Conto Instantâneo
«Aprendi que cair no vício não é o cabo dos trabalhos»
MARIA ODETE criou uma das «pegas-espertas» mais badaladas
da noite portuense. Mas a alternadeira de 37 anos, que passa por turista nos
locais chiques da moda, tirou o curso nos bares dos hotéis e é conhecida por
ser uma mulher inteligente, sagaz e intuitiva. Apesar de ter trabalhado nos
bares e nos cabarés de segunda, Odete não considerava o mundo da noite como uma
carreira. «Achava que todas as alternadeiras eram estúpidas cujo modo de vida
não resultava», diz. «Tinha medo de que, se me tornasse viciada, as pessoas não
me quisessem.» O que lhe metia medo também era apanhar algum vício.
Mas o desejo de mudar de vida era
grande e, por volta de 1971, juntou-se a um grupo de viajantes e viajou em alguns
cruzeiros de férias. Mesmo assim continuou a evitar correr riscos. Raramente ia
em grupos. E a sua vida social era bem mais preenchida tal como a sua carteira.
«Era o medo de estar no caminho viciado que me continha», diz. «Até que
finalmente aprendi que podemos apanhar vícios e que não é o cabo dos trabalhos.»
Fez um bom pé-de-meia em 1975, e
daí passou a lojista de uma sapataria, em 1977. Casou-se em 1976, e teve um
filho em 1979, apresentando uma forma física invejável. «As pessoas perguntam
se não estou nada preocupada com o fato de só vender sapatos», diz ela. «E daí?
Incomoda-me que pensem que sou uma estúpida? Incomodei-me mais com isso quando
era mais novata. Agora, passa-me ao lado.»
─ ABRAÃO, em ahistoriadeumboemio.blogspot.com
Dinheiro fácil
DEPOIS DA ABERTURA AO PÚBLICO do bar Tempo de Mimos, o proxeneta Tono da Rola
ganhou dinheiro fácil. «Num dia eu andava por aí engatando mulheres», recorda
ele, «e noutro dia eram as mulheres que engatavam a mim.» Mas o ser engatado
constantemente não o arrefece; é realista no que respeita ao poder do dinheiro
e delicia-se com o proveito que ele tem representado para si. «Fiquei revoltado
quando me puseram na choça por fomentar a prostituição. Estava agarrado às
grades e pensei: ´Vou comprá-lo.` Chamei o guarda e disse-lhe: ´Veja isto ─ não
é uma nota de cem euros tão sedutora?` É o tipo de coisa com que falamos quando
somos confrontados.» Contudo, agravou ainda mais a situação ao ser-lhe anexado
mais uma folha ao seu grosso processo. «Quando nos tornamos conhecidos, o nosso
espaço torna-se muito perigoso. Passamos a estar um bocado mais sós porque nos
limitamos às pessoas que conhecemos melhor. A família é a única coisa que tenho
que é minha.»
─ ABRAÃO,
em bardotraidor.blogspot.com
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