Sunday, June 20, 2010



CONTOS DE RATAZANA
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`Time is money`


Ontem de manhã, por volta das duas, estava à esquina de Antero de Quental para o meu encontro. Dez minutos… vinte minutos… Três horas e aquele boi sem aparecer. Raios, as pessoas que faltam aos encontros deviam pagar por isso. É como se nos fossem à carteira… é pior que roubar a carteira. Fazem-nos desperdiçar o tempo… meia hora aqui, dez minutos ali… passado algum tempo, devem ser anos. Portanto roubaram-me uma hora, e onde é que vou arranjar outra para substituir esta? Minha sorte, não vou viver eternamente, não me sobram tantas horas que eu possa dar ao luxo de distribuir desta maneira. Mas os homens nunca pensam saber destas coisas. Não acredito que os homens alguma vez pensem que um dia a sua vida terá fim. De certeza que não o pensam da mesma maneira que as mulheres. Pode-se ter a certeza absolutíssima… quando uma mulher não é pontual, trata-se geralmente de uma irresponsável, de uma preguiçosa e de, pelo menos, mais de umas dezenas de nomes sortidos, além das referidas.

Às três certas ponho-me ao fresco. Tenho mais para ponde ir do que ficar à esquina toda a tarde de sentinela a servir de montra. O gajo pode arranjar uma boa desculpa, mas vai ter que pagar pelo que me fez… Pese, embora… no Porto nunca se perde o atrelado. Se um gajo falha, aparece logo outro… em todos os bares o barman tem as agendas cheias de contactos e nem todos são de deixar fugir, como acontece nos anúncios. (Que espécie de gajo aparecerá num desses anúncios? Ainda hei-de saber… Cerca de uma hora mais tarde, depois de já ter ingerido alguns líquidos ao balcão, deixo-me levar por um. Não é um cabrito assumido, na verdade, está apenas com vontade de me saltar. Não é propriamente um Mourinho, mas não é de perder; é quarentão e tem o ar de quem utiliza preservativo sempre que lá vai. Dou-lhe bola corrida, e depois vamos para outro lugar e tento funcionar o meu esquema com ele… mas ainda estou banzada pelo caso do outro tipo… Pelas suas palavras, dá a impressão que o tipo de Pescoço-Engomado (sofreu fractura da coluna), uma ou outra vez, já teve algum contacto com as mulheres do bas-fond… e se teve pôde pagar a uma não há razão para que o Pescoço-Engomado não pague a mim. Para cliente, o Pescoço-Engomado é uma pessoa de elevado grau espiritual. A maioria desses bois atirava-se ao ar se lhe fizessem uma corte decente… mas o Pescoço-Engomado ouve atentamente e parece levar tudo sob uma certa reflexão. Por fim passa uma das mãos sobre a minha… acampa, é o único termo que posso empregar… e fita a minha boca durante uns bons segundos.

«Sabes… parece-me que te vou levar», diz. «Se tu não te importares de ir, Rita, é claro…»

Se eu não me importar! Meu Deus, eu também sou uma pessoa sensível… não me recordo de uma única vez ter recusado o meu carinho a alguém que o quisesse paparicar. Arrumo o cu para trás do sofá e aguardo o desenrolar da conversa. O Pescoço-Engomado não quer entrar em detalhes. Ele compreende toda esta fita, em teoria, diz ele, e não necessita de empurrão… Encosta-se à minha frente e mete a cabeça entre as suas mãos, e depois de ter encarado o meu olhar durante uma fracção de segundo, atira um sorriso para mim. Está com um olhar perfeitamente apaixonado, embevecido… se eu não tivesse a percepção do que ele é, era capaz de jurar que estava doido pelo meu par de mamas e por se enfiar pelo soutien dentro… Começa a namorar-me… não que eu precise de namoro, mas porque faz parte da sua teoria, penso eu. Este tipo pode ser extraordinariamente comedido… começa a contar-me histórias bonitas como se não houvesse nada no mundo de que mais gostasse. Põe o braço por cima dos meus ombros e mexe-me nos cabelos… e quando não está a contar-me nada, baila com as sobrancelhas ou pisca-me os olhos. Vêem-se destes tipos nos bares «matando» todas as gajas que lá estão e pagam bebidas àquelas que pretendem engatar… e muitas vezes perguntei a mim própria o que lhes aconteceria se não lhes dessem algum dinheiro.

