Os «Peidos» da Artista
______
Tal
como diz a letra do fado Recordações dum
breve amor, os dois subiram por uma escada tosca de velhas tábuas; a cama
negra e tão esburacada, e de alguns lençóis iguais, deixaram recordações dum
breve amor. Mal ele pôs os pés no quarto, despiu-se e foi ao bidé lavar as
partes de baixo (banho de puta), enrolou-se no lençol em forma de charuto e
meteu o braço por debaixo da cabeça, pondo-se a contemplar a cantadeira com os
olhos em bica. Ela foi a seguir. Despiu-se a temperatura rondava os 20º,
lavou-se da forma que o companheiro fez. A voz dele cortou o silêncio.
─
Tomara muita rapariga nova ter o teu cabedal! ─ Ela envaideceu-se e pôs-se a
cantarolar uma cantiga, deixando a água correr pela torneira do bidé. De
súbito, os efeitos de gazes do champanhe acumulados na sua barriga, fizeram um
estrondo no quarto: pum, pum, e logo
a artista se descontrolou, atirando com semelhante peido cá para fora, que
entoou pelo ar.
Padeiro
saltou da cama aos berros:
─
Que grande badalhoca ─, tinha o rosto de uma escultura. ─ Isso não se faz a um
homem. ─
Mamuda
levantou-se, cambaleando, e percebeu que as lágrimas que lhe caiam pelos olhos
tinham também desespero. No instante em que, ele já equipado com a roupa,
revoltado, arrancava o passo para a saída, voltou-se para trás.
─
Ó mulher, tu nem digas nada, olha que azar o meu, vir aqui para gozar um pouco
e levar com o peido da artista, essa é boa. ─
Abandonou
o quarto às gargalhadas. Quem o visse, até diria que era maluco.
Abraão,
em Escritos Traidores.
No comments:
Post a Comment