A entrada no
alterne de Elisa Mota começara quando tinha a menoridade e fazia gazeta ao
trabalho para ir beber um drinque a um pequeno bar de Nevogilde, com uma saia
justa. Um freguês aproximou-se dela e perguntou-lhe se alguma vez tinha pensado
em entrar para o alterne. Por intermédio de um amigo do freguês, Elisa (cujo
alcunha era Bomba-Loira) conseguiu estagiar aos fins-de-semana num cabaré do
centro. A «rapariga da saia justa» ganhou fama durante o estágio e tornou-se a
mulher preferida dos clientes boémios. O seu primeiro casamento à moda de
Campanhã, (juntamento) com o chefe de mesa durou três meses, provocando-lhe um
vazio no coração. O segundo juntamento, um afamado boémio chamado Tony Chucha,
convidou-a para uma ida ao casino em palpite de uma sorte, juntando-se a ela
dois dias depois; era mais velho quinze anos. O seu terceiro juntamento foi com
um comercial, Morgado; o quarto com o chamado Grego do Grupo de Traidores,
Lacerda. Teve também um numeroso grupo de flirtes sobejamente conhecidos, com o
Cavaleiro da Triste Figura, Dom Paco e o grupo dos Cartolas. Em meados dos anos
90, a sua imagem de «rapariga da saia justa» foi esquecida com a idade e a sua
carreira estava a apagar-se.
Depois de ela
acabar a relação com o Grego, Serrão, antigo pretendente à vista, apareceu-lhe
repentinamente, convidando-a para tomar um copo, apesar de ter o carro
avariado. Serrão era um tipo frangalhote, com uma cor esbranquiçada, que tinha
por alcunha «Pintor», manifestamente porque uma parte do seu vocabulário tinha
por hábito pintar todas as telas. Como a maioria das loiras, Bomba-Loira
gostava de homens dominadores e grosseiros. Num dia, Serrão dissera-lhe: «Quando
eu digo cala-te, tens de calar; quando digo vem, tens de vir». Bomba-Loira não
se opunha a receber as ordens, mas, quando estava com os gazes à solta, o seu
temperamento era conflituoso. É verdade que havia uma obsessão mútua. Quando
ela veio à residencial fazer amor com o Grego, Serrão esperava-os no átrio e,
depois de uma discussão tão barulhenta, ameaçaram-se um ao outro de pistola em
punho, os amigos viram-se forçados a separá-los. De regresso ao trabalho, foi
com Serrão passar um fim-de-semana para a Foz e a cama fê-los esquecer os conflitos.
No Dia do
Trabalhador de 1995, Serrão e Bomba Loira foram para o apartamento desta, na
Senhora da Hora, discutindo violentamente. O barulho era tão intenso que Bomba
Loira receou que ele fosse deitar a casa abaixo. Mas quando começou a gritar,
pedindo-lhe que se fosse embora, um vizinho bateu à porta para ver o que se
estava a passar; o pintor abriu a porta e pisgou-se numa brasa. Nesse momento,
a Bomba Loira correu para o vizinho a gemer, de olho pisado «à Neca». Pouco depois, o olho de Bomba
Loira deixou de inchar. O caso apareceu na primeira página de O Jornal Dos Traidores e juntou achas à fogueira,
quando o antigo homem de Bomba Loira, o Grego, declarou aos amigos que se o
pintor lhe batesse outra vez, lhe pregaria um tiro na cabeça. As fofoquices de
desgraça apressaram-se a divulgá-las em maior escala. Revelavam concretamente
que ela estava desesperadamente apaixonada por Serrão. A sós, Bomba Loira e
Serrão tiveram toda a noite na marmelada e, juraram um pacto de não-agressão.
Nessa altura, os bares não tinham dúvidas de que, para espanto de todos, a
desgraça teve um efeito favorável; a clientela de Bomba Loira, que estava em
baixa, renasceu em grande. Durante a passarela para a eleição de Miss Lord — o concurso que englobava as
mulheres de bares — clientes da sala gritavam: «Estamos na bicha, Bomba Loira».
E a sua clientela aumentou uma vez mais, como sucedera no início dos anos 80. A
desgraça revelou-se o melhor meio de promoção.
Quando Novais
ou «Baixinho», veio para O Mundo da Noite, no início dos anos 80, consta-se que
riscou no papel de um guardanapo uma lista de nomes de prostitutas com quem
queria ir para a cama, e depois, riscava-os um a um depois de conseguir os seus
intentos. Contava-se a piada que, para os empregados de mesas de O Mundo da
Noite a definição de «mulher esquisita» era aquela que não tinha caído nas
graças de Baixinho. Mas os fala-baratos do bar aproveitavam-se em catapulta
para se baterem a todas as doçuras que adoravam Baixinho pela calorenta balela
da sua voz e pelo seu sorriso atrevidote.
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