Thursday, August 12, 2010




CONTOS DE RATAZANA
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OS HOBBIES DE RIBEIRINHO…


Ribeirinho pensa que eu devo usar a minha influência sobre uma gaja boa, alguém com quem pudesse fazer uma parceria no bar. Há um sistema a mudar, garante-me, sistema para todos os que estiverem por dentro e, tanto ele como eu podíamos ganhar uns trocos somente por angariarmos uns quantos clientes.

Ribeirinha já anda a explorar tanta gente há tantos anos que já nem realmente se dá conta de que o faz… acha-se um especialista a apanhar incautos caídos de pára-quedas. Ribeirinho cansa-se muito para viver sem cansaço…

É um pacifista, Ribeirinho é pacifista e acredita nas soluções. De que outro modo é que alguém como ele conseguiria ganhar a vida? pergunta ele. É o que resta dos anos que passou nas explorações do bar. Entregaram-lhe, mas tiraram-lhe a privacidade dos hobbies… deixaram-no sem tratar dos cães, dos carros, do jardim, e a TV/Internet, o JN/ Grande Porto… tudo motivado concretamente pela falta de gente habilidosa que vegeta na boémia da Invicta, onde frequentam os locais mais rascas da cidade…

De qualquer maneira Ribeirinho pensa que eu tenho a vantagem da influência − ou da proximidade, pelo menos, sobre as gajas boas…

«Mas que diabo andas tu por aí a fazer quando visitas as capelinhas?», pergunto eu. «Não tens mesmo uma ideia? Olha que vagabundam por aí gajas que valem ouro… há uma resma delas… uma resma de aproveitares a ganhar dinheiro. Olha, tu até podias dar umas percentagens dos clientes que elas levam… elas não se iam importar por ganhar um pouco mais… c´os diabos, se calhar nem se importavam mesmo…

Somos interrompidos por Paula, que diz que tem uma história gira para me contar. Tem uma colaboradora na sua casa de arranjinhos, cujo nome não quis divulgar, que lhe pregou uma partida que a deixou arrasada…

«Ela era apenas uma colaboradora… vocês sabem, uma colaboradora muito íntima e eu apresentei-lhe os meus fregueses e ensinei-lhe todos aqueles truques de foda rápida que uma mulher de meia-idade certamente devia saber. Depois ela foi-me à carteira… e eu mandei-a de frosque. É para ver os sentimentos que estas putas têm por quem lhes deita a mão. Mas passadas duas semanas ela regressou. O meu freguês tinha a mulher em férias e queria uma completa… bem, o que se passou é que ela viu-me fora de portas… vai daí, levou uma mão cheia de fregueses para a cama e voltou a roubar-me…

«Roubou-a? Ordinária!». E o meu amigo olha muito admirado… Até que lhe resolve perguntar. «Como é que ela lhe roubou? Foi outra vez à carteira? Apanhou-a em flagrante?»

«Sim… tinha uma máquina de vídeo camuflada num candeeiro. À noite, liguei o televisor e passei a cassete atrás… e lá estava a puta c´os fregueses na minha cama a malhar… E quanto a mim, ponto final com a puta! Que é que vocês acham disto?»

Como nem Ribeirinho nem eu achamos muita graça à história, Paula encaminha a conversa para a mesa de uns clientes. Agora que eu ia pedir-lhe para mudar de conversa, diz ele… é que ela se foi, mas eu hei-de ter uma conversa de a levar para o bar. Entretanto ele gostaria de conhecer uma trintona atraente, alguém com quem pudesse praticar uma parceria. Mas uma que quisesse ganhar dinheiro, apresse-se ele a acrescentar. Uma que ganhasse a sua vida, seria óptimo, e então uma puta seria melhor, diz ele… Digo-lhe que já conheço poucas trintonas atraentes, mas talvez Tina faça uma vaquinha ou tenha uma ou duas que queiram… Vou informar-me. Ribeirinho fica muito agradecido… ofereço-lhe um café e uma bebida. Qualquer gaja serve, insiste em que qualquer uma servirá, absolutamente, desde que não tenha piolhos e tenha os dentes todos da frente…

Mais tarde, depois de ter falado com Tina e Ribeirinho tê-la levado para o bar, acabo o meu serviço e redigo uma página para os cibernautas da internet, (1) até ir ao encontro de Ribeirinho. Sente-se extraordinariamente bem-disposto, e só fala de Tina.

Que mulher! Oh, que mulher e cheia de olho! Não quero saber, se tem uma casa de meninas, só quero que chegue ao bar às nove da noite! É claro que teve de entrar no sistema para trabalhar com Tina… assim, disse-lhe que tinha de fazer o jogo dela… se ela lhe fizer alguma observação, o melhor é dizer-lhe que estão juntos nessa jogatana de cabritos. Além disso encontra-se tão animado a falar de Tina que quase não ouve nada do que eu estou a dizer.

