala sobre o assunto assume-se logo com um ar de um homem que se considera a si próprio e à sua vida como essencialmente interessantes.

Sente-se tão entusiasmado como qualquer outro, tenta fazer com que as suas conquistas adquiram uma maior diversidade notabilizando-as, mas se se conhecer bem César percebe-se que aquilo que ele tenta contar como uma façanha pouco convincente constituí, na verdade a rolha de algo que nasceu dos contos do mestre Ratazana. No entanto há alturas em que as coisas também não lhe correm bem a César. Durante uma época César teve uma gaja para se entreter, cem por cento puta brasileira, autêntica... Estava na Casa do Levanta o Pau a aquecer os clientes a ficarem entesuados … o velho esquema do tesão-instantâneo, e César diz que a maior parte dos seus clientes descende em linha directa dos contactos do telemóvel. Esqueci-me do local onde César a conheceu, mas por uns tempos representou o papel de Grande Foda da Bunda em Alta, e jura que uma noite se embebedou e lhe papou o botão de rosa com uma posição à coelho...

Uma gaja carola, disse, também, mas o problema é que não se conseguia esquecer de que ela era puta e César viveu num tempo onde a única puta boa é uma puta marada ou a puta que chule um diferente gajo todos os dias e temia que uma bela noite ela «levasse a coisa a sério» e lhe sugasse o leite, por isso finalmente tinha-lhe dado com a chanca. Mas merda, toda a gente sabe que há putas por todo o lado e se há algum lugar onde se possa encontrar uma marada, esse lugar é o Porto. César e eu trauteamos pela Avenida do Brasil, admirando a passagem de fêmeas neste princípio de noite e sentindo ele o efeito dos imperiais e eu das águas que enfiámos nos pubes. A noite aquece… é uma noite como qualquer outra e nada no aspecto de César sugere que ele esteja sob a acção de um pifo. De súbito damos com os olhos numa cabriteira a atravessar no meio da rua, com carros a passar-lhe ao lado, e quase a atropelando, mas sem a seduzirem. César cansa-se e sentámo-nos nos bancos do Bonaparte para tomar uma rodada e ver quem está lá dentro.

Pagar nestes. As despesas nunca tentaram César a chegar-se à frente. Ele não contém um cêntimo, por isso põe-se a galar a miúda da mesa da janela e a atirar cascas de amendoins para um caixote do lixo. Parece não haver outra coisa a fazer, a não ser olhá-las se acharmos que vale a pena olhar. Miúdas de 17, aos 25, morenas, loiras, maquilhadas, cigarros nos dedos, vários penteados, cabelos compridos daqueles que os homens pegam para sentirem alguma atracção, uma tia, jovens, muitos jovens, um par de carochas… é a habitual clientela da noite com interesse. Fico vigilante, tal como César. Tínhamos uma leva esperança de que a noite ainda nos rendesse uma aventura aos dois. Entretemos os olhos. São tão fugazes que nem os apreciamos. A tia é outra ferramenta, para melhor… uma sardenta sorridente, a atirar para o cavalão. César dá voltas e reviravoltas aos olhos, enquanto olha novamente para a direcção da janela onde a miúda se concentra nas ondas do mar. O que é que eu acho, quer ele saber… esta miúda será de me levar a sério? Achá-la parecida com alguém? Não é mesmo o tipo de miúda com ar de passarinha? Parece ser boa no arame, que achas?

Os achados é na polícia, ironizo eu… podemos achar lá muitas coisas em poucos segundos… e César medita em ir à miúda levar os amendoins e ver se pode dar duas de conversa. O mínimo que ela pode fazer, diz, é aceitar-me os amendoins e, se for uma porreiraça, talvez uma confiança… talvez as duas coisas, diz César, nota-se que é uma miúda de boa pinta.

«Mas imagina que é um atraso», digo-lhe. «Não estou aqui pra levar com um atraso só por uma questão de acompanhante.»

