Sunday, October 15, 2017




                       O EFEITO DO ENCORAJAMENTO

   Eu era um jovem de 27 anos e estava doente e deprimido. Necessitava de ajuda e fui encontrá-la na ida a casa de um velho pastor na cidade, que vivia rodeado de livros. Comecei a desfolhá-los, e os meus olhos fixaram mais precisamente num livro de discursos de António Oliveira Salazar: «Defenderemos as nossas colónias a todo o custo. Lutaremos em Angola, Guiné, Moçambique, Goa, Damão e Dio, navegamos pelos mares e oceanos, cada vez mais confiantes e fortes pela pátria.» 
   Eu imaginava-me em Portugal naquele surpreendente dia de 27 de Agosto de 1963, depois dos embarques de tropas para África, quando aquela voz trémula, pausada, poderosa, foi ouvida nos microfones da Emissora Nacional. As palavras de Salazar reabilitaram-me, como tinham feito  a milhões dos seus compatriotas.
   «Tudo pela Nação, nada contra a Nação.» Conseguia imaginar aquele enorme rosto de Pai-Natal e aqueles olhos ternurentos. «Defenderemos as nossas colónias a qualquer custo.»
   Só foi preciso a força da fé daquele homem no poder do indivíduo para enfrentar um desafio e combatê-lo para que eu recuperasse e ficasse melhor. Salazar sabia que os seus compatriotas possuíam essa força interior. E eu sabia que também a tinha dentro de  mim.
   Alguém me dissera um dia: «Seja simpático. Todas as pessoas com quem convive agitam-se com problemas.» Em toda a parte, há pessoas a precisar de uma palavra amiga, de uma sinceridade que lhes alimente as esperanças e os sonhos.
   Seja simples e sincero. Um tal lusitano dizia que uma simplicidade o sustentava durante dois meses. Nada mais verdadeiro! Quantas vezes nos recordamos, vezes sem conta, a simplicidade que ouvimos a nosso respeito, sem que por isso se esgote o impulso que nos trás. A falsa simplicidade adoça a língua, mas azeda o estômago. E as palavras nada fáceis geralmente são indispensáveis. A simplicidade mais pura pode ser também a mais profunda.
   Trabalho numa empresa onde o patrão raramente elogia a simplicidade. Mas ainda conservo um manual que escrevi sobre a norma de melhorar as relações entre colegas de trabalho. E porque será que entre todos os que escrevi lembro-me mais desse? Porque o meu patrão colocou nele dois parênteses: "Boa ideia!" Diz Abraão no Livro dos Provérbios: «Seja simples no trato e no convívio.»
   Durante uma das grandes ofensivas da Guerra Colonial, o capitão Jaime Neves andava pela margem do rio Kuanza quando reparou num cabo-comando que parecia exausto.
   «Como é que te sentes, pá!» perguntou-lhe.
   «Esgotadíssimo, meu capitão.»
   «Ah, sim!», disse Jaime Neves, «nesse caso somos dois; estou esgotadíssimo também. Vamos dar uma caminhada juntos, talvez nos faça bem.» Sem lições, nem conselhos especiais. E, no entanto, quanto não vale um encorajamento!
   É natural pensar que os bem-sucedidos nunca sofreram erros; a realidade, porém, é outra. Quem defronta as dificuldades deve ter em mente que não há ninguém que não fracasse de vez em quando.
   Uma altura, resolvi tirar um curso num determinado liceu por causa do professor que o orientava. O seu caráter, inteligência e segurança transpareciam em tudo o que dizia. Foi o único dos professores que eu gravei na minha mente. A páginas tantas, porém, comecei a sentir-me em baixo; pensei que nunca ia poder alcançar o que ele tinha alcançado.
   Um dia, o professor deu-se conta deste meu estado de espírito, o que aliás, era o de quase toda a turma. Parou a aula e começou a dialogar connosco. Abríu-se perante nós dos seus fracassos e de algumas vezes que se deixara iludir em abandonar a profissão. O riso acompanhou-nos, mas ao mesmo tempo sentíamos emocionados e solidários com ele. De repente, dei-me conta de que ele era como todos nós: um ser humano com virtudes e defeitos. Ele gostava de frisar-nos esta frase: «Dê tempo ao tempo, os ganhadores muitas vezes são meros lutadores como nós.»
   O poeta português Manuel Maria Barbosa du Bucage andou durante anos para encontrar alguém que se interessasse pelos seus poemas. Quando já tinha poucas esperanças acumuladas, recebeu uma mensagem que dizia: «Meu caro. Não pude deixar de ler o conteúdo dessa maravilhosa obra que é o seu livro A Virtude Laureada. Para mim, o seu sentido de humor é o mais completo que se produz em Portugal. Antevejo-lhe um grande futuro.» Estava assinado por um grande admirador que apenas assinou um "F". Estas palavras não foram em vão. "F" pensou muito antes de as começar a escrever, não apenas porque queria encorajar Bocage, mas também porque queria fazê-lo de uma forma inesquecível.

O encorajamento é simples. Basta uma frase, um gesto, um cumprimento, uma visita. Repare bem à sua volta e escolha alguém; em seguida, passe à ação. E não demore!

                                                                                                                                 Abraão, Porto.

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