A
MULHER DO MANCO
_______
…
Enquanto isso, o telefone pôs-se a tocar. Atendi. Era uma amiga.
«És tu? Sou eu, América.» - Retribui a
gentileza. «Estou em casa de uma amiga, zanguei-me com o meu homem, não está
por aí alguém que nos queira distrair um bocado?» - Respondi:
«Dá-me só uns minutos, que ligo já.»
Desliguei
o telefone para atender os clientes que chegaram naquele instante. Faziam parte
do clã de Pipa, chamavam-se Tin-Tin e Carocha. O primeiro exclamou:
«Boas tardes, meus Senhores, já vi que estão
em boa companhia.» -
Os
restantes cumprimentaram-se. Pipa dirigiu um olhar carrancudo a Carocha, ao
mesmo tempo que lhe dava uma palmada nas costas.
«És bom rapaz, ali feito morcão, á tua
espera; pregaste-me o manguito mas deixa estar que para a próxima tu levas.» - O
outro ajeitou os óculos. «Esse filme vai no Batalha.»
A
jovem vestida à moda fric entrou na sala, levando atrás de si alguns olhares
provocadores. Múmia foi o primeiro a dar o mote:
«Mas que pinta tem a miúda» - Pipa intrometeu-se.
«Tem, sim senhor, mas tire daí o cavalinho
da chuva, porque dali não leva nada.» -
Múmia
quis saber o seu nome. Respondi:
«Chama-se Profe.» - Torceu o nariz. Enchi
alguns copos de bebidas e aproveitei a falar a Pipa e Carocha se estavam
interessados em aceitar o convite.
«Então, como é, vão buscar as minhas
amigas ou não? –
Não
se fizeram rogados. Escrevi a direcção no papel e sumiram-se pela sala fora.
…
O que se passou com Pipa e Carocha, quando foram buscar as minhas amigas, foi
desconcertante.
«Nunca supus que nos enganasses», diz Pipa
com olhar espantado, meteste-nos numa alhada que estava a ver que o manco, ia
dar com a muleta ali nos costados do Carocha.» -
Olhei
admirado para eles.
«Que história é essa do manco?» - Carocha
interpôs-se:
«Tu quiseste foi despachar-nos para levar a
Profe a ver as estrelas e nós é que nos lixámos.» -
Estava
confuso.
«Francamente, cada vez percebo menos do que
vocês estão para aí a dizer.» -
Carocha
deitou mão à garrafa de cerveja e mandou uma golada abaixo.
«Nós fomos à direcção que nos destes, saí do
carro e fui bater à porta do apartamento. Em vez de aparecer a tal menina
América, saiu de lá um manco a refilar.
«Aqui não mora nenhuma América, ponha-se
daqui a calcantes, antes que me enerve» -
«Insisti
com ele, mas o estupor do manco encrespou-se para mim e gritou para alguém
dentro de casa. “Chega-me aí a minha muleta que este gajo está a incomodar-me.”
«Não me quis chatear com o desgraçado e
virei as costas, vindo para o carro.»
Padeiro
deu uma gargalhada.
«Está mas é calado, piraste-te antes que o
manco te desse uma cacetada por esse lombo abaixo…» -
Extraído do livro: Escritos Traidores.
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