Doc
e Sapatas
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A
NOITE, era
frequentada por gente de diversos escalões sociais. Uma tarde, numa mesa
encostada à parede, o médico Doc ficou sozinho na mesa, mandando-se ao lado do
copo de conhaque, de olhos abertos, sorrindo, sorrindo e sorrindo. Enquanto
isso, o cliente sai dos lavabos e dá com ele e pergunta:
«Vai
consultar alguém, doutor?» – Doc abriu os olhos de espanto: «Sapatas! –
respondeu, sorrindo. – Que andas por aqui a fazer, meu tratante?» -
Era
um homem muito calmo e tinha uma deficiência física; manejava ao caminhar.
Abeirou-se dele, o doutor Doc não abriu a boca enquanto ele se aproximava,
somente sorria:
«Só
vim beber um copo.» - Disse o manco, «admira-me é vê-lo por cá!...» -
«Eu
Sapatas? Diz Doc olhando-o nos olhos. - «Engana-me que eu gosto.» -
«Com
licença, doutor», disse Sapatas, sentando-se ao pé dele. «Vou beber aqui uma
bebida à sua beira; sabe que gosto muito de falar consigo.» -
«Eu
sei que sim», responde ele. «É o desgosto de te atraiçoar com a tua amiga que
te dá a volta à cabeça. Como é que eu podia saber uma coisa dessas?»
O
empregado interrompeu-os e trouxe mais duas bebidas para eles beberem. Voltaram
a recorrer à conversa, mas num molde diferente. Doc pergunta-lhe:
«Já
que resolveste passar o tempo ao pé de mim, vais ter de me dizer, como é que
vai o teu romance com a amiga brasileira?» -
Sapatas
encolhe os ombros e responde:
«Sei
tanto como o senhor!» exclamou, levando o copo ao ar. «Ela tanto está comigo
como com o doutor.» -
Doc
sentia uma enorme dor de cabeça e olha para ele pelo canto do olho. «Continuas
a não ter juízo. Qualquer dia, prego-te com uma injecção nessas flautas»,- diz o doutor numa voz rompante, «de maneira a que fiques coxo!
Talvez assim te possas endireitar mais!...» - Riu-se desabafadamente. Sapatas,
aborrecido, vira a cara para o lado. Momentos depois, o doutor Doc levanta-se e
põe-lhe a mão sobre o ombro, dizendo: «Vamos às putas.» -
Citado
por, Doc e Sapatas, em Escritos
Traidores.