Não é nenhum atraso, diz César. Mesmo que não seja a miúda do meu tipo, nenhum atraso conhecia uma miúda daquelas. As miúdas boas andam em bando, diz César convictamente. Mas mesmo que seja um atraso há sempre a possibilidade de uma confiança e eu não sou obrigado a ir comê-la.

«Não será bem assim, César… Acho que não te vais safar.»

A temperatura do luar está exactamente na ponta do rebuçado para me fazer chegar a adrenalina à cabeça e nós, sentados, martelamos o assunto intensamente.

«Talvez se estivesse só um de nós, ela… mas acho que nós os dois assim não vamos lá. Devíamos experimentar ir lá um de cada vez, ou coisa que valha…»

César recusa. Entrámos os dois juntos, vamos sair juntos… ou fazemos isso, ou vamos de vela virada e ela que se aguente à sua. E se a miúda estivesse a fazer horas à espera de alguém? Tanto ele como eu estaríamos a fazer figura de camelos… e depois íamos ficar com uma tola do tamanho de um melão. Sem saber muito bem como, começamos uma discussão sobre quem teria chances de levar com ela… No fim sempre vamos embora. No trajecto, curtamos caminho para entrar noutro bar e beber mais uma rodada. Lá arranjamos outra discussão, desta vez sobre o que faremos se em vez de uma houver duas miúdas para atrelar ou se for uma tipa a abrir aos dois…

O empregado é teso como um chuço e César faz-lhe peito mas o outro mostra-lhe os dentes para ele ver que não tem medo, antes de nos deixar passar. Depois escorraça-nos para a geral… mesmo para debaixo dos exaustores. Pedimos e o serviço aparece de imediato. Uma voz chilra quase atrás de nós. César resmunga qualquer coisa e olha à nossa volta, sem sorrir, e depois olha de novo para a sala. Não se trata de uma mulher e não penso que tenha mais de dezoito anos. É uma chavala. Alguma clientela, como nós, dupla e mista, e também mulheres sós… mas a maior percentagem é especialmente entradote, ou então chavalada. O copo de finos que ele nos traz parece quase do seu perfil. Pela terceira ou quarta vez César pede-lhe para trazer amendoins… ou qualquer coisa para dar ao dente, e de cada vez que faz sinal ao empregado ele sorri-nos e nós sentimo-nos como uns perfeitos idiotas. 
Não vem nada nos livros de reclamações que fale numa situação destas. Mas, sorte minha, o que é que se diz a um mal atencioso? É lógico que ele também deve ter coisas para dizer, mas um mal atencioso… merda, esses tipos vivem num mundo totalmente aparte. Quem nos mandou ter vindo para cá… Além demais, ele faz-se esquerdo. Pelo menos para um mal atencioso. Também não parece tão profissional como a maior parte deles… Parece-se mais com uma cópia reduzido de um empregado normal. Tem unhas aguçadas, uma boca com os dentes para fora que me faz evocar o coelho, e os olhos… julgo que se podem classificar como fuinhas, atendendo ao brilho deles…

Um olhar a César diz-me que ainda ele não viu tudo o que queria ver… A cerveja é boa a medida é que é curta. Fico por esta. Dez minutos mais tarde uma chavala já está a fazer olhinhos a César… Faz perguntas a seu respeito, em que é que ele está a pensar, etc… e revela que está ali a tentar fazer o pino antes de ganhar o sono. Fala sempre naquela voz chilra, aguda e doce que parece um pássaro. Faço sinal a César – não vamos ficar aqui muito tempo – e ele faz-me sinal tão rapidamente para aguentar. Não quer ir dançar este chegadinho, para aquecer? Pergunta-lhe à socapa. Alcunha-se de Passarinho… Passarinho...

