Tuesday, September 9, 2014



Conto Instantâneo                   


«Aprendi que cair no vício não é o cabo dos trabalhos»

MARIA ODETE criou uma das «pegas-espertas» mais badaladas da noite portuense. Mas a alternadeira de 37 anos, que passa por turista nos locais chiques da moda, tirou o curso nos bares dos hotéis e é conhecida por ser uma mulher inteligente, sagaz e intuitiva. Apesar de ter trabalhado nos bares e nos cabarés de segunda, Odete não considerava o mundo da noite como uma carreira. «Achava que todas as alternadeiras eram estúpidas cujo modo de vida não resultava», diz. «Tinha medo de que, se me tornasse viciada, as pessoas não me quisessem.» O que lhe metia medo também era apanhar algum vício.

Mas o desejo de mudar de vida era grande e, por volta de 1971, juntou-se a um grupo de viajantes e viajou em alguns cruzeiros de férias. Mesmo assim continuou a evitar correr riscos. Raramente ia em grupos. E a sua vida social era bem mais preenchida tal como a sua carteira. «Era o medo de estar no caminho viciado que me continha», diz. «Até que finalmente aprendi que podemos apanhar vícios e que não é o cabo dos trabalhos.»

Fez um bom pé-de-meia em 1975, e daí passou a lojista de uma sapataria, em 1977. Casou-se em 1976, e teve um filho em 1979, apresentando uma forma física invejável. «As pessoas perguntam se não estou nada preocupada com o fato de só vender sapatos», diz ela. «E daí? Incomoda-me que pensem que sou uma estúpida? Incomodei-me mais com isso quando era mais novata. Agora, passa-me ao lado.»                                                                             
                                                                                ─ ABRAÃO, em ahistoriadeumboemio.blogspot.com                          




 Dinheiro fácil                                                   
                    
   
DEPOIS DA ABERTURA AO PÚBLICO do bar Tempo de Mimos, o proxeneta Tono da Rola ganhou dinheiro fácil. «Num dia eu andava por aí engatando mulheres», recorda ele, «e noutro dia eram as mulheres que engatavam a mim.» Mas o ser engatado constantemente não o arrefece; é realista no que respeita ao poder do dinheiro e delicia-se com o proveito que ele tem representado para si. «Fiquei revoltado quando me puseram na choça por fomentar a prostituição. Estava agarrado às grades e pensei: ´Vou comprá-lo.` Chamei o guarda e disse-lhe: ´Veja isto ─ não é uma nota de cem euros tão sedutora?` É o tipo de coisa com que falamos quando somos confrontados.» Contudo, agravou ainda mais a situação ao ser-lhe anexado mais uma folha ao seu grosso processo. «Quando nos tornamos conhecidos, o nosso espaço torna-se muito perigoso. Passamos a estar um bocado mais sós porque nos limitamos às pessoas que conhecemos melhor. A família é a única coisa que tenho que é minha.»

                                                                                   
 ─ ABRAÃO, em bardotraidor.blogspot.com 

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