Mas não se consegue chegar perto de todos. Alguns, além do mais, têm um aspecto requintado, mas estão tão dispostos a deixar que uma gaja lhes levante o pau como eu estou disposta a pedir ao cliente que vai ao meu salão cortar o cabelo que tire a língua para fora para me fazer uma trombada... Sei o que estou a dizer… já me passou pela cabeça fazer isso… Até o Pescoço-Engomado, se a sua teoria valer alguma coisa, deve saber o que vai acontecer se continuar a paparicar-me desta maneira. Eu estou quase a tomar outra bebida, à espera que ele tome a dianteira… não quero sair a abanar… Firmo-me até os ímpetos se transformarem quase em molas, de tão calcados: quero manter-me toda serena, se for capaz… O Pescoço-Engomado sabia do que estava a falar quando disse que não necessitava de empurrão. Estou pronta a ir com o tipo e a deixá-lo gozar se ele não se armar em esperto quando ficar comigo à mercê, mas é pura perda de tempo. Dá a impressão de adorar a minha pessoa. Olha para mim quando me começo a rir, e dá-me uma trabalheira dos diabos para o convencer de que não estou a rir-me dele… Chega ao ponto de se rir também quando lhe digo que hoje à tarde estive na prancha por um tipo. Fica sensível quando lhe conto a minha versão.

«Mas ele foi indecente, Rita… isso não se faz, dar-te uma hora de espera! Devias tê-lo apanhado! Pensei que me estavas a gozar, Rita? Sabes quem foi o beneficiado, Rita? Foi aqui… o artista!»

Quer saber quem é o tipo daquele encontro. Não disse quem era. Depois quer saber em que esquina é que estive à espera. Sim, era uma onde não sabia muito bem onde era, etc… durante uma hora. O Pescoço-Engomado dá por terminado as perguntas ao assunto, e para mim, é tempo de passar à acção.

«Bom, e quando é que vamos?», pergunto a Pescoço-Engomado. «Que tal agora?»

O Pescoço-Engomado excita-se. Para o diabo mais o trabalho que eu devia fazer, diz ele… e agora já não me largo de ti! Como é que tu te ias ver sem mim? Vai-se levantar para ir à casa de banho. Aproveito, tenho um telefonema para fazer, e assim posso ficar com o tempo mais disponível. Ele aí vem mais composto do que quando saiu da mesa. E pede ao empregado para lhe levar a conta e corta o som ao telefone. Só atendo se for necessário, diz-me o Pescoço-Engomado. Acabamos de sair e fechar a porta, e desaparecemos algures no Porto, a caminho de uma residencial, o local mais provável.


Thursday, June 10, 2010




CONTOS DE RATAZANA
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PITA
PETA E
PUTA…



(a)

A Malcasada, anda deprimida. O cota que lhe anda a dar umas quecas não se pode aguentar, diz-me ela, e não sabe o que há-de fazer. Enche-a de guitas, e tudo o mais, mas mesmo assim é uma praga aguentá-lo.