César não marcha na dança e faz-lhe umas quantas perguntas a ela mas não obtém nenhuma resposta. Tem pintelhos na rata, quer ele saber, de que tamanhos são as mamas, chega uma ou duas relações sexuais por dia? Coça as pernas uma na outra. Que raio, porque é que ele não tem coragem de a convidar naquela altura… ela estava mesmo a pedi-las, não estava, César? Estava morta a ir para a cama, não estava, César? Ficamos um tempo sentados à mesa e deixamos os copos secos. César pede-me para o deixar à porta de casa… porque mais tarde se vai encontrar com ela. Continua arrastado na tal ilusão como é que ela será na cama, aqueles agudos gemidos a soltarem suspiros doces, e com o resto, dum gajo, e o nome próprio para o acto, passa-me na cabeça como um biberão de leite: Dá-me a chupeta…

Friday, November 20, 2009


CONTOS DE RATAZANA
__________________





A FLOR DE LESTE
~~~



Os sapatos baixos de tacão raso de Nádia, A Flor de Leste, como alcunhou Ratazana no seu Jornal Dos Traidores, matraqueiam a marmorite como bolas de bilhar. Lança a cabeça para trás, os cabelos loiros saltam… os pulmões enchem-se e o seu ventre atira-se para a frente… os pequenos seios balançam…

Os olhos do cliente na mesa catorze brilham como um raio.

Mesmo que o cliente desejasse, não conseguiria fazê-los estacar… nunca com aquela empregada a passar diante deles… rabiscava à volta da sala, parecendo uma bailarina.

Os tacões batem com mais força e os cabelos saltam-lhe em cada passada… os seus olhos azuis parecem demasiados vivos.

«Uma cerveja, minha flor de leste», pede um cliente da mesa dos fundos.

Toda a gente ri e Nádia por cima do ombro sorri, com ar fresco. Um cliente toca-lhe na mão. Solta um u, e afasta-se com uma passada de andorinha… as ancas contorçam-se-lhe graciosamente…

«Ah!», a exclamação sai de uma garganta quando ela se curva para uma mesa. Ela agora está a atender, atender um cliente que a cumprimenta de mão… que a gratifica bem. Tira da bandeja a garrafa de uísque, o copo, a Coca-Cola e o gelo para a mesa número seis no corredor da direita … quase se pode ver os seios em meia-lua que se agitam…

Na sala ninguém tira os olhos dela, agora. Nádia põe uma das mãos no bolso do avental, olhando lentamente até ter encarado todas as mesas, oferecendo o seu olhar a todos os clientes… olhares esfomeados saltam de rostos inflamados de todos os lados, ela está rodeada por lascívia, por onde quer que se volte, há um par de olhos que a penetram…

Percorre em espaços curtos com a mesma distância, até que se fixa no meio do balcão, rodando lentamente os pés para a frente…

Cada cliente que agora a observa… vê-a perante si, oferecendo sorrisos… Nádia entrega-se à limpeza do tampo do balcão… as mãos estendem-se quando se debruça… a língua parece enrolar qualquer coisa como um rebuçado cheio de doçura e cremoso… Deixa-se inclinar para trás, os seus braços esticam-se gradualmente, mas não tanto que não voltem à posição inicial… os clientes do balcão começam a chegar…

E então a ucraniana começa a sorrir! É sacudida por um enorme e esplendoroso sorriso, os lábios abrem-se como duas cortinas, abre ainda mais a boca, mostrando os dentes unidos até trás…

Toda a sala flutua em pestaninha. O sorriso de Nádia aquece como uma fornalha, reluzindo o espaço que a rodeia… Alguns destes clientes estão suficientemente desejosos para a paparicarem quanto baste…

