O
PALHAÇO ZECA era quem me ensinava a dominar a arte de equilíbrio
sobre rolos. Não há problemas, dizia ele: “Se caíres o melhor que tens a fazer
é pores-te de pé”… E a dominadora dos cães vadios que passavam por tigres de
Moçambique? Quem não a conhece? Fico deslumbrado ao vê-la de chicote na mão a
fustigar os pobres animais aos berros: “Salta” uma, “Salta” duas, e à terceira
vez, o cão que se esquecesse de saltar a argola de fogo levava com semelhante
chicotada pelas orelhas abaixo que só parava na porta do vizinho das salsichas,
a cerca de duzentos metros dali.
Abraão, em A
Música Que Eu Dou.
O tirolês…
~~~
Ai
vai mais uma. A música rancheira estava em voga no Porto e só Berto Conga sabia
fazer o tirolês com a perícia de um guardador de cabras quando chama o rebanho.
A única lembrança que tenho desse momento foi vê-lo a cantar numa carroça
atrelado a uma pileca, num espaço aberto. A zona estava cercada de gente, na
sua maioria, moradores de ilhas e bairros das redondezas. Depois apareceu Berto
Conga, agarrou no sombreiro e cantou. Mexicano tradicional. E cantou à sua
maneira.
Pelos
prados do belo Arizona…
E
depois: ─ veio o tirolês. ─ O público ficou assombrado com o jeito que ele dava
à sua garganta, juro. Mas a pileca, pelo jeito, não tinha a mesma opinião e
desatou aos pinotes, distribuindo coices à carroça que acabou por se soltar e
fugiu dali para fora que mais ninguém a conseguiu apanhar. Assim que os
aplausos, um tanto vibrantes, acabaram, o locutor anunciou música para bailar.
─ Oh! Que coisa mais estúpida ─ berrou Berto e saltou para o chão, atrás do
locutor. ─ Não tapaste os ouvidos ao burro, ─ sorriu o locutor para ele, indo
ao seu encontro.
Extraído
do livro A Música Que Eu Dou.
No comments:
Post a Comment