Tuesday, December 8, 2015





A entrada no alterne de Elisa Mota começara quando tinha a menoridade e fazia gazeta ao trabalho para ir beber um drinque a um pequeno bar de Nevogilde, com uma saia justa. Um freguês aproximou-se dela e perguntou-lhe se alguma vez tinha pensado em entrar para o alterne. Por intermédio de um amigo do freguês, Elisa (cujo alcunha era Bomba-Loira) conseguiu estagiar aos fins-de-semana num cabaré do centro. A «rapariga da saia justa» ganhou fama durante o estágio e tornou-se a mulher preferida dos clientes boémios. O seu primeiro casamento à moda de Campanhã, (juntamento) com o chefe de mesa durou três meses, provocando-lhe um vazio no coração. O segundo juntamento, um afamado boémio chamado Tony Chucha, convidou-a para uma ida ao casino em palpite de uma sorte, juntando-se a ela dois dias depois; era mais velho quinze anos. O seu terceiro juntamento foi com um comercial, Morgado; o quarto com o chamado Grego do Grupo de Traidores, Lacerda. Teve também um numeroso grupo de flirtes sobejamente conhecidos, com o Cavaleiro da Triste Figura, Dom Paco e o grupo dos Cartolas. Em meados dos anos 90, a sua imagem de «rapariga da saia justa» foi esquecida com a idade e a sua carreira estava a apagar-se.
                                                                                       
Depois de ela acabar a relação com o Grego, Serrão, antigo pretendente à vista, apareceu-lhe repentinamente, convidando-a para tomar um copo, apesar de ter o carro avariado. Serrão era um tipo frangalhote, com uma cor esbranquiçada, que tinha por alcunha «Pintor», manifestamente porque uma parte do seu vocabulário tinha por hábito pintar todas as telas. Como a maioria das loiras, Bomba-Loira gostava de homens dominadores e grosseiros. Num dia, Serrão dissera-lhe: «Quando eu digo cala-te, tens de calar; quando digo vem, tens de vir». Bomba-Loira não se opunha a receber as ordens, mas, quando estava com os gazes à solta, o seu temperamento era conflituoso. É verdade que havia uma obsessão mútua. Quando ela veio à residencial fazer amor com o Grego, Serrão esperava-os no átrio e, depois de uma discussão tão barulhenta, ameaçaram-se um ao outro de pistola em punho, os amigos viram-se forçados a separá-los. De regresso ao trabalho, foi com Serrão passar um fim-de-semana para a Foz e a cama fê-los esquecer os conflitos.

No Dia do Trabalhador de 1995, Serrão e Bomba Loira foram para o apartamento desta, na Senhora da Hora, discutindo violentamente. O barulho era tão intenso que Bomba Loira receou que ele fosse deitar a casa abaixo. Mas quando começou a gritar, pedindo-lhe que se fosse embora, um vizinho bateu à porta para ver o que se estava a passar; o pintor abriu a porta e pisgou-se numa brasa. Nesse momento, a Bomba Loira correu para o vizinho a gemer, de olho pisado «à Neca». Pouco depois, o olho de Bomba Loira deixou de inchar. O caso apareceu na primeira página de O Jornal Dos Traidores e juntou achas à fogueira, quando o antigo homem de Bomba Loira, o Grego, declarou aos amigos que se o pintor lhe batesse outra vez, lhe pregaria um tiro na cabeça. As fofoquices de desgraça apressaram-se a divulgá-las em maior escala. Revelavam concretamente que ela estava desesperadamente apaixonada por Serrão. A sós, Bomba Loira e Serrão tiveram toda a noite na marmelada e, juraram um pacto de não-agressão. Nessa altura, os bares não tinham dúvidas de que, para espanto de todos, a desgraça teve um efeito favorável; a clientela de Bomba Loira, que estava em baixa, renasceu em grande. Durante a passarela para a eleição de Miss Lord — o concurso que englobava as mulheres de bares — clientes da sala gritavam: «Estamos na bicha, Bomba Loira». E a sua clientela aumentou uma vez mais, como sucedera no início dos anos 80. A desgraça revelou-se o melhor meio de promoção.



Quando Novais ou «Baixinho», veio para O Mundo da Noite, no início dos anos 80, consta-se que riscou no papel de um guardanapo uma lista de nomes de prostitutas com quem queria ir para a cama, e depois, riscava-os um a um depois de conseguir os seus intentos. Contava-se a piada que, para os empregados de mesas de O Mundo da Noite a definição de «mulher esquisita» era aquela que não tinha caído nas graças de Baixinho. Mas os fala-baratos do bar aproveitavam-se em catapulta para se baterem a todas as doçuras que adoravam Baixinho pela calorenta balela da sua voz e pelo seu sorriso atrevidote.


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