Estamos os dois a conversar e ela faz-me o relato. Primeiro, ele quer estar mais vezes com ela. O tipo acha que ainda está aí para as curvas e, assim que a Malcasada apanha uma escapadela atira-se logo a levá-la para a cama. O que não teria nada de mais, penso eu, excepto, o facto que todas as vezes que a coma, é claro, ela crava-lhe umas massas, o que não o chateia. Pensa que a Malcasada necessita e que o toma por salvador…mas fica furioso ao descobrir que não a come de borla…

E ainda há mais umas coisinhas…

Ele espera que o seu dinheiro lhe proporcione uma nova versão d´Don Juan. A Malcasada tem de lhe contar histórias das suas escapadelas sexuais e está a ficar farta tentando inventar mais histórias.

Naquele dia, por exemplo, quando o rapaz a largou do carro…ficou absolutamente nervoso… A Malcasada diz que ele quase batia com o carro na esquina, porque era evidente o que tinha acontecido.

Fodeu-a, sem dúvida… deve ter julgado que aquela que lhe estava a dar que era a melhor… e depois, quis saber por onde é que ela tinha andado… Reteve-a em reforço durante horas, tentando satisfazê-la a fazer assim, a fazer assado, e Malcasada já tão cheia de gozo e de sexo que a única coisa que queria era ir para casa…

É quando ela pura e simplesmente escoara e deixara de lhe dar luta, o tipo havia ficado danado… se se tinha conseguido ficar excitada quando todas aquelas coisas se tinham passado, por que é que não ficava excitada mais um tempito para o deixar dar mais uma troçada?

E quando a convida para as suas visitas na zona boémia, a Malcasada tem de representar o seu papel. Ele gosta de a mostrar, deixar que as pessoas vejam o pito vistoso que ele conquistou, e tudo isso e mais alguma coisa, mas a Malcasada tem de deixar entender a toda a gente que é uma espécie de petardo sexual…petardo esse que é todo dele. Assim, torna-se obrigatório o vistaço pelas salas para que lhe admirem a figura, e portar-se como uma cadela no luxo, roçando-se nele e deixando-o beliscar as tetas e passando-lhe ela, às vezes, a mão pelos guizos.

Depois, decorrido um certo tempo nestes jogos, ela convida-o para uma janta em casa duma amiga, ele compromete-se e sai logo a comprar-lhe uma prenda… algumas vezes até conseguem zangar-se na brincadeira… mas geralmente é tudo uma questão dela pôr a amizade à prova por ciúme e aferroá-lo. Depois… lá reatam ambos e então salta-lhe em cima, e ele talvez ainda saia a arrotar a leite e a Malcasada tem o aspecto de alguém que tivesse visto o lobisomem…

Parece incrível, mas a Malcasada diz que eu não pensaria assim se conhecesse o machão.

Enquanto toma o café, leio-lhe de relance o pasquim do bar as notícias que Faria levou com uma chouriça vinda do outro lado da sala.

Quando escuta, a Malcasada por pouco que não atira o café para cima de mim… tinha obrigação de saber que aquele seu amigo «salvador» é exactamente o tipo de cenas que ele gosta para se divertir…

Em seguida, a Malcasada quer que não fale a ninguém que esteve lá, e sai tão veloz como entrou e por pouco não cruzou com Toni…


(b)



Toni, o primo de Faria, regressa de Paris em visita de férias. Como tem uma coisa para me dizer, inicia com um licor. Toni sente-se um tanto à vontade comigo em falar de putas, sem a presença de alguém na sala, por isso vem até ao balcão conversar…

Faria, de novo em alta, arranjou os esquemas de modo a ele escolher as gajas que eu lhe arranjei. Dei um lamiré a respeito dele, combinou tudo, e ela mostrou-se muito preparada. Não faço a menor ideia do quanto ele lhe poderá ter pago, mas o que quer que tenha sido, deve ter sido à francesa… ela nunca o deixou de procurar, face ao larjan de Toni, está disposta a conceder-lhe uma completa. Toni aspira um dia vir poder voltar a Portugal e vender peles…

Não seria boa ideia levá-la uns dias a passear, diz Toni. É demasiado risco e, além disso, ela pode não querer que eu saiba que mora com chulo. Convém-me… Eu também não gostaria que ela soubesse que eu sei que mora com chulo… pelo menos até me pôr a francos e dizer au revoir.

