No ano em que o Clube das Devesas, em Vila
Nova de Gaia, apresentava a peça O Senhor Comandante, o recinto estava à pinha,
e todas as cadeiras, preenchidas de um público ávido de emoção.
No palco, o bombeiro Adolfo, um homem de um
olho só, que se considerava o Vasco Santana da companhia, quando lhe apareceu o
Senhor Comandante – com uma raquete e bater bolas de pingue-pongue – e o
bombeiro carregado de genica, deu uma cabeçada na bola que foi embater num
espetador, atitude reprovável a que o Senhor Comandante exclamou:
- «A cabeça que bateu na bola deve ser
cortada!»
O Senhor Comandante desaparecia com novo
bater de bolas, deixando o homem de um olho só à deriva com a sua consciência
no pequeno palco.
Era um dos momentos mais dramáticos e todo o
público, silencioso, espera a grande reação do personagem. Este pensou, e
repensou, passou a mão pelo cabelo e disse:
- «A cabeça que bateu na bola deve ser
cortada! Vou cortar a cabeça!»
Todavia, o bombeiro era bastante frouxo de
ouvido, e assim, não ouvia o que o ponto bufava cada vez que ele se
atrapalhava, com a frase seguinte. Então, tentando remediar a situação o melhor
possível, repetiu:
- «A cabeça que bateu na bola deve ser
cortada! Vou cortar a cabeça!»
Aí pela terceira ou quarta vez de «A cabeça
que bater na bola deve ser cortada! Vou cortar a cabeça!», no meio daquele
silêncio, escuta-se uma voz vinda da assistência:
- Vai, vai, meu grande nabo… que ainda ficas
com duas!...
Abraão, Porto.
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