«Ela sabe como se deve sacar», diz-me ele. «Ó, pá, ela sabe tudo a respeito de sacar. Ratazana, tu ainda não tinhas entrado há meia hora, e já nós estávamos nas manobras! Podes crer! Bolas, sabes como esta coisas se fazem… agora fala-se pouco e bebe-se menos, e no minuto a seguir mete-se-lhe a conta ao freguês e está no ir pró quarto…

Detemo-nos enquanto Tina bate o pé no chão para acordar um freguês que está a ressonar numa mesa dos fundos, perturbando a música que sai das colunas, e lhe dá cinco minutos para se pôr fino. Empurra uma mulher que aparece nas escadas, chorona, um seio de fora do vestido, falando ao telemóvel histericamente.

«É melhor sair, disse ela», continua Ribeirinho, «portanto, lá fui para o meu escritório… mesmo assim, pus-me à cuca! Não é o raio de uma manobra, que me atrapalha… queria estar ali a ver como é que ela actuava, naquele sistema com a mulher da idade da tia e também ir com a quarentona para a mesa do freguês! Primeiro a mulher da idade da tia, depois com a quarentona… oh, my God! E deixa-me contar-te uma coisa… lembras-te do que te contei acerca da mulher da idade da tia? Que ela me fez ir buscá-la a casa a cerca de quinze quilómetros do Porto e queria que a levasse de volta? Bom, a quarentona, idem, aspas… Sim senhor, a primeira vez que veio para o trabalho, não teve pejo nenhuma em me solicitar para a levar a casa! Pela tua saúde, Ratazana, já não sei se quero continuar com este sistema ou não… quando existem gimbras como estas nos cabritos. O maior problema, agora, é a mudança… não sei se deva voltar aos alternes, ou ir por aí…

Ribeirinho teima em relatar o assunto durante alguns minutos, mas volta a falar de Tina e das gajas monstruosas que ela acompanha. Ela contou-lhe histórias nas folgas, diz-me ele, e quer que eu adivinhe quantas fodas ela deu.

«Um milhão!», exclamou velozmente. «Oh, talvez hoje essa marca já tenha ultrapassado, mas deixa ver… deixa ver até ela atingir a idade do caruncho e então vais ver. Principalmente se ela se mantiver nessa vida, todos os dias e noites a malhar. Há quem foda uma mulher destas sessenta vezes por mês, quando se é cliente há dez, quinze anos… Ora uma mulher destas chega a ter mais de uma centena de cabritos-mês… Histórias de fodas dadas… e também de fodas levadas… sabias que ela vem-se por simpatia? Pois vem-se… bom, pelo menos disse que era constante acordar molhada… Mas porque diabo é que não vim para os alternes quando tomei conta do bar? O que é que se passou comigo numa altura dessas? Mas talvez fosse bom não ter vindo... Não o teria experimentado… tal como tu ainda não te cansaste. Que idade tens, cerca de cinquenta? Ó, pá, aceita o meu conselho, vai para a reforma e arranja duas centenas de milhar de euros, depois vem para o rio Douro e vive para o resto da tua vida… Mas não te estabeleças… não te estabeleças, faças lá o que fizeres, porque tens sempre oportunidade de conhecer uma gaja manobradora como esta Tina para te contar histórias e te fazer umas cócegas, se tiveres duas centenas de milhar de euros…»

É um bom conselho, mas Ribeirinho não pensa em me dizer onde é que eu vou arranjar as centenas de euros. A sua cabeça preocupa-se com assuntos mais importantes.

«Nunca hei-de esquecer o aspecto dela quando se amarfanhou e ficou ali no sofá, exibindo o latim e desafiando o freguês pró chegadinho. Ela também não era tão acanhada a falar… só que contava muita história. Que raio de paleio para se falar acerca de engate! Preferia que não gastasse tanto latim… pelo menos evitava que eu perdesse tanto tempo.»

«Penso», disse Ribeirinho, mais tarde, quando estávamos no bar, «que devia esperar que ela fosse assim. Afinal, se as amigas eram tão rascas, ela também não devia fugir à regra... está-lhe na veia. Mas escuta, Ratazana, a partir de agora vou deixar de pensar em Tina e nas suas acompanhantes… portanto, sempre que eu venha cá e me apresentes alguém interessado no negócio, já sabes que estou sempre disponível. Vou fechar uns dias para obras e quero que me auxilies. Não estou mais interessado em meter-me em aventuras.»

«Olha Ribeirinho, não vejo muitas hipóteses sobre o assunto…»

«É o que te parece. Vai correr tudo bem, quem to diz sou eu. Tudo o que tenho a fazer é fechar uns dias e abrir com novas caras para trabalhar nos alternes. Oh, Ratazana, vim até aqui para me experimentar… não me vais dizer que fiz mal, pois não?»

«Não, claro que não Ribeirinho, mas continua a pensar que…»

«Bem, c´os diabos, cada um pensa à sua maneira, tubo bem… Julgo que te devo uns favores...»

«Não, deixa lá isso Ribeirinho, não quero o teu mal… eu só quero que tu vás em frente… eu só…»

«Então põe aí outro igual a este, e não se fala mais nisso, ou preferes que peça isto como deve ser… Garçon! La même chose! Que tal?»

Ribeirinho está a ficar informatizado… já aprendeu a atender o cliente curvando-se à mordomo… a servir um pedido de uma ponta a outra do bar sem dar a impressão de estar a servir labregos… até a sua paciência está mais calma, pelo menos para atender os fornecedores…


- 1 - O autor encaminha a sua obra para o Google,
através do email: bardotraidor@gmail.com

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