Wednesday, May 9, 2007

CONTOS DE RATAZANA

─ O BAR DO TRAIDOR ─


O Bar do Traidor não pode ser comparado ao Casino de Espinho ou ao Bar do Twins. Era no entanto um local acessível e limpo com tabuletas bem desenhadas onde se lia O SEU PONTO DE ENCONTRO É DAS 14H ÀS 24H, com uma música seleccionada a sair de um take colocado junto da caixa registadora. Um espaço comprido e largo castanho-claro, iluminado por lâmpadas halogéneas. Um mundo onde os homens e as mulheres abancavam à volta de mesas de madeira, forradas a vidro no tampo, que servia de leitura a muitos dos meus manuscritos, espalhados pelas quinze mesas nas duas salas, bebendo umas bebidas espirituais e outras gasificadas. 



E, todos os dias de tarde, cedo o bar era uma compilação de desejos sem conta e desde logo se enchia da fina-flor dos ociosos de fora da cidade, vendedores, pequenos comerciantes, empresários de maior e menor escala, gente há muito chegada à cidade, com a ambição de dar uma boa troçada, possuir a sua garota, a sua conquista fácil. Porque todas as tardes, às quatro, a sala abarrotava de pequenas vindas à conquista de uma boa cena no Muro dos Prazeres (Pensão). As pequenas saíam então acompanhadas pelos mais bafejados da sorte, o bar esvaziava-se e tornava a recompor-se só depois da hora de jantar.
À hora do café entrava no bar outro tipo de clientes, que lá passavam a tarde debruçados sobre as mesas, entretidos na conversa, bebendo as suas bebidas preferidas, clientes diferentes com outro tipo de carteiras diferentes. Eu sabia tudo o que se passava à minha volta, mas ao princípio da tarde o bar era o ponto de encontro da maioria dos clientes.

Numa mesa central lia-se o dístico: ─ Os bares são o melhor ponto de encontro para as pessoas se conhecerem e avaliarem bem os seus fracassos. ─ Também os provérbios têm os seus significados: Bar é má sina. Pontos de encontro, depende da conjectura e da inspiração das noites, da magia e fracassos, que durante muito tempo considerei o meu código principal da desgraça e do infortúnio… Mas estou a brincar…



CONTOS DE RATAZANA
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(1)


Meia-noite, mais ou menos. Um homem de chapéu enterrado na nuca vem do fundo da sala e caminha direito à casa de banho; pára, agacha-se para desapertar a portinhola das calças e tira a gaita para fora, pondo-se a mijar para o urinol mas mija para o chão… e, em vez de mijar, põe-se a rir como um desastrado e murmura: «Olha para isto? E volta a mijar fora do urinol!...

Esta está boa! Mas quem, seria o filha da puta que pôs ali aquele letreiro na retrete?... E ele sai cá para fora e diz: «Que lindo serviço! Mijei no chão porque me assustei com aquele reclame que está lá escrito a letras gordas que diz: ─ QUEM MIJAR PARA O CHÃO FICA SEM GAITA!... ─ E o homem de chapéu enterrado na nuca sai para a rua desnorteado, fora de si, a levar na mente aquela tesoura no ar que viu na casa de banho, quase que lhe cortava a gaita!...

(2)

─ A alternadeira tinha acabado de comer uns ovos estrelados com batatas fritas em detrimento de tripas à moda do Porto, visto ser propensa a gazes. No fim do jantar, passou o guardanapo suavemente pelos cantos da boca, e diante de uma colega, fez um resuma da sua aventura por terras francesas com mo seu ex. namorado Joaquinzinho.

Fui louca por aquele homem. Há uns tempos a esta data, fui passar uns dias em segundas núpcias, alugamos uma suite no hotel e durante três dias não saímos do quarto; ─ foi comer, beber e fornicar, ─ somente estas três coisas maravilhosas da vida, que de bom lá passei. (respirou fundo)
Ao fim de três dias bem passados, levantei-me da cama para abrir a janela do quarto, mas as forças eram tão poucas que deixei cair a janela em cima das mãos e desmaiei, caindo para o chão. A colega olhou estupefacta para ela e disse: «Ó mulher, e tu conseguiste estar tantos dias seguidos na cama com um homem? Ela respondeu. ─ «Claro, desde que o homem me agrade…» 

1 comment:

Anonymous said...
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