Portanto selamos um local habitual… esquina da Rua Antero de Quental com a Rua António Cândido, a partir das duas da tarde.

«Mas se ela não fazer aquilo que lhe pedi» diz-me Toni, «dou meia volta aos sapatos e piro-me. O combinado não é que eu tenha de me vir… O combinado é que ela tem de se vir, se ela se excitar comigo…»

«Vai-lhe fazer aquilo…ela é muito boa a partir da terceira, Toni. Espere até ela fumegar… Vai ser de trepar pelas paredes, vai ver se não é uma foda do século XXI… Até o seu primo a acha uma gaja trepadeira, e anda morto por a fazer à moda serrador…»

«Ele ainda não a comeu? Talvez pense que ela é um barrete, ou coisa do género… que merdas é que você lhe contou para ela estar sempre a ligar para mim?»

«Ah, eu disse-lhe, Toni… falei aquilo que se deve falar. Ela vai tratá-lo como se você fosse um estrangeiro, nada mais… contei-lhe uma data de porras a seu respeito. Limite-se a deixá-la bem fodida e bem endinheirada, é tudo o que ela quer de si. De qualquer das formas, talvez eu tenha uma alternativa na manga para você, entendeu, Toni? Talvez haja hoje uma alternativa para si e para o seu primo caso chegue por aí… um pitinho saído do aviário, talvez… talvez ainda traga alguma amiga sem muita pedalada…»

«Não quero saber o que ela faz no aviário… o que é que ela vai fazer comigo? Não me meta em mais uma trapalhada…»

«Eu não o meto em trapalhada nenhuma, Toni. É uma boa franga. Eu sei. Ela vai à missa…»

«Faz minete?

«Claro que faz minete. Estou a dizer-lhe que é uma boa franga. Frequenta a catequese.»



(c)



Faria aparece e Toni leva-o para uma mesa, enquanto eu me preparo para os servir… e eis quando entram na sala duas gajas. Gajas novas, claro… devem andar à volta dos vinte.

Logo as recebo e é tudo muito cordial. Aliás com umas estampas destas não seria de esperar outra coisa. Faria consegue disfarçar algum encantamento, mas não se faz atrevido. Elas erguem-se, levantam a pestana à altura e sorriem até o brilho do olhos desaparecer.

Oh, realmente são boas, diz ele, pensar que havia dois pitinhos destes abafados aqui no Porto… e só Deus sabe por onde andaram…

São apresentados às gajas, que afinal são tripeiras, de Coimbrões… uma chama-se Pita e outra tem uma aparência completamente fufa-macho… Peta.

Pita é uma moreninha que deve comprar as roupa dois números acima do seu tamanho… consegue povoar-se mesmo à larga dentro delas. Peta é também uma boa febra, mas veste-se de um fato masculino e de gravata.

Mais tarde Faria diz-me que Peta precisa de algum dinheiro, o que não acontece com Pita; assim Peta é quem faz os acordos e Pita quem abre as pernas nas devidas alturas.

Pita é tão quente como parece. Visto que os primos estão concentrados nelas, também me concentro, entusiasmado ou não, e Peta olha-me para os meus olhos como se estes fossem um veio transmissor de onde esperasse ver um número indicador.

Gostava de saber, diz ela, se aquele número que julga ter ouvido era real, ou se era tudo conversa fiada. Toni diz-lhe que é tudo de quanto há mais real na vida, e pergunta-lhe se quer ouvir novamente. Peta diz que prefere aguardar um bocado… Sorri e pede-me outro café.

Para começar não percebo muito bem por que é que vieram até aqui…

A minha filial disse-me que me ia apresentar duas das suas amigas, mas tenho a impressão de que vieram para deitar o olho ao melhor das suas intenções…

Peta mostra aos primos umas fotos artísticas suas… parece que as fressureiras, por qualquer razão, tem um talento nato para seduzirem gente para sacar.

