Sunday, January 2, 2011




CONTOS DE RATAZANA
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AMIGOS E COPOS…



Margarida está apreensiva e o cliente de apelido Sacristão acabrunhado. Não posso dizer realmente o que vai sair dali. Claro que Margarida contribuiu para aquilo que a preocupa, mas o bom Sacristão…

Margarida mostrou as suas fotografias a Sacristão. Fotografias fabulosas, sem dúvida, atendendo às posições em que foram focadas. Mas Sacristão não conseguiu entusiasmar-se, pura e simplesmente. O que mais o assustou foram as fotografias em que ela aparecia acompanhada de um trio de gajas nuas. Uma com uma mama a chupar na boca, outra com um vibrador no cu e outra ainda, a fazer-lhe uma trombada de dedo. Primeiro acusou Margarida de gostar mais de mulheres de que de homens, mas ela tirou-lhe imediatamente a ideia da cabeça. Por fim, quando entendeu que havia meia dúzia de raparigas no bar com um programa dessa técnica, armou-se em ingénuo. Pelo menos é o que me conta Margarida… Não falei com ele na altura e se calhar não se perdeu muito. Tinha receio, pelo menos é o que ela me conta, de o deixar saber que o tinha levado um tanto pelo privilégio...

De qualquer maneira ela vendeu-lhe uma rápida dupla… e, se conheço Sacristão, também deve ter oferecido os prazeres. Sacristão diz que ela ficou verde quando levou a primeira… uma bela foda, cheia de malabarismo, onde ela caiu da cama de cu ao chão, duas vezes e a dupla foi em cima do tapete, em jeito de coelha, ao rubro. E não se mostrou ingrata por todo o trabalho que teve em não o deixar amolecer enquanto chupava todo aquele esqueleto…

Quanto às quezíliazinhas de Araújo… são por causa de Chaninha, naturalmente. Há dias passados estava a beber uma bebida e saiu da mesa por ver ela a insultá-lo. Desde então ainda não deixou de andar irritado. Sempre que começa a ficar ranhoso decide que vai abrir o linguado em provocações a Chaninha e então eu tenho de deitar água na fervura mais uma vez. O seu sistema nervoso já começa a vir ao de cima… e o meu também. Esta situação não se pode tornar num hábito sempre… ou ele se comporta como um cavalheiro para o resto da vida, ou inventa uma saída em grande para sair daquela em que se meteu. Continua a bater-me no mesmo.

«Fiquei muito fodido, sabe», conta ele… e aqui sirvo-lhe um copo… «e ouvia-a a mandar-me pró caralho. Almas do Mundo, pensei que não estava lá… pensei que fosse para outro… sei lá o que mais pensei. Mas não me descontrolei. Deixei-a continuar… fechei os punhos durante uns momentos e deixei-a provocar-me… Estava a puxar por mim… você sabe como é que uma vagabunda dessas age, não tenho de lhe contar como é… e estava a levar-me aos píncaros do inferno… Aquela filha da mãe! Por Deus, eu sei quem é o culpado disto… é essa barriga de unto desse Sacristão! Ele disse-lhe o que disse e o que não disse, foi o que foi! O diabo leve Sacristão! Se eu soubesse nunca tinha ido à mesa! Por que é que não me avisou para não me meter com aquela puta ordinária? Por que é que não tive suficiente rasgo para me afastar daquela sujeira?»

Mudamos de assunto e vamos para o futebol, Araújo e eu, durante uns breves instantes. Visto que parece que a conversa ganhou novos contornos, carreguei-lhe mais duas medidas de malte e logo Araújo prossegue. Raios, agora podia desafiar-me nas cores clubistas, mas não… quer de novo desabafar comigo, suponho.

«Deixei-a insultar-me», repete. «Deixei-a continuar até estar quase a pifar da voz. Então, lentamente, comecei a perceber que andava por ali bocas de Sacristão… Meu Deus, que situação aquela! Espero sinceramente que nunca eu tenha de perder a paciência por casos semelhantes, pode crer!»

Também o espero. De certeza, vou ter mais cautelas para que isso não aconteça.

«Mas quando percebi verdadeiramente que o que ela queria era deitar-me abaixo, eu… eu não sei como me aguentei. Deu-me semelhante vontade de lhe dar quatro chapadas e até de a esganar! Olhei para ela… e ela atiçou-me mais, com aquela cara de cu… e eu meti as mãos aos bolsos e desandei dali. Estava enojado daquele paleio de cadela baixa…Fartei-me de perguntar a mim próprio, para que é que me deu vontade de me meter com aquela tipa? Somente eu… ou outro parecido…»

Por vezes quando diz isso Araújo lança-me um olhar muito carregado, que eu gostaria que ele recambiasse por outro. Não sei se ele realmente gosta de mim ou não. Tem uma pergunta a dançar-lhe na ideia, mas ainda não se resolveu deitá-la cá para fora.

«Tentei pedir a ela que repetisse o que estava a dizer… quando me insultou com uma rajada de nomes do piorio… mas não o fez. Se o fizesse teria que pôr o coiro de molho…»

Nesta altura virei-me para atender outro cliente, e a conversa resfriou um pouco. Se eles se vão falar outra vez, Chaninha é bem menina de o enxovalhar de novo… e há qualquer coisa que me diz que o mais certo é eles mesmo não se falarem. Quando um caso destes acontece, não acaba assim do pé para a mão.

«Claro que podia entrar numa de caixeiro-viajante e levá-la a dar uma rápida ali na pensão em frente», diz Araújo. «Era o que melhor devia ter feito se eu adivinhasse… se eu… vc sabe onde eu quero chegar. Mas agora nem suporto a ideia de sequer olhar para ela. Cheguei a um ponto em que tenho medo de regressar ao passado, quando eu era um marinheiro…»

Tudo o que tenho a fazer é esperar que Chaninha regresse ao poiso de onde veio o mais rápido possível e assim fique o problema resolvido de vez. Não me posso dar ao luxo de ser o bombeiro a apagar fogos como ando, nem me posso dar ao luxo de continuar descontrolado por muito mais tempo; não consigo atender ninguém de jeito quando ando assim descontrolado, mesmo se consigo enfiar um café com pouco leite pela boca abaixo quando vou até à cozinha rir-me para as panelas e faço a minha folha a que chamam apuro, e estou lentamente a ficar seco.

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