Friday, November 20, 2009


CONTOS DE RATAZANA
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A FLOR DE LESTE
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Os sapatos baixos de tacão raso de Nádia, A Flor de Leste, como alcunhou Ratazana no seu Jornal Dos Traidores, matraqueiam a marmorite como bolas de bilhar. Lança a cabeça para trás, os cabelos loiros saltam… os pulmões enchem-se e o seu ventre atira-se para a frente… os pequenos seios balançam…

Os olhos do cliente na mesa catorze brilham como um raio.

Mesmo que o cliente desejasse, não conseguiria fazê-los estacar… nunca com aquela empregada a passar diante deles… rabiscava à volta da sala, parecendo uma bailarina.

Os tacões batem com mais força e os cabelos saltam-lhe em cada passada… os seus olhos azuis parecem demasiados vivos.

«Uma cerveja, minha flor de leste», pede um cliente da mesa dos fundos.

Toda a gente ri e Nádia por cima do ombro sorri, com ar fresco. Um cliente toca-lhe na mão. Solta um u, e afasta-se com uma passada de andorinha… as ancas contorçam-se-lhe graciosamente…

«Ah!», a exclamação sai de uma garganta quando ela se curva para uma mesa. Ela agora está a atender, atender um cliente que a cumprimenta de mão… que a gratifica bem. Tira da bandeja a garrafa de uísque, o copo, a Coca-Cola e o gelo para a mesa número seis no corredor da direita … quase se pode ver os seios em meia-lua que se agitam…

Na sala ninguém tira os olhos dela, agora. Nádia põe uma das mãos no bolso do avental, olhando lentamente até ter encarado todas as mesas, oferecendo o seu olhar a todos os clientes… olhares esfomeados saltam de rostos inflamados de todos os lados, ela está rodeada por lascívia, por onde quer que se volte, há um par de olhos que a penetram…

Percorre em espaços curtos com a mesma distância, até que se fixa no meio do balcão, rodando lentamente os pés para a frente…

Cada cliente que agora a observa… vê-a perante si, oferecendo sorrisos… Nádia entrega-se à limpeza do tampo do balcão… as mãos estendem-se quando se debruça… a língua parece enrolar qualquer coisa como um rebuçado cheio de doçura e cremoso… Deixa-se inclinar para trás, os seus braços esticam-se gradualmente, mas não tanto que não voltem à posição inicial… os clientes do balcão começam a chegar…

E então a ucraniana começa a sorrir! É sacudida por um enorme e esplendoroso sorriso, os lábios abrem-se como duas cortinas, abre ainda mais a boca, mostrando os dentes unidos até trás…

Toda a sala flutua em pestaninha. O sorriso de Nádia aquece como uma fornalha, reluzindo o espaço que a rodeia… Alguns destes clientes estão suficientemente desejosos para a paparicarem quanto baste…

«Bela russa!», atira-lhe um piropo o cliente de cor negra, que puxa um banco de madeira e chega-se para o balcão… olha, dominando-a com a sua cor e toque de fala e balança as mãos unidas… Nádia sorri e o rosto dele fica roxo… entesa os músculos das mãos…

O negro atira-se a ela às escâncaras como seu fosse um dom-joão… e ela mostra-lhe a aliança mesmo à frente dos olhos.

Quando ela vai à cozinha alguém ao lado adverte o negro de que ela é uma mulher casada…

«Quero lá saber!», reage o negro, e acrescenta: «Só sei uma coisa… sou incapaz de tratar mal alguém. E muito menos, uma beleza destas… Bolas, quem sabe, se daqui a cem anos eu não tenha hipóteses de conquistar a Nádia…» Soam as gargalhadas ao balcão…

«Aí vem ela!», Avisa o cliente da ponta…

Nádia recebe o dinheiro de um cliente e devolve-lhe o troco, pondo a gorjeta numa pequena lata em baixo duma prateleira. «É uma empregada muito simpática e, que merece a minha gratificação», responde-lhe o cliente ao sair.

Nádia está a limpar um balde de gelo com tripé, a dar cavaco a uma brasileira das rapidinhas. Está a tentar descobrir umas cismas… assim, espera satisfazer a sua curiosidade apressada…

«Pensei que a cor dos teus olhos era essa», diz. Depois acrescenta: «Não fazia ideia de que eram lentes de contacto…»

Evidentemente só elas ouvem isto… mas não fazem cerimónia. Subitamente, a brasileira saca uma lente da vista e põe-lhe na mão.

Nádia observa calmamente e entrega-lhe na posição exacta em que ela lhe deu.

«Olha», diz-lhe a brasileira. Abre a blusa e mostra-lhe os peitos.

Tem os peitos abonados; e sob a parte de baixo nota-se uma pequena cicatriz. Ela confessa que fez uma cirurgia para aumentar as mamas… é silicose, não há a menor dúvida… a seguir os seus dedos agarram a placa dos dentes e puxa-os para fora…»

Nádia nem quer a creditar no que vê e no que ouve. Ergue os olhos para Ratazana… Estava certo o que ele dizia… o seu raciocínio é mesmo certeiro…Coloca as mãos no balde de gelo e deixa-o no sítio onde o tirou.

Quando volta ao balcão começa a limpar os copos limpos... os clientes estão numa expectativa debaixo dos seus próprios pensamentos. Nádia aperta o copo entre os seus dedos, limpando com um guardanapo de papel contra as bordas…está a sorrir-se, encostando-se à prateleira do balcão, e aqueles olhos azuis fazem-lhes piscar os olhos deles.

«Vire-se agora para mim, minha querida!», exclama o negro. «Vou beber outra água natural e, saber se posso esperar por si, quando se divorciar?»

Ela levanta os olhos, e abana a cabeça… não quer responder.

Afasta-se dele e vai à sala atender um cliente que chegara durante uns momentos. Quando volta a abrir a boca é para dizer ao negro que não pensa em se divorciar.

Deita-lhe mais um pouco de água no copo enquanto ele serpenteia a língua pelos dentes e coloca o copo em cima do balcão. Não gostei dessa resposta, desabafa para ela, o negro.

É sempre a mesma lengalenga quando ela é gentil, diz-lhe a ele… mostra-lhes simpatia e atenção, e acabam invariavelmente aos convites. Uma tarde um tipo com charme, um tipo cheio de nota, de fino recorte, deu-lhe uma cantada… fala-lhe baixo para que os outros não ouçam aquilo… Depois veio ter com ela e levou com a pata… e ficou com a gorjeta gorda que normalmente costumava dar... e andou um tempo sem aparecer… o único cliente que até hoje ela aceitou o aperto de mão. Ah, mas as coisas com ela não se passam só assim.

Às vezes só lhe dão uma moeda… nunca mais de três, depois de ter recebido a conta. De vez em quando não deixa de levar a conta a duas ou a três mesas, mas nunca ao mesmo tempo. Se quisesse levava-os a todos, mas isso só lhe traria dissabores.

Sessenta pessoas, aproximadamente, uns a seguir aos outros, logo após a abertura do evento de bar aberto a ter absorvido o seu trabalho de serviço às mesas!

E eram tão meigos que ela estava de pé atrás… teve de se pôr esperta com meia dúzia deles.

Já trabalha no ramo há quanto tempo? Há um mês… diz que foi o que pôde arranjar quando a família se mandou para Portugal e cada um deles se desenrascou conforme pôde. Eles estão espalhados pela Europa.

Lembra-se de sentir dificuldade… um dos patrões queria comê-la e o marido achou-a mais ambiciosa, mais resmungona, mais tarde… o marido deitou a chamada abaixo… Gozara, dizendo que ele não estava a portar-se bem… tinha-lhe feito ver que era preciso gastar menos e poupar mais…

Ao fazer-lhe isto, visitá-la e importuná-la, estava a pô-la em sobressaltos… ele encostara-se ao balcão e não disse uma palavra. Ela perguntou-lhe o que estava ali a fazer… se ele não tivesse vindo ao bar, teria sido muito melhor. Não lhe agradou vê-lo ali diante dos outros. Custou-lhe muito mais isso, que lhe provocara mais nervosismo que aturar qualquer outro cliente do bar…

As explicações são tratadas na rua, numa conversa de amigos… e ela parece ficar realmente conformada.

O negro parece ter aprendido que acabou de ter uma lição de ucraniano. Está convencido e pronto para ter um encontro com Nádia. Quando ele se alarga mais com ela, a ucraniana arrebita os olhos para a frente, focando-os e agitando os dedos como uma barata agita os membros.

A cor do negro é enorme, uma vez focada e iluminada… Gostaria de ter uma loção para poder mudar a cor daquele tipo escuro, medita Nádia. Parece o Soba de Luanda... Pode até imaginar os piropos de todas as raparigas que algumas vezes foram obrigadas a levar com ele, armazenados lá dentro em catapulta.

O negro é atiradiço… assim que Nádia sai do pé dele, atira-se a meter com as raparigas da rapidinha em busca de uma dádiva… bebe o último gole de água e aquece as mãos…tenho de me despedir de você, diz ele… não me posso ir embora sem levar da sua boca uma esperança… Quer que ela não se esqueça que ele é o primeiro candidato… acima de todos… o melhor candidato.

Olha para a conta em cima do balcão… diz que não dá gorjeta… porque ela merece muito mais. O que ele está a tentar dizer é que não é cliente de gorjeta… o máximo, diz-lhe, é levá-la a jantar num restaurante de luxo, comer faisão e beber Dom Pérignon…

Bolas, não sou obrigado a dar gorjetas a ninguém… diz o negro, além de que não conseguirei com isso dar a volta à ucraniana. A água soube-me bem, mas não tenho que pagar mais por isso. Suspira-lhe.

Por fim começa a guardar o troco no bolso. Diz-lhe adeus e ela também. Segue para a saída. Nádia lança-lhe um olhar furtivo, até que a porta se feche.

Tem uma língua diabólica, aquele negro doido, pensa ela… e uma grandessíssima lata. Atende o outro cliente e raspa-se dali para a sala.

Ratazana não se encontra no bar. A esta hora deve estar a registar o euro milhões, segundo me disse.

No quarto do banho a trintona brasileira cirúrgica encharca as mamas com desodorizante chinês. Põe-te cheirosa, diz ela pró espelho. Tenho de fazer mais dois cabritos…


FIM

2 comments:

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