Saturday, April 4, 2015

                     




O Cliente e o Travesti
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O cliente recordou o momento em que ele, militarista, tinha sido incorporado para o Ultramar, quando resolveu entrar num njght-club de Lisboa e foi apanhado pela atuação da stripper e olhara, em profundas miradas, que era uma artista cheia de curvas, atraente e boa dançarina e, muito dada a exibicionismo. Nessa noite levara-a para um motel silencioso e um calor derretera-o com as labaredas a subirem-lhe pelo corpo, de modo que, quando a manhã se abriu, tinha dado o frosque em delírio. «Dois pratos! Consolaste-te, meu rapaz!» Na terra tinha confessado aos amigos que nunca apanhara quem lhe fizesse um bico como aquele! Nunca lhe passara pela ideia ter gozado tanto como nessa noite. Quando voltou a visitar o night-club, duas noites depois, verificou que a stripper já não fazia parte do programa. E perguntara ao empregado de mesa que lhe comentara: ─ Quem? O rabeta? ─ Ele principiara a rir-se e não conseguia parar. Essa era outra das muitas histórias que tinha para contar daquela situação e nunca deixava de o fazer. Porque gostava de contar.

                                                                                                                 Citado por: Pataco em, Escritos Traidores.




                                          



A RUSSA DE ESPINHO era endiabrada. Sentada à mesa de clientes seus conhecidos, só se conformava quando estava a beber. Em determinada altura, virou-se para o cliente: ─ Ó Manecas, só sabeis discutir de futebol, parem lá com isso, e põe-me a beber, senão, piro-me já da mesa. ─ Os amigos riam-se, mas ele não gostou da piada. ─ Vê lá, mas é se te calas, não penses que me esquecei da partida que me pregaste ontem à noite, não senhor. ─ Ela refilou: ─ Não comeces a chatear-me o juízo, ontem à noite fui para a cama e adormeci, não tenho culpa quando acordei já teres saído do quarto. Um deles opinou:
─ Ó Manecas, então não acordaste a pequena? ─ Ele exaltou-se e deu um murro na mesa. ─ Sabeis que este estupor, ontem à noite, deitou-se na cama com a roupa vestida, nem os vitorinos descalçou; passados uns minutos ressonava que nem uma porca, ainda fui ao bidé, enxuguei a toalha em água fria, bati na fuça dela várias vezes mas, mesmo assim, não acordou… 

                                                                                                                               Abraão, em Escritos Traidores.









                                         

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