«Bela russa!», atira-lhe um piropo o cliente de cor negra, que puxa um banco de madeira e chega-se para o balcão… olha, dominando-a com a sua cor e toque de fala e balança as mãos unidas… Nádia sorri e o rosto dele fica roxo… entesa os músculos das mãos…

O negro atira-se a ela às escâncaras como seu fosse um dom-joão… e ela mostra-lhe a aliança mesmo à frente dos olhos.

Quando ela vai à cozinha alguém ao lado adverte o negro de que ela é uma mulher casada…

«Quero lá saber!», reage o negro, e acrescenta: «Só sei uma coisa… sou incapaz de tratar mal alguém. E muito menos, uma beleza destas… Bolas, quem sabe, se daqui a cem anos eu não tenha hipóteses de conquistar a Nádia…» Soam as gargalhadas ao balcão…

«Aí vem ela!», Avisa o cliente da ponta…

Nádia recebe o dinheiro de um cliente e devolve-lhe o troco, pondo a gorjeta numa pequena lata em baixo duma prateleira. «É uma empregada muito simpática e, que merece a minha gratificação», responde-lhe o cliente ao sair.

Nádia está a limpar um balde de gelo com tripé, a dar cavaco a uma brasileira das rapidinhas. Está a tentar descobrir umas cismas… assim, espera satisfazer a sua curiosidade apressada…

«Pensei que a cor dos teus olhos era essa», diz. Depois acrescenta: «Não fazia ideia de que eram lentes de contacto…»

Evidentemente só elas ouvem isto… mas não fazem cerimónia. Subitamente, a brasileira saca uma lente da vista e põe-lhe na mão.

Nádia observa calmamente e entrega-lhe na posição exacta em que ela lhe deu.

«Olha», diz-lhe a brasileira. Abre a blusa e mostra-lhe os peitos.

Tem os peitos abonados; e sob a parte de baixo nota-se uma pequena cicatriz. Ela confessa que fez uma cirurgia para aumentar as mamas… é silicose, não há a menor dúvida… a seguir os seus dedos agarram a placa dos dentes e puxa-os para fora…»

Nádia nem quer a creditar no que vê e no que ouve. Ergue os olhos para Ratazana… Estava certo o que ele dizia… o seu raciocínio é mesmo certeiro…Coloca as mãos no balde de gelo e deixa-o no sítio onde o tirou.

Quando volta ao balcão começa a limpar os copos limpos... os clientes estão numa expectativa debaixo dos seus próprios pensamentos. Nádia aperta o copo entre os seus dedos, limpando com um guardanapo de papel contra as bordas…está a sorrir-se, encostando-se à prateleira do balcão, e aqueles olhos azuis fazem-lhes piscar os olhos deles.

«Vire-se agora para mim, minha querida!», exclama o negro. «Vou beber outra água natural e, saber se posso esperar por si, quando se divorciar?»

Ela levanta os olhos, e abana a cabeça… não quer responder.

Afasta-se dele e vai à sala atender um cliente que chegara durante uns momentos. Quando volta a abrir a boca é para dizer ao negro que não pensa em se divorciar.

Deita-lhe mais um pouco de água no copo enquanto ele serpenteia a língua pelos dentes e coloca o copo em cima do balcão. Não gostei dessa resposta, desabafa para ela, o negro.

É sempre a mesma lengalenga quando ela é gentil, diz-lhe a ele… mostra-lhes simpatia e atenção, e acabam invariavelmente aos convites. Uma tarde um tipo com charme, um tipo cheio de nota, de fino recorte, deu-lhe uma cantada… fala-lhe baixo para que os outros não ouçam aquilo… Depois veio ter com ela e levou com a pata… e ficou com a gorjeta gorda que normalmente costumava dar... e andou um tempo sem aparecer… o único cliente que até hoje ela aceitou o aperto de mão. Ah, mas as coisas com ela não se passam só assim.