Faria olha para uma das fotos… qualquer homem que alguma vez tenha visto um grelo destes vê logo que se afunda, diz ele. Peta pede uma explicação, mas Faria só lhe dá ao ouvido.

Passou-se cerca de uma hora antes de Pita ter a grande vontade de dizer que tinha necessidade de ir fazer chichi.

Toni tem estado a fazer-lhe festas, excepto comê-la ali mesmo, e de todas as vezes que Toni se encosta a ela e lhe dá um aperto nas tetas, elas voltam-se uma para a outra e fazem olhinhos… Por que é não nos pomos daqui a andar e vamos para a pensão, sugere Faria, ou vamos passar a tarde a apalparmos?

«Sempre que recebemos um convite só vamos se formos as duas», diz Peta. «Não fazemos nada uma sem a outra...»

«É isso mesmo», insinua Toni. «Achas que eu ia trepar só convosco sem levar o meu primo…Mas eu não te deixaria ir sozinho, Toni. E quero alinhar agora mesmo…»

Olha na minha direcção e pisca-me o olho. A sua estratégia está no ar, como se fosse um programa, e já planeou como tirar as calças. Está a deixar correr o marfim… Nunca desistiu de uma situação destas.

Com as duas a puxar para o mesmo lado, Faria sabia como agir… mas precisa de uma muleta... É do que precisa. E elas não são as únicas que se estão a fazer a uma boa tourada…

Há putas por toda a sala… tem que se pagar, mas isso é o menos, e apesar de o primo de Faria não ser nada esquisito, Faria não tem dificuldade quanto a chamar uma puta. Cerca de dez minutos depois de já ter dado uma volta à sala, engata uma. Diz que se chama Puta, e não leva a mal por isso, e está à procura de dinheiro. Não é exactamente uma formosura, mas não é um caco; é jovem, tem o ar de quem utiliza o sabonete de vez em quando. Assim, Faria leva-a para a mesa, apresenta-a ao grupo, e depois dá-lhe de beber. Puta, também quer alinhar e Peta tem algum trunfo debaixo da manga, embora só ela saiba o que posso ser…

Peta dana-se com a gaja…não suporta ver a sua Pita a olhar para uma cana rachada… Agarra-a repentinamente pelo pescoço e atira-a contra o sofá, como um estrangulador.

«Põe-te a olhar, minha puta», grita, quando Pita começa a dar beliscões para se afastar dela. «Ah, então já querias que ela te saltasse… Bem… vamos fazer estes gajos e depois nós falamos…»

Eu farto-me de olhar para as unhas aguçadas de Pita. Cá por mim não queria entrar numa briga com aquelas unhas… comporta-se como se quisesse arrancar a pele de Peta. Mas esta não tem medo dela… talvez já estejam acostumadas a estas lutas… De qualquer modo é um espectáculo digno de novela…

Pita tira a escova e puxa o cabelo até trás para se poder tornar mais sexy, e os seus olhos são tão excitantes como tudo o resto do seu corpo. Peta mete-se a dar-lhe palmadinhas na zona do rabo que fica sobressaído, e enquanto Pita se ausenta daquilo, agarra com ela para a casa de banho e começa a esfregadela.

É realmente um espectáculo ver aquelas duas gajas à guerra por ciúmes e não fico nada surpreendido quando Puta salta para ir atrás. Ela já estava entusiasmada quando estavam a brincar umas com as outras ainda há pouco tempo, mas agora está completamente excitada...

Vai-lhes dar linguado quase até aos pés… oxalá pudesse presenciá-las… Em poucos segundos ambas vão-se amarfanhar e apalpar tudo o que é para apalpar, e desta vez não tem de se beliscarem… elas já o fizeram…

Mesmo fressureira, Peta tem um belo esqueleto, e o facto de saber que ela está virada para as mulheres não impede que eu faça uma perspectiva em análise do seu físico, mesmo diante dos meus olhos.

