Sunday, October 5, 2014


Conto Instantâneo



                                                                  Vassouras e o Vídeo
                                                                             ____


Perto do centro da cidade, Vassouras descobriu, através das nascentes das águas e, acrescente-se, do mijo dos cães que abundavam a potes pelos cantos das esquinas, descobriu dizia eu, um produto eficaz para eliminar os ratos todos que vagabundeavam pela superfície da terra ; quando começou a matar os ratos e ratazanas pelos estabelecimentos, rapidamente criou o seu império de dinheiro que os amigos se pasmaram a pensar no negócio! Mas ninguém se atrevia a aproximar-se do seu negócio e lá ficou ele a vaguear pela cidade e a dar cabo da ratice toda que por lá abundava. Bem disso se quis aproveitar a namorada Batoque, começando por exigir algo mais que uns alternes.
─ Não me queres oferecer um vídeo para ver filmes? Sabes que não gosto de sair à noite de casa ─ O seu olhar meigo cativou-o num ápice, contrastando com o mau feitio dele. Não era capaz de lhe dizer não a nada. O pior vinha depois; um pouco gabarola, era frequente dizer aos amigos o que dava e o que não dava; daí, quando ela soube, foi aos arames e pregou-lhe uma partida. Um dia, pela manhã, esperou por detrás da persiana da sua janela, que ele viesse ao escritório situado a poucos metros do prédio onde habitava; quando o viu aproximar-se, gritou para a rua: Toma lá a merda do vídeo que me deste, podes dá-lo aos teus amigos. ─ Atirou o aparelho pelo ar, que foi estatelar-se contra as pedras da rua, ficando em bocados pelo chão. Ele não cabia na sua revolta, gesticulando com a sua mão no ar: ─ Ah! Minha rafeira, deixa estar quando voltares a pedir mais alguma coisa, vais ver o que te acontece. ─ Mandou um pontapé no resto do vídeo, que acabou por escaqueirá-lo ainda mais.           
                                                                                                                                  Escritos Traidores, de Abraão.





EM JANEIRO DE 1996, a senhora Tina, de cabelos loiros, apanhou o vício de fazer uns arranjinhos, e nunca mais desaprendeu. Era uma senhora de meia-idade conhecida por «Miss Piggy», num trocadilho usado em O Jornal Dos Traidores. A sua carreira foi premiada, quando se tornou dona de uma casa de passe em Rio Tinto, no Porto, — para satisfação dos clientes em geral, a maioria dos quais achava que as obscenidades escandalosas que se passava na sua casa suburbana eram mais para um gozo do que para injuriar. «A minha casa é suficientemente ARRUMADA para ser frequentada... e suficientemente INDECENTE para ser feliz».
Em Fevereiro de 1999, o nome da senhora Piggy apareceu em foco, de novo, no cabeçalho do pasquim, que anunciava a barafunda do estacionamento na casa junto à igreja de Rio Tinto. Contudo, desta vez não era necessário chamar a guarda, e dizia-se que a senhora Piggy afirmava: «Fi-los ver para porem os carros longe». Contou a um repórter mau-olhado de O Jornal Dos Traidores: «Hoje em dia, os vizinhos vêm algumas vezes uma quantidade de carros parados à minha porta e dizem: ´Então, já atendeste a tua família toda, Tina?` — ´Ai, já estava a contar com eles...

                                                                                                                                                  Abraão - Porto