Às vezes só lhe dão uma moeda… nunca mais de três, depois de ter recebido a conta. De vez em quando não deixa de levar a conta a duas ou a três mesas, mas nunca ao mesmo tempo. Se quisesse levava-os a todos, mas isso só lhe traria dissabores.

Sessenta pessoas, aproximadamente, uns a seguir aos outros, logo após a abertura do evento de bar aberto a ter absorvido o seu trabalho de serviço às mesas!

E eram tão meigos que ela estava de pé atrás… teve de se pôr esperta com meia dúzia deles.

Já trabalha no ramo há quanto tempo? Há um mês… diz que foi o que pôde arranjar quando a família se mandou para Portugal e cada um deles se desenrascou conforme pôde. Eles estão espalhados pela Europa.

Lembra-se de sentir dificuldade… um dos patrões queria comê-la e o marido achou-a mais ambiciosa, mais resmungona, mais tarde… o marido deitou a chamada abaixo… Gozara, dizendo que ele não estava a portar-se bem… tinha-lhe feito ver que era preciso gastar menos e poupar mais…

Ao fazer-lhe isto, visitá-la e importuná-la, estava a pô-la em sobressaltos… ele encostara-se ao balcão e não disse uma palavra. Ela perguntou-lhe o que estava ali a fazer… se ele não tivesse vindo ao bar, teria sido muito melhor. Não lhe agradou vê-lo ali diante dos outros. Custou-lhe muito mais isso, que lhe provocara mais nervosismo que aturar qualquer outro cliente do bar…

As explicações são tratadas na rua, numa conversa de amigos… e ela parece ficar realmente conformada.

O negro parece ter aprendido que acabou de ter uma lição de ucraniano. Está convencido e pronto para ter um encontro com Nádia. Quando ele se alarga mais com ela, a ucraniana arrebita os olhos para a frente, focando-os e agitando os dedos como uma barata agita os membros.

A cor do negro é enorme, uma vez focada e iluminada… Gostaria de ter uma loção para poder mudar a cor daquele tipo escuro, medita Nádia. Parece o Soba de Luanda... Pode até imaginar os piropos de todas as raparigas que algumas vezes foram obrigadas a levar com ele, armazenados lá dentro em catapulta.

O negro é atiradiço… assim que Nádia sai do pé dele, atira-se a meter com as raparigas da rapidinha em busca de uma dádiva… bebe o último gole de água e aquece as mãos…tenho de me despedir de você, diz ele… não me posso ir embora sem levar da sua boca uma esperança… Quer que ela não se esqueça que ele é o primeiro candidato… acima de todos… o melhor candidato.

Olha para a conta em cima do balcão… diz que não dá gorjeta… porque ela merece muito mais. O que ele está a tentar dizer é que não é cliente de gorjeta… o máximo, diz-lhe, é levá-la a jantar num restaurante de luxo, comer faisão e beber Dom Pérignon…

Bolas, não sou obrigado a dar gorjetas a ninguém… diz o negro, além de que não conseguirei com isso dar a volta à ucraniana. A água soube-me bem, mas não tenho que pagar mais por isso. Suspira-lhe.

Por fim começa a guardar o troco no bolso. Diz-lhe adeus e ela também. Segue para a saída. Nádia lança-lhe um olhar furtivo, até que a porta se feche.

Tem uma língua diabólica, aquele negro doido, pensa ela… e uma grandessíssima lata. Atende o outro cliente e raspa-se dali para a sala.

Ratazana não se encontra no bar. A esta hora deve estar a registar o euro milhões, segundo me disse.

No quarto do banho a trintona brasileira cirúrgica encharca as mamas com desodorizante chinês. Põe-te cheirosa, diz ela pró espelho. Tenho de fazer mais dois cabritos…


FIM

Thursday, November 19, 2009

Tuesday, November 10, 2009




CONTOS DE RATAZANA
_________________





Cris e Nanda

