Sunday, September 1, 2019

    



   No ano em que o Clube das Devesas, em Vila Nova de Gaia, apresentava a peça O Senhor Comandante, o recinto estava à pinha, e todas as cadeiras, preenchidas de um público ávido de emoção.
   No palco, o bombeiro Adolfo, um homem de um olho só, que se considerava o Vasco Santana da companhia, quando lhe apareceu o Senhor Comandante – com uma raquete e bater bolas de pingue-pongue – e o bombeiro carregado de genica, deu uma cabeçada na bola que foi embater num espetador, atitude reprovável a que o Senhor Comandante exclamou:
   - «A cabeça que bateu na bola deve ser cortada!»
   O Senhor Comandante desaparecia com novo bater de bolas, deixando o homem de um olho só à deriva com a sua consciência no pequeno palco.
   Era um dos momentos mais dramáticos e todo o público, silencioso, espera a grande reação do personagem. Este pensou, e repensou, passou a mão pelo cabelo e disse:
   - «A cabeça que bateu na bola deve ser cortada! Vou cortar a cabeça!»
   Todavia, o bombeiro era bastante frouxo de ouvido, e assim, não ouvia o que o ponto bufava cada vez que ele se atrapalhava, com a frase seguinte. Então, tentando remediar a situação o melhor possível, repetiu:
   - «A cabeça que bateu na bola deve ser cortada! Vou cortar a cabeça!»
   Aí pela terceira ou quarta vez de «A cabeça que bater na bola deve ser cortada! Vou cortar a cabeça!», no meio daquele silêncio, escuta-se uma voz vinda da assistência:
   - Vai, vai, meu grande nabo… que ainda ficas com duas!...



                                                                                                       Abraão, Porto.

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