Sunday, November 4, 2007

CONTOS DE RATAZANA












MENINO BOM E
FILETE DOURADA EM
SESSENTA E SEIS MINUTOS E MEIO 
DE PRAZER
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Ainda antes de trocar de emprego por outro que lhe oferecia melhores regalias sociais, Menino Bom teve uma ascensão imparável, e o seu sucesso fenomenal reforçou a sua crença na boémia e nas noites perdidas pelos nigths-clubs. Mas começou a ter igualmente consequências bem mais desastrosas.

…«Sabe uma coisa? ─ disse ele levando a mão ao copo para beber um pouco de uísque. ─ Hoje estou mesmo chateado.» ─

Enchi a cabeça dele com a história da vendedora de panelas que representava no palco da cama a personagem da mulher serpente. A sua falta e tacto fez dele uma espécie de passageiro curioso. Eu acrescentei:

«Acredite que é o melhor remédio que tem para a sua dor de cabeça.» ─ Ficou um tanto abismado a olhar para mim.
«Como assim?» ─ Permaneceu calmo, sem pressas, como se preparasse para a cena futura.
«Espere aí que já vai ver ─ disse-lhe eu, sorrindo. ─ Venha comigo.» ─

Foi o seu primeiro passo. Depois de ele me seguir, apresentei-o a Filete Dourada que o recebeu de beijo na cara. Momentos depois, tinham sumido à socapa. Fizeram um circuito à volta do quarteirão, para entrar num lugar que ambos conheciam mais ou menos bem: o motel. Depois de estarem lá dentro, fecharam a porta e fixaram o olhar.

Ele começou:
«Quem começa primeiro?» ─
«É usual ser o cavalheiro.» ─
«Sou um bocado tímido.» ─
«Estamos iguais, também sou tímida. ─
«Então, em que ficamos?» ─
«Não sei. E se tirássemos peça a peça?» ─
«Valeu.» ─
«Espere uma peça das minhas vale por duas das suas, tenho menos roupa.» ─
«Valeu à mesma.» ─

Foi ele o primeiro, tirou a gravata e juntou ao casaco, arrematando as roupas para cima do sofá. Depois, foi a vez dela tirar os sapatos. A seguir, escolheu ele os sapatos, juntamente com as meias, enquanto ela escolheu despir o casaco. Seguidamente, despiu as calças e tirou a camisa, por sua vez, ela puxou a saia abaixo. Na fase seguinte, tirou ele a camisola e a camisa interior, e ela despiu a camisa. Na parte final, ficaram em cuecas, olhando-se mutuamente. Quando resolveram ficar nus, fizeram-se ao retardador, iniciando a contagem: um, dói e três. De imediato, saltaram para a cama, rindo-se a perder. Quando o riso parou, ela acercou-se lentamente dele e colocou-lhe um das mãos sobre o corpo.

«Onde estão os seus pontos fracos?» ─
«Se os descobrir, dou-lhe um presente.»─
«Prepare-se, pois vou à procura deles.» ─ Não demorou muito tempo, ele a começar a rir-se: ah, ah, ah,
«Está com cócegas?» ─
«Não, estou a rir porque não consigo ganhar tesão.» ─ Continuou, ah, ah, ah…,
«O que é que faz na vida?» ─ diz ela olhando meigamente.
«Por amor de Deus! Não me venha falar em trabalho, anda hoje mandei foder o meu patrão. Disse-lhe que estava com um esgotamento nervoso.» ─
«És divertido, uma mulher à tua beira sente-se bem.» ─
«Só se for por não me vir!» ─ Voltou às risadas, ah, ah, ah,

Ela virou-lhe as costas, mantendo-se silenciosa. Ele exclamou:

«Dói-lhe alguma coisa?» ─
«O meu pipi.» ─
«Quem é esse gajo?» ─ Riram-se.
«Começo a gostar de ti porque me fazes rir.» ─
«Vá lá, ao menos, és a primeira pessoa a dizer que tenho alguma utilidade.» ─ Fitou-o nos olhos.
«Vamos brincar às casinhas?» ─
«Se quiseres, podes começar primeiro.» ─
«Mas agora não temos roupa para trocar» ─
«Trocamos por exemplo de mãos. Tens as unhas afiadas?» ─
«Tenho, e se for para te mexeres, pico-te já!» ─

De repente, dobrou-se por cima dela, quase nem a deixava respirar. Durante uns bons instantes, deu provas de como se deve fazer um bom coito. Todavia, a dado momento, absteve-se, soltando de cima dela, deixando-a estupefacta de olhos abertos.

«Não pares, não pares» ─ Os olhos dela pareciam dois vulcões em chama ardente. Ele retorquiu:

«Desculpa lá, mas vou parar para intervalo.» ─
«Agora, que eu estava a chegar à lua, é que havias de parar.» ─
«Não te atormentes, breve, vou levar-te ao planeta Júpiter.» ─
«Por este andar, nunca mais chegamos lá.» ─

Desafiou-o com o seu olhar trocista, ele levou a peito. De súbito, levou-a ao ar e puxou-a a si, executando alguns movimentos em exercício flexível dos membros inferiores. Ouviu-se o vibrar das suas emoções. Os gemidos confundiram-se com os suspiros. Quando tudo parecia encaminhar-se para o surgir do eclipse total, a ruptura aconteceu.

«Não pares, não pares» ─ Atirou o corpo para o lado, ficando em completo relaxe. Ela não cabia no seu descontentamento.
«Nunca acabas o que começas. Deixas sempre o trabalho a meio.» ─
«Ó que caraças! Não me fales em trabalho, senão, piro-me já daqui.» ─

Menino Bom levantou as mãos aos céus e jurou que só queria mesmo era brincar e que, para a próxima vez é que era a valer mesmo. Mesmo assim, Filete Dourada dava o tempo por merecido. Realmente aqueles momentos, foram mesmo interessantes.

«E quando é a próxima vez?», exclamou ela, fungando o nariz, mas Menino Bom deixou-a com o enigma de um sorriso para a próxima data.
«O teu problema», ─ disse ela olhando para o tecto ─ é não saberes o que queres, porque senão punha-te por minha conta.» ─ Ouviu uma gargalhada dele, ah, ah, ah.

Mas as mulheres eram assim mesmo, pensava Menino Bom nesse tempo, quando as deixava deliradas por uns minutos de prazer. E a verdade era que ninguém o censurava por se ir embora, pelos seus sessenta e seis minutos e meio de prazer, conforme deixou Filete Dourada de boca aberta entre as nuvens a chorar por mais.


Depois desapareceu.