~~~



Cris, recordou as suas histórias marotas… e alguma confidência de foro íntimo, destinadas a fazer ver ao imigrante de Luxemburgo, que ela também tinha um pouco de maroteira. Assim que ele saiu do bar, ela diz a Nanda sua amiga de longa data e a mim que ele é nabo.

«Ele está a morrer por outra coisa», diz. «Mas que merda se passa com estes cotas? E que ele está a portar-se como se fosse um patinho feio, prontinho a pedir tudo o que lhe venha à tola. A única coisa que lhe falta fazer é dizer que me vai cortar a mesada.

Nesta altura, ouve a voz do imigrante de Luxemburgo, que volta a entrar no bar. Passa-se qualquer coisa com o estacionamento do parque automóvel. Haverá alguém por aqui que vá a sair?

Ele não consegue tirar o carro do parque.

«Olha aí o tens, Cris», diz Nanda. «Ele está a fazer-se ao piso e não o quer dizer. Só tens que o levar para o quarto e ver como lhe há-des dar a volta. E se precisares de ajuda é só dizeres.»

Cris ainda não está há três minutos no quarto, quando soa um berro e o imigrante surge a entrar no bar, com Cris mesmo atrás dele. Ele dirige-se para o quarto de banho e, tal como eu calculava, ela vem com o rosto um pouco avermelhado. Deixa-se cair de encontro contra Nanda e desabafa umas calinadas contra ele. O imigrante, diz em voz ofegante, levou umas palavras não habituais e atirou com o dinheiro para o chão.

Nanda, com ar revoltado, exclama para Cris: «Reles cabrito, como te baixaste!?»

Cris, de olhar esquinado e língua à solta, não teve papas na língua. «O imigrante e eu despachamos as roupas rapidamente, e disse-lhe algo habitualíssimo. Olha-me para o meu pipi! Adivinhas o que ele quer? Uma língua. Os nossos sexos podem gozar, não é só c´o pau, a língua também é uma foda. Eu já com o pipi à mostra e ele pira-se. Olhai, como me deixou!»

A vivaça Nanda não quer acreditar naquilo que está a ouvir. Desencosta-se um pouco de Cris e olha-me para ver se ela está a falar a sério, enquanto Cris coça firmemente nas mamas e diz para eles abrandarem o calor.

«Olha Cris», diz Nanda, «muda de programa para o levares livremente. Há sempre uma possibilidade dele escorregar… e se há alguma coisa que atrai um homem é uma vagina a descoberto, por isso com astúcia trata-o de modo que ele não pense muito.»

Cris dá-lhe uma palmada com a mão na perna. «Óptimo», diz-lhe. «Deste-me uma boa ideia.»

«Bom», suspira Nanda. «Agora, minha filha, vamos mas é atirar-nos à vida que se faz tarde e topa aqueles dois gansos atrás de nós, que é a única maneira de ganharmos o dia.»

Elas desencalham-se da mesa e eu passo para o balcão.

Cris está confiante de verdade. Possivelmente, pensa que em dar uma demonstração física já é suficiente para ter o freguês debaixo de mão. Mas ainda nada está decidido para fazer uma saída…

Nanda vê-se grega para se conservar imóvel não aguentando o ímpeto do outro freguês a insistir meter a mão pelo corpo e apalpá-la toda.

Conseguiram concordar o preço em parte mas a concordância deles retarda-lhes a voz… não confirmam, pedem-lhes uns minutinhos mais de conversas, para as avaliarem.

Cris inclina-se para um deles e exclama:

«Não nos façam perder mais tempo, por favor! Peço-vos que resolvam porque lá dentro do quarto é mais agradável a brincadeira… Prometo-te meu chuchu, que não te vais arrepender! Não nos façam perder mais tempo…»

As suas boas palavras dão resultados seguros. Talvez tão seguros que os fregueses mandam vir duas bebidas para elas, com direito a alternos, como lhes pede Nanda, primeiro há que beber para depois sair.

Cris insinua que tem as mamas a arder de calores e o outro freguês e Nanda param de brincar com as beliscadas um ao outro…

Bom, parece que eles já falaram e combinaram tudo o que tinham a dizer, e nesse momento, chamam-me à mesa, para lhes levar a conta.

Eles já estão com as notas nas mãos, bom, ainda me deixam uma gorjeta, e saem dali aptos para a fornicada.

Quando eles estão a entrar no quarto, Cris dá um salto para a cama.
«A cama está tão quentinha à nossa espera», grita-lhes Cris. «Dispam-se, ó fofos… senão, vai o calor ao ar…»

Estão todos realmente à vontade. Estão aparelhados, e a cama vai ser testada para ver se consegue aguentar com todos os corpos…

«Aqui tens um bonequinho para te aquecer o pipi», grita-lhe o freguês de Cris. «Talvez não seja a tua medida, mas não te preocupes… há muito tempo para ele engrossar… Embute-o, pá… Vais-te atirar ao ar quando o sentires… »

Nessa altura, estão realmente a dar o máximo em cima delas, quando se ouve o comentário do freguês de Nanda.