Finalmente Peta tem Pita completamente entregue a si…e ela própria tem competência para isso. Grita por mim, para levar um bom uísque à sua gaja. Gostaria de a ver espevitar, titila-lhe os mamilos remexendo-os com um dedo, que depois enfia-o na boca…

A serenidade de Pita é total…

Toni tem a camisa fora das calças e está a abri-la no peito, de forma a pôr em destaque a sua contemplação física.

Faria está sentado de encosto sobre Puta e, enquanto lhe acaricia o grelo, vai olhando para o de Peta.

Puta tem uma mão entre as coxas de Peta mas não consigo topar o que lhe está a fazer. Pita quer que eu lhe faça uma tosta… aquela mula só me dá trabalho…

«Aquela gaja já te viu em algum lugar?», pergunto baixinho à colaboradora no balcão. «Está a olhar para ti como se quisesse engolir-te…»

Como de costume estou a meter o meu veneno… a colaboradora segue-me o olhar e não responde. Depois afasta-se para uma mesa central, de modo a que as gajas lhe vejam melhor o perfil… Peta e Pita pararam de falar e estão concentradas, olhando calmamente umas para as outras, até que ambas se encontram tão hipnotizadas como galinhas adormecidas. Toni enrola a contar uma anedota picante. A seguir resolve ser altura de se mandar dali e pede a conta para pagar. Como não quero ser desaproveitado, também me aproveito. E enquanto as sirvo com três sumos, elas cospem-se, aquelas três mulas, e não bebem nada… excepto, olhar para mim… Peta grita e salta do sofá… quer um pano depressa… UM PANO! Grita à histérica.

Faria promete-lhe que, se ela se portar bem, talvez lhe venha a dar umas calças novas… Merda, eu antes lhe dava uma vassoura se ela varresse a sala… Puta tirou-me o pano das mãos e está a limpar o tampo da mesa todo encharcado, ao mesmo tempo que afirma que os culpados foram todas elas. Subitamente Pita agarra Peta pelos braços e abraça-a; estão a acariciar-se uma à outra como o fazem os adolescentes, e se nós não estivéssemos naquele local, jurava-se que as raparigas estavam a pedi-las…

«Não mostres já o que sabes fazer», diz Toni. Sorte Minha, podia pensar que seriam um pouco mais prudentes, pelo menos à partida… mas estas mulas não!

Pita abre as pernas e põe-se de costas; Peta não tem menos lata do que ela… enfia a mão nas partes baixas de Pita e revela-me a grande confidência.

A maior partes das fressureiras que conheci não tinha cabelos em volta da rata, aliás não tinham cabelo nenhum à volta do que quer que fosse, mas Peta não tem um só… um só que sirva de amostra.

Puta farta-se de «PTP», palavras, tantas palavras», visto bem as coisas, provavelmente tem daquilo todos os dias, ou quase, e suponho que uma pessoa se possa cansar daquilo, tal como se cansa de outras coisas. Pita quer saber por quem é que vai ser fodida… acha que é altura dos pares se decidirem.

Peta concorda com ela. Certamente é altura de se saber, diz… e assenta a perna sobre o colo de Pita, antes de esta tomar a dianteira.

«Emenda-te, minha mula» diz Peta esfregando o joelho na rata de Pita. «Queres que eles pensem que és uma gaja SELECTA! Não és puta nem és capaz de chupar uma piroca, pois não? Ouve lá, minha chupa piças… o que é que fizeste quando o senhorio nos veio falar? Sim, e logo no primeiro lance. Não deixaste o sapateiro coçar-te toda? E qual dos meus amigos é que não fizeste um broche? A todos, tenho a certeza. Oh, minha mula, não me venhas para cá com essa ladainha! Todas as vezes que vais de casa até ao café, quando regressas ou tens as cuecas todas borradas ou o nariz a cheirar a leite…»

Puta continua a limpar-me a mesa com o pano, mas de repente pára e vai apalpar Faria. Tem tanta força em apalpá-lo que quase o põe a gemer de dores… Tudo o que consigo ver de Peta e Pita são as suas mãos e as mamas que se agitam… tudo o que eles necessitam agora são um quarto e uma cama.

Toni pede para lhe levar a conta. Assim que a arrumo na bandeja e deposito-a na mesa, Pita agarra-se a Toni… mas não para lhe fazer mimos, como eu supus. Envolve-o num abraço e beija-o no rosto. Peta interrompe os mimos com ares de quem sente que está posta de lado. Tem o sangue em brasa, diz ela, não haverá alguém que lhe queira apagar o fogo?

Toni põe o braço em volta do pescoço de Peta e não presta atenção à conta… bebe ainda com mais vontade do que até aí. Eis senão quando ergue o cartão gold quase até ao meu nariz, a parte dourada para fora, despertando a atenção de Puta e Pita que podem ver exactamente a um palmo de distância como é que ele possui tantas cartolinas dourados… e viram-nas bem…

Ela quer saber o telefone dele! É a primeira coisa que Pita diz após o topanço, e dá a impressão de falar a sério. Caramba, Toni, não vai recusar o telefone a uma gaja como Pita… e da parte de Peta não há qualquer reacção em contrário. Se há alguém que mostre ciúmes é Puta… Toni pergunta a Peta se esta não se importa que dê o telefone à amiguinha…Nem pensar nisso… «Ela tem de ser fodida», responde Peta a Toni, ao mesmo tempo que brinca com o cabelo de Pita, metendo-lhe nas orelhas. «Não me importo que saia e vá fazer uns cabritos… São essas putas dessas lambe-conas que ela engata que eu não quero. Mas tu sabes o que tens a fazer, Pita, se eu digo que podes ir…»

Pita sabe… e mesmo logo lhe mostra como é. Agarra nas mãos de Peta e Toni, para não fugirem, e põem-se a caminho da pensão… Ainda vão a meio do caminho, quando Faria lhe segue as pisadas, levando a outra atrás…


(d)


Esta tarde Faria entra-me pelo bar dentro, mal falante, mole como um pastel. Você está triste, amigo… e como é que correu a tourada ontem à tarde, quero eu saber…

«Oh meu querido! Oh! Ratazana?», grita ele, gaguejando-se um pouco. «Que grande merda! Sempre me palpitou ser um coiro! Vês… quando eu me entusiasmo… talvez não haja uma próxima vez.» Percorre a sala e encosta-se ao balcão. «Ela gosta de se exibir, Ratazana... Conhecia-a ontem, foi a primeira vez que a fiz, e ela está-me atravessada na garganta… só diz que eu sou um pouco diferente. Há uma coisa que é chunga… mesmo chunga. Toda aquela esquisitice da camisinha para chupar, meu querido… explicou-me que é assim para todos! Ah, mas ela também gosta de fazer minete… na altura. É estúpida, Ratazana, e não se preocupe com o que fará quando aluada… da próxima vez não a deixo sem resposta… E, pelo amor de Deus, ponha-a noutra mesa… ela tem os amigos dela…»

«Deixe-se de dizer disparates. Ouça, Faria, pode ter a certeza que essa gaja… quando lhe der na real gana… fá-lo estar ali a bombear uma hora…»

«Uma hora? Não, uma hora não, Ratazana. Três horas, foi o que combinei…»

Faria continua a falar até que começo a entender que ele está convencido de que teve realmente um má experiência com a gaja ontem à tarde. Finalmente ponho o uísque da sua garrafa num copo alto, e digo uma coisa a Faria que o melhor é aquela que está para vir…