«Ouve, minha menina das calcinhas pretas, vou dar-te uma foda como nunca ninguém te deu, a não ser os cornetas… merda, se calhar ainda vou andar por aí a vender as minhas fodas, talvez gostes de levar comigo... mas não, quando esta acabar, tu vais estar pronta para outra, e para as que hão-de vir…»

«Não empurres á bruta!» suplica Nanda… ver o pénis dele em forma de gancho parece-lhe de longe pior do que ver simplesmente a piça de um cavalo. «Não a podes empurrar à bruta!»

Mas o freguês está-se nas tintas para o suplício dela e continua a cavalgar na pradaria dos pêlos que nem um batman das trevas. Ao lado, Cris esconde a cabeça debaixo da almofada e geme.

O quarto começa a parecer voar. O sexo deles cheira como o álcool e o mundo balança como uma garrafa. O freguês de Cris nem um ai dá depois de se vir, empurra-se para o lado e estica-se ao comprido. Ela está com tão bom aspecto como quando começou, só está um pouco mais aberta.

«Eh, Nanda», grita Cris, «está um fio vermelho a sair-te da racha! Acho que é menstruação… vai-te lavar à casa de banho.»

Nanda dá uma vista de olhos para baixo e levanta-se da cama para ir à casa de banho.

«Bolas, logo agora que estava a engrenar a sério é que tu havias de vir com essa boca, Cris!», protesta asperamente o outro freguês. «Já não basta o meu azar de ficar aqui com o meu esperma… só lhe apalpei as mamas… Venho-me agora como? Verdade, verdadinha, se não me deixar comê-la vou ter de lhe descontar metade do combinado e não quero vê-la mais… por enquanto.»

Nesta altura a Nanda está já debaixo do chuveiro, mas Cris desenrosca-se do meio dos lençóis e deixa o freguês a falar sozinho…

Pede a Nanda para lhe abrir a porta e depois de estar lá dentro, dá-lhe uma palmada no rabo nu… não contavas com esta, pois não, minha fofa? O gajo tratou-te muito mal. Agarrou-se a ti a lamber-te… parecia um canibal...

Nanda nem espera pela água quente. Enfia-se debaixo da água fria e enxuga-se à pressa. Ela está demasiada compenetrada e tira do pequeno saco um batom e passa-o à volta da vagina húmida como se estivesse a dar uma pincelada... Cris acabou de urinar.

Depois, saem para o pé deles; eles já desistirem de se porem em cima delas… limitam-se a estar ali sentados na cama e esperar pelos acontecimentos… não é necessário correr.

Nanda tem um aspecto tão frágil que ela nem parece estar a mentir. Desculpai, lá, remete num lamento, isto não estava no programa. Não estava nada a contar com isto, mas já que veio… não há solução a dar-lhe… nem a mim nem a vocês…

Claro que isto era tudo o que o outro freguês não queria ouvir. Mete-lhe um dedo na vagina e faz a sua análise ao cheiro. Ronca como um camelo perdido e volta-se depois para pegar numa toalha à mão.

«Já cheiraste?», pergunta Cris e aponta para uma tonalidade pintada sobre o dedo. «Agora, talvez te deixes convencer, que é verdade, qualquer uma mulher está sujeita a isso… talvez confies em nós, de como somos…»

«Vamos confiar na cachopa, pá, e deixá-la em paz», diz o freguês de Cris. «Se calhar ainda acabam por nos darem uma goela! Vamos pagar-lhes e vamos embora. Já gozei como um lorde e saio daqui satisfeitíssimo…

O outro freguês inclina-se sobre Nanda e diz-lhe ao ouvido, baixinho. «Que dizes, minha morenaça? Aposto que amanhã já não te lembras das nossas fronhas! Oh, raios, não faças essa cara, estás entre fregueses… os teus fregueses da próxima. Já alguma vez ouviste falar mal